A Escherichia coli 0157:H7 tem merecido grande destaque de pesquisadores e consumidores devido à sua relação com a qualidade do leite e da carne. O último Congresso Mundial de Buiatria, ocorrido no ano passado na Alemanha, também enfocou o assunto, no intuito de esclarecer o problema e apresentar a atual situação desta zoonose.
A Escherichia coli, comumente denominada "E. Coli" é uma bactéria que tem diversas "faces". Esta bactéria é habitante natural do trato intestinal e contribui para o processo digestivo. Com o auxílio da Engenharia Genética, a Escherichia coli é utilizada para a produção de importantes produtos para o homem, tais como a insulina humana sintética e a somatotropina recombinante bovina.
Por outro lado a E. Coli (sorotipos K99, K88 ou F41) é causadora de distúrbios entéricos que atacam o bezerro nos primeiros dias de vida, podendo levar à morte os animais que não forem submetidos a um adequado manejo do colostro.
Considerando-se estas características da bactéria, vale a pena ressaltar que a E. Coli é também responsável por uma séria zoonose, capaz de produzir toxinas, tais como a Shiga-like, causadora de problemas de saúde publica. A Escherichia coli enterohemorrágica (EHEC) é capaz de provocar diarréia sanguinolenta em humanos, sendo que a EHEC 0157:H7 é o sorotipo mais encontrado e associado a diversos surtos de diarréia em todo o mundo. Nos Estados Unidos, um levantamento do USDA avaliou as fezes de vacas leiteiras de 91 fazendas, distribuídas em 19 estados, e constatou uma prevalência de 24% de animais disseminando a EHEC 0157:H7. Deve-se destacar que a EHEC 0157:H7 é freqüentemente isolada de bovinos sadios.
Assim sendo, fica claro que os bovinos são importantes reservatórios da EHEC 0157:H7. Um fato importante é que a maioria dos casos de contaminação de humanos, nos quais a fonte foi determinada, está associada à ingestão de produtos bovinos contaminados com a EHEC 0157:H7, ou ainda, com a ingestão de água contaminada com esterco de bovinos. Além dos bovinos, a EHEC 0157:H7 é também encontrada em outros animais, tais como: ovelhas, cabras, porcos, cachorros, gatos, cavalos e gaivotas.
Pesquisadores do USDA vêem pesquisando métodos para controlar a ocorrência da EHEC 0157:H7 em bovinos com o objetivo de reduzir os casos da infecção de humanos.
Apesar da EHEC 0157:H7 não causar enfermidade em bezerros com mais de 3 semanas de vida, ela causa uma diarréia severa e muitas vezes fatal em neonatos. Os animais afetados apresentam lesões intestinais similares às encontradas nas colites hemorrágicas de humanos. Bezerros na fase de aleitamento foram experimentalmente inoculados com EHEC 0157:H7 com o objetivo de estudar e entender a infecção causada pela Escherichia coli enterohemorrágica em bovinos adultos. Nesta fase de vida, o animal infectado permanece sem apresentar os sintomas da doença, mas já dissemina a EHEC 0157:H7 em suas fezes. Já se sabe que animais estressados são mais suscetíveis à infecção causada pela EHEC 0157:H7. Foi observado que os animais mantidos sem alimento por 48 horas e posteriormente inoculados com EHEC 0157:H7 foram mais suscetíveis à infecção e disseminaram um número maior de bactérias em suas fezes do que animais alimentados normalmente. Todavia, ambos os grupos de animais permaneceram assintomáticos.
O tratamento com dexametasona é um método conhecido para simular o estresse fisiológico, aumentando a suscetibilidade dos bovinos às doenças causadas por bactérias, vírus e protozoários. Como experimento, bezerros em aleitamento foram tratados com a dexametasona (0,25 mg/Kg), diariamente, durante os 3 dias que precederam a inoculação, no dia da inoculação e no dia seguinte à inoculação da EHEC 0157:H7. Os animais tratados com a dexametasona exibiram perfil hematológico e disseminação de EHEC 0157:H7 nas fezes similares aos animais submetidos à falta de alimento (estresse fisiológico).
Com base nas observações realizadas nos dois testes, foi possível concluir que os bezerros em aleitamento infectados permaneceram clinicamente sadios e que a EHEC 0157:H7 pode colonizar o intestino e causar pequenas lesões na mucosa epitelial, sendo disseminada pelas fezes. Tais ensaios têm contribuído na determinação dos fatores de virulência que provocam as infecções causadas pela EHEC nos bovinos e para a avaliação da eficácia de intervenções que visam reduzir os níveis de EHEC nos bovinos. Além disso, estão em progresso alguns estudos que avaliam se a vacinação protege os animais e impede a disseminação da EHEC 0157:H7.
Devido às suas características epidemiológicas a EHEC 0157:H7 não poderá ser controlada com o abate de animais, como é o caso de outras zoonoses, tais como a Tuberculose e a Brucelose. O método mais efetivo de controle será através da identificação e remoção das novas fontes de infecção da bactéria e com a realização de um intensivo controle da higiene em todo o sistema de produção. Estudos conduzidos em Ohio, EUA, identificaram que a água ingerida pelos bovinos nas fazendas, constitui um importante elo na transmissão da E. Coli 0157: H7 e este tema deverá ser foco de novas pesquisas.
Fonte:
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