O Paraná consolidou sua posição de segundo maior produtor de leite do país nos últimos dez anos, contribuindo em quase um quarto para o crescimento da produção brasileira e elevando sua participação de 10,65%, em 2006, para 14,07%, em 2016, dado mais recente aferido pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab). Segundo Fábio Peixoto Mezzadri, veterinário e técnico de pecuária de corte e leite do Deral, a produção no Estado saltou de 2,704 bilhões para 4,730 bilhões de litros no período, crescendo 75%, diante de uma variação de 32,4% em todo o país. O Estado abriga ainda 242 laticínios, dos quais em torno de 70% são pequenos e médios.
O valor bruto da produção leiteira, calculado pelo departamento, aproximou-se de R$ 6 bilhões em 2016, variando 19,8% sobre 2015 em números atualizados pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI), acumulando elevação real de 78% desde 2007. As regiões sudoeste e oeste do Estado concentram as maiores bacias leiteiras, com produção anual de 1,114 bilhão e 1,065 bilhão de litros, pela ordem, conforme Mezzadri, com destaque para Francisco Beltrão e Pato Branco, no primeiro caso, e Cascavel, Toledo e Marechal Cândido Rondon no segundo.
A terceira em importância, na região centro oriental paranaense, reúne Castro, Carambeí, Ponta Grossa, Arapoti e Palmeira, e registra os melhores indicadores de produtividade, entre outros fatores, pela maior aceitação de novas tecnologias entre os produtores, diz Eduardo Marqueze Ribas, gerente de negócios leite da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial.
Na média paranaense, aponta Wilson Thiefen, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Paraná (Sindileite), a produção anual de leite por vaca cresceu mais de 45% em 10 anos, saindo de menos de 2 mil para 2.916 litros, cerca de 70% acima da média brasileira (pouco mais de 1,7 mil litros por animal ao ano). A produção tem crescido apesar de uma tendência persistente de queda no número de produtores, reduzidos de 118 mil há uma década para algo próximo a 60 mil atualmente, conforme Thiefen.
Em Carambeí, Arapoti e Castro, considerada a capital brasileira do leite, a produtividade por animal em lactação varia de 6.356 a 7.478 litros por vaca, afirma o presidente do Sindileite. A maior eficiência dos produtores naquelas áreas, na maioria de origem alemã e holandesa, a alta genética dos animais, predominantemente de raça holandesa, com alguns exemplares de linhagem Jersey, o clima temperado e as terras de boa qualidade, que permitem o cultivo de forragens de alto valor nutritivo, observa Mezzadri, explicam os melhores resultados da região, além do desembarque de novas tecnologias.
Coordenador de pecuária da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Alexandre Lobo Blanco registra uma intensificação das técnicas de confinamento nos últimos dois ou três anos, com novos produtores passando a investir nesta área. "O uso de extratores automáticos de teteiras, que controlam a ordenha por meio de sensores, evitando lesões nas tetas e acelerando o processo, também tem se disseminado", destaca. Blanco informa ainda que pelo menos seis plantas de ordenha robotizada estão em construção nas regiões de Castro, Carambeí e Arapoti.
Pioneiro no uso de robôs na ordenha no Brasil, Armando Rabbers, dono da Genética ARM, começou a formar seu plantel de gado leiteiro em 2010, quando construiu, em sua fazenda, na região de Castro, um galpão coberto, mais conhecido no meio como "free stall", com camas de serragem individuais para confinamento das vacas em lactação.
As duas linhas de ordenha robótica, importadas da Suécia, foram instaladas em outubro de 2012 e atualmente produzem 5,4 mil litros de leite por dia, ordenhando 140 animais, que alcançam produtividade média em torno de 38 litros diários por fêmea. No ano que vem, a depender da situação no país, Rabbers tem planos para investir em mais dois robôs. "A meta é ter seis conjuntos de ordenha robótica no futuro, o que vai permitir a produção de 15,0 mil a 16,0 mil litros por dia", projeta.
Com rebanho de 3.008 cabeças, incluindo 1,5 mil vacas em lactação, Diogo Vriesman, sócio diretor da Melkstad Agropecuária Ltda, de Carambeí, investiu, desde 2015, em um sistema de ordenha rotatória, em sistema de carrossel. Sua produção da fazenda de 18 hectares gira em torno de 58,0 mil litros por dia, com produtividade diária próxima a 38 litros por vaca.
Os animais em lactação são mantidos em regime de confinamento, com uso também de free stall, mas com camas de areia para as vacas. "Com o mesmo pessoal e o mesmo custo fixo, produzo mais leite por hora, com a ordenha de 315 animais nesse intervalo", diz Vriesman. Numa conta rápida, são quase 12 mil litros por hora.
O produtor e zootecnista por formação investiu perto de R$ 12 milhões, incluindo equipamentos, todas as instalações e infraestrutura, com financiamento do programa Inovagro e recursos do Banco do Brasil. Apesar dos juros fixos e mais baixos, o prazo de 10 anos, afirma, "não é compatível com a atividade. São 12 a 15 anos para recuperar o investimento", acrescenta Vriesman. Ele espera estabilizar o rebanho por volta de 2020, quando deverá ocupar toda a capacidade do módulo já instalado, o que significa manter 2,3 mil vacas em confinamento. "Mais adiante, espero replicar esse módulo, mantendo o mesmo modelo de negócio", planeja Vriesman, que projeta elevar a produção para mais de 80 mil litros diários.
A Castrolanda espera manter a média de crescimento dos últimos anos, aumentando sua produção em 10% neste ano, de acordo com seu gerente comercial Egídio Maffei. Na ponta da captação, onde a cooperativa opera em conjunto com as cooperativas Frisia, Capal, Agrária, Bom Jesus, Coamig e Witmarsum, isso significaria elevar os volumes captados de quase 1,5 mil produtores de 1,75 milhão para 1,80 milhão a 1,90 milhão de litros por dia. Toda a produção é destinada às plantas industriais de Castro e Ponta Grossa, no Paraná, e Itapetininga, em São Paulo, operadas em conjunto, por sua vez, pela própria Castrolanda, Frisia e Capal. "Atuamos num mesmo raio geográfico e preferimos unir forças para disputar o mercado, ganhando escala, mas preservando a identidade e a operação de cada cooperativa", diz Maffei.
As informações são do jornal Valor Econômico.