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Cooperativismo: quando o "eu" vence o "nós"

POR PAULO HENRIQUE LEME

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/07/2013

5 MIN DE LEITURA

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Por *Paulo Henrique Leme

As manifestações de junho de 2013 ficarão para a história. Existe consenso entre especialistas de seu caráter múltiplo e coletivo, de uma verdadeira manifestação da “rede social” e das demandas individuais de cada componente desta rede. Nas palavras do Prof. Marcos Nobre da Unicamp “cada manifestante era uma manifestação”. Com certeza elas foram a representação de uma nova sociedade multiconectada que emerge em diversas partes do globo. Porém, por de trás da multidão, existe uma pessoa, um indivíduo, que assume cada vez mais suas próprias necessidades e desejos como grande objetivo de suas ações. O individualismo no mundo atual é a norma.

Esta introdução é válida para contextualizar os resultados de uma recente pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Marketing e Comportamento do Consumidor (GECOM)1, da Universidade Federal de Lavras (UFLA). A pergunta motivadora do trabalho era simples: “quais os valores que movem os cooperados em seu relacionamento com a organização cooperativa”?

Quando pensamos em uma cooperativa, lembramos basicamente de pessoas unidas em prol de um objetivo em comum, porém, será que este pensamento se manifesta na relação do cooperado com sua cooperativa? Será que a percepção de quem, ao participar ativamente da cooperativa, comprando seus produtos e comercializando eles através dos canais oficiais, é a de que sua participação fortalece a união dos produtores da região? Ou prevaleceriam os interesses individuais do produtor, buscando apenas seus próprios objetivos ou de seu negócio?

A resposta não é simples. As evidencias empíricas mostram o cooperado distante da cooperativa. Não no sentido comercial, pois existe uma relação de forte dependência, mas muito mais no sentido de “pertencimento”. O resultado geral costuma ser a insatisfação com a cooperativa ou com o sistema cooperativista. O que chega a ser paradoxal se analisados os benefícios diretos e indiretos de uma cooperativa para produtores de determinada região.

O estudo conduzido pelos pesquisadores do GECOM em uma importante cooperativa do Sul de Minas Gerais2 identificou sete valores nesta relação: “satisfação”, “orgulho”, “autoestima e realização”, “tranquilidade”, “família”, “segurança”, “confiança” e “união e cooperativismo”. Lembrando que estes são valores pessoais que emergem do relacionamento do cooperado com sua cooperativa, e não como o cooperado vê a cooperativa. É justamente nesta diferença que mora o perigo.

Ao analisar seu relacionamento com a cooperativa e os serviços e produtos oferecidos, os cooperados manifestaram interesses utilitaristas, como a busca pela redução de custos, lucro maior, melhoria de sua atividade e produtividade. Estas preocupações com a atividade rural, responsável por sua sobrevivência e de sua família são importantes, pois, o lucro maior leva ao objetivo declarado nas entrevistas de “honrar com seus compromissos”, e em última instância, aos valores de “orgulho, autoestima e realização”.

Outro ponto de destaque foi o fato de que “honrar com seus compromissos” liga ao objetivo de sobrevivência e tranquilidade e a consequência “cuidar melhor da família”, que faz emergir os valores pessoais de “família” e “segurança”.

Os cooperados demonstraram, ainda que de forma tímida, que o valor de “satisfação” tem relação direta com a “melhoria na atividade”. Trabalhar e ver sua atividade prosperar gera muita satisfação para os cooperados, por diversas vezes, os entrevistados citaram que qualquer sobra de dinheiro seria automaticamente revertida para sua atividade, em detrimento de prazeres pessoais, por exemplo. A paixão pela terra foi citada por alguns, e apesar de não ser significativa no estudo, pode ser ligada ao valor satisfação também.

O homem do campo também tem muito senso de orgulho, em sua vida e em sua atividade, ou seja, se esta vai bem, ele pode “andar de cabeça erguida”, cuidar de sua família e se permitir uma satisfação pessoal, como “comprar uma moto” ou uma “botina de R$ 150,00” (Citações dos entrevistados). Desta forma, pode-se dizer que a cooperativa e seus produtos e serviços servem como refúgio e fortaleza para estes produtores. Ela fornece ferramentas para sua competitividade e sobrevivência.

A citação da cooperativa como compradora dos produtos produzidos pelo cooperado (leite, café, milho, etc.), que poderia ter muita importância como fator de união entre produtores para enfrentar o mercado, também é visto de forma funcionalista, pois liga com o interesse em produtividade e com “ajudar o cooperado na comercialização”.

Da forma como foram citados, todos estes elementos que levam o cooperado a se relacionar e participar da cooperativa estão claramente ligados aos valores sociais competitivos (rivalidade e superioridade) e de individualismo (maximizar o próprio resultado). Claro, não há nada de errado nisso, pelo contrário, demonstra a importância do sistema cooperativo no suporte aos seus cooperados.

Estes são aspectos mais funcionais da relação com a cooperativa e exibem um quadro onde o cooperado percebe a cooperativa como uma “boa loja de insumos”, que resolve seus problemas na aquisição de produtos para dar sustentação à sua atividade. Não aparece até este ponto nenhum valor característico da essência do cooperativismo, mas valores sociais competitivos e individualistas.

A visão da cooperativa então é em quase sua totalidade utilitarista, o “eu” vence o “nós”. Porém, cabe uma ressalva importante. Alguns pontos citados de forma incipiente como a cooperativa como suporte para o cooperado e o agrupamento dos produtores em prol de um bem comum tiveram importante ligação com “não ser explorado por terceiros” e “bem coletivo”, que fazem com que surjam os valores “confiança” e “união e coletivismo”. Aqui, existem resquícios dos valores sociais cooperativos, como a “igualdade” e “grupo de valorização”.

De forma muito clara no estudo, existe a ideia de que a cooperativa se apresenta para os cooperados como uma mera prestadora de serviços, ou como uma empresa que lhes fornece produtos e serviços. Por outro lado, também é possível observar que os cooperados reconhecem a importância da cooperativa, no sentido de oferecer proteção contra a exploração de terceiros. Este pode ser considerado um ponto positivo, uma vez que gera confiança e sentimento de coletividade.

Este texto não pretende exaurir o assunto, mas revela a parte principal da pesquisa e serve como alerta para os gestores de cooperativas em todo o Brasil: vocês não passam de uma loja. E isso é ruim? Sim, porque quem faz a gestão de uma cooperativa sabe que muitas vezes não é possível oferecer um adubo mais barato ou pagar um preço melhor pelo café e pelo leite. Se o produtor não sente que faz parte da cooperativa, corre para a empresa que irá lhe fornecer os mesmos insumos a preços melhores ou que pagará mais pelo seu leite ou café. Pouco a pouco, a cooperativa deixa de ser uma ferramenta de fortalecimento da coletividade.

O desafio agora é como reverter esta situação. Assim como os manifestantes de junho de 2013, o produtor e cooperado deseja ser ouvido, quer ter sua voz. Como trazer o cooperado novamente para dentro da cooperativa? Como fortalecer o cooperativismo? Este será o tema de um próximo artigo.

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1 - Pesquisa ainda não publicada.
2 - O nome da cooperativa participante foi preservado.


 

*Paulo Henrique Leme é Professor na Universidade Federal de Lavras - Eng. Agrônomo, Mestre e Doutorando em Administração de Empresas pela UFLA; Consultor em marketing e estratégia no agronegócio e Pesquisador do Grupo de Estudos em Marketing e Comportamento do Consumidor (GECOM)

 

PAULO HENRIQUE LEME

Professor na Universidade Federal de Lavras na área de marketing e empreendedorismo, mestre e doutor na área de Estratégia, Marketing e Inovação. Consultor em marketing e estratégia no agronegócio, especializado em café, certificações e origem.

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FERNANDO BACK

FORQUILHINHA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/11/2013

Reverter esta situação.Educação se dá no dia a dia.Portanto,sem a presença continuada do associado que se disponha a agir como dono do seu proprio negocio,assumindo direitos e deveres e ambicionando pela coletividade, fica dificil.O desafio é criar estratégias práticas para que isto ocorra.Como fazer???Sentimos na carne estes problemas e estamos curiosos para o próximo artigo.abraços.back.
JOEL NAEGELE

CANTAGALO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/11/2013

Todos os comentários se encontram em uma verdade: Falta educação Cooperativista como , também em outros casos, falta mesmo a "educação" pura e simples.
Muito boa a participação e a opinião de todos.
JOSÉ SOARES DE MELO

MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/11/2013

Prezado prof. Paulo Henrique
Sua pesquisa e as primeiras conclusões, são muito interessantes e úteis para entender as causas do enfraquecimento do sistema cooperativista, especialmente as de laticínios.
Estou convencido de que uma cooperativa nasce como resposta a um interesse coletivo. Porém ela so se mantem e cresce, se conseguir atender à demanda inicial e ás novas que surgirão à frente.
Sua insuficiência de atender ás demandas de seus cooperados está quase sempre ligada à amadorismo, má gestão e até desonestidade de alguns dirigentes. Além destes, outro problema é o anacronismo da legislação cooperativista brasileira.
Parabéns pelo seu belo trabalho. Vamos aguardar as novas conclusões.
José S. de Melo, pres. da Cooperativa Central MinasLeite
JUNIOR CATANDUVA

GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 05/08/2013

Prezado Paulo Henrique,
Parabens pela pesquisa e pela iniciativa!
Sem sombras de duvidas, o cooperativismo em seu cerne e nobre e o que tem de melhor para qualquer ramo de atividade.
Indo um pouco alem do seu artigo, diria para os Gestores das Cooperativas que, as Cooperativas não passam de "LOJAS PAI-TROCINADOR", ou seja, os cooperados compram o que querem e pagam quando querem e como querem...não e?
Aposto que em sua pesquisa você deve ter evidenciado casos da cooperativa estar com contas por receber de cooperados que não pagam, e isso atrapalham o resultado para os cooperados que pagam em dia! E justamente esse cooperado que quer receber mais pelo leite, pelo cafe e pelo milho!
ROBERTO SULZBACH

ESTRELA - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA LATICÍNIOS

EM 05/08/2013

muito boa está reportagem,pois trabalho em uma cooperativa e passamos muitas vezes por esses questionamentos e precisamos ter uma resposta rápida para que o associado não fique a mercê de empresas que querem explora-lo ou só usufruir e depois descartar,e muitas vezes acham que a cooperativa também o explora mas é assim pelo menos aqui onde trabalho.
ARISTÔMENES ARAGÃO

UTINGA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/08/2013

A cooperativa será apenas um CNJ se os cooperados não atuarem com conhecimento dos seus DEVERES e DIREITOS. Todos só lembram dos DIREITOS. Elegem uma diretoria e acham que seus problemas estarão todos resolvidos!.
FERNANDO BACK

FORQUILHINHA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/08/2013

Professor Paulo.Como produtor e gestor de cooperativa a 10 anos temos uma mesma leitura da situação.Penso que a educação cooperativista continuada e o desenvolvimento do verdadeiro modelo cooperativista com o sócio e a entidade crescendo juntos são caminhos a serem seguidos.parabéns pelo artigo.abraços.back.
HERMENEGILDO DE ASSIS VILLAÇA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 05/08/2013



Muito bom este artigo, o problema, é viabiliza-lo.
JOEL NAEGELE

CANTAGALO - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/08/2013

Tem muito de verdade o presente artigo que demonstra a vivência prática do autor com o nosso sistema cooperativista.
Como já afirmei em manifestações anteriores, há décadas que vivo intensamente essa relação de amor e ódio de "cooperados" e cooperativas. Em um encontro em Brasília na sede da OCB, diversos técnicos e especialistas no setor discutiram amplamente essa relação que o Paulo aborda no presente artigo, mas um detalhe abordado no evento que citei acima, dizia bem, a meu ver, um dos problemas nessa relação de amor e ódio entre produtor filiado e a instituição Cooperativa porque ele não se considera"dono" e portanto não oferece a participação que deveria. Ele quer "direitos" e não se considera com "deveres", na maioria dos casos. Espero ver opiniões de outros frequentadores desse excelente informativo. Um abraço ao Paulo e parabéns pelo artigo.
CASSIMIRO JOSÉ DANTAS

PEDRO AVELINO - RIO GRANDE DO NORTE - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/08/2013

O cooperativismo será forte, quando os seus associados entenderem que eles são os donos do empreendimento cooperativa. participando com seus produtos e serviços eliminando a presença dos terceirizados(atravessadores) nos negócios da cooperativa.

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