Enquanto a crise política se agrava no Congresso Nacional, os exportadores de soja aproveitam para destravar vendas e aumentar margens. Assim, a alta de cerca de 4% da cotação do dólar ante o real fez a alegria de muitos produtores e tradings que atuam no país na semana passada.
A turbulência política no país, aliada à cautela provocada pela guerra comercial entre China e Estados Unidos criaram o espaço que muitos produtores estavam esperando para fechar contratos.
Segundo o consultor Evandro Oliveira, da Safras & Mercado, na semana passada os contratos firmados de vendas de soja devem ter ficado ao redor de 2,5 milhões de toneladas. "Há muito tempo não víamos volumes assim. Com toda certeza, não neste ano", afirmou.
A escalada da guerra comercial entre Washington e Pequim também contribui para as vendas brasileiras. A briga entre os gigantes do comércio fez o prêmio pago pela soja brasileira no porto de Paranaguá (PR) sair da casa dos US$ 0,20 para US$ 0,93 em relação ao preço do bushel (27,2 quilos) do contrato com vencimento em julho em Chicago. "Os prêmios chegaram a passar de US$ 1, mas voltaram um pouco", disse Oliveira Na sexta-feira, segundo informação da agência Dow Jones Newswires, o jornal do Partido Comunista Chinês, "People's Daily", estampou na primeira página um comentário destacando que a guerra comercial tornará a China mais forte, e não fazê-la "se curvar" aos interesses dos Estados Unidos.
Até o dia 10 deste mês, segundo a Safras, a comercialização da safra 2018/19 de soja do Brasil chegava 55,4% da produção estimada em 117,9 milhões de toneladas. Em igual período do ano passado, o percentual era 62,5%; na média para o período, chega a 61,5%. "A gente estava vendo uma comercialização da mão para a boca", disse o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes.
A entidade estima vendas externas de soja perto de 63 milhões de toneladas em 2019, expectativa menor que as 66 milhões de toneladas inicialmente previstas. Em 2018, quando todos os astros convergiram, foram escoadas 82,9 milhões de toneladas de soja pelos portos brasileiros, segundo dados da Anec. "Mas eu não descarto, por exemplo, chegar em 70 milhões de toneladas se os preços ajudarem", afirmou Mendes.
Para além dos preços, o frete rodoviário é um fator que tem prejudicado a comercialização. "Eu tenho visto os fretes sendo fechados fora da tabela e as tradings deixando a multa para discutir depois na Justiça", disse Mendes. Ainda assim, disse, essa incerteza com relação ao peso do frete nos custos finais tem dificultado o fechamento de contratos para grandes volumes.
As informações são do jornal Valor Econômico.