A Aqua Capital, gestora de fundos de participações em empresas com sede na capital de São Paulo, adquiriu o controle da catarinense Lac Lélo, seu décimo aporte e o primeiro no setor de lácteos do país. Criada no fim dos anos 1990 em São João do Oeste, a Lac Lélo processa uma média diária de 200 mil litros de leite. Seu foco está na produção de queijos e derivados, como nata (bastante apreciada no Sul do país) e requeijão. Além da unidade industrial, a Aqua adquiriu as duas lojas da Lac Lélo - uma revendedora de equipamentos para a ordenha de vacas e outra de insumos (vacinas, ração, etc).
"No setor de lácteos, que a gente já vinha olhando há algum tempo, nosso interesse está em queijos", afirmou ao jornal Valor Econômico o executivo Fábio Medeiros, ex-vice-presidente de lácteos da BRF e agora diretor da Aqua. "E não descartamos fazer outros investimentos no setor".
Segundo Medeiros, a intenção é avançar em canais ainda pouco explorados pela empresa, como food service e o varejo regional, e entrar no segmento de queijos finos, que tem margens maiores. "Hoje a Lac Lélo produz apenas queijos commodities, como muçarela e prato. Acreditamos que a empresa tem marca suficiente para agregar valor com queijos finos como o mofo branco [camembert e brie, por exemplo], mofo azul [gorgonzola] e outros de massa amarela, como o parmesão".
O negócio foi concluído em abril, mas a Aqua Capital vinha conversando com a Lac Lélo há pelo menos dois anos. Simultaneamente, olhava outras possibilidades, como a possível compra do negócio de queijos da Vigor, quando o mercado especulava que a empresa poderia ser desmembrada para a venda - como se viu depois, não foi, e a Vigor acabou sendo comprada integralmente pela mexicana Lala.
A produção de queijos finos deverá ter início em dois ou três anos, diz Medeiros. Poderá ser feita na unidade catarinense ou, eventualmente, em uma segunda fábrica a ser construída em São Paulo ou Minas Gerais. O executivo não confirma a possibilidade de erguer uma nova unidade.
Desde que foi constituída, há nove anos, a Aqua Capital tem se concentrado em empresas familiares ou que estão na primeira geração de sócios. Em geral, são empresas "redondas", que chegam a um momento de reestruturação societária ou de necessidade de um aporte para acelerar seu crescimento. Outra característica é manter os antigos donos trabalhando - modelo que assegura a cultura empresarial que vinha dando certo. No caso da Lac Lélo, William Grasel (apelidado de Lélo, que deu origem ao nome da empresa), filho do fundador Ruben Grasel.
Com o aporte, a Aqua afirma ter investido quase US$ 500 milhões no Brasil, entre as aquisições da Fertiláqua, Grand Cru, GeneSeas, Aquafeed, Comfrio, Yes, Rural Brasil, Agro100, Vetba e Lac Lélo. Juntas, elas geram quase R$ 3,7 bilhões por ano em receita à Aqua. A Lac Lélo está localizada no oeste de Santa Catarina, uma das principais bacias leiteiras do Sul do país.
A compra do controle da catarinense é mais um capítulo do movimento de consolidação no setor de lácteos nacional. Além de fundos, empresas estrangeiras de lácteos apostam no potencial de crescimento do consumo nesse segmento, especialmente de itens de maior valor, como queijos finos. De fato, o consumo de queijos em geral no Brasil é baixo. Enquanto aqui o consumo per capita ano é de 5 quilos, na França, por exemplo, alcança 20 quilos, conforme dados Mintel/Granolab/Granotec.
No ano passado, o fundo americano Arlon entrou no capital da cearense Betânia Lácteos, com a compra de 20% de participação. Também em 2017, a Lala comprou a Vigor e destacou o seu interesse no segmento de queijos da brasileira, além do iogurte. Outra estrangeira que entrou no país foi a suíça Emmi, que adquiriu 40% da mineira Laticínios Porto Alegre, que produz queijos, queijo fresco, requeijão, leite longa vida e manteiga, leite em pó e soro de leite pó.
As informações são do jornal Valor Econômico.