A produção inspecionada, como que vivendo uma ressaca do grande crescimento de 2005, em que cresceu 13,9% de janeiro a setembro, chegou até setembro com um anêmico crescimento de 1,1% sobre o mesmo período do ano passado. Segundo o IBGE (gráfico 1), nos últimos 5 meses a produção em 2006 foi menor do que no mesmo mês de 2005, mostrando que o ano começou embalado pelo crescimento vigoroso de 2005 e foi, gradativamente, perdendo força. Por isso, se aplicarmos o mesmo crescimento verificado no último trimestre do ano passado sobre o volume de leite produzido de julho a setembro de 2006, teremos crescido menos de 0,5% em 2006, ou seja, nada, ou quase isso. Como costuma dizer o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, ao se referir aos impulsos de crescimento do país, tivemos, no biênio 2005/2006, um típico "voo de galinha" no setor leiteiro.
Gráfico 1. Evolução da captação de leite formal, em mil litros.
Fonte: Pesquisa Trimestral do Leite/IBGE
Elaboração: Equipe MilkPoint
As exportações, sobre as quais no início do ano tinha-se expectativas de até US$ 300 milhões, ficaram na metade disso e, considerando o comportamento do câmbio, até que o resultado não foi de todo mal. O resultado na balança comercial foi de praticamente equilíbrio, pelo terceiro ano consecutivo, comprovando que, atualmente, o estágio do país é de auto-suficiência no consumo de leite, ora importando, ora exportando, mas sem que se alcance, pelo menos ainda, o status de exportador estrutural, como na Argentina e outros países.
O efeito cambial nas exportações pode ser visto no gráfico 2, em que relacionamos o crescimento das exportações do Brasil e da Argentina nos últimos 3 anos, além da taxa cambial de ambos os países.
Gráfico 2. Evolução das exportações de lácteos do Brasil e Argentina, em 2004, 2005 e 2006 (parcial), em toneladas.
* Dados referentes até outubro de 2006
Fontes: Secex/MDIC, Senasa e Banco Central
Elaboração: Equipe MilkPoint
Também no efeito cambial reside parte da explicação sobre o porquê dos preços de leite terem estacionado no patamar médio de R$ 0,50/litro, ainda que com uma oferta em baixa, resultando, até novembro, com preços médios nominais cerca de 9,6% mais baixos do que em 2005 (gráfico 3). Com o dólar valendo R$ 2,15-2,20, o preço do leite no Brasil, em dólar, ficou em valores relativamente altos do meio do ano para frente, na casa dos US$ 0,23-0,24/litro, representando um limite natural para maiores elevações, sob o risco de aumento das importações.
Gráfico 3. Preços do leite, em valor nominal, nos últimos 3 anos.
Fonte: Cepea/USP.
Elaboração: Equipe MilkPoint
O ambiente macroeconômico também jogou um balde de água fria nas expectativas de crescimento de vários setores. De uma projeção de 5% no início do ano, devemos terminar 2006 com um modesto crescimento de menos de 3%, ainda que parte da renda tenha sido melhor distribuída, em função principalmente dos programas de transferência de renda.
Chegamos, enfim, ao final de 2006, com um cenário mais positivo do que o apresentado acima. Apesar de um ensaio de queda de preços de leite no mês de dezembro, fruto de um leve aumento de oferta no Sudeste e Centro-oeste, que vem ocasionando queda acumulada de cerca de R$ 0,06/litro no leite "spot" desde a segunda quinzena de novembro, vários fatores levam a crer que 2007 será melhor.
O primeiro aspecto é a constatação de que já estamos em final de dezembro, o aumento de oferta tem sido muito tímido e, nesse período, os preços praticamente se mantiveram, sendo a possível variação de 2-3 centavos para baixo bem menor do que os dados históricos para essa época do ano. Sem dúvida, 2007 iniciará em um patamar de preços significativamente superior ao início de 2006. Da virada do ano em diante, a tendência é de elevação nos preços; afinal, essa safra praticamente não aconteceu e já estamos do meio para o seu fim.
O outro aspecto que sinaliza, para o produtor, preços melhores em 2007 é a situação do mercado internacional, que vive um momento de preços bastante elevados, a ponto de ressuscitar o interesse nas exportações de leite em pó pelas empresas - e isso com um dólar de R$ 2,15, algo que seria impensável há um ano. O gráfico 4 mostra a brutal elevação dos preços externos, que acabam trazendo novamente a competitividade ao setor exportador, de certa forma compensando o câmbio. Embora possa haver alguma desaceleração da economia mundial no primeiro semestre, nada indica que esse cenário de preços será muito alterado, isto é, deverá continuar sendo um fator propulsor do mercado e dos preços internos.
As empresas de laticínios estão trabalhando, em suas projeções, com preços significativamente maiores em 2007 do que em 2005, o que, para o produtor, é uma boa notícia.
Gráfico 4. Evolução dos preços de leite em pó integral para exportação em dólares por quilo.
* Os preços do Oeste da Europa e Oceania se referem à cota~çao realizada até o dia 10 de dezembro.
Fonte: USDA, Secex/MDIC, Senasa
Elaboração: Equipe MilkPoint
Porém, do lado dos custos, a expectativa é de elevação, principalmente pelo lado das commodities agrícolas. Pelo gráfico 5, percebe-se que a relação de troca, que foi a salvação da lavoura, com o perdão da ironia, para o produtor de leite em 2006, não dará o ar de sua graça em 2007, pois milho e soja devem ter preços mais altos em 2007, o que já se antecipa nesse final de ano.
Gráfico 5. Evolução dos índices de preços de leite, milho e farelo de soja; abril de 2005 = 100.
Fontes: Seab/PR, Cepea/USP
Elaboração: Equipe MilkPoint
Tudo somado, a expectativa é que 2007, do ponto de vista do produtor, seja melhor do que 2006, com preços mais elevados e maior estímulo à produção, apagando rapidamente as lembranças de 2006, um ano que, no final das contas, não aconteceu.