Demanda chinesa por produtos lácteos neozelandeses pode durar mais uma década

Quanto tempo durará essa sede insaciável da China por produtos lácteos da Nova Zelândia? O vice-presidente do Goldman Sachs Group, Mark Schwartz, esteve imerso nos mercados asiáticos [...]

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 6 minutos de leitura

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Quanto tempo durará essa sede insaciável da China por produtos lácteos da Nova Zelândia? Pelo menos mais uma década. Talvez, duas.

O vice-presidente do Goldman Sachs Group, Mark Schwartz, esteve imerso nos mercados asiáticos desde sua primeira visita à região em 1980. Após 10 anos longe do banco global de investimentos, onde passou aconselhando o gestor de fundos e depois atuando como co-fundador de uma empresa de investimento em tecnologia limpa, George Soros retornou a Pequim em 2012 para assumir o comando dos negócios da empresa na Ásia-Pacífico.

Durante sua primeira visita à Nova Zelândia como presidente da Goldman Sachs Ásia Pacific, ele falou ao Sunday Star-Times sobre as oportunidades e frustrações em lidar com a potência asiática.

Pergunta: Se a China é a economia mais importante do mundo, como a Nova Zelândia se encaixa?
Resposta: A Nova Zelândia é um país pequeno e uma economia também pequena, mas é interessante notar que as coisas em que os neozelandeses focam são extremamente importantes para muitos países na Ásia, principalmente para a China e mais especificamente ainda no setor de agricultura. A segurança e a qualidade alimentar são muito importantes para a China em particular. Este país tem falta desses itens.

Nos últimos anos, a indústria de lácteos está crescendo na China. Estamos investindo em uma série de laticínios chineses, mas esses são muito dependentes da Nova Zelândia. Por exemplo, uma das companhias na China, a Huishan Dairy, estava extremamente interessada na Fonterra, em termos de aprender como laticínios de qualidade operam, como os animais são criados, toda a tecnologia associada com a produção rural nesse nível.

P: Fala-se que parte da escassez na oferta na China é devido aos focos de febre aftosa, que eles chamam de “doença número cinco”. O quanto isso é ruim?
R: Eu li essas mesmas notícias. O quanto isso é ruim? Eu realmente não sei. Seria difícil saber, porque é um local onde os chineses ainda estão muito opacos e muito bem guardados. A extensão de questões e problemas como esse, nunca são facilmente reconhecíveis aos jornalistas ou qualquer pessoa na verdade. Eu ouço Xi Jinping, presidente da China, falar o tempo todo e digo que ele frequentemente expressa a necessidade de segurança alimentar e agrícola como a questão número um para a China.

P: Assim que a doença estiver superada e com investimentos em mais fazendas leiteiras e em processamento de lácteos, a escassez de oferta na China diminuirá em poucos anos?
R: Eu realmente não acredito nisso. A Nova Zelândia ser um líder no setor leiteiro e agrícola é uma vantagem competitiva enorme. Isso não vai desaparecer. Eu acho que se tornará uma vantagem cada vez maior nessa década. Nos próximos 20 anos, não nos próximos cinco ou 10 anos, a China descobrirá as soluções para a maioria dos seus problemas, mas para um futuro previsível, certamente nas próximas duas décadas, eu acho que haverá uma demanda tremenda por produtos da neozolandeses, especialmente na China.

Por quanto tempo a sede insaciável da China por produtos lácteos durará? Pelo menos uma década. As questões na China relacionadas à segurança alimentar são todas intra-China. Os chineses têm uma grande consideração pela Nova Zelândia e pela Fonterra. Essa companhia em particular é vista como um dos negócios de maior qualidade e equipes de gestão. Eu sei que há uma preocupação sobre alguns de seus produtos lácteos estarem contaminados, mas a forma como eles responderam imediatamente e abertamente é um bom modelo para os chineses. Os chineses não chegam nem perto de responder desta maneira e houve números infinitos de preocupações sobre alimentos e produtos lácteos contaminados na China.

Essas questões sobre qualidade e segurança não sumiram, mas estão entre as companhias de lácteos chinesas, não se estendendo para a Fonterra ou qualquer companhia de lácteos da Nova Zelândia.

P: Há muita restrição sobre as companhias da Nova Zelândia tentando fazer negócios na China. Como elas contornam isso?
R: Bem, não são somente companhias neozelandesas, é frustrante para companhias em todo o mundo, incluindo a Goldman Sachs, realmente não nos envolvermos tanto quanto gostaríamos com os chineses. Eu acho que isso mudará com o tempo e mudará em curto prazo agora.

P: Também há preocupação sobre investimento chinês aqui. Deveríamos estar preocupados? A China está trabalhando em um plano?
R: Eu diria primeiramente que estou muito impressionado com o governo da China. Fiquei impressionado nos últimos 30 anos e ainda mais nesse ano, porque 2013 foi um verdadeiro pivô para os chineses – um novo governo em Xi Jinping e Li Keqiang, uma sessão plenária que criou um roteiro para uma reforma ampla em longo prazo.

Então, eu dou a Xi Jinping um ‘’A’’ por seu primeiro ano como líder dos chineses. Uma das coisas que é muito impressionante sobre os chineses é que eles são muito estratégicos, eles determinam metas nacionalmente e então as buscam. Eles são muito estratégicos na forma como precisam e querem comprar ativos no exterior.

A maioria dos ativos que eles estão tentando adquirir é de recursos naturais, energia e ativos agrícolas. Há uma razão para isso: eles são deficientes em todas essas áreas e não vão resolver suas deficiências por um longo tempo. Eles percebem isso, de forma que foram agressivamente atrás de ativos na América Latina, América do Norte, em toda a África principalmente em mineração, Austrália principalmente para minerais e recursos de mineração, Nova Zelândia por recursos agrícolas. Agora, você pode ter muito debate intelectual sobre se os países que têm essas relações comerciais com os chineses estão ganhando tanto. Na África, há uma preocupação sobre a China ser neocolonialista – que estão construindo grandes presenças na África, mas construindo uma presença chinesa, movendo populações chinesas para a África e não empregando populações locais, de forma que não estão criando um efeito multiplicador local para as economias locais. E essa é uma crítica válida.

É fantástico que os chineses estejam investindo em outros países buscando tipos de recursos e ativos que não têm naturalmente. Isso parece perfeitamente certo. Isso provavelmente seria melhor se eles estivessem investindo e deixando para trás um grande efeito multiplicador nos mercados ou economias locais onde estão investindo.

P: Isso significa que os neozelandeses devem se envolver com os olhos abertos?
R: Absolutamente. A Nova Zelândia é como no resto do mundo. A Nova Zelândia provavelmente daria as boas vindas a investimentos chineses, mas em troca, a Nova Zelândia e o resto do mundo querem um maior acesso aos consumidores chineses assim como a China está ganhando mundialmente em muitas outras jurisdições.

O acesso tem que ser dos dois lados e é difícil para muitas, se não para a maioria, das companhias multinacionais realmente ter muito acesso ao mercado chinês como a maioria das companhias quer. O mercado não se abriu tão expressivamente ainda.

P: Como os empreendimentos privados lidam com a corrupção chinesa?
R: Da mesma forma que o desenvolvimento econômico cria muita degradação ambiental e é um processo evolutivo, eu diria o mesmo sobre a corrupção. Em economias em desenvolvimento, não é incomum que haja décadas de corrupção e eu acho que a China e grande parte da Ásia estão passando por isso hoje.

A corrupção é um problema muito presente na China. Xi Jinping, Li Keqiang e Wang Qishan, os líderes do comitê permanente, estão extremamente focados em uma grande iniciativa anticorrupção. Muitos chineses – os 1,3 bilhão de chineses – são muito desencorajados pela quantidade de corrupção na China.

Levará anos e anos de esforços determinados para mudar a cultura e o comportamento. Porém aqui eu também farei o mesmo julgamento otimista sobre o foco e a determinação da China como fiz sobre as preocupações ambientais. Dessa vez eu acho que é diferente, isso parece muito mais público, determinado. Grande parte dos gastos que muitos oficiais do governo usavam foi reduzida nesse primeiro ano.

P: Qual seu conselho para as companhias neozelandesas sobre como fazer negócios na China?
R: Meu conselho geral é que os próximos 20 anos na China serão de qualidade de crescimento, qualidade de produtos e qualidade de serviços. O país está agora rodando de forma muito esperta e adequada e dizendo que o sistema que funcionou de forma tão bem sucedido por 30 anos (muito crédito barato direcionado ao mercado de uma forma centralizada nas mãos do estado. Estamos mudando esse sistema e estamos focando na qualidade do crescimento, mais do que na quantidade do crescimento.

A reportagem é do NZFarmer.co.nz., traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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heber coutinho de castro
HEBER COUTINHO DE CASTRO

AIMORÉS - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 07/03/2014

Como a demanda do mercado chinês por leite poderia beneficiar o Brasil? O Brasil tem buscado  exportar produtos lácteos para os chineses?
Qual a sua dúvida hoje?