Marcelo Pereira de Carvalho
É quase consenso que a utilização criteriosa de subprodutos na alimentação animal pode representar dinheiro a mais no bolso do produtor, algo fundamental em qualquer época, ainda mais no momento atual.
A utilização de subprodutos apresenta diversas vantagens potenciais. Em primeiro lugar, reduz-se a pressão por alimentos que podem ser destinados ao consumo humano, como o milho, uma vez que, via de regra, os subprodutos não são empregados na alimentação humana. Em segundo lugar, geralmente representam ganhos de custo significativos, aumentando o leque de opções em programas de balanceamento nutricional. O estado americano que se tornou líder de produção de leite nos EUA na última década e líder em baixos custos de produção, a Califórnia, tem a atividade altamente calcada em subprodutos: cascas de amêndoa, polpa de beterraba, polpa cítrica, cenoura e outros resíduos vegetais e outros alimentos.
A terceira vantagem está na possibilidade da dieta ser melhorada com o uso de subprodutos, sendo que este conceito nem sempre é captado (pensa-se apenas na redução dos custos). Há situações nas quais se obtém reais vantagens pela utilização de subprodutos na alimentação animal, resultando em maior produção de leite, ganho de peso ou saúde em geral melhorada. O quadro 1 traz algumas destas situações, no caso de vacas de leite.
Há, claro, as desvantagens. Problemas com a origem dos produtos, safra e entressafra às vezes bem definidas, dificuldade de aquisição em alguns casos, características de cada alimento que, se não levadas em conta, podem resultar em perdas econômicas.
Quadro 1. Situações nas quais o uso de subprodutos podem resultar em vantagens
Para quantificar de forma breve o impacto do uso de subprodutos, formulamos dietas de custo mínimo para uma vaca de 550 kg de peso vivo e 20 kg de leite/dia, a partir dos preços médios (em R$/tonelada) verificados em 1998, 1999 e 2000 (preços passados pela Scot Consultoria), para os seguintes alimentos:
- polpa cítrica
- caroço de algodão
- refinazil
- milho
- farelo de soja
O volumoso que se considerou foi a silagem de milho, colocada a preço constante de R$ 30/tonelada e adicionou-se uma formulação mineral cotada a R$ 594/tonelada. Estas simplificações reduziram o custo de produção na simulação especialmente após a desvalorização do real, visto que tanto a silagem quanto o mineral tenderam a subir neste período (de 98 a 2000), mas como tal metodologia foi adotada para os 3 anos, o objetivo da simulação - comparar subprodutos x dieta padrão e não o custo de alimentação do leite em si - foi mantido.
Na dieta padrão, apenas a silagem de milho, o mineral, o milho e o farelo de soja foram utilizados. Já na dieta com subprodutos, deixou-se escolher pelos subprodutos além dos alimentos tradicionais. Utilizamos algumas restrições de limites máximos de inclusão para tornar a simulação mais real (caso contrário, alguns alimentos seriam incluídos acima da quantidade tolerada).
Os resultados seguem abaixo, divididos por ano de avaliação (1998, 1990 e 2000). São mostradas as dietas com os preços por tonelada de cada ingrediente, o custo de alimentação por litro de leite, o preço médio do leite B (SP), a % do litro que é gasta com a alimentação e, finalmente, a receita menos o custo de alimentação.
Nota-se que, em todos os anos, quem utilizou os subprodutos teve clara vantagem, chegando a 2 centavos por litro de leite (obs: as dietas eram isoprotéicas e isoenergéticas), apenas considerando as vacas em lactação.
Supondo 2000 litros diários, a diferença é de R$ 12.000,00 por ano em média, bastante significativa. Como o objetivo da simulação foi mais de ilustrar a dimensão da alternativa, selecionamos apenas algumas opções, embora existam outras possibilidades de subprodutos dependendo da região e da época.
Ano de 1998
Ano de 1999
Ano de 2000
Aproveitando o artigo, informamos que, no mês que vem, começando em 14/05, os sites MilkPoint e BeefPoint estarão realizando o 1º Curso Online sobre a Utilização Prática e Econômica de Subprodutos para Ruminantes. Trata-se de uma ótima oportunidade para conhecer em detalhes os principais subprodutos, através de rico material de consulta, além de debater com os coordenadores em fóruns específicos. Quem se interessar, poderá se inscrever. Como pode ser visto pela despretensiosa simulação acima, o potencial de aplicação prática com resultados econômicos consistentes é bastante significativo. Desde que se conheça o assunto.
Fonte: MilkPoint