Janeiro veio a confirmar o péssimo cenário de 2005 para os produtores de leite; na média nacional os preços recuaram 1,14%, pouco menos de meio centavo de real por litro.
O preço bruto médio pago pela produção de dezembro foi de R$0,42/litro, o pior preço registrado na história, quando se considera a inflação pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna).
Em São Paulo, também considerando a inflação, apenas ao final de 2001 os preços foram mais baixos que os atuais, um centavo menos. A estimativa feita em dezembro para o valor médio de 2005 se confirmou: o litro de leite brasileiro fechou, em média, em R$0,506, corrigindo também os preços pelo IGP-DI. O valor de 2005 é apenas 0,66% superior à média registrada em 2001, ano dos piores preços já registrados quando se considera a inflação.
De maio a dezembro de 2005, o preço médio do leite recuou o inesperado índice de 26,7%. Essa triste marca supera até os recuos registrados em 2000 (recuou 21%) e 2001(recuou 24%), anos de diferentes realidades, mas que foram marcados por quedas bruscas nos preços do leite de novembro e dezembro. Mesmo em 2003, com toda especulação criada pela crise da Parmalat, os preços caíram 16% em relação aos valores mais altos do ano.
Em Goiás, Rondônia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul os valores do leite de dezembro são cerca de 32% mais baixos que os preços mais altos, praticados em meados de 2005. No Mato Grosso do Sul a situação é ainda pior. Os preços, já em novembro, caíram 40% num período de quatro meses. É neste Estado que se registra o pior preço bruto médio do país, em torno de R$0,33/litro. Parece brincadeira!!!
O produtor de leite, que geralmente carrega fama de chorão, tem motivos de sobra para reclamar de 2005.
Porém, findo 2005, o mercado "spot" de janeiro esboçou uma reação. Em média, os preços subiram 4,8% em relação a dezembro. Ainda é pouco, quando se observa que os preços atuais deste mercado são de R$0,38/litro. Observe, na figura 1, o comportamento do mercado "spot" de janeiro de 2004 a janeiro de 2006 em São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
Figura 1. Preços médios do mercado "spot", de janeiro de 2004 a janeiro de 2006, em R$ nominais por litro de leite em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Sendo assim, não se espera que de imediato ocorra uma reação nos preços aos produtores, mas é provável que o mercado se estabilize e, em curto prazo, inicie um processo de recuperação.
Pela primeira vez, em 7 meses, mais de 10% dos entrevistados pela Scot Consultoria acreditam em aumento nos preços já para o mês de fevereiro, quando se paga a produção de janeiro. Os que apostam em estabilidade nos valores de mercado somam 66%. Observe, na figura 2, a opinião entre os agentes de mercado que trabalham com captação de leite.
Figura 2. Opinião entre os compradores de leite com relação às tendências para o próximo pagamento.
Não aparecendo nenhuma outra variável, ou novidade, o mercado tende a se reverter nos próximos meses.
No entanto, as perspectivas não parecem tão boas para os níveis de preços que serão atingidos em 2006. Em 2005, pelo IGP-DI, foi registrada a menor inflação dos últimos 60 anos - série desde 1944. A segunda menor inflação foi registrada em 1998, coincidentemente um ano eleitoral em que um presidente em exercício tentaria a reeleição.
Sendo assim, considerando o ano de eleição presidencial, quando o orçamento contribui como uma pesada variável de mercado, não se pode esperar muito para 2006. Tudo indica que este será um ano apertado para o produtor de leite. Vale lembrar que a produção brasileira aumentou consideravelmente em 2005.
Mas é sempre válido ressaltar que o mercado normalmente prega peças nas análises e tendências, revertendo tudo o que foi estimado ou desenhado.