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Cruzamento em bovinos leiteiros: aspectos sobre a fertilidade

POR NATHÃ CARVALHO

E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

NATHÃ CARVALHO E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

EM 10/03/2017

10 MIN DE LEITURA

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Em texto anteriormente publicado, fizemos uma introdução sobre a utilização de cruzamentos em gado de leite, abordando de forma superficial, alguns trabalhos científicos publicados em diferentes partes do mundo sobre o desempenho dos produtos cruzados. Neste texto, vamos nos aprofundar um pouco mais sobre o assunto, porém evidenciando uma característica em especial: a fertilidade, que possui relação direta com a rentabilidade das propriedades que se dedicam à produção de bovinos.

Pesquisas antigas e atuais apontam para uma maior eficiência reprodutiva nas vacas cruzadas em relação às vacas puras. Uma delas publicada por Sorensen et al. (2008), apontaram que pode ser esperada uma heterose de aproximadamente 10% para fertilidade em sistemas de cruzamento entre raças leiteiras especializadas. Estudos de metanálise dos dados de fazendas e experimentos realizados nos Estados Unidos demonstram índices reprodutivos superiores em matrizes leiteiras oriundas de cruzamentos entre diferentes raças leiteiras.

Em outra ocasião, embora antigo, trabalho conduzido na Divisão de Pesquisa Animal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, McDowell et al. (1970) encontraram menos dias abertos nos cruzamentos de Holandês com a britânica Ayrshire (106 dias) e de Pardo Suíço com Holandês (126 dias), quando comparados aos produtos puros da raça Holandesa (144 dias). Os mesmos autores descreveram taxas de concepção aos 145 dias superiores nos mesmos produtos oriundos de cruzamentos. As fêmeas cruzadas de Pardo Suíço com Holandês apresentaram taxas médias de 86% e de Ayrshire/Holandês de 78%, índices bem superiores aos 64% encontrados nas matrizes Holandesas puras. Embora a seleção para maior fertilidade na raça Holandesa esteja ocorrendo, a pesquisa demonstrou já naquela época, a superioridade dos cruzamentos neste sentido.

Corroborando, Dickinson e Touchberry (1961) encontraram taxas de parições relativamente superiores em fêmeas F1 resultantes do cruzamento das raças Holandês e Guernsey, quando 85,1% das fêmeas estudadas pariram uma vez e 80,3% tiveram o segundo parto, enquanto 71,9% das vacas puras tiveram apenas um parto e somente 64,5% repetiram cria. Fortalecendo a prática do cruzamento, Donald e Russel lá em 1968, avaliaram a concepção média no primeiro serviço de fêmeas puras das raças Ayrshire, Jersey e Holandês em relação a fêmeas F1 destas raças com o Holandês, os quais descreveram taxas médias de concepção de 58% nas matrizes cruzadas e de 47% nas puras das três raças, indicando um provável efeito da heterose nesta característica.

Figura 1 - McDowell et al. Já em 1970 encontraram taxas de concepção superiores (86%) em vacas F1 Pardo Suíço/Holandês nos EUA. 

Pardo Suíco/Holandês - gado de leite


Pesquisa mais recente, realizada com 50 produtores de leite americanos, conduzida por Weigel e Barlass (2003) indicou que as fêmeas oriundas de cruzamentos de Pardo Suíço com Holandês e de Jersey com Holandês apresentaram vantagens como taxas de concepção mais elevadas e melhoria na fertilidade, além de maior longevidade, quando comparadas com as puras, predominantemente Holandesas. Com o mesmo propósito, Heins et al. (2006) buscaram determinar diferenças entre as raças Holandesa pura em relação a fêmeas meio sangue Normando/Holandês, Montbeliárde/Holandês e Escandinavos Red (Sueca Vermelha e Branca/Norueguês Vermelho e Branco) com Holandês durante a primeira lactação para características de fertilidade (dias para o primeiro serviço, dias abertos e taxas de concepção ao primeiro serviço), a partir de informações fornecidas por sete produtores comerciais localizados na Califórnia. Na análise de dias para o primeiro serviço, os produtos gerados pelo cruzamento de Normando com Holandês apresentaram média de 62 dias, enquanto as fêmeas filhas de touros da raça Montbeliarde obtiveram média de 65 dias e as Holandesas puras, 69 dias.

As médias de taxas de concepção no primeiro serviço destacaram novamente os produtos cruzados, em especial as F1 de Normando/Holandês com 35%, seguidas pelas F1 Montbeliarde/Holandês com 31% e pelos animais puros Holandês (22%). Os indivíduos resultantes do cruzamento de sêmen de touros Escandinavos Red com Holandês tenderam a uma maior taxa de concepção no primeiro serviço quando comparados às Holandesas, embora sem diferença significativa. Conforme os autores, a heterose pode ter aumentado as taxas de concepção para os cruzados neste estudo. O resumo dos resultados percentuais obtidos está apresentado na tabela abaixo.

cruzamentos de bovinos leiteiros
Percentual de fêmeas de primeira cria por grupo racial e por períodos de dias abertos publicado por Heins et al. (2006b).

Outros resultados semelhantes foram apresentados por Dechow et al. (2007) a partir de informações de 19 rebanhos nos Estados Unidos que realizaram cruzamentos entre Pardo Suíço e Holandês, onde se avaliou o número de dias em abertos (intervalo entre o parto e uma nova concepção) dos animais cruzados e dos exemplares puros das duas raças. Em sua publicação de resultados, os autores descreveram que os indivíduos puros apresentaram significativamente mais dias abertos em relação aos produtos F1 do referido cruzamento.

Trabalho mais recente, realizado no Brasil por Knob (2015) em Santa Catarina e no Paraná, sob a mesma ótica de avaliação, por intermédio da aferição de vacas puras da raça Holandesa e oriundas de cruzamento entre Holandês e Simental, ele encontrou intervalo entre partos menor nas fêmeas cruzadas (F1), com diferença de 64 dias a menos quando comparadas às puras Holandesas (381,04 x 445,32 dias).

Em relação ao intervalo do parto até a primeira cobertura (dias para o primeiro serviço), as fêmeas meio sangue Simental apresentaram período mais curto (65,61 dias), mostrando que neste caso, após o parto as vacas mestiças retornaram à ciclicidade antes das puras (89,34 dias). Outro indicador de fertilidade avaliado foi à taxa de concepção, a qual foi maior nas vacas F1. Quanto à idade ao primeiro parto, o estudo não encontrou diferenças entre os grupos genéticos, ambos com média de 28 meses. Tais índices, na visão da autora, demonstram claramente que as vacas F1 apresentaram desempenho reprodutivo superior às vacas Holandesas puras. Estes resultados possivelmente refletiram a heterose e a complementaridade entre as raças deste cruzamento.

Avaliando o desempenho reprodutivo de distintas frações genéticas oriundas do cruzamento entre as raças Holandesa e Gir leiteiro em propriedade localizada em Passos/MG, Júnior (2011), observou melhor desempenho de animais ½ sangue (F1), quando comparados aos exemplares com maior percentual de genética de Holandês. As fêmeas F1 (½ sangue) apresentaram a menor média para idade ao primeiro parto (30,95 meses) e esta aumentou gradativamente nos demais graus de sangue: ¾ Holandês (32,76 meses), 7/8 Holandês (33,62 meses) e Holandês puro por cruza (34,89). As diferenças estatísticas observadas para idade ao primeiro parto comprovaram que os animais ½ sangue (F1) foram os mais precoces, seguidos dos 3/4, 7/8 e PC Holandês.

O experimento também avaliou o intervalo de partos, quando novamente os animais ½ sangue Holandês/Gir Leiteiro se sobressaíram ao apresentarem a média de 388,14 dias ao serem comparados com os produtos ¾ Holandês (404,92 dias), 7/8 Holandês (407,26 dias) e Holandês puros por cruza (407,80) que foram basicamente iguais. Assim como nos demais indicativos, as vacas ½ sangue também foram superiores quanto ao período de serviço, que foi menor (109,36 dias) em relação à média encontrada nos demais graus de sangue analisados (média de 125,69 dias). O autor, concluiu que a maior precocidade sexual observada para as fêmeas F1 sugere a influência dos efeitos da heterose para as características reprodutivas.

Figura 2 - Pesquisa realizada em Passos (MG) encontrou melhor desempenho reprodutivo em animais ½ sangue Holandês/Gir Leiteiro.

Holandês/Gir Leiteiro.

Os resultados apresentados no estudo relatado acima, para idade ao primeiro parto e intervalos de partos, estão de acordo com os obtidos por Freitas et al. (1980, apud PEREIRA, 2012), que mostraram que os animais F1 e F2 (¾ Holandês) apresentaram índices mais baixos e intermediários respectivamente quando comparados com os obtidos pelos exemplares puros Holandês. Segundo o autor, dados mencionados por diversos pesquisadores, em diferentes países, reforçam seus achados de desempenho reprodutivo dos mestiços (F1 e F2).

McManus et al. (2008) também analisaram os registros de animais cruzados com Gir Leiteiro, totalizando 1.456 parições de vacas leiteiras de diferentes composições genéticas do cruzamento entre as raças Holandês e Gir Leiteiro em rebanho de uma fazenda localizada no estado de Goiás. A pesquisa apresentou valores para o intervalo de partos menores entre os animais ¾ Holandês-¼ Gir (355,7) ao serem comparados com a média apresentada pelas fêmeas puras da raça Holandesa (458 dias). Os autores observaram que os animais ¾ Holandês-¼ Gir, foram os mais precoces, indicando que os exemplares desta composição racial foram reprodutivamente mais eficientes. O resultado corrobora com aqueles descritos por Facó et al. (2008) que afirmaram que a estratégia mais adequada para melhorar o desempenho para a característica “intervalo de partos” é a utilização de cruzamentos.

Muitas são as razões que podem explicar o antagonismo entre produção de leite e eficiência reprodutiva. Do ponto de vista biológico, o estresse resultante da alta produção e o balanço energético negativo parecem ser as de maior relevância (SILVA et al., 1998). Outro problema que pode estar atrelado à perda de fertilidade (e saúde) é o aumento da endogamia, que, no caso específico do Holandês, que constitui o principal recurso genético bos taurus taurus no mundo, decorreu do uso muito intensivo de reprodutores famosos de origem americana (MADALENA, 2007).

Bem por isso, conforme demonstraram os resultados acerca dos cruzamentos, aliado ao fato que o desempenho reprodutivo prejudicado denota impacto significativo na rentabilidade da atividade e não pode ser totalmente compensado pelo aumento da produção de leite (HRISTOV et al., 2013), não há outra possibilidade imediata a não ser aquela pela busca de genótipos mais adaptados aos sistemas produtivos em vigência na atualidade.

No próximo artigo, vamos abordar a utilização de cruzamentos em bovinos leiteiros sob o ponto de vista da rusticidade e da adaptabilidade.

Referências bibliográficas

DECHOW, C. D. et al. Milk, Fat, Protein, Somatic Cell Score, and Days Open Among Holstein, Brown Swiss, and Their Crosses. Journal of Dairy Science, v. 90, p. 3542–3549, 2007.

DICKINSON, F. N., TOUCHBERRY, R. W. Livability of purebred versus crossbred dairy cattle. Journal of Dairy Science, v. 44, p. 879–887, 1961.

DONALD, H. P.; RUSSELL, W. S. Some aspects of fertility inpurebred and crossbred dairy cattle. Anim. Prod, v. 10, p. 465–471. 1968.

FACÓ, O. et al. Efeitos genéticos aditivos e não-aditivos para características produtivas e reprodutivas em vacas mestiças Holandês × Gir. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, n. 1, p. 48-53, 2008.

HEINS, B. J.; HANSEN, L. B.; SEYKORA, A J. Fertility and survival of pure Holsteins versus crossbreds of Holstein with Normande, Montbeliarde, and Scandinavian Red. Journal of Dairy Science, v. 89, n. 12, p. 4944–4951, 2006.

HRISTOV, A. N. et al. Special Topics – Mitigation of methane and nitrous oxide emissions from animal operations: III. A review of animal management mitigation options. Journal of Animal Science, v.91, n. 11, p. 5095-5113, 2013.

JUNIOR, A. B. Avaliação de desempenho produtivo e reprodutivo de animais mestiços do cruzamento Holandês x Gir. 2011. 56 f. Dissertação (Mestrado em Produção Animal Sustentável)-Instituto de Zootecnia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Nova Odessa, 2011.

KNOB, D. A. Crescimento, desempenho produtivo e reprodutivo de vacas Holandês comparadas às mestiças Holandês x Simental. 2015. 100 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)-Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2015.

MADALENA, F. E. Problemas dos rebanhos leiteiros com genética de alta produção – Revisão bibliográfica. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. 33 p.

McDOWELL, R. E. et al. Interbreed matings in dairy cattle. V. Reproductive performance. Journal of Dairy Science, v. 53, p. 757–763, 1970.

McMANUS, C. et al. Características produtivas e reprodutivas de vacas Holandesas e mestiças Holandês × Gir no Planalto Central. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, n. 5, p. 819-823, 2008.

PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p.

SILVA, M. V. G. B. et al. Associação genética, fenotípica e de ambiente entre medidas de eficiência reprodutiva e produção de leite na Raça Holandesa. Revista Brasileira de Zootecnia, v.27, n.6, p.1115-1122, 1998.

SØRENSEN, M. K. et al. Invited Review: Crossbreeding in Dairy Cattle: A Danish Perspective. Journal of Dairy Science, v. 91, p. 4116–4128, 2008.

WEIGEL, K. A; BARLASS, K. A. Results of a producer survey regarding crossbreeding on US dairy farms. Journal of Dairy Science, v. 86, n. 12, p. 4148–54, 2003.

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NATHÃ CARVALHO

Zootecnista formado pelo Instituto Federal Farroupilha (campus Alegrete/RS) e discente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (área de Melhoramento Genético Animal).

EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

Médico Veterinário e Doutor em Zootecnia pela UFSM. Docente do Instituto Federal Farroupilha (Alegrete/RS), onde é professor do curso de Zootecnia.Coordenador de produção e orientador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Ruminantes na mesma instituição

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