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Características da carcaça de bezerros de rebanhos leiteiros desaleitados precocemente e alimentados com diferentes dietas líquidas

CARLA BITTAR

EM 14/06/2006

9 MIN DE LEITURA

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Por Carla Maris Bittar1 e Vanessa Pillon dos Santos2

A introdução de bezerros provenientes de rebanhos leiteiros para produção de carne pode ser uma alternativa para maior eficiência de propriedades produtoras de leite. Dentro do sistema de produção, algumas estratégias são utilizadas para maximizar o desenvolvimento dos animais, principalmente na primeira fase de vida.

Ao nascer, os bezerros apresentam seu trato digestivo semelhante ao de não-ruminantes, sendo considerados pré-ruminantes. Uma vez que o rúmen, retículo e omaso na fase inicial não se encontram em funcionamento completo, a dieta líquida para esses animais é a principal forma de obtenção de nutrientes.

Como já vimos em outros radares técnicos, o fornecimento de concentrado na fase inicial estimula o desenvolvimento do rúmen-retículo, a partir da produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), os quais são responsáveis pelo desenvolvimento das papilas ruminais. É sempre importante lembrar que nesta fase os animais apresentam melhor aproveitamento do concentrado fornecido, contribuindo dessa maneira para a obtenção de maiores taxas de crescimento animal.

Quando o rendimento de carcaça é mensurado em bezerros, em muitos casos esse parâmetro não é uma estimativa adequada do rendimento de carne aproveitável. O tecido adiposo tem efeito de diluição sobre a proporção de músculos e órgãos, sendo grande parte desse tecido eliminada, reduzindo assim a fração aproveitável.

Algumas mensurações são realizadas com o objetivo de tornar a classificação de carcaça menos subjetiva, entre elas a área de olho de lombo e o comprimento da carcaça, que expressa a capacidade do animal em produzir carne e a relação peso vivo do animal e comprimento de carcaça. O comprimento da carcaça está correlacionado ao peso da carcaça e dos cortes de maiores valores econômicos. O estudo quantitativo de partes não integrantes da carcaça tem grande importância frente à variação de acordo com a raça ou grupo genético do animal. Além disso, estas exercem influência direta sobre o rendimento de carcaça, a exigência de manutenção e o ganho de peso dos animais.

Frente à importância econômica do aproveitamento dos machos em propriedade leiteira, Mancio et al. (2005) avaliou o rendimento de carcaça e o desenvolvimento de órgãos e vísceras de bezerros mestiços (Holandês x Gir) alimentados com diferentes dietas líquidas associadas com Zeranol (promotor de crescimento) e/ou óleo de soja.

Material e Métodos

Em estudo realizado por Mancio et al. (2005) foram utilizados 40 bezerros Holandês x Gir, com 15 dias de idade e peso médio de 36 kg, alocados em baias individuais (1,10 x 1,70), com piso ripado de madeira e comedouros individuais, para concentrado e volumoso.

As dietas líquidas avaliadas foram: Leite integral (L), Leite integral com óleo de soja (LO), Leite integral e Zeranol (LZ), Leite integral com óleo de soja e Zeranol (LOZ), Colostro fermentado (CF), Colostro fermentado com óleo de soja (CFO), Colostro fermentado e Zeranol (CFZ), Colostro fermentado com óleo de soja e Zeranol (CFOZ); sendo fornecida a quantidade de 3 litros diários no fim da tarde.

Os bezerros receberam ainda o concentrado inicial, contendo 23% de proteína bruta (PB), o qual foi fornecido em quantidade crescente até o limite de 1,5 kg/dia; além de feno de Tifton ad libitum.

O leite integral foi utilizado fresco, após a ordenha da tarde. O colostro, proveniente de vários animais, foi armazenado em tambores plásticos de 60 litros e homogeneizados diariamente, sendo fermentado de forma natural por sete dias e utilizado em até 28 dias. Para animais nos tratamentos LO, LOZ, CFO e CFOZ, adicionou-se 45 mL de óleo degomado de soja (com a extração de fosfolipídeos) e 2,5 mL de emulsificante à base de lecitina de soja.

Aos tratamentos contendo colostro fermentado acrescentou-se 25 g de bicarbonato de sódio, como agente tamponante. Para animais nos tratamentos LZ, LOZ, CFZ e CFOZ, o implante de Zeranol (36 g) foi aplicado via subcutânea na orelha desses animais quando estes completaram 15 dias de idade.

Análises químicas das dietas líquidas e sólidas foram realizadas para a determinação de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), gordura total (GT), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), teor de carboidratos totais (CHOT) e carboidratos não-estruturais (CNE). Na Tabela 1 e 2 estão apresentadas as composições das diferentes dietas e dos alimentos.

Tabela 1. Valores médios da composição química da dieta líquida.


Tabela 2. Valores médios da composição química do concentrado e do feno.


Análise da carcaça

Para determinação do rendimento de carcaça, os animais foram abatidos após jejum de 16 horas, apresentando peso médio de 57,38 kg. A carcaça foi dividida em duas partes e pesadas, sendo computados os pesos das vísceras e membros.

Para a determinação do peso do corpo vazio (PCVZ) foi pesado o trato gastrintestinal cheio e vazio. O peso da carcaça fria (PCF) foi obtido a partir da permanência das meias-carcaças em câmara fria, onde permaneceram por 18 horas a -5oC. Na meia carcaça esquerda foram realizadas as medidas: comprimento de carcaça; determinação da proporção de ossos, músculos e tecido adiposo, através da análise da seção entre a 9a e 11a costelas; e área de olho de lombo do músculo Longissimus dorsi, na altura da 12a costela.

Na meia carcaça direita resfriada calculou-se o rendimento de cortes básicos (dianteiro: acém e ponta de agulha completos; traseiros: alcatra e coxão).

Resultados

Área de lombo, Peso da carcaça quente (PCQ) e Peso da carcaça fria (PCF)

A área de lombo dos bezerros não foi alterada pelo fornecimento das diferentes dietas, mantendo-se uma média de 15,27 cm2. No entanto, foram observadas diferenças para os pesos das carcaças quente e fria, quando se estudou a interação entre a dieta líquida e promotor de crescimento (Tabela 3).

Tabela 3. Valores médios (kg) para pesos de carcaça quente (PCQ) e de carcaça fria (PCF) entre dieta líquida e Zeranol.


Letras maiúsculas iguais na mesma linha e minúsculas na mesma coluna não diferem estatisticamente (P>0,05).
Adaptado de Mancio et al. (2005)

Quando se associou o promotor de crescimento Zeranol com dietas que continham leite integral, foram promovidos maiores PCQ e PCF, e quando fornecido juntamente com o colostro fermentado, resultou em menores pesos da carcaça, sugerindo dessa maneira uma interação negativa entre o colostro fermentado e Zeranol.

Já animais tratados apenas com o colostro fermentado apresentaram carcaças 5% mais pesadas que aqueles alimentados somente com leite integral, valor esse superado em 11% pelos animais alimentados com leite e Zeranol. Outros autores que estudaram o efeito de agentes metabólicos sobre o desempenho de vitelos utilizando Zeranol observaram PCF de 30,5 kg, valores próximos aos observados no presente estudo.

Foi observado também que animais alimentados com leite associado ao Zeranol e com colostro fermentado apresentaram PCF 3,4% e 3,7% menor que o PCQ, respectivamente. Menores pesos de carcaça durante a refrigeração quando se fornece Zeranol ocorre em função dos elevados teores de água da massa muscular, devido à promoção do anabolismo protéico.

Rendimento de carcaça e Comprimento de Carcaça

Os animais que se alimentaram com leite apresentaram rendimento de carcaça maior (54,2%) que aqueles que ingeriram colostro fermentado (51,7%), sendo assim verificado efeito da dieta líquida sobre o rendimento de carcaça, em função do corpo vazio.

Influência da dieta e de Zeranol foi observada, de forma que animais tratados com leite obtiveram o comprimento de carcaça (CC) 5% superior e 5,5% inferior àqueles que receberam colostro, não sendo observado efeito das dietas, sem aplicação de Zeranol (Tabela 4). Alguns autores indicam que o comprimento e o rendimento de carcaça apresentam alta correlação com a porção aproveitável de tecido muscular dos animais, características essas que permitem comparar sistemas alternativos de aleitamento com sistemas que utilizam leite integral.

Tabela 4. Comprimento de carcaça (cm) de bezerros tratados com leite e colostro fermentado, com ou sem aplicação de Zeranol.


Letras maiúsculas iguais na mesma linha e minúsculas na mesma coluna não diferem estatisticamente (P>0,05).
Adaptado de Mancio et al. (2005)

Também foi observado que bezerros alimentados com leite apresentaram proporções de ossos e gordura na carcaça superior ao colostro fermentado. A baixa deposição de gordura se deu possivelmente devido a uma deficiência energética ocasionada pelo colostro fermentado. Mesmo sendo corrigidos os níveis energéticos com óleo degomado de soja, que foi suficiente para manter o desenvolvimento do animal, não se obteve similaridade com valores energéticos do leite suficientes para promover maiores proporções de gordura na carcaça.

Rendimento de carne industrial

Houve interação entre a dieta líquida e a aplicação do promotor de crescimento quanto ao rendimento de carne industrial, onde a associação de leite e Zeranol resultaram maiores pesos de carne industrial (Tabela 5). No entanto, o promotor de crescimento associado ao colostro fermentado, não apresentou efeito.

Tabela 5. Valores médios de carne industrial (g) dos bezerros alimentados com leite integral ou colostro fermentado, com ou sem Zeranol.


Letras maiúsculas iguais na mesma linha e minúsculas na mesma coluna não diferem estatisticamente (P>0,05).
Adaptado de Mancio et al. (2005).

Peso das vísceras

O peso das vísceras (rúmen-retículo, intestino delgado e mesentério) dos bezerros foi maior para os animais que receberam colostro fermentado e Zeranol quando comparado com bezerros que foram alimentados com leite sem Zeranol. Possivelmente, o maior peso para rúmen-retículo foi decorrente do maior consumo de concentrado que os animais recebendo colostro fermentado e Zeranol apresentaram.

Bezerros tratados como Zeranol associado ao colostro fermentado apresentaram peso médio de intestino delgado menor que bezerros que receberam colostro fermentado sem Zeranol, que por sua vez foi 15,78% superior àqueles tratados com leite integral (Tabela 6).

Tabela 6. Valores médios (g) do rúmen-retículo, intestino delgado e mesentério dos animais em função da dieta líquida e zeranol.


Letras maiúsculas iguais na mesma linha e minúsculas na mesma coluna não diferem estatisticamente (P>0,05).
1 = SZ = Sem Zeranol
2 = CZ = Com Zeranol
Adaptado de Mancio et al. (2005).

Conclusão

O implante de Zeranol foi eficiente em promover aumento no rendimento e no comprimento da carcaça de bezerros somente quando associado com leite integral como dieta líquida. No entanto, para o crescimento de bezerros pré-ruminantes o colostro fermentado constitui-se em fonte nutricional adequada, podendo ser um substituto para o leite integral.

Referências

MANCIO, A.B.; TONISSI, R.H.; GOES, B.; CASTRO, A.L.M.; CECON, P.R.; SILVA, A.T.S. Características de Carcaças de Bezerros de Rebanhos Leiteiros Desmamados Precocemente e Alimentados com Diferentes Dietas Líquidas. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia. v. 34, n. 4, p. 1297-1304. 2005.

Comentários

Conforme resultados deste trabalho, a administração de anabolizantes durante a fase inicial de crescimento de bezerros pode ser uma boa alternativa para aumento de rendimento e comprimento de carcaça de animais leiteiros, permitindo seu aproveitamento. Uma fazenda leiteira com rebanho de 100 vacas deve descartar em torno de 45 bezerros machos anualmente, sendo que estes animais apresentam um custo aproximado de R$60,00. Algumas propriedades conseguem comercializar estes animais dentro de um crescente mercado de produção de vitelos. Entretanto, esta atividade ainda é bastante regionalizada e pontual, não sendo uma alternativa disponível para a maior parte dos produtores de leite. Em rebanhos que exploram animais cruzados, a manutenção de machos durante a cria e a recria tem sido realizada na tentativa de aumentar ganhos com a venda destes animais. Em propriedades que exploram animais especializados para a produção de leite, os ganhos são reduzidos devido às menores taxas de crescimento destes machos, assim como o reduzido rendimento de carcaça. Assim, a aplicação de técnicas que possibilitem o aumento das taxas de ganho e no rendimento de carcaça são importantes no que se refere a eficiência econômica desta atividade. Embora o trabalho apresentado tenha trazido bons resultados, a administração de anabolizantes ainda é proibida no Brasil. Dessa forma, ainda existe demanda por outros aditivos ou alterações na dieta que tragam resultados quanto ao aumento na produção de carne a partir do aproveitamento do macho leiteiro. Os próximos radares técnicos irão tratar de outras alternativas para aproveitamento deste animais dentro do sistema de produção.



_______________________________
1 - Departamento de Zootecnia - ESALQ/USP - carla@esalq.usp.br
2 - Aluna de mestrado em Ciência Animal e Pastagens - ESALQ/USP

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DIETHELM HAMMER

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/06/2006

Prezados pesquisadores,



A matéria está muito bem elaborada, continuem assim! Acima de tudo, tenho uma sugestão para todos que querem ou precisam viver da produção dos seus rebanhos leiteiros: o uso de raças de dupla aptidão.



Entre elas, a mais desenvolvida é a Fleckvieh, chamada Simental no Brasil. Na Alemanha, esta raça tem um regime de controle e seleção rigoroso que garante uma renda adicional à produção de leite pela valorização dos bezerros machos e fêmeas para a engorda em confinamentos. Existem rebanhos com produção média leiteira acima de 10.000 kg/lactação.



Os 100 tourinhos da RBW, associação de criadores de bovinos no sul da Alemanha, selecionados em 2005 para ser testados, são filhos de vacas com média acima da 10.000 kg de leite/lactação. Esses tourinhos - sem duvida filhos de vacas leiteiras - passaram o regime padronizado na central de teste e apresentaram um ganho médio de 1.427g por dia.



Temos rebanhos de gado holandês com médias de 10.000kg que cruzam hoje suas vacas com Fleckvieh e que não sofrem uma depressão no leite, mas aumentam a renda pela venda dos bezerros (as) e do peso da vaca.



No Brasil, o Fleckvieh alemão é uma opção ideal para o cruzamento com raças leiteiras - não só para Holandes e Girolandas. Lembro ainda que a vaca com a maior produção do torneio leiteiro da Expoleite em 2005 foi uma vaca Fleckvieh com média acima de 53 kg/dia.

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