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Vai usar a sonda? Aumente o volume.

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E CARLOS EDUARDO OLTRAMARI

CARLA BITTAR

EM 18/01/2011

8 MIN DE LEITURA

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O feto presente no útero da vaca é protegido de infecções através da ação da placenta. No entanto, o tipo de placenta dos ruminantes acaba impedindo também a passagem de imunoglobulinas da vaca para o bezerro durante a gestação. O recém-nascido é, portanto, desprovido de anticorpos e particularmente sensível a infecções, adquirindo proteção imunológica efetiva somente após a ingestão do colostro.

Vacas no período pré-parto iniciam a síntese de colostro na glândula mamária, sendo que parte das imunoglobulinas presentes na circulação sanguínea passa do sangue para o colostro. As imunoglobulinas, também chamadas de anticorpos, atuam na defesa do organismo contra agentes patogênicos (bactérias, vírus, fungos, etc.). Dessa forma, bezerros que ingerem colostro nas primeiras horas de vida apresentam elevação na resposta imune e, consequentemente, melhor desempenho. Por outro lado, bezerros que não ingerem colostro nas primeiras 24 horas de vida diminuem sensivelmente a capacidade de absorção destas imunoglobulinas, apresentando altas taxas de mortalidade pré-desaleitamento, bem como perdas a curto e longo prazo associados com a saúde animal, bem estar e produtividade.

Outros fatores que podem alterar a aquisição de imunidade passiva são o método de fornecimento do colostro (mamadeira e sonda esofágica, por exemplo), o tempo para a primeira alimentação, o volume consumido e a qualidade do colostro. Devido à frequente falha na aquisição de imunidade passiva (IgG sérica <10,0 mg/mL) em bezerros que mamam direto na vaca após o parto, recomenda-se que o bezerro seja colostrado através de mamadeira. Os animais devem ser alimentados com colostro em quantidade e qualidade adequados, usando uma mamadeira ou tubo esofágico para garantir a ingestão do alimento. O uso do tubo esofágico é necessário para garantir o consumo de colostro principalmente em bezerros com baixo vigor para a mamada nas primeiras horas após o nascimento.

Pesquisas têm mostrado que embora o uso do tubo esofágico seja conveniente e rápido, sabe-se que o reflexo da goteira esofágica não é acionado quando o colostro é administrado por este método, resultando na deposição de colostro nos pré-estômagos. Em contraste, quando o colostro é fornecido via mamadeira ou balde, a sucção aciona o reflexo da goteira esofágica e, consequentemente, o colostro ingerido cai diretamente no omaso/abomaso, onde passa rapidamente para o intestino delgado para ser absorvido.

Assim, teoricamente existe uma desvantagem na alimentação via sonda esofágica, pois a demora na passagem do colostro do retículo/rúmen para o intestino delgado pode resultar em menor absorção de IgG, devido à diminuição progressiva da eficiência de absorção intestinal de imunoglobulinas com o passar do tempo. No entanto, tem sido aceito que ambos os método de alimentação, mamadeira ou sonda esofágica, resultam em índices aceitáveis de transferência de imunidade passiva desde que um volume suficiente de colostro seja consumido pelo bezerro logo após o nascimento.

Uma pergunta recorrente no meio produtivo e científico é: Como a forma de fornecimento e a quantidade de colostro podem influenciar a saúde de bezerros recém-nascidos? Visando esclarecer estas dúvidas, pesquisadores americanos e canadenses conduziram um experimento com 97 bezerros recém-nascidos, os quais foram divididos em quatro grupos (tratamentos):

1. Pouco colostro via mamadeira (PCM): Uma dose de sucedâneo de colostro (SC) adicionado a 1,5 L de água fornecido através de mamadeira (total de 100 g de IgG; concentração de IgG = 66,7 g/L; número de animais utilizados = 24).

2. Pouco colostro via sonda (PCS): Uma dose de SC adicionado a 1,5 L de água fornecido através de sonda esofágica (total de 100 g de IgG; concentração de IgG = 66,7 g/L; número de animais utilizados = 24).

3. Muito colostro via mamadeira (MCM): Duas doses de SC adicionado a 3,0 L de água fornecido através de mamadeira (total de 200 g de IgG; concentração de IgG = 66,7 g/L; número de animais utilizados = 24).

4. Muito colostro via sonda (MCS): Duas doses de SC adicionado a 3,0 L de água fornecido através de sonda esofágica (total de 200 g de IgG; concentração de IgG = 66,7 g/L; número de animais utilizados = 25).

O SC foi utilizado, ao invés de colostro materno, para que houvesse padronização da massa total de IgG fornecida aos animais dos diferentes tratamentos, isolando-se assim os efeitos de volume e método de fornecimento. Antes do SC ser fornecido (até 2h após o nascimento), uma amostra de sangue de 10 mL foi coletado da veia jugular de cada animal. Uma segunda amostra de sangue foi coletada quando os animais completaram 24h de vida. Ambas as amostras foram analisadas visando saber qual a concentração de proteína total e IgG. A eficiência aparente de absorção de IgG (EAA,%), uma medida que estima a proporção entre a massa total de IgG fornecida e absorvida, foi calculada usando uma fórmula descrita anteriormente por Quigley et al. (2002).

Os Bezerros que apresentavam valores de IgG plasmático acima de 10 mg/mL foram considerados como normais (transferência passiva aceitável - TPA). Para bezerros alimentados com mamadeira também foi registrado quanto o bezerro consumiu voluntariamente, visto que muitos bezerros do grupo MCM não consumiram os 3 L fornecidos após 10 min. do início do fornecimento. Nesses casos, o volume restante foi registrado e, em seguida, fornecido através de uma sonda esofágica, uma vez que tal manejo é adotado por muitas fazendas.

Como pode ser analisado na Tabela 1, não houve diferença entre tratamentos nas análises feitas antes da colostragem. No entanto, nas amostras coletadas quando os animais completaram 24h de vida, os níveis séricos de IgG foram significantemente maiores nos bezerros alimentados com maior volume de SC (3 L) quando comparados aos bezerros que receberam menor volume de SC (1,5 L), independentemente do método de alimentação. Segundo os autores, essas diferenças provêm da maior massa de IgG ingerida por bezerros alimentados com 3 L de SC (200 g de IgG) em comparação com bezerros que receberam 1,5 L de SC (100 g de IgG).

Os animais que receberam 1,5 L de SC via mamadeira apresentaram valores de proteínas plasmáticas totais (PT, g/dL), níveis séricos de IgG (IgG, mg/mL), transferência passiva aceitável (TPA, %) e eficiência aparente de absorção de IgG (EAA, %) maiores que os alimentados através da sonda esofágica (Tabela 1). Por outro lado, animais alimentados com 3 L de SC não apresentaram diferenças nos índices de transferência de imunidade passiva quando foram alimentados com mamadeiras ou sondas esofágicas. Estes resultados confirmam a hipótese de que diferentes métodos de alimentação não são significativos quando grandes quantidades de colostro são fornecidas, visto que, proporcionalmente, menos colostro fica retido no retículo-rúmen, enquanto grande parte passa para o abomaso e intestino delgado para serem absorvidos logo após o fornecimento. Quando baixo volume é fornecido boa parte fica retida no retículo-rúmen os quais são ainda não funcionais e de pequeno tamanho.

Tabela 1. Índices de transferência de imunidade passiva para bezerros recém-nascidos alimentados com pequeno (1,5 L) ou grande (3 L) volume de sucedâneo de colostro (SC) usando mamadeira ou tubo esofágico.



Apesar de 100% dos bezerros alimentados através de mamadeiras com 100 g de IgG (1,5 L de SC) apresentarem transferência passiva adequada (IgG ≥ 10,0 mg / mL), apenas 41,7% dos bezerros alimentados através de sonda esofágica atingiram esta valor (Tabela 1). Como o peso ao nascimento, idade a primeira mamada e problemas de parto não foram diferentes entre os dois tratamentos, a provável explicação é que a disparidade se deve a diferenças na EAA (% da IgG absorvida), que foi significativamente maior nos animais alimentados com mamadeiras quando comparados aqueles alimentados com sonda esofágica.

Estes resultados estão em acordo com um estudo anterior que demonstrou melhoria na transferência de imunidade passiva quando se utilizou mamadeira (ao invés de sonda esofágica) para fornecer pequenas quantidades de colostro. Esses resultados também são consistentes com a hipótese dos autores, os quais acreditavam que diferenças na transferência de imunidade passiva seriam encontradas quando baixo volume de colostro (1,5 L) foi fornecido através de sonda esofágica. Isso por que uma proporção relativamente grande do colostro ficaria retido no retículo-rúmen por um tempo grande o bastante para afetar a absorção intestinal.

Um dos problemas do maior volume de fornecimento é que nem sempre os animais mamam o total fornecido voluntariamente, havendo necessidade do uso da sonda. Na Tabela 2 pode-se visualizar que 37,5% dos bezerros que receberam 3 L de SC através de mamadeiras não consumiram voluntariamente o total fornecido, enquanto que o restante (62,5%) consumiu os 3 L. Estes resultados estão de acordo com um estudo recente que registrou a ingestão de colostro voluntariamente na primeira mamada. Nesse caso, foram disponibilizados, através de mamadeiras, 3 L de colostro para bezerras da raça Holandesa, sendo a mediana de ingestão foi igual a 2,34 L, com um intervalo de 0 a 3,0 L.

Do total, 31% dos bezerros consumiram menos de 2 L e 44% dos bezerros consumiram o máximo oferecido (3 L). Isso é de importância prática para os produtores que preferem alimentar com mamadeira, visto que uma parte significativa de bezerros não consome voluntariamente grandes volumes de colostro. Portanto, é recomendado que os produtores utilizem uma sonda esofágica para que o restante do colostro seja consumido, garantido assim adequada transferência de imunidade passiva.

Tabela 2. Índices de transferência de imunidade passiva para bezerros recém-nascidos alimentados com grande (3 L) volume de sucedâneo de colostro (SC) utilizando-se mamadeira ou tubo esofágico, estratificando-se os animais que não consumiram voluntariamente o SC fornecido via mamadeira1.



Não houve diferenças significativas nos parâmetros de transferência de imunidade passiva quando se comparou a sonda esofágica, somente mamadeira (animais que consumiram os 3 L voluntariamente) e mamadeira seguida de sonda esofágica (bezerros que não consumiram voluntariamente os 3 L de SC oferecido e tiveram que ser alimentados via sonda esofágica).

Em resumo, este estudo tem implicações práticas para a gestão de programas de colostragem. A primeira recomendação é que, independentemente do método de alimentação utilizado, os produtores que desejam aumentar a transferência de imunidade passiva devem fornecer grandes volumes de colostro ou SC (3 L), proporcionando uma maior massa total de imunoglobulinas que chega ao intestino delgado para ser absorvido. Produtores que disponibilizam maiores volumes de colostro ou SC na primeira mamada podem utilizar o método de alimentação que melhor se adequar ao sistema de produção e rotina no bezerreiro.

No entanto, se o produtor fornecer grandes volumes (3 L) de colostro utilizando uma mamadeira, uma parte significativa dos bezerros podem não consumir voluntariamente o volume total. Neste caso, os produtores devem utilizar uma sonda esofágica para fornecer o restante do colostro. Produtores que optarem por fornecer menores volumes de colostro ou SC (1,5 L) devido à limitada disponibilidade de colostro materno ou elevado custo do SC, devem utilizar mamadeira para assegurar transferência passiva adequada. Por outro lado, muitos bezerros alimentados com este montante através da sonda esofágica apresentaram níveis mais baixos do que os recomendados (10 mg IgG/mL).

Referência bibliográfica:

Godden, S.M.; Haines, D.M.; Konkol, K.; Peterson, J. Improving passive transfer of immunoglobulins in calves. II: Interaction between feeding method and volume of colostrum fed. Journal of Dairy Science, v. 92, p. 1758-1764.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

CARLOS EDUARDO OLTRAMARI

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