O mercado de leite chega ao último mês de 2004 num cenário de perspectiva mais favorável em relação a 2003.
Mesmo assim, do pico dos preços, em julho, até outubro, pagamento em novembro, os preços aos produtores recuaram 5,14% ou R$0,029/litro, em média. Apesar da queda ser menor em relação ao que era anunciado em meados de agosto, o cenário é ainda pior quando comparado a 2003.
Em 2003, considerando o mesmo período, de julho a outubro, os preços haviam recuado apenas 4% ou R$0,02/litro.
Sendo assim, o que poderia manter as perspectivas atuais melhores em relação às do ano anterior?
O fato é que enquanto neste período, em 2003, o mercado de longa vida estava estocado, tendo em vista não a produção, mas sim a queda no consumo, em 2004 as indústrias chegam ao final do ano com pouco produto estocado.
Sendo assim, enquanto até outubro o comportamento se assemelha, e é até pior em relação ao mesmo período de 2003, a tendência para os meses seguintes, que são historicamente os de preços mais baixos, é melhor neste final de ano corrente.
De outubro de 2003 a janeiro de 2004 os preços pagos aos produtores recuaram outros R$0,06/litro, ou 12,74% a mais do que já haviam recuado. O consumo retraído, estocagem e a crise da Parmalat, que estourou em meados de dezembro, favoreceram a queda nos preços. Ao todo, do pico de preços em 2003, até o preço mais baixo da entressafra, o recuo nos preços foi de R$0,08/litros ou 16,25%.
Em 2004 o cenário é outro. Além dos estoques reduzidos há perspectivas de melhora no consumo de leite e derivados, acompanhando a sensível recuperação da economia, com conseqüente reabertura de postos de trabalho. Esse fato já tem sido noticiado pela mídia.
As crises de empresas como a Parmalat e a Central Leite Nilza abrem uma brecha no mercado, tanto nas compras como nas vendas. A luta pelo espaço dessas empresas, assim como a própria tentativa de recuperação das mesmas, tende a manter a concorrência nas compras do leite "in natura".
Existe uma máxima entre as indústrias de que o melhor momento de planejar a compra de leite é durante a safra. Apesar de evidente, esse comportamento esperado por parte dos compradores aponta para um período de chuvas sem especulações bruscas em torno dos preços. Sem dúvida que tudo isso vale para o cenário que está sendo analisado, pois diversas variáveis podem atuar sobre o mercado.
Embora possa ser ainda cedo para afirmar, o pagamento de novembro - produção de outubro - trouxe alguns fatos que parecem depor a favor de um cenário mais favorável na virada de 2004 para 2005.
Quando a tendência é a redução dos valores pagos, o preço no mercado "spot" reduz-se de maneira mais brusca e antecipada em relação ao preço pago ao produtor. Isso ocorre por vários motivos, mas o principal deles é forçar que as cooperativas, em grande parte posicionadas no mercado "spot", reduzam os preços pagos aos seus fornecedores.
Assim, o preço cai como um todo e os fornecedores das maiores empresas - sempre em melhores condições - são os últimos a terem seus preços reduzidos. Vale lembrar que as empresas competem por fornecedores.
Observe, na figura 1 que, diferente do ocorrido em 2003, os preços atuais no mercado "spot" apresentam uma queda mais amena no decorrer de 2004.
Os preços vêm caindo mensalmente, como era de se esperar no período de safra. No entanto, apesar de existirem negócios a R$0,48/litro no mercado "spot", são poucos e, destes, a maioria acaba não se concretizando.
Na figura 1 também pode ser observado os preços pagos aos produtores e os preços do longa vida no mercado atacado e no varejo.
Outro fato é que, justamente por conta dos baixos estoques, os valores do longa vida não se reduziram no atacado; mantiveram-se estáveis. Por outro lado, os preços do longa vida no varejo caíram 6,77%, levando a margem de diferença, em relação ao preço do atacado, para 11,17%. Em 2004 é a segunda menor margem de diferença, ficando atrás apenas da observada em março.
De todo o comportamento observado em novembro, essa queda no preço do varejo, comum para o período, é um dos fatores que tendem a pressionar os preços para baixo.
Na tabela 1 estão os preços do mercado "spot" nas praças de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Nas tabelas 2 e 3 estão os preços atuais dos produtos lácteos no mercado atacado e no varejo.
Tabela 1: Preços do mercado "Spot"
Tabela 2: Preços de leite e derivados no atacado
Tabela 3: Preços de lácteos e produtos concorrentes no varejo
Pela produção de outubro, paga em novembro, o preço médio do leite brasileiro ficou nos patamares de R$0,5268 ou US$0,188/litro. Observe, na figura 2, os preços nas diversas regiões pesquisadas.
Figura 2: Preços médios do leite no Brasil e nas regiões pesquisadas - produção de outubro de 2004 - R$/litro
Fonte: Scot Consultoria
Para novembro, último pagamento de 2004, acredita-se numa redução de R$0,01 a R$0,015/litro dos valores médios do leite brasileiro. Persistindo esse comportamento em dezembro, o cenário mais favorável tende a ficar mais próximo de se concretizar. Uma boa notícia.