Renata de Oliveira Souza Dias
O Mycoplasma é um organismo único que não se enquadra na descrição de uma bactéria, nem de um vírus, sendo, portanto, classificado como um microorganismo intermediário destes dois grupos. O mycoplasma não possui uma parede celular e esta característica anatômica torna-o não suscetível à certos antibióticos que agem na parede celular, como por exemplo as penicilinas.
A mastite causada por este microorganismo é caracterizada por uma significativa queda na produção de leite, rápido desenvolvimento da doença em todos os quatro quartos, secreção do leite aquosa com pequenos grumos e severa inflamação do úbere, podendo ainda, ocasionar pequeno comprometimento sistêmico. Além deste quadro clínico, alguns animais podem apresentar a mastite subclínica, e mesmo que as vacas estejam aparentemente saudáveis podem estar liberando patôgenos do mycoplasma no leite produzido.
Quando o leite que advém de vacas contaminadas pelo mycoplasma for consumido por bezerros, na fase de aleitamento, ele pode ocasionar doenças tais como: pneumonia, otite, problemas de articulação e artrite. Portanto, deve-se ter muita precaução em oferecer leite advindo de vacas com mastite para bezerros. O ideal seria que este leite fosse pasteurizado antes de ser oferecido aos bezerros. Um fato curioso ocorreu em uma grande fazenda da Flórida - USA, onde os bezerros apresentavam uma elevada ocorrência de otites associadas ao mycoplasma, entretanto a referida fazenda já pasteurizava o leite oferecido aos bezerros. Em vista desse fator, criou-se uma grande dúvida no diagnóstico e vários fatores foram então pesquisados, quando, finalmente, foi descoberto que o problema estava associado ao pasteurizador, o qual apresentava um defeito e não estava pasteurizando adequadamente o leite.
A pasteurização do leite é um método efetivo para o controle do mycoplasma, patógeno muito susceptível ao calor devido à ausência da parede celular. No caso da pasteurização rápida (alta temperatura em curto espaço de tempo) o leite deverá alcançar 75(C durante 15 a 20 segundos.
E em relação ao colostro?
As pesquisas ainda não conseguiram isolar o mycoplasma no colostro. Entretanto, as evidências são que ele também esteja presente no colostro de vacas com mastite por mycoplasma na forma subclínica. Em vista deste fator, a estratégia é evitar fazer um "pool" de colostros, ou seja, evitar a mistura do colostro de vários animais. Assim, ao ministrar o colostro de uma vaca para um bezerro, se o bezerro em questão apresentar problemas associados ao mycoplasma, pode-se identificar a vaca com suspeita de ter transmitido o patôgeno.
Ambiente
O mycoplasma é um habitante normal do trato respiratório bovino e as condições ambientais associadas à umidade e pouca ventilação predispõem a disseminação desse patôgeno. Assim como para as vacas em lactação, o conceito de um ambiente "confortável, seco e fresco" também se aplica aos bezerros. O patógeno pode ser transmitido de bezerro para bezerro pelo ar, na forma de aerossol, todavia a transmissão via leite infectado parece ser a mais freqüente.
Medidas preventivas para evitar a disseminação do mycoplasma
- Minimize o contato focinho-focinho entre os bezerros
- Em todas as atividades sempre manipule primeiro os bezerros sadios e depois os acometidos
- Lave os equipamentos utilizados para aleitamento com detergente e água quente
- Separe os utensílios de cada bezerro
- Mas, lembre-se, a prevenção do mycoplasma deve enfocar especialmente sempre a vaca leiteira!
Sinais Clínicos
Os bezerros serão os primeiros animais a serem afetados quando há no rebanho mastite
associada ao mycoplasma. Alguns dos primeiros sinais clínicos são:
- Leve lacrimejamento dos olhos
- Cabeça baixa
- Orelhas caídas
- Leve corrimento nasal
- Redução no apetite
- Elevação da temperatura
Quando começar a notar tais sintomas nos bezerros, procure por mastite ocasionada por mycoplasma nas vacas em lactação. Para isso, envie para cultura uma amostra do leite utilizado para o aleitamento dos bezerros. Peça ao laboratório que pesquise mycoplasmose (alguns laboratórios não fazem esta análise como rotina). Caso confirmada a suspeita, inicie as estratégias de controle da mastite ocasiona por mycoplasma.
fonte: Dairy Herd Management / Fevereiro de 2001