Aproveitando o tema do processamento de grãos na dieta de bezerras leiteiras, discutido nos últimos dois artigos, apresentarei a seguir os resultados de outro trabalho realizado também por pesquisadores da ESALQ-USP, em Piracicaba, que avaliou diferentes processamentos para os grãos de milho e a adição do ionóforo monensina para bezerras leiteiras, antes e após a desmama, realizada na sexta semana de vida.
Nos primeiros dias de vida, a mortalidade de bezerras pode ser elevada. A diarréia é uma das principais causas de morte nesta fase. Em função disso, a administração de coccidiostáticos através das rações tem se tornado comum. Alguns coccidiostáticos utilizados na criação de bezerras, como a lasalocida e a monensina, são também ionóforos, produtos que otimizam o desempenho de animais em crescimento através da alteração da fermentação ruminal. Segundo os autores, a adição de monensina em dietas de animais em crescimento tem efeito benéfico comprovado por inúmeros trabalhos.
Outro fator que altera o padrão de fermentação ruminal de forma benéfica ao animal é o processamento dos grãos através da laminação ou floculação. Para que se tenha uma referência, alguns trabalhos indicam melhora de cerca de 5% na conversão alimentar de animais em confinamento com o fornecimento de milho floculado.
Entretanto, o efeito do processamento dos grãos e a adição de ionóforos pode levar a outro tipo de resposta, quando fornecidos a animais com o rúmen ainda em desenvolvimento, como é o caso das bezerras lactentes. Isto é o que mostrou este trabalho.
Foram utilizadas 32 bezerras. Após o nascimento elas foram apartadas das mães e receberam colostro até o segundo dia de vida. Em seguida passaram a receber 4 litros diários de leite, divididos em duas refeições, água à vontade e uma mistura concentrada fornecida diariamente à vontade, até que se atingisse um consumo de 2 kg/dia, quantidade estipulada como máxima. A fórmula dos concentrados, formulados para atender as exigências nutricionais de bezerros até 12 semanas, pode ser observada na tabela 1. A monensina foi adicionada ao concentrado na concentração de 30 mg/kg, conforme recomendação para o controle de coccidiose. Após a desmama, na 6a semana de vida, os animais passaram a receber feno de gramínea picado.
Os dados de consumo de concentrado e feno, ganho em peso e peso vivo dos animais nos períodos que compreendem as semanas antes e depois da desmama são apresentados na tabela 2. Não foi observada diferença significativa no consumo médio de concentrado durante as 6 semanas de aleitamento entre os tratamentos (P<0,444). Pode-se observar um efeito negativo da adição de monensina no consumo de concentrado após a desmama (P=0,052). Segundo os autores, de maneira geral isto era esperado, já que a monensina tem efeito inibidor de consumo. O consumo de concentrado à desmama foi abaixo dos 700 gramas diários, recomendados como mínimo para garantir o sucesso da desmama. Este nível de consumo seria necessário para adaptar o animal às mudanças na fonte de nutrientes e, principalmente ao tipo de fermentação típico de ruminantes. Neste trabalho estes níveis de consumo só ocorreram na oitava semana, época que a maioria dos produtores realiza a desmama. O propósito do trabalho, no entanto, era avaliar o efeito dos tratamentos em regime de desmama precoce.
O consumo de feno não foi diferente entre os tratamentos (P<0,749), não ocorrendo efeito de processamento de grãos ou adição de monensina. Não foram observadas diferenças significativas nas médias de ganho em peso antes da desmama (P<0,891). Já nas seis semanas após a desmama pode-se observar uma tendência do efeito do processamento dos grãos (P=0,125). Além disso, os animais no tratamento com milho laminado tiveram maior ganho em peso que os animais com milho floculado e monensina (P=0,072).
Os autores justificam as baixas taxas de ganho em peso após a desmama como conseqüência do efeito negativo da desmama precoce, quando o consumo de concentrado ainda não era adequado (700 g/d). O peso médio também não apresentou diferença significativa nos períodos pré e pós desmama.
Os autores concluem que a utilização de grãos processados e a adição de monensina no concentrado de bezerras leiteiras não teve efeito significativo no desempenho de animais submetidos à desmama precoce e livres de coccidiose. A adição de monensina reduziu o consumo de concentrado, não sendo desta forma recomendada para sistemas de desmama precoce (6 semanas de vida).
Comentário MilkPoint: este trabalho reforça a ausência de resultados do processamento de grãos para animais lactentes e também demonstra um possível efeito negativo da monensina no consumo dos animais nesta fase. Tudo isto provavelmente é resultado do ainda incompleto desenvolvimento ruminal nesta fase, especialmente considerando-se animais desmamados precocemente. As informações reforçam a idéia que para que a desmama ocorra sem prejuízo ao desenvolvimento dos animais é preciso que estes estejam adaptados a dietas sólidas (consumo mínimo de concentrado). A idade pura e simplesmente não é fator seguro na tomada de decisão do momento correto da desmama.
Fonte: NUSSIO, C.M.B., et al., 2001. Processamento de grãos (floculado vs. laminado à vapor) e adição de monensina para bezerras leiteiras, antes e após a desmama na Sexta semana de vida. In: Anais da 38a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Piracicaba - SP.