Alguns produtores de leite do Oeste de Mato Grosso, insatisfeitos com o viés de baixa do preço pago pelos laticínios, começaram um movimento que se espalhou rapidamente. Na virada do ano já eram mais de 700, reunidos em três grupos de whatsapp, nos quais as conversas apontavam para uma greve caso as indústrias não revissem sua política de preços.
Logo surgiu um deputado disposto a “abraçar a causa”, levando para a Assembleia a proposta de criação de uma Câmara Temática; alguns produtores foram se destacando como lideranças do setor, e a discussão sobre se a política devia ser tratada como vilã ou aliada veio à tona: em ano de eleição municipal, que candidato a prefeito ou vereador não quer estar próximo de um grupo tão representativo…
O ano começou e com ele veio uma preocupação generalizada: a falta de chuvas na região. O problema não eram os pastos, que tinham se recuperado com as chuvas de dezembro, mas o milho para silagem, que se retorcia nas lavouras, antes de pendoar. Mas logo choveu, e no whatsapp foi também uma tempestade de mensagens de alegria e graças. Outra conversa que tomou corpo foi a necessidade de os produtores aproveitarem a união que se conseguiu para formar uma associação.
Mais uns dias e o movimento, que foi perdendo alguns seguidores, talvez pelo excesso de mensagens alheias ao tema, pôde anunciar que as indústrias não iam baixar o preço do leite pago ao produtor. Uma conquista da mobilização, segundo alguns; fenômeno nacional, dizem os analistas, devido à queda na produção em função da saída de muitos produtores da atividade e do abate de vacas de leite na esteira da subida de preços da carne bovina. Levantamento do Cepea mostra que, neste início de ano, a concorrência entre empresas para garantir a compra de matéria-prima e abastecer seus estoques têm se elevado, resultando em altas de preços.
Mas os produtores querem mais do que a simples estabilidade dos pagamentos. Elaboraram um documento reivindicando das indústrias o pagamento do litro de leite baseado numa “média nacional”, e entre os dias 15 e 18 de janeiro todos os laticínios e sindicatos rurais da região receberam a visita de uma comitiva de produtores encarregada de protocolar a reivindicação.
A greve não está descartada. Porém, nas mensagens do whatsapp os produtores observam que é o último recurso, e que torcem para que os laticínios entendam suas dificuldades em produzir leite num momento em que milho e soja estão nas alturas, sem perspectiva de queda nos preços, e outros insumos também encontram-se em patamares elevados. A bola – ou o abacaxi – está com a indústria.
As informações são do Portal DBO, adaptadas pela Equipe MilkPoint.