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Foco na brucelose bovina

POR RENATA DE OLIVEIRA SOUZA DIAS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/10/2005

6 MIN DE LEITURA

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O aumento das exportações brasileiras dos produtos de origem animal faz com que o combate das doenças que criam barreiras para a entrada de nossos produtos no mercado internacional seja fortemente intensificado. Dentre estas doenças, destaca-se a brucelose, uma zoonose causadora de grandes perdas econômicas para a pecuária brasileira e cujo controle provoca um grande impacto nos setores produtores de carne e leite no país.

A Brucelose é uma zoonose muito antiga. Para ilustrar o quanto antiga ela é, vale a pena relatar um fato da história da humanidade. Sabe-se que no ano 79 depois de Cristo, ocorreu uma doença que devastou a população de algumas cidades do Monte Vesúvio. Quase dois mil anos mais tarde, ao pesquisar as lesões ósseas daquela população, observaram-se características sugestivas de infecção brucélica. É relevante enfatizar que a população do Monte Vesúvio tinha como principal fonte protéica em sua alimentação o leite de pequenos ruminantes.

Apesar de muita antiga e dos significativos avanços realizados pela pesquisa para controlar esta doença, a brucelose ainda é considerada por organismos internacionais a zoonose mais difundida no mundo.

Considerando a grande importância da brucelose e, sobretudo, a conscientização das pessoas que trabalham com bovinos para o severo controle da doença, foi publicada no Caderno Técnico de Veterinária e Zootecnia (Abril de 2005) uma excelente revisão sobre o tema, onde pesquisadores das diferentes áreas relacionadas com a brucelose apresentam uma versão atualizada e detalhada sobre os mais importantes aspectos da doença. O presente artigo trás alguns pontos discutidos no conteúdo do Caderno Técnico.

A Brucella abortus, bactéria causadora da brucelose bovina, apresenta características muito interessantes que possibilitaram sua sobrevivência e disseminação ao longo das décadas em que esta doença é combatida. Uma destas características é a sua capacidade de sobreviver e multiplicar no interior de células especializadas em destruir agentes invasores no organismo, tais como os macrófagos.

A principal via de infecção do patógeno é o trato gastrointestinal, sendo que a ingestão do material resultante de aborto, parto e descargas uterinas de animais infectados são as principais fontes disseminadoras do agente no rebanho. Depois de ingerida pelo bovino a Brucella abortus se aloja nos linfonodos regionais, sendo então disseminada para todo o organismo via circulação linfática. Sabe-se que a, Brucella abortus possui grande afinidade pela placenta. Nos trofoblastos, encontra condições favoráveis para sua multiplicação, principalmente no final da gestação, fase em que ocorrem os abortos causados pela Brucelose.

Os aspectos clínicos da brucelose são principalmente a queda da produção de leite, aumento da contagem de células somáticas no leite e redução da fertilidade (aborto e metrite). Uma característica que merece ser comentada é que nas regiões onde a Brucelose é enzoótica, as vacas com mais de cinco anos de idade podem apresentar higromas (inflamação com produção de exsudato) nas articulações.

A pneumonia é a alteração macroscópica fetal mais comumente descrita nos abortos causados pela brucelose. Nos casos em que os métodos de diagnóstico diretos forem a melhor opção, os materiais mais indicado para ser enviado ao laboratório são as secreções e fragmentos de órgãos do feto abortado (pulmão, baço, fígado, conteúdo abomasal e swab retal), placenta e secreções vaginais. O material a ser enviado deve ser colocado em recipiente resistente, a prova de vazamentos e corretamente identificado. Este recipiente deverá ainda ser colocado em saco plástico resistente e corretamente endereçado. Caso o transporte seja rápido o material pode ser refrigerado, caso contrário, o material deve ser congelado (nos casos de exame histopatológico o material deverá ser mantido em formol a 10% e mantido em temperatura ambiente).

Durante a coleta e manuseio do material proveniente de animais suspeitos deve-se utilizar equipamentos para proteção, tais como luvas, óculos, máscara (P2 ou N95) e avental de manga longa. É sempre importante lembrar que esta doença trata-se de uma zoonose e que pode ser transmitida ao homem por contato direto ou aerossol. Os veterinários e vaqueiros são o principal grupo de risco.

Em 2001, foi instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) o Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). As normas contidas no PNCEBT buscam implementar uma estratégia de combate efetivo e que possam estabelecer um conjunto de medidas padronizadas em todo o país. Com isso, o programa buscou evitar as constantes dúvidas e diferenças que ocorrem no momento de diagnosticar a doença e as diferentes atitudes implementadas pelos técnicos das distintas regiões do país.

A padronização dos métodos de diagnóstico é um dos importantes pontos instituídos pelo o Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). Como testes de rotina são aprovados os testes do antígeno acidificado tamponado (AAT) e o teste do anel em leite (TAL); como testes confirmatórios são aprovados o teste do 2-mercaptoetanol (2ME) e a fixação de complemento (FC). Os testes instituídos pelo PNCEBT são métodos sorológicos e a coleta de sangue para a sorologia apresenta um nível de risco inferior que a coleta de material para o diagnóstico direto. Para a coleta de sangue recomenda-se utilizar tubos siliconizados, com vácuo e sem anticoagulante. Após a coleta, para que ocorra a coagulação, os tubos devem permanecer em temperatura ambiente e abrigados da luz solar, por aproximadamente uma hora. Após este período, os tubos podem ser colocados sob refrigeração. Posteriormente, o soro deve ser colocado em um frasco identificado e mantido sob refrigeração ou congelado.

Os programas de controle e erradicação utilizam testes em série, buscando adequar às características do exame, praticidade, custo e o estágio do programa de controle. Os testes de triagem geralmente são testes de alta sensibilidade. A sensibilidade de um teste é a probabilidade de um animal infectado ser classificado como positivo no teste. Desta forma, é possível ter uma visão geral do estado do rebanho com o teste inicial de triagem. Posteriormente, deve-se realizar uma prova confirmatória nos animais que apresentaram resultados positivos, evitando com isso, resultados falso-positivos do exame de triagem. Para que isso seja possível, as provas confirmatórias devem ser de alta especificidade. Especificidade é a probabilidade de um animal não infectado ser classificado como negativo no teste.

A sistematização das medidas de controle da Brucelose é fundamental para o programa de erradicação. Basicamente o controle deve ser fundamentado em dois alicerces:

1. Prevenção da exposição à Brucella abortus:
- segregação e sacrifício dos animais infectados,
- limpeza / desinfecção das instalações e utensílios,
- destruição de restos placentários e fetos abortados,
- utilização de pasto maternidade,
- testes e quarentena na introdução de animais no rebanho.

2. Aumento da resistência da população bovina à infecção com os programas de vacinação:
- Vacina B19

Utilização obrigatória em bezerras de três a oito meses de idade. Nas raças com puberdade precoce, como algumas raças européias, recomenda-se que as bezerras sejam vacinadas até os seis meses de idade. Esta prática visa minimizar a interferência no diagnóstico sorológico já na idade adulta. Destaca-se que a vacina não tem efeito curativo, não alterando o curso da doença em animais infectados. É sempre bom relembrar que os machos não devem ser vacinados.

- Vacina RB51

Vacina aprovada pelo PNCEBT para utilização em animais com idade acima de oito meses de idade. É uma boa opção para rebanhos que possuam fêmeas adultas não vacinadas, ou nos casos de surtos da doença. Assim como a B19, a RB51 não tem efeito curativo, não deve ser utilizada nos machos e deve-se utilizar material de proteção ao manusear a vacina.

Por fim, o efetivo controle da doença dependerá de uma ampla divulgação das corretas estratégias e técnicas estabelecidas pelo PNCEBT. O assunto precisa ser abordado de forma clara para que possa alcançar e interessar o proprietário, o aluno, o funcionário da fazenda, o veterinário, etc. A integração de cada pessoa envolvida no processo de produção irá colaborar para o sucesso do programa. O PNCETB foi elaborado por profissionais de grande mérito e é um programa moderno, dinâmico, com visão de longo prazo, foco e estratégias bem definidas. Por isso, e pela importância do controle destas doenças para o futuro da pecuária no país, o programa merece o verdadeiro empenho de todos os envolvidos com a produção de leite e carne.

Fonte: Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, no47, p.1-41, 2005.

RENATA DE OLIVEIRA SOUZA DIAS

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NEVIO PRIMON DE SIQUEIRA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/11/2005

Caros colegas, tenho a informar que a vacina RB-51 foi autorizadas para uso dentro do PNCEBT em casos de focos, porém sua liberação foi cassada tão logo surgiu o primeiro caso de vaca-louca nos Estados Unidos, assim como outras vacinas e produtos de origem biológica com matéria-prima de origem animal. É uma pena, pois seria de muita serventia para nos já que a b-19 não pode ser usada em adultos e sua eficiência não é vitalícia.



Resta-nos esperar que ela seja produzida no Brasil, o que já esta sendo providenciado por um grande laboratório e talvez para o primeiro semestre de 2006 (final) já poderá estar no mercado, segundo informações que obtive de fonte fidedigna.



Abraços,



Névio.

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