Novo comportamento do consumidor, acordos comerciais prolongados e o disseminado coronavírus estão afetando a economia da China. Onde os lácteos dos EUA se encaixam neste cenário?
No fórum da Associação Internacional de Alimentos Lácteos (IDFA), na semana passada, o crescente e volátil mercado chinês foi um tema quente entre os líderes da indústria. Após o novo acordo de fase um entre a China e os EUA, os envolvidos na cadeia láctea estão examinando o que está por vir em 2020.
De acordo com Mary Ledman, estrategista global do setor de lácteos do Rabobank, 2019 foi um ano de forte consumo de laticínios na China. Ela estima que a produção chinesa de leite tenha crescido entre 2% e 3% no ano passado, enquanto as importações de leite em pó integral e leite em pó desnatado crescem constantemente.
Ledman prevê um grande estoque de produtos lácteos nos EUA em 2020. Isso retardará as exportações para a China, juntamente com outras 'disrupções' — o coronavírus mortal que lá se originou está afetando a economia do país em muitos níveis.
As regras de isolamento em muitas partes da China fazem com que as pessoas fiquem confinadas em casa, com voos restritos e outros transportes e agendas de trabalho prejudicados. Antes do surto, Ledman e Rabobank fizeram previsões sobre o acordo comercial da primeira fase, que traria alguma estabilidade à economia chinesa.
Houve uma desaceleração econômica geral na China durante a incerteza da guerra comercial, mas era esperado que o acordo de primeira fase revivesse as coisas. No acordo, a China se comprometeu a comprar US$ 200 bilhões em produtos agrícolas americanos, o que pode ser difícil enquanto o coronavírus está se espalhando.
Mas Mekala Krishnan, membro sênior do McKinsey Global Institute, acredita que as lutas comerciais globais são um pouco mais profundas. Ela disse que a principal retórica tem sido sobre a tensão comercial entre EUA e China e o Brexit. Mas o que está sendo esquecido são as "mudanças estruturais mais longas que estão ocorrendo no mundo do comércio e da globalização".
Krishnan observou que entre meados da década de 90 e meados da década de 2000, houve um aumento no comércio global. Mas, desde então, essa situação vem se revertendo e, na média, menos está sendo comercializado do que produzido nos países.
A China é um grande motivo para essa reversão, disse Krishnan. A maior parte produzida no País não está sendo enviada para além das fronteiras, mas consumida internamente, levando à “ascensão do consumidor chinês.” No caso dos laticínios, Krishnan disse que isso significa que o consumidor chinês está se tornando mais importante e fazendo com que os lácteos dos EUA concorram com os produtores locais.
"Como resultado, vimos empresas de diversos setores pensando nos consumidores de maneiras diferentes. Há uma onda de empresas globais pensando em como localizar suas ofertas, em como manter uma presença global, mas também em produtos e serviços personalizados para o público local”, disse Krishnan.
Mais consumidores estão exigindo produtos específicos e é difícil encontrar um bom equilíbrio e alcançar isso no setor de lácteos. As cadeias de suprimentos também estão melhorando na China, buscando produtos e agregando valor, em vez de importar ingredientes, como laticínios, de outros países.
Embora o PIB da China seja quase igual ao dos EUA, está crescendo muito mais rápido e tem recursos para sustentar a taxa de sucesso. Jovens entre 20 e 35 anos estão impulsionando esse crescimento.
A população da geração Z da China nasceu durante o boom econômico do país e cada vez mais deseja características 'intangíveis' associados a um produto, ao tomar decisões de compra. Esse cenário atual exige uma a segmentação dos consumidores com mais cuidado do que nunca.
As informações são do Dairy Reporter, traduzidas pela Equipe MilkPoint.