O período de vida dos bezerros que compreende o nascimento até a desmama é bastante delicado. Nesta fase os bezerros são constantemente desafiados pelo ambiente, enquanto seu organismo ainda depende de defesas adquiridas passivamente através da ingestão do colostro, que nem sempre é adequada.
Uma pesquisa nacional realizada nos EUA em 1996 (NHAMS-Dairy) concluiu que a taxa média de mortalidade de bezerras até a desmama era de 10,8% em fazendas leiteiras. Deste total, 60,5% foram devidas a diarréias intensas ou outros problemas digestivos; 24,5% foram causadas por problemas respiratórios e os demais 15% por outros motivos diversos. Duas enfermidades, portanto, foram responsáveis por 75% das mortes. De certo modo isto é bom pois demonstra que a concentração de esforços em poucos pontos pode ter grande impacto na redução de perdas nesta fase.
Sem dúvida nenhuma o correto fornecimento do colostro, é de fundamental importância para a sobrevivência dos animais nesta fase. Todavia, independente do tipo de instalação utilizada, a observância de três princípios básicos de alojamento de bezerros também está diretamente ligada à redução destes problemas:
1. Os bezerros devem ser mantidos secos - bezerros úmidos estão sob stress independente da temperatura ambiente, mas esta condição é especialmente séria a baixas temperaturas pois o pelo perde grande parte de sua capacidade de manutenção do calor quando molhado. Esta condição normalmente é resultado do não fornecimento de cama seca ou de falhas no controle da umidade das instalações.
2. Os bezerros devem ser mantidos fora de correntes de ar - a movimentação de ar ao redor do bezerro remove o calor que seu corpo está produzindo. Se um bezerro possui cobertura de pelos boa e seca e estiver protegido das correntes de ar, o calor produzido pelo organismo de um bezerro bem nutrido é suficiente para manter a temperatura corporal adequada, mesmo em climas frios.
3. Os bezerros devem ser mantidos separados uns dos outros até 10 dias após a desmama - a separação auxilia prevenir a transmissão de doenças, elimina a possibilidade de um bezerro mamar no outro, permite o controle do consumo de alimento (ração) para determinação do correto momento da desmama e a observação das fezes de cada bezerro para pronta identificação de doenças.
Desde que se obedeça estes três princípios básicos, qualquer tipo de instalação pode ser utilizado. Atualmente, no entanto, o modelo mais difundido é o de casinhas individuais. As casinhas vem ganhando mais e mais popularidade inicialmente por seu custo inferior à construção de barracões, mas principalmente por serem bastante eficazes no controle de doenças, especialmente as respiratórias e diarréias.
As casinhas, quando bem manejadas, permitem o atendimento dos três princípios básicos. O ambiente seco é obtido através do posicionamento das casinhas em campo bem drenado, adequadamente coberto com forragem ou cama e o sol auxilia no controle da umidade; além disso, a movimentação regular das casinhas não permite a formação de barro ou acúmulo de umidade. Em algumas regiões também devem ser evitados locais que permitam correntes de ar naturais, o que pode ser conseguido, por exemplo, através de cercas vivas (com plantas). O isolamento é obtido através da separação das casinhas a distâncias que impeçam o contato de um bezerro com seu vizinho, dificultando a disseminação de doenças contagiosas, como alguns tipos de diarréias e as doenças respiratórias. O bom senso deve imperar na decisão de quando movimentar as casinhas. Em períodos chuvosos a mudança deve ser mais frequente.
O Centro de Pesquisas de Pecuária do Sudeste, unidade da EMBRAPA em São Carlos-SP, possui um folheto explicativo para construção de uma "Casinha Tropical" (foto abaixo). O folheto traz as dimensões e uma lista de materiais necessários. O telefone para contato é (16) 2727611.
A casinha tropical é de fácil construção, totalmente aberta, para uso em ambientes tropicais; leve, o que permite mudanças frequentes e dispensa o uso de camas ou estrados. O telhado é feito de duas folhas de zinco espaçadas em 3,5 cm que funcionam como isolante térmico diminuindo a incidência de calor sob a casinha.
Neste tipo de alojamento a contenção dos bezerros é feita através de coleiras fixadas ao chão por grampos. Isto permite a movimentação do bezerro ao redor da casinha, acompanhando a projeção da sombra da mesma de acordo com a movimentação do sol e de sua necessidade por calor.
O bezerro deve ser mantido na casinha pelo menos por uma semana após a desmama, para que se adapte à nova condição e aumente seu consumo de concentrado, evitando queda de desempenho.
Após a retirada de um bezerro a casinha deve ser desinfetada e exposta ao sol (virada de ponta cabeça) preferencialmente por 3 semanas também para que se evite a transmissão de doenças de animais mais velhos aos bezerros recém-nascidos.
Comentário MilkPoint: A prática mostra que as fazendas que adotaram as casinhas individuais corretamente manejadas tiveram quedas acentuadas nos índices de mortalidade de bezerros.
fonte: EMBRAPA - CPPSE e Anais do IV Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos-03/2000