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Leite de descarte: deve ser fornecido para bezerras?

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 06/08/2012

3 MIN DE LEITURA

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Camila Silano* e Marcos Veiga dos Santos

Um dos principais prejuízos que o produtor percebe em relação à mastite é o descarte do leite de vacas em tratamento de mastite clínica. O tratamento de mastite é a principal causa de uso de antibióticos em vacas leiteiras. Considerando os custos totais de um caso clínico, o descarte do leite pode representar até 40% dos custos diretos, enquanto que os custos de redução da produção são estimados em 55% e custos com medicamentos, 5%. Isso ocorre porque todo leite proveniente de vacas tratadas com antibióticos, o chamado leite de descarte, não pode ser vendido para consumo humano. Este leite além de representar uma séria perda econômica para o produtor, torna-se também um problema de resíduo na fazenda, pois não deve ser descartado no ambiente, principalmente em situações, nas quais um elevado número de vacas encontra-se em tratamento. Como alternativa para reduzir ambos os problemas econômicos e ambientais, muitos produtores adotam a prática de fornecer este leite de descarte para as bezerras em fase de aleitamento. Esta solução aparentemente simples ainda é tema de grande controvérsia, pois o fornecimento de leite com resíduos de antibióticos pode trazer dois problemas potenciais: a) aumentar o risco de resistência bacteriana em bactérias intestinais, b) transmissão de bactérias causadoras de mastite para as bezerras em crescimento.
Alguns estudos demonstraram que a ocorrência de resistência antimicrobiana é maior em bezerros do que vacas adultas, sendo mais comum sobre bactérias Escherichia coli (E. coli) de origem intestinal. Como a resistência antimicrobiana é resultado do uso continuado de antibióticos, fornecer o leite de descarte, pode resultar em seleção indireta de bactérias resistentes na flora intestinal dos bezerros. Além da seleção de bactérias resistentes, a resistência aos antimicrobianos pode ser transferida entre bactérias patogênicas que causam infecções em humanos e animais. Desta forma, a eficácia dos antibióticos pode ser comprometida quando houver a necessidade de tratamentos em humanos e animais.
Os resultados de estudos sobre uso de leite de descarte para aleitamento de bezerras são inconsistentes e em pequeno número. Por exemplo, um estudo realizado na Inglaterra avaliou os efeitos da alimentação de bezerras com leite de vacas em tratamento com antibiótico sobre o consumo de leite, o desempenho de crescimento e os níveis de resistência de bactérias entéricas. As bezerras foram alimentadas com leite descartado de vacas em tratamento com antibióticos ou com sucedâneos comerciais. O leite contendo resíduos de antibiótico foi menos palatável e houve maior taxa de rejeição. Além disso, a ganho de peso das bezerras foi menor quando alimentadas com o leite de descarte. Em relação à resistência bacteriana, cepas intestinais de E. coli apresentaram maior resistência para estreptomicina, mas não para ampicilina. Outros estudos, no entanto, apontaram resultados diferentes, uma vez que o uso do leite de descarte não trouxe prejuízos sobre o consumo de leite, ganho de peso e incidência de diarreias, uma vez que o valor nutricional do leite de descarte é similar ao do leite normal.
Se manejado e fornecido corretamente o uso de leite de descarte para aleitamento de bezerras pode ser uma alternativa econômica e nutritiva para o aleitamento de bezerras. No entanto, o uso do leite de descarte não está livre de riscos de transmissão de doenças e de aumento da resistência antimicrobiana. Sendo assim, alguns cuidados devem ser tomados com o leite de descarte:
• Não utilize leite de descarte para bezerros nos primeiros dias de vida. Neste período inicial, a parede intestinal é mais permeável a bactérias causadoras de doenças. Além disso, não utilize leite de descarte com alterações visuais (presença de sangue, leite aquoso, excesso de grumos).
• O leite da primeira ordenha após o tratamento com antibiótico deve ser diluído em maior volume de leite sem antibiótico, pois contém uma carga elevada do princípio ativo. Todo o leite de descarte deve ser identificado para evitar risco de contaminação do leite a ser comercializado.
• Forneça leite de vacas em bom estado de saúde. Para reduzir o risco de transmissão de doenças pelo leite, o ideal é pasteurizar (72OC por 15-20 segundos ou 65oC por 30 minutos) todo o leite a ser usado para aleitamento das bezerras. Esta prática reduz o risco de que o leite seja um veículo de transmissão de agentes causadores de doenças, como mastite, E. coli, S. aureus, Salmonella, diarreia viral bovina e paratuberculose.
• Leite de vacas com mastite somente deve ser fornecido para bezerras alojadas individualmente (sem contato entre si), para evitar a ocorrência de mamada entre bezerras, o que aumenta a risco de transmissão de agentes causadores de mastite em novilhas.

*Camila Silano é médica veterinária e aluna de pós-graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP.


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MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 10/11/2014

Prezado Victor, eu não conheço nenhum estudo que tenha feito este tipo de avaliação, mas penso que seria pouco provável.

Atenciosamente, Marcos Veiga
VICTOR IONATAN FIOREZE

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/11/2014

Olá Dr. Marcos!

Parabéns pelo artigo! Gostaria de saber se o fornecimento de leite proveniente de animais mastíticos poderia prejudicar a colonização e formação da microbiota ruminal inicial.

Muito Obrigado!
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 20/08/2012

Prezado Milton,

O aparecimento de resistência é um processo de médio para longo prazo (anos) e não é possível estimar com precisão quando ocorre. A seleção de bactérias mais resistentes ocorre ao longo de vários anos e décadas de uso dos antibiórticos.

Também não é fácil estimar quanto tempo a resistência persiste e se pode regredir.

Atenciosamente, Marcos Veiga
MILTON SHIGUEO SATO

REGENTE FEIJÓ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/08/2012

A resistencia aos antibioticos aparece c/ o uso continuo de leite contaminado ou c/ a utilização de alguns dias apenas? E essa resistencia persiste durante quanto tempo no organismo do animal? atenciosamente.
IVÁN SALAMANCA MONTESINOS

GOIÂNIA - GOIÁS - ESTUDANTE

EM 09/08/2012

muito interessante, vou tomar em consideração. abraçoss
MATEUS Y CASTRO DA SILVA

CASCAVEL - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 08/08/2012

Prezado Dr. Marcos Veiga !
Primeiramente queria lhe parabenizar pela escolha do assunto, um assunto polêmico no mundo do leite, mas que poucos esclareceram de forma muito clara e principalmente com embasamento científico.

Atenciosamente

NATÁLIA REGINA CESARETTO

MONTE APRAZÍVEL - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/08/2012

Não há de que!
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/08/2012

Prezado Nelson, os cuidados principais estão descritos no artigo. Caso tenha alguma dúvida específica que não foi abordada, por favor, envie um comentário. Atenciosamente, Marcos Veiga
NELSON JESUS SABOIA RIBAS

GUARACI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/08/2012

Marcos
No caso de descarte do leite, qual a orientação a cuidados a serem tomados etc.
Muito bom e oportuno o seu artigo, parabéns!
Obrigado

Nelson
CRISTIAN ARMENDARIS

FRANCISCO BELTRÃO - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 08/08/2012

Parabens pelo artigo, considerei bastante objetivo, mesmo num assunto com tantas divergencias, o problema ambiental é um fato no leite de descarte, alternativa como fornecer a outra especie (suina) é uma possibilidade, mas depois da vaca louca fica-se pensando tambem no risco.
Infelizmente a logica que melhor se adapta, parece ser a usada para nosso proprio consumo, niveis minimos de antibiotico aceitos, enfim a diluição do leite de descarte e um controle de mastite efetivo do rebalho. Atacar a origem principalmente e minimizar a causa, me parece ser o foco.
Parabens novamente a Camila e Marcos como sempre esclarecedores.
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/08/2012

Prezada Natália, obrigado pelo seu comentário, atenciosamente, Marcos Veiga
NATÁLIA REGINA CESARETTO

MONTE APRAZÍVEL - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/08/2012

Não concordo!!! Será que as Normas Brancas aprova isso?????? Será que se falarmos a um fiscal que oferecemos leite de descarte a bezerros eles aceitariam?
VICENTE BELLÓ

ITAJUBÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/08/2012

Prezado Marcos;

Tema polemico para muitos, mas escrito com sobriedade é bem interesante.

Em nossa propriedade utilizavamos sucedaneo / leite sujo ( 2:1 ) para aleitamento de bezerras, entretanto com a entrada do pagamento por qualidade alteramos o aleitamento de bezerras para leite de vacas em fim de lactação / leite sujo diluido ( 2:1 ) para alimentação das bezerras.

A prioridade para a utlização do leite sujo são dos animais mais jovens. Uma vez que as nossas vacas em fim de lactação tendem a ter uma CCS mais alta, estaremos correndo alguns risco com as nossas bezerras.

PS: o leite nao é pausterizado.

Grato.

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