A oitava participante do Especial Consultorias é a Cia do Leite. Criada em junho de 2014, atende 32 indústrias de laticínios distribuídas em todas as regiões do estado de Minas Gerais. Acesse e confira a entrevista completa realizada com Ronaldo Carvalho Macedo, médico veterinário e diretor da Cia do Leite.
MilkPoint - Quando foi criada a empresa, quais são as áreas de atuação e em qual(s) localidade (s) atuam?
Ronaldo – “A empresa foi criada em junho de 2014. O foco de trabalho, desde o início, é voltado à assistência técnica para os produtores rurais. Em outubro de 2015, em decorrência do lançamento do Programa Mais Leite Saudável do MAPA, adaptamos rapidamente a frente de trabalho da Cia do Leite. Utilizamos então a nossa expertise em prol da elaboração e execução dos projetos que atendiam as indústrias de laticínios e cooperativas habilitando-as ao programa para receberem os créditos presumidos de PIS e COFINS.
O trabalho da Cia do Leite no campo está voltado, majoritariamente à qualidade do leite. A explicação é lógica: o problema existe no campo e afeta diretamente a indústria, porém temos ciência que o futuro desse trabalho deve ser voltado para a gestão completa das propriedades e já estamos preparados para atender essa evolução natural do processo.
Atualmente prestamos serviços a 32 indústrias de laticínios distribuídas em todas as regiões do estado de Minas Gerais. Os produtores estão localizados em mais de 250 cidades e, a nossa expectativa, é atingir até o fim do ano cerca de 1300 produtores por meio de visitas técnicas.
Além disso, a empresa produz mensalmente uma revista informativa personalizada para o Programa Mais Leite Saudável, caracterizada pelo seu estilo lúdico e textos técnicos rápidos e diretos, visando a facilitação da leitura pelos produtores rurais. Atualmente, a Revista Força Leiteira atinge cerca de 8.000 produtores em todo o estado mineiro”.
MilkPoint - Quantos profissionais fazem parte do quadro da empresa e qual é o perfil desses profissionais?
Ronaldo – “Atualmente a empresa conta com 8 técnicos com graduação na área das agrárias. As exigências básicas para entrar para a equipe são: habilidade de comunicação e poder de persuasão e vivência com a bovinocultura leiteira. Todos os técnicos, ao entrarem para a equipe, passam por um nivelamento metodológico e também de atualização técnica. Em adição, há um período de treinamento obrigatório, em que o técnico novato acompanha, durante um período variável, um técnico de maior experiência, até que ele esteja apto a exercer as funções do cargo que irá ocupar”.
MilkPoint - Quais as vantagens e desvantagens de atuar em uma empresa de consultoria x trabalhar de forma autônoma?
Ronaldo – “Uma empresa de consultoria, assim como as cooperativas de técnicos, tem a vantagem de trabalho em equipe, além de aumentar o raio de ação, criando uma identidade técnica para a marca e respaldo da empresa, caso ocorra alguma eventualidade que impossibilite o técnico de trabalhar durante um período. Entretanto, se faz necessária a padronização de metodologia de trabalho para a garantia de qualidade do serviço de todos os envolvidos, podendo, em alguns casos ir contra as convicções do indivíduo.
Quando se trabalha de forma autônoma é evidente a liberdade de trabalho de acordo com as suas ideias e opiniões, por outro lado, o técnico se limita a si só, e precisa dividir o seu tempo em atribuições que não são o seu foco principal, tornando a sua atuação muito limitada. Receita básica do velho ditado: “a união faz a força”.
MilkPoint - Quantos produtores de leite atendem (em volume de leite)?
Ronaldo – “Conforme descrito anteriormente, nossa maior demanda de trabalho está voltada para assistência técnica e capacitação de produtores para melhoria da qualidade do leite. Em 2016 já trabalhamos nossa metodologia em cerca de 260 produtores. A projeção é, até o final do ano, trabalharmos mais de 1000 propriedades em metodologias para reduzir CBT e/ou CCS no tanque. Os laticínios nos quais atuamos captam diariamente cerca de 1.180.000 litros de leite variando o porte de 3.000 a 200.000 litros/dia”.
MilkPoint - Qual é o porte médio das propriedades atendidas hoje pela empresa?
Ronaldo – “O problema da qualidade do leite ainda existe em propriedades de todo porte. Prefiro não responder o porte médio das propriedades, mas sim, a faixa de produção, que é de 50 a 2000 litros/dia”.
MilkPoint - Qual é o método de trabalho (fases do programa de trabalho) utilizado pela empresa?
Ronaldo – “Temos duas linhas de trabalho, controle da CBT e controle da CCS. O controle da CBT é dividido em 3 etapas:
Etapa 1 – Treinamento do produtor e colaboradores, diagnóstico da propriedade com foco em higiene no caminho do leite e refrigeração e, por fim, elaboração de um plano de ação para correção de não conformidades.
Observação: Essa metodologia focada na adequação do indicador de CBT, não é um programa de boas práticas. Treinamos o produtor nos itens que são contundentes para o indicador.
Etapa 2 – Conferência de implementação do plano de ação, ajustes na proposta e análise dos resultados alcançados;
Etapa 3 – Análise dos resultados alcançados;
O controle da CCS é trabalhado em 4 fases:
Etapa 1 – Treinamento do produtor e colaboradores, diagnóstico da propriedade, elaboração de plano corretivo e exame de cultura.
Etapa 2 – Erradicação de S. agalactiae no rebanho, via tratamento dos animais positivos.
Etapa 3 – Exame de cultura para conferir a erradicação de S. agalactiae.
Etapa 4 – Monitoramento do rebanho via CMT e CCS. Esse trabalho deve ser feito periodicamente pelo produtor para garantir a saúde do rebanho".
MilkPoint - Como é feito o acompanhamento dos clientes e quais são os principais indicadores utilizados para avaliar os resultados?
Ronaldo – “Diante da demanda pela qualidade do leite, os indicadores que norteiam nosso trabalho são a CBT (ou CPP) e a CCS”.
MilkPoint - Como é feita a gestão e o planejamento da empresa e quais são os principais desafios encontrados pelo estabelecimento atualmente?
Ronaldo – “O dimensionamento do trabalho a ser realizado em cada indústria é feito no projeto para habilitação no Programa Mais Leite Saudável. Sabemos quais os produtores vamos trabalhar, quantos e quais teremos que trabalhar mensalmente até o fim de cada projeto (normalmente de duração anual ou bienal). Isso torna a gestão de equipe e planejamento muito mais fácil. Assim podemos a preparar equipe e organizar os mecanismos de controle com antecedência. O nosso maior desafio é convencer o produtor a melhorar os parâmetros microbiológicos e químicos do leite produzido.
Outro desafio que destaco é vencer barreiras culturais. As vacas estão se tornando mais produtivas e mais sensíveis, a mão de obra está sendo substituída por tecnologia, novas técnicas de manejo surgem a todo momento e não implementamos nem as antigas ainda. Enfim, o empresário da atividade leiteira não está evoluindo junto com a atividade”.
MilkPoint - O que vem mudando na consultoria e no perfil dos produtores ao longo dos anos?
Ronaldo – “Estão se desenvolvendo na atividade leiteira aqueles consultores que, independente da área de atuação dentro da bovinocultura, estão trabalhando o cruzamento dos indicadores técnicos e econômicos. Atravessamos um período que muitos técnicos envolvidos com a bovinocultura entendiam muito de suas áreas (nutrição, reprodução, qualidade do leite, clínica e outras), mas não entendiam de negócio.
O perfil dos produtores de leite é muito variado. A única coisa padronizada é que todos reclamam do preço que receberam pelo litro de leite. Os desafios técnicos e gerenciais da atividade estão por si, selecionando os produtores que continuaram na atividade. Em outras palavras, os produtores estão melhorando”.
MilkPoint - Deixe um recado para os produtores de leite.
“Prezados produtores, não caminhem sozinhos, seus caminhos poderão se tornar longos, difíceis e tortuosos. Contratem uma consultoria que trate a atividade leiteira como um negócio. Pesquisem sobre o trabalho e a proposta dessa empresa de consultoria, visitem onde ela já atua. Uma vez aprovado por vocês, definam junto com o técnico consultor onde vocês querem chegar. Quem não sabe pra onde quer ir, não tem parâmetros para dizer se o resultado que obteve está bom ou ruim. E, por fim, defina suas estratégias e indicadores que determinarão se você está no caminho certo”.
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