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Mercado de leite: o que esperar de 2007?

POR MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PANORAMA DE MERCADO

EM 22/12/2006

5 MIN DE LEITURA

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Ao final de cada ano, é impossível não fazer um balanço do que aconteceu e, mais importante, do que se espera para o ano que se inicia. Mais importante não só porque o passado é passado, a seu respeito nada mais pode ser feito, mas porque 2006 de fato não é um ano que ficará na lembrança. Nem para o bem, nem para o mal, pelo menos no que se refere ao setor leiteiro.

A produção inspecionada, como que vivendo uma ressaca do grande crescimento de 2005, em que cresceu 13,9% de janeiro a setembro, chegou até setembro com um anêmico crescimento de 1,1% sobre o mesmo período do ano passado. Segundo o IBGE (gráfico 1), nos últimos 5 meses a produção em 2006 foi menor do que no mesmo mês de 2005, mostrando que o ano começou embalado pelo crescimento vigoroso de 2005 e foi, gradativamente, perdendo força. Por isso, se aplicarmos o mesmo crescimento verificado no último trimestre do ano passado sobre o volume de leite produzido de julho a setembro de 2006, teremos crescido menos de 0,5% em 2006, ou seja, nada, ou quase isso. Como costuma dizer o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, ao se referir aos impulsos de crescimento do país, tivemos, no biênio 2005/2006, um típico "voo de galinha" no setor leiteiro.

Gráfico 1. Evolução da captação de leite formal, em mil litros.


Fonte: Pesquisa Trimestral do Leite/IBGE
Elaboração: Equipe MilkPoint

As exportações, sobre as quais no início do ano tinha-se expectativas de até US$ 300 milhões, ficaram na metade disso e, considerando o comportamento do câmbio, até que o resultado não foi de todo mal. O resultado na balança comercial foi de praticamente equilíbrio, pelo terceiro ano consecutivo, comprovando que, atualmente, o estágio do país é de auto-suficiência no consumo de leite, ora importando, ora exportando, mas sem que se alcance, pelo menos ainda, o status de exportador estrutural, como na Argentina e outros países.

O efeito cambial nas exportações pode ser visto no gráfico 2, em que relacionamos o crescimento das exportações do Brasil e da Argentina nos últimos 3 anos, além da taxa cambial de ambos os países.

Gráfico 2. Evolução das exportações de lácteos do Brasil e Argentina, em 2004, 2005 e 2006 (parcial), em toneladas.


* Dados referentes até outubro de 2006
Fontes: Secex/MDIC, Senasa e Banco Central
Elaboração: Equipe MilkPoint

Também no efeito cambial reside parte da explicação sobre o porquê dos preços de leite terem estacionado no patamar médio de R$ 0,50/litro, ainda que com uma oferta em baixa, resultando, até novembro, com preços médios nominais cerca de 9,6% mais baixos do que em 2005 (gráfico 3). Com o dólar valendo R$ 2,15-2,20, o preço do leite no Brasil, em dólar, ficou em valores relativamente altos do meio do ano para frente, na casa dos US$ 0,23-0,24/litro, representando um limite natural para maiores elevações, sob o risco de aumento das importações.

Gráfico 3. Preços do leite, em valor nominal, nos últimos 3 anos.


Fonte: Cepea/USP.
Elaboração: Equipe MilkPoint

O ambiente macroeconômico também jogou um balde de água fria nas expectativas de crescimento de vários setores. De uma projeção de 5% no início do ano, devemos terminar 2006 com um modesto crescimento de menos de 3%, ainda que parte da renda tenha sido melhor distribuída, em função principalmente dos programas de transferência de renda.

Chegamos, enfim, ao final de 2006, com um cenário mais positivo do que o apresentado acima. Apesar de um ensaio de queda de preços de leite no mês de dezembro, fruto de um leve aumento de oferta no Sudeste e Centro-oeste, que vem ocasionando queda acumulada de cerca de R$ 0,06/litro no leite "spot" desde a segunda quinzena de novembro, vários fatores levam a crer que 2007 será melhor.

O primeiro aspecto é a constatação de que já estamos em final de dezembro, o aumento de oferta tem sido muito tímido e, nesse período, os preços praticamente se mantiveram, sendo a possível variação de 2-3 centavos para baixo bem menor do que os dados históricos para essa época do ano. Sem dúvida, 2007 iniciará em um patamar de preços significativamente superior ao início de 2006. Da virada do ano em diante, a tendência é de elevação nos preços; afinal, essa safra praticamente não aconteceu e já estamos do meio para o seu fim.

O outro aspecto que sinaliza, para o produtor, preços melhores em 2007 é a situação do mercado internacional, que vive um momento de preços bastante elevados, a ponto de ressuscitar o interesse nas exportações de leite em pó pelas empresas - e isso com um dólar de R$ 2,15, algo que seria impensável há um ano. O gráfico 4 mostra a brutal elevação dos preços externos, que acabam trazendo novamente a competitividade ao setor exportador, de certa forma compensando o câmbio. Embora possa haver alguma desaceleração da economia mundial no primeiro semestre, nada indica que esse cenário de preços será muito alterado, isto é, deverá continuar sendo um fator propulsor do mercado e dos preços internos.

As empresas de laticínios estão trabalhando, em suas projeções, com preços significativamente maiores em 2007 do que em 2005, o que, para o produtor, é uma boa notícia.

Gráfico 4. Evolução dos preços de leite em pó integral para exportação em dólares por quilo.


* Os preços do Oeste da Europa e Oceania se referem à cota~çao realizada até o dia 10 de dezembro.
Fonte: USDA, Secex/MDIC, Senasa
Elaboração: Equipe MilkPoint

Porém, do lado dos custos, a expectativa é de elevação, principalmente pelo lado das commodities agrícolas. Pelo gráfico 5, percebe-se que a relação de troca, que foi a salvação da lavoura, com o perdão da ironia, para o produtor de leite em 2006, não dará o ar de sua graça em 2007, pois milho e soja devem ter preços mais altos em 2007, o que já se antecipa nesse final de ano.

Gráfico 5. Evolução dos índices de preços de leite, milho e farelo de soja; abril de 2005 = 100.


Fontes: Seab/PR, Cepea/USP
Elaboração: Equipe MilkPoint

Tudo somado, a expectativa é que 2007, do ponto de vista do produtor, seja melhor do que 2006, com preços mais elevados e maior estímulo à produção, apagando rapidamente as lembranças de 2006, um ano que, no final das contas, não aconteceu.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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RENATO DIAS DE SOUZA

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM - ESPÍRITO SANTO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 25/06/2007

Parabéns pela excelente reportagem.
NEI ANTONIO KUKLA

UNIÃO DA VITÓRIA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/01/2007

Parabéns pela excelente avaliação e projeção para 2007. Vejo que o preço do leite como de outros produtos é bastante influenciado pelas políticas macroeconômicas, diga-se aí também governo, onde tenho que concordar que o produtor deve possuir um conhecimento de mercado e influências da cadeia produtiva para poder direcionar seus investimentos sem correr risco de não poder cumprir compromissos.

Além da desenvoltura que o pecuarista de leite deve possuir, acredito que como extensionista (já desenvolvemos um trabalho de produção de leite a baixo custo), devemos levar tecnologias de produção de leite a pasto, pois o Brasil na maioria das bacias leiteiras consegue produzir pastagens de qualidade durante o ano inteiro.

A independência dos produtores de fatores de produção "fora da porteira" deve ser aprimorada, diminuindo custos de produção e aumentando a margem de sobras.

Creio ser mais fácil trabalhar a diminuição de custos do que a elevação de preços, porém, não está muito em nosso alcance a curto prazo. A reportagem é oportuna.
FABIO LAFETA REBELLO FILHO

MONTES CLAROS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/01/2007

Muito boa a análise do sr. Marcelo, há muito tempo não leio uma análise tão clara e objetiva. Concordo que 2006 não foi um ano bom para o setor, mas foi melhor que 2005. Acho que 2007 será pior que 2006, pois os insumos não nos ajudará desta vez, o dólar não irá modificar e com isso continuaremos em situação perigosa.

Acredito que o setor continuará em crise com a saída de diversos produtores, principalmente os mais eficientes e produtivos. O tirador de leite continuará na atividade. Um triste panorama. O Brasil não é um país sério. Salve-se quem puder. Parabéns, Marcelo.
RONALDO PEREIRA GUIMARÃES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/01/2007

Prezado Marcelo,

O governo realmente não parece ter conhecimento de que a cadeia produtiva do leite é um dos maiores empregadores do país, afinal, esse não é um assunto ao qual os governantes costumam se referir em seus discursos.

Investir na produção de leite é garantir vida digna para uma grande quantidade de brasileiros que, ao contrário, estariam necessitando da assistência governamental ou engrossando o cinturão de favelas ao redor das grandes cidades.
MÁRCIO MATTOS DE PAULA

LEOPOLDINA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/01/2007

Caro Marcelo,

Parabéns pela análise. Sou filho de produtor, portanto, me sinto como produtor. Tenho notado em minhas visitas às propriedades um certo desconforto por parte dos produtores, pois só falam em reduzir custos, e quase ninguém fala em aumento de produção.

Consideram que, quem se profissionalizou e fez investimentos altos em busca de aumentar a produção, teve uma decepção muito grande com a atual realidade que o setor enfrenta. Tenho cliente que chega a dizer que produzir leite a pasto e sem trato, que à moda antiga é mais rentável do que com adoção de novas tecnologias.

A cada ano que passa os produtores têm que se adequar a uma novidade para não ser eliminado da atividade, mas as seqüências de frustrações estão comprometendo o futuro da pecuária leiteira, deixando os produtores confusos, sem saber qual caminho devem seguir.
CIRO LUIZ DA SILVA JUNIOR

CATALÃO - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/01/2007

Prezado Marcelo,

Muito bom o artigo. A equipe MilkPoint está de parabéns. Produzir leite com baixo custo é difícil, a única saída é a redução de custos, mas está muito complicado. Todo ano que se passa imaginamos que vai ser melhor; quem sabe é esse 2007.

um abraço.
RUI DA SILVA VERNEQUE

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 02/01/2007

Marcelo e equipe - parabéns pela análise !

Nota-se, infelizmente, segundo o próprio Roberto Jank disse, que a expectativa positiva para o leite está mais na dependência de situações externas do que internas. Não existe, no Brasil, uma política governamental que dê estabilidade ao verdadeiro produtor de leite.

Como pesquisador e produtor de leite posso dizer que quem, efetivamente, deseja continuar produzindo leite no Brasil, com lucro, precisa, sobretudo, ser eficiente na administração da atividade. Como? Reduzindo custos, aumentando produtividade, além de exercer uma gerência precisa na atividade.

No Brasil não existem grandes perspectivas de aumentos exagerados para o preço do leite pago ao produtor.

Por outro lado, nota-se aumentos reais de despesas com mão-de-obra (aumento do salário mínimo) ou em investimentos com sistemas de ordenha mecânica, visando reduzir mão-de-obra, o que nem sempre ocorre, podendo o tiro sair pela culatra. O preço dos insumos é uma incógnita, uma vez que depende do preço em si (em algumas regiões os preços são atrativos), mas também do custo do frete (no nosso caso, em muitas situações o frete é mais caro que o insumo adquirido).

Precisamos assim, ajustar nossa produção, produtividade, custo etc, à situação de cada local, ao preço recebido, aos incentivos praticados, à adequação da mão de obra, ao tipo de produção (familiar ou empresarial) etc.

Rui da Silva Verneque
Pesquisador e Produtor de Leite
FERNANDO ANTONIO DE AZEVEDO REIS

ITAJUBÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/01/2007

Marcelo,

Espero que o preço pago ao produtor do leite em 2007 seja superior a 2006, pois no meu caso recebi em 2006 aproximadamente o mesmo de 2005 ou seja R$ 0,53 por litro, enquanto em 1999 e 2000 recebia R$ 0,40 por litro.

O aumento de 1999 a 2006 foi pouco maior de 30%, muito inferior ao aumento nos insumos, como também na mão de obra, a conclusão é uma só, esta cada vez menor a rentabilidade e precisamos de escala de produção, isto não para nunca, será que vamos conseguir acompanhar?

Fernando A A Reis
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 31/12/2006

Prezado Marcelo: A grande lástima é que, a cada ano, nós, os produtores de leite, temos muito pouco a comemorar e bastante a temer. Temer sim, já que nosso negócio (os profissionais) vai cada vez pior, em face da enorme cratera que foi aberta, ao longo dos anos, entre o Governo Federal e o produtor, sendo este último jogado dentro dela e lá de seu enorme fundo, grita por um socorro que, sabe ele, nunca virá.

É uma pena, já que, no mundo inteiro, o setor tem sido tratado com respeito, com incentivos cada vez maiores a seu implemento, quando em nosso solo, prefere-se destinar maior destaque às chamadas bolsas (que mantêm a população carente nas mãos do governante e nunca a ensina a sair do nível de pobreza em que sobrevive) que aos bolsos dos produtores rurais. E lembre-se, é necessário, que o setor é um dos carros-chefe das exportações e das balanças comerciais pátrias. Quando vamos acordar deste pesadelo é o tema que sempre nos assola no final de cada um dos anos, nos folguedos descomunais da passagem do último dia do velho para o primeiro do novel, que movimentam milhões de dólares. É um bonito espetáculo mas, não passa disso, quando a realidade leva ao desespero aquele que produz as uvas, os abacaxis, as cerejas, as maçãs e o leite que entra no ingrediente de variados pratos (talvez, no ano que vem estes prdutos agrícolas sejam substituídos pelos de cera e de plástico, mais fáceis de encontrar que os naturais).

Lamento muito este estado de coisas e temo não poder mais lamentar ao final de 2007, sugado pelo final de minhas forças pela luta cotidiana para não vender meu gado e engrossar as fileiras dos que desistiram, não porque queriam desistir, mas porque não lhes restou outra saída. Todavia, desejo, ainda, a todos um FELIZ ANO NOVO, em que possamos comemorar alguma coisa, ao invés de morrer de medo e de fome.
CARLOS HUMBERTO MENDES DE CARVALHO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 29/12/2006

Parabéns pela brilhante análise; extensivo toda equipe. Tenho certeza que 2007 será um ano muito bom para a pecuária e indústria leiteira.
CLEMENTE DA SILVA

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 29/12/2006

Marcelo, tecer qualquer outro comentário além dos que já foram a respeito dessa fotografia de alta resolução que você nos mostra, seria pura bajulação e redundância.

A única frase que ainda cabe aqui é, PARABÉNS, por mais essa linda imagem.

Só insisto numa coisa: o preço ideal do leite brasileiro pago ao produtor é mesmo no patamar de R$0,50?

Se é, o nosso produtor terá que se adequar às novas tecnicas de produção visando a produtividade, administrando assim, os custos de produção de uma forma mais severa.

Se não é, alguma coisa está muito errada e eu acho que é essa a idéia mais correta.

Sabemos que em 2.007 irá faltar leite no mundo, isso já está claro como um dia ensolarado.

E aí, em que isso poderá beneficiar o nosso produtor? Em nada!

Com o dólar a R$2,15, sem chances.

Aliás o Brasil nem tem excedentes reais, e sim, falta de poder de compra e educação para um maior consumo.

Teremos que melhorar ou melhor... Criar MARKETING para o nosso leite aqui dentro do Brasil!

Mas, por outro lado, com uma remuneração de R$0,50 por litro de leite, contra uma remuneração no mínimo 100% maior ao produtor de um refrigarante ou uma água mineral de 300ml - notem bem - 300 ml.
Como que recursos o produtor de leite poderá pensar em Marketing para o seu leite?

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Clemente,

Obrigado pelos comentários.

Acho que suas colocações são muito importantes e mereceriam uma análise mais longa e aprofundada, que não farei aqui. Uma primeira observação é que o preço médio cada vez menos é importante. Ao colocarmos que o preço médio é R$ 0,50 e que esse é o patamar, estaremos ignorando o fato de que a amplitude entre preços é cada vez maior. De fato, há produtores recebendo hoje mais de R$ 0,65/litro e outros menos de R$ 0,30. Volume, qualidade, região, poder de negociação são aspectos envolvidos nessas diferenças. São produtores que estão em negócios muito distintos, uma vez que a diferença de remuneração é mais do que o dobro.

Feita essa ressalva e considerando então o patamar de R$ 0,50 acredito que seja possível o produtor obter preço superior em cinco situações:

1) caso participe do processamento e eventualmente comercialização, atuando em cooperativas e, nesse caso, ganhando uma parcela de remuneração em função do sucesso do empreendimento;

2) através da melhoria da qualidade do leite, sólidos e microbiológica e, com isso, obter maior remuneração por litro;

3) caso haja, por pressão de consumidores ou governo, tendência de remuneração dos produtores em valores acima dos preços externos,especialmente no caso do valor agregado por litro de leite aumentar,permitindo maior folga às empresas;

4) com o fim dos subsídios, considerando a possibilidade de elevação dos preços externos;

5) com barreiras crescentes a importação.

O item 5 é pouco provável, por ir contra a tendência mundial; e 3, idem, pelo menos no curto prazo. O 4, há controvérsias, pois embora alguns modelos (simulações) sugiram que o fim de subsídios levaria a maiores preços para o leite no mundo, há crescentemente a opinião de que o que haveria seria uma mudança nos participantes do comércio mundial, mas não nos preços, uma vez que o potencial de produção em países competitivos é elevado.

Sobre sua ponderação a respeito do marketing, apesar de reconhecer a dificuldade de financiar campanhas considerando a situação do produtor, é importante lembrar que os valores são muito baixos quando se considera a contribuição por litro de leite (estamos falando, junto à câmara setorial, de 1 litro a cada 400 litros, sendo ainda dividido entre produtor e indústria). Isso, multiplicado por um volume considerável de leite, resulta em recursos suficientes para uma ação que possa ter benefícios.

Por fim, vale ressaltar que, no longo prazo, o marketing tem muito mais o papel de ampliar o mercado do que elevar o preço médio.

Um abraco,

Marcelo
CARLO CARVALHO FARINHA

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 28/12/2006

Como todos sabemos, enquanto o país não conseguir elevar sua renda interna, não temos como imaginar aumentos reais para os produtos agropecuários. Nossa saída, então, está na redução de custos e aumento da produtividade. Apesar do panorama favorável em 2007, não podemos esquecer que embora possamos conseguir melhores retornos, qualquer situação será modesta relativamente ao grau de individamento do produtor rural.

Feliz 2007 para todos.
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/12/2006

Caro Marcelo,

Parabéns pelo artigo. Leva à reflexão de vários aspectos, um dos quais coloco a seguir.

O patamar de preços estacionado em R$0,50 em 2006 é explicado como um limite natural para elevações decorrente do risco de importações. A evolução do preço do leite em pó do gráfico 4 no período de janeiro a outubro de 2006, transformando US$/kg para R$/litro (considerando 8l/kg e R$2,15/US$) mostra que os preços variaram entre R$ 0,55/l a R$ 0,67/l (se consideramos que a importação mais viável seria da Argentina, a variação ficaria entre R$ 0,59/l e R$ 0,65/l).

Sendo preços FOB, teríamos que considerar ainda os custos de internalização do leite em pó e eventualmente um custo de reidratação para muitas aplicações. Existiria em 2006 volume de leite em pó no mercado internacional a preços compensadores suficiente para atender a indústria num grande volume para substituir a produção interna por importação? A disparada dos preços do leite em pó a partir de outubro parece indicar que não.

A explicação não só desse desse patamar, mas da variação de preços ao produtor é complexa, e não pode ser explicada com apenas um único fator. Muitas vezes essa variação de preços é irracional, aviltando os preços ao produtor desnecessariamente. Por exemplo, o crescimento da produção inspecionada de 13,9% em 2005 e o anêmico crescimento de 1,1% de 2006 com relação ao mesmo período do ano passado podem ser entendidos vendo o comportamento do preço pago por essa indústria - parece que na realidade, quando os preços ao produtor foram melhores, houve uma migração da produção informal para a formal, revertendo-se o processo logo em seguida quando os preços despencaram.

O que falta mesmo para o setor é uma política leiteira adequada. A Revista de Política Agrícola da Secretaria de Política Agrícola do Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento, edição do primeiro trimestre de 2006, trata da evolução e tendências do agronegócio brasileiro. É assustador ver o que se fala do leite, ou melhor o que não se fala, não dando maior importância para a cadeia do leite, apesar da sua importância econômica e social para o País.

Em 2003 a Leite São Paulo propôs na Câmara Setorial da Cadeia do Leite e Derivados, a criação de um grupo temático (grupo permanente) com objetivo de estabelecer uma política leiteira adequada para o País. Um grupo foi criado, mas na realidade não foi um grupo temático, pois encerrou suas atividades com a apresentação de uma série de ações. O estabelecimento de uma política adequada precisa não só de propostas, mas de acompanhamento e ajustes ao longo do tempo, e por isso exige um grupo permanente, que se reuna algumas vezes a cada ano.

Em 2007 a Leite São Paulo voltará a propor na Câmara Setorial de Leite e Derivados do Mapa a criação do grupo temático de política leiteira, visando que as expectativas dos anos futuros sejam melhores e não tenhamos "anos que não aconteceram", como 2006.

Marcello Moura Campos Filho
Presidente da Leite São Paulo

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Marcello,

Obrigado pelos comentários e, concordo com você, o mercado não funciona de forma perfeita, falta informação especialmente ao produtor e, nesse vácuo, há espaço para distorções. Outro aspecto que pode afetar a análise é o fato de algumas regiões, que são utilizadas para compor a média de preços nacional, ser menos suscetível aos preços externos do que outras, seja por questões relacionadas a qualidade, seja por falta de empresas de porte nacional atuando.

Também, há uma defasagem temporal entre o que acontece lá fora e os efeitos aqui dentro, de cerca de 2 meses e, por fim, há contratos que são feitos em determinadas condições e que, mesmo se mostrando ruins, são passíveis de quebra somente sob alto custo, muitas vezes não compensando, além do desgaste entre as partes. Dessa forma, você está correto ao afirmar que o efeito do mercado externo não é tão direto assim como talvez tenha deixado transparecer.

Em relação à diferença nos cálculos, há outros fatores envolvidos, pois o mercado externo não é caracterizado apenas pelo leite em pó, mas também por outros lácteos que, não necessariamente, resultam no mesmo valor para a matéria prima ao convertidos em US$/equivalente-leite, de modo que se reconhece a simplificação.

Porém, o objetivo do artigo foi colocar que há uma relação com as cotações externas. Se o mercado brasileiro, por exemplo, paga em média US$ 0,30 por litro de leite, em um mercado relativamente aberto como o nosso, não há porque não considerar que haverá maior fluxo de leite para o país, principalmente de países os quais não há taxas significativas de importação. Alternativamente, se o mercado externo remunera a US$ 0,30 por litro de equivalente-leite, é natural que as empresas com potencial exportador - e que normalmente são as que primeiro reagem ao mercado, dado seu porte - destinem parte dos produtos para a exportação, reduzindo a oferta interna e, indiretamente, contribuindo para a elevação dos preços.

Mas, de qualquer forma sua contribuição é válida ao colocar que a formação de preços é mais complexa do que talvez tenha deixado transparecer o artigo.

Um abraço,

Marcelo
ALEXANDRE AUGUSTO CORTEZI

SÃO MANUEL - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/12/2006

O produtor de leite tem que fazer o possível para diminuir custo de produção e aumentar sua produtividade. Com isso, não fica muito preso à política cambial ou a qualquer situação criada interna ou externamente.

Esta análise do mercado de 2007 é de muita valia para que ao menos tenhamos um panorama do que poderá ocorrer. Parabéns ao MilkPoint.
GIOVANI ANTONIO FERRONATO

CASCAVEL - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/12/2006

Ainda vejo que 2006 não foi um ano ótimo, mas foi um ano muito bom. Claro que todos desejam ter grandes lucros, e quando isto acontece, no ano seguinte aparecem muitos novos produtores na atividade interessados nesta renda. Então entra a crise, e novamente os bons e sempre produtores de leite superam o mau período.

Observem o gráfico 3 e 5, os preços estão estáveis. Esta é a notícia muito boa de 2006.

Um grande abraço, e que 2007 seja muito bom para todos.
MARIA LUZINEUZA ALVES GOMES DA MAIA

MARABÁ - PARÁ - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 26/12/2006

A equipe do MilkPoint está de parabéns pela pesquisa. Os resultados são satisfatórios, pois sabemos que essa é a realidade atual do mercado.

Os produtores de leite do sudeste paraense estão esperançosos quanto aos preços de leite em 2007, e estão conscientes quanto aos investimentos que terão que fazer para melhorar a qualidade do produto, devido à exigência do Ministério da Agricultura. Sabemos que os laticínios cobram pela qualidade dos produto, mas não valorizam o trabalho dos produtores.

Temos casos de produtores que estão diversificando suas atividades, atuando também na apicultura, piscicultura, suinocultura, agricultura, entre outras, para poderem suprir suas necessidades diárias. Essa diversificação se dá pelo fato de receberem seus valores pagos pelos laticínios em um prazo de 30 a 45 dias depois da entrega do leite nas plataformas.
PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/12/2006

Marcelo,

Claríssima análise do que foi 2006 e visão de 2007. Se conseguirmos racionalizar o uso de concentrado, pode ser que possamos reduzir no próximo ano o endividamento que arrastamos desde junho de 2005.

Um grande abraço, parabéns pelo trabalho do MilkPoint em 2006, e muito sucesso a todo o seu time em 2007.
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/12/2006

Marcelo e equipe,

Parabéns pela ótima síntese do ano. A crise do câmbio é cópia fiel do que vivemos entre 96 e 99; um passado tão recente que a frase que melhor se aplica aos fatos é "cada povo realmente tem o governante que merece", porque já não se trata de visualizar erros das gerações anteriores. Fomos nós mesmos que vivemos isso e, pior, nunca deixamos de caminhar em direção à "casca da banana", que infelizmente continua lá na esquina...

A luz vermelha se acende quando verificamos que o IBGE coloca 2005 com um crescimento muito menos confortável do que imaginávamos (4,7 contra os 13,9% previstos).

Ainda que o mercado informal seja uma escuridão total, a diferença é muito relevante e, se verdadeira, radicais mudanças estão acontecendo no mercado do leite clandestino e o setor está deixando isso passar despercebido.

Sei que falta o censo agrícola para a confirmação desse dados, mas é bastante provável que uma "formalização silenciosa" esteja acontecendo neste mercado.

Mesmo assim, concordo com as colocações de sua análise para 2007, e lembro que o santo salvador de 2006 e da expectativa para 2007 foi o preço internacional do leite em pó, fator, aliás, que nada tem a ver com nossas mazelas internas e está fora do nosso controle.
VERA NOSSOL

RONDONÓPOLIS - MATO GROSSO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 22/12/2006

Temos duas pequenas indústrias na região de Rondonópolis (MT), produzimos queijo mussarela, mas estamos sem boas expectativas.

O leite de novembro/06 custou, com frete, R$ 0,43/litro, e estamos vendendo a mussarela a R$ 4,80/kg. São gastos em torno de 9,5 litros de leite para fabricar 1 quilo de queijo mussarela, e, portanto, temos R$ 0,70 para o restante das despesas, como impostos etc.

Não há condições de concorrer com as multinacionais, esta é a realidade. Na minha opinião, este quadro não vai mudar, e poderão ser fechados muitos laticínios de pequeno porte, concentrando assim o mercado nas mãos das grandes indústrias.

É um grito de desabafo, hoje geramos diretamente 35 empregos, além dos indiretos. Não sabemos qual é a nossa saída e tenho certeza de que há muitos outros na mesma situação.

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