ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Ordenha com apojo e desmama precoce foi mais lucrativa que ordenha sem bezerro

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/12/2004

7 MIN DE LEITURA

5
0

Por Fabiano Santos Junqueira1, Fernando Enrique Madalena2 e Guilherme Lanna Reis 1

Em recente enquete no MilkPoint (para consultá-la clique aqui), 37% dos participantes ordenhariam com apojo as vacas mais azebuadas e 12% todas, enquanto que 51% prefeririam ordenhar sem o bezerro, independentemente da raça. Quando indagamos, em palestras e aulas, se a resposta se baseou em conhecimento de resultados de pesquisa, verificamos que não, na maioria dos casos. Mas, se não leu pesquisas, então como é que sabe? É curioso que num assunto tão relevante a pesquisa não se considere necessária, igual que no resto. Entretanto, a pesquisa sobre métodos de se ordenhar as vacas com apojo é muito ativa em vários países, principalmente nos tropicais, mas também nos do primeiro mundo, estando hoje bem estabelecido que a ordenha com apojo, e a amamentação restrita, durante os dois ou três meses iniciais da lactação, estimulam a produção de leite, efeito que perdura após a desmama.

O objetivo deste artigo é apresentar alguns resultados de pesquisas que mostram vantagens para a ordenha com apojo e desmama precoce (OADP), sem nenhuma pretensão de ditar normas nem fazer recomendação alguma, ficando por conta do leitor tirar conclusões sobre a conveniência ou não de se utilizar o procedimento em cada situação determinada.

Na Tabela 1 se apresentam resultados de experimento realizado na EMBRAPA, com vacas mestiças Holandês x zebu. Pode ser visto que as vacas ordenhadas com apojo produziram, na lactação, 8,5% de leite a mais que as ordenhadas sem o bezerro, sendo que ao abater o leite usado para o aleitamento artificial neste último grupo, sobraram 277 litros de leite a mais para venda (10,1%) no primeiro. Note-se que a maioria das vacas tinha ¾ ou mais de sangue Holandês. Neste experimento não houve diferenças entre os tratamentos no peso, escore e fertilidade das vacas.

Geralmente se argumenta contra a técnica do apojo que a ordenha fica neste caso muito complicada. Embora seja verdade que o apojo dá trabalho, deve também se colocar na balança o tempo necessário para aleitar os bezerros e lavar os utensílios, que é semelhante ao de lidar com os bezerros na ordenha. Aplicando valores simulados aos resultados da Tabela 1, Caldas e Madalena (2001) sugeriram que a ordenha com apojo daria uma superioridade de R$ 109 por vaca, na lactação, sobre a ordenha sem bezerro, uma diferença da ordem de 26% da margem bruta estimada.

 


Para verificar estes resultados com vacas F1, montamos experimento (tese de mestrado do primeiro autor), na Fazenda Calciolândia, do Dr. Gabriel Donato de Andrade, em Arcos, MG, que usa este tipo de vaca leiteira como receptora em TE e que estava interessada no assunto, para decidir que tipo de nova sala de ordenha iria construir. O experimento foi igual a muitos outros publicados, apenas acrescentamos a cronometragem dos tempos despendidos na ordenha com e sem apojo.

Como pode ser visto na Tabela 2, a ordenha com apojo nos dois primeiros meses resultou também em maior produção de leite, sobrando 409 kg a mais para vender que na ordenha sem apojo. Ao se descontar o custo deste leite a mais, a superioridade na margem bruta foi estimada em R$ 106 por vaca, por lactação, porque também aqui os tempos despendidos com buscar e levar bezerros e apojar foram semelhantes aos tempos necessários para o aleitamento artificial, sendo que as vacas e bezerros de ambos os tratamentos tiveram desempenho semelhante nas outras características relevantes.

Salienta-se que a contagem de células somáticas ordenhando com e sem bezerro foi de 262 e 203 mil/ml, diferença não significativa estatisticamente, indicando que não há nada que desabone a técnica do apojo com respeito à saúde do úbere. De fato, a literatura indica que quando a saúde é boa, como neste caso, não há diferenças importantes com e sem apojo, mas quando sim há problemas, o apojo é mais higiênico, tanto pelos inibidores bacterianos na saliva quanto pelo maior esgotamento do úbere.

 


Existe a crença generalizada de que as vacas de raças européias ou de alto grau de sangue europeu não têm problemas para serem ordenhadas sem o bezerro. Isto é correto, no sentido de que elas descem o leite, mas o que não é bem conhecido é que as vacas dessas raças também produzem mais leite quando ordenhadas com apojo ou com amamentação natural restrita. Um exemplo disto pode ser observado na Tabela 3.

 


Krohn (2001) revisou trabalhos relacionados a vacas de alta produção em países do primeiro mundo, concluindo que a amamentação do leite residual não era vantajosa por problemas de ejeção durante a ordenha mecânica (num experimento, as vacas Holandesas "escondiam" de 10 a 75% do leite ordenhado). Sandoval-Castro et al. (1999) compararam vários procedimentos de amamentação restrita com vacas Holandesas produzindo 18 kg de leite/dia, na Inglaterra, e vacas Bos taurus x B. indicus produzindo 7 kg/dia, no México, e concluíram que "as holandesas em sistema de amamentação restrita, sem a presença do bezerro durante a ordenha, comportaram-se similarmente às mestiças de zebu, reduzindo a descida do leite na ordenha".

De todo modo, a ordenha com apojo por 70 dias aumentou em 10% a produção total de leite de vacas Holandesas em Cuba, e, na Austrália, a ordenha pela manhã combinada por amamentação de várias bezerras à tarde, a aumentou em 15%, com respeito à ordenha sem bezerro. Já em vacas ¾ europeu x zebu, no México, o aumento da produção foi de 32% (vários autores, citados por Caldas e Madalena, 2001). Assim, mesmo que nas vacas ¾ ou mais não se percebam problemas na ordenha sem bezerro, pode se estar perdendo produção, sem sabe-lo. Alguns poderão achar preferível priorizar o menor tempo de ordenha mesmo às custas de perder leite, enquanto que outros, ao contrário, podem preferir obter maior lucro embora que a ordenha seja um pouco mais demorada. No caso da Fazenda Calciolândia, eles optaram por construir uma sala de ordenha, para 350 vacas, em linha, com portinhola em sistema de guilhotina, que permite ao ordenhador controlar o apojo puxando uma cordinha desde o fosso.

Os autores estão cientes de que existem muitas nuances, ressalvas e situações particulares que desabonam uma receita geral para toda e qualquer fazenda. Entretanto, os resultados de pesquisas, como as descritas, certamente sugerem que, para a grande maioria das fazendas leiteiras da região tropical brasileira, a técnica do apojo nas semanas iniciais da lactação seja sim mais lucrativa que a ordenha sem bezerro.

Maiores detalhes e considerações, que não cabem neste espaço, podem ser encontradas no Cap. 15, Ordenha com e sem bezerro, do livro Produção de Leite e Sociedade (www.vet.ufmg.editora) e nos Anais do 50 Encontro de Produtores de Gado Leiteiro F1 (Instituto ProCiência, iprociencia@terra.com.br).

Referências bibliográficas:

BAR-PELED, U.; MALTZ, E.; BRUCKENTAL, I. et al. Relationship between frequent milking or suckling in early lactation and milk production of high producing dairy cows. Journal of Dairy Science, v.78, n.12, p.2726-2736, 1995.


CALDAS,R.P.; MADALENA, F.E. Ordenha com ou sem bezerro. In: MADALENA, F. E.; MATOS, L. L.; HOLANDA JR., E. V. Produção de leite e sociedade. FEPMVZ: Belo Horizonte, p.243-260, 2001.

CAMPOS, O.F.; LIZIEIRE, R.S.; DERESZ, F. et al. Sistemas de aleitamento natural controlado ou artificial. 1. Efeitos na performance de vacas mestiças holandês-zebu. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.22, n.3, p. 413-422, 1993a.

CAMPOS, O.F.; LIZIEIRE, R.S.; DERESZ, F. et al. Sistemas de aleitamento natural controlado ou artificial.2. Efeitos na performance de bezerros mestiços holandês-zebu. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.22, n.3, p.423-431, 1993b.

JUNQUEIRA, F.S.; MADALENA, F.E.; REIS, G.L. et al. Ordenha de F1, manual e mecânica, com e sem bezerro. In: Encontro de Produtores de Gado Leiteiro F1, 5, 2004, Belo Horizonte. Anais...Belo Horizonte: PUC- MG, 2004, p 45-73.

KROHN, C.C. Effects of different suckling systems on milk production, udder health, reproduction, calf growth and some behavioural aspects in high producin dairy cows - a review. Applied Animal Behaviour Science, v.72, n.3, p.271-280, 2001.

SANDOVAL-CASTRO, C.A.; ANDERSON, S.; LEAVER, J.D. Influence of milking and restricted suckling regimes on milk production and calf growth in temperate and tropical environments. Animal Science, v.69, p. 287-296, 1999.

___________________________________________________

1Médico Veterinário, produtor de leite e mestrando da UFMG
2Professor da UFMG

5

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

FAZENDA PÉ DE CEDRO

SÃO GERALDO DO ARAGUAIA - PARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/03/2014

faço ordenha com apojo só que tiro os  bezerros só   aos 8 meses  a idade que aparto os bezerros  e tenho obtido sucesso.




FABIANO SANTOS JUNQUEIRA

PARÁ DE MINAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 22/03/2010

Caro Wellington,

neste experimento trabalhamos apenas com vacas 1/2 sangue.
Entretanto, outros trabalhos já mostraram que mesmo vacas 100% européias (Holandês ou Jersey) também produzem mais leite quando na presença do bezerro no início da lactação, sendo que nestes trabalhos não foi citado que as mesmas sentiram a retirada do bezerro.

Atenciosamente,

Fabiano
WELLINGTON MARCOS DE PAIVA SILVA

CARRANCAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 19/03/2010

As vacas com grau de sangue 3/4 ou acima, sentiram a retirada do bezerro após os 56 dias, conforme relato nas 1/2 sangue?
GUSTAVO FRANCISCO CARVALHO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/12/2006

Gostaria de saber se a retirada do bezerro após 56 dias não teve influência no período de lactação das vacas 1/2 sangue, ou seja, elas continuaram "descendo" leite normalmente? Não houve apliacação de oxitocina? Não houve redução no período de lactação?

Grato

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Gustavo,

Em resposta as suas dúvidas venho a esclarecer: a grande maioria das vacas continuou a descer leite normalmente. Cerca de 6% (3 em 52) secaram pouco tempo após a retirada do bezerro (menos de 120 dias de lactação).

Ainda com relação a tal manejo, 8 vacas (em 52) tiveram lactação inferior a 180 dias. Infelizmente, não podemos comparar tais dados com vacas com bezerro até o fim da lactação, pois o número de animais não seria suficiente. Sendo assim, não posso afirmar se o período de lactação seria maior com este manejo.

Não houve aplicação de ocitocina.

Atenciosamente,

Fabiano
PAULO ROBERTO DE SOUZA

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/07/2005

Gostaria de saber como foi mensurada a quantidade de leite consumido pelo bezerro em regime da ordenha com apojo, visto que o leite é consumido pelo bezerro diretamente no teto da vaca.



<b>Resposta do autor</b>



Caro Paulo Roberto,



O leite consumido pelos bezerros foi medido através da pesagem do bezerro antes e depois de mamar, considerado o leite consumido como sendo a diferença de peso do bezerro entre a segunda e a primeira pesagem.



Estou à disposição para o esclarecimento de qualquer dúvida.



Um abraço,

Fabiano

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures