Ação complementar é importante para garantia da produção de leite seguro e evitar a resistência dos agentes causadores de enfermidades.
Por Mônica Maria Oliveira Pinho Cerqueira -
Profa. Titular da Escola de Veterinária da UFMG
No século XXI, diversos problemas de saúde global têm sido relacionados principalmente a mudanças climáticas, sustentabilidade ambiental, zoonoses e doenças (re) emergentes (Ribeiro et al., 2019). Entre estes problemas que vem sendo tratados em um Programa denominado One Health (Saúde Única), destacam-se as doenças que comprometem a saúde do homem e dos animais, o aumento da pressão de seleção de bactérias resistentes e a produção de alimentos seguros. Para controlar estas doenças, precisamos utilizar, muitas vezes, substâncias químicas denominadas antimicrobianos. Em animais de produção e mais especificamente na atividade leiteira, o uso destes medicamentos, que são extremamente importantes para garantir a saúde animal e a maior produção de alimentos, deve ser prudente e racional. Se este uso for indiscriminado, sem fundamentação técnica e sem ações preventivas, veiculação de resíduos no leite e consequentemente, perdas econômicas e problemas de saúde pública podem ocorrer.
Garantir que o leite seja isento de resíduos de antimicrobianos tem um grande impacto na saúde pública e na renda de produtores e indústrias. O leite que contém resíduos de antimicrobianos se origina de animais não saudáveis, pode conter patógeno e ser um alérgeno em potencial para os consumidores. Essas preocupações são ainda maiores em locais onde não há práticas sobre o uso racional e prudente de antimicrobianos, onde não se respeita o tempo de carência e as informações do fabricante do medicamento e/ou quando não há programas de monitoramento por meio de testes de triagem e confirmação dos antimicrobianos no leite. A presença destes antimicrobianos no leite, que muitas vezes decorre de falhas de manejo, pode ter um impacto profundo na saúde de bebês e crianças em regiões que já enfrentam altas taxas de doenças diarreicas e desnutrição (Garcia et al., 2019). Além disto, é crescente a preocupação com o uso indiscriminado de antimicrobianos e com o aumento da resistência bacteriana, considerada atualmente, como um dos maiores problemas de saúde pública em todo mundo. Por isto, a exemplo de outros países, é importante controlar a comercialização e uso destes medicamentos.
Os antibióticos, um desses antimicrobianos, podem afetar negativamente o microbioma (Gordon et al., 2012) daqueles que consomem leite com resíduos, resultando em disbiose, uma mudança na microbiota associada a estados de doença (Langdon et al., 2016). Entre os microrganismos que têm um papel importante na homeostase intestinal e na saúde infantil, destaca-se o Bifidobacterium spp., altamente susceptível aos antimicrobianos. Desta forma, a exposição a resíduos de antibióticos nos alimentos, por exemplo, pode ter importante impacto na diversidade do microbioma intestinal, com redução da população de Bifidobacterium spp. e aumento de Proteobacteria. A disbiose pode durar anos, resultando em riscos à saúde a longo prazo, especialmente em bebês e crianças, como crescimento atrofiado, comprometimento da resposta imune e doença diarreica recorrente (Holmes et al., 2008).
As perdas econômicas, por sua vez, estão relacionadas principalmente à condenação do leite de produtores por detecção de resíduos na indústria e à interferência nos processamentos tecnológicos de queijos e leites fermentados pela inibição de culturas láticas por estes resíduos que comprometem ou impedem a produção destes derivados lácteos.
Feitas estas considerações, o que precisamos fazer para mitigar o risco de veiculação de resíduos de antimicrobianos no leite? As principais ações incluem: a) uso racional e prudente dos antimicrobianos quando necessário, seguindo rigorosamente as recomendações de um médico veterinário, respeitando-se as informações contidas na bula do medicamento; b) marcação dos animais tratados por meio de sprays de coloração vermelha no quarto tratado; c) registros dos animais tratados, deixando-os a vista para que não ocorra risco de ordenha acidental destes animais e envio do leite com resíduos ao tanque; d) ordenha de animais tratados no final, com conjunto de ordenha separado e não envio do leite para o tanque refrigerador; e) registros corretos do dia da secagem e do parto para evitar riscos de o animal parir antes e veicular resíduos de antibióticos de vaca seca; f) monitoramento da presença de resíduos de antimicrobianos no leite de animais tratados por meio de testes de triagem, para aumentar a segurança de envio de leite ao tanque sem resíduos ou em concentração abaixo do LMR (Limite Máximo de Resíduo) estabelecido pela legislação brasileira.
Sobre o monitoramento de resíduos em leite de animais tratados a ser realizado nas propriedades, o produtor deve usar métodos de triagem capazes de detectar o antimicrobiano usado em concentrações abaixo do LMR e seguir, rigorosamente, as recomendações técnicas do fabricante. Cuidados na coleta de amostra que deve ser representativa de toda produção do animal, quanto ao controle da temperatura do bloco aquecedor (quando for o caso) e ao uso de leitor devem ser considerados, assim como a realização de testes com controle positivo e negativo. Esta análise quando realizada de forma adequada e com testes que realmente detectam o antimicrobiano utilizado na propriedade aumenta a segurança para o envio do leite do tanque. É importante que também sejam feitos registros destas análises na propriedade e dos treinamentos realizados pelo representante do kit de triagem. Manter um canal de comunicação aberto entre produtor, indústria e fabricante do kit é também fundamental.
A cadeia produtiva do leite do Brasil vem se profissionalizando cada vez mais, novos desafios têm surgido e precisam ser superados. A produção de leite seguro é cada vez mais demandada e para tal, precisamos implantar ações referentes às Boas Práticas Agropecuárias para prevenir a veiculação de resíduos. Neste contexto, monitorar estes resíduos no leite de vacas tratadas constitui outra ferramenta importante para mitigar o risco e garantir que o leite tenha mais qualidade e seja seguro. Portanto, fique atento! O tempo de agir é agora!
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IDEXX SNAP® é uma ferramenta para auxiliar no uso indiscriminado dos antibióticos e evitar a resistência dos agentes causadores de enfermidades, podendo ser usado para testar o leite dos animais individuais e, se estiver livre de resíduos, ele pode ser misturado com o resto do leite no tanque.
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Referências:
GORDON, J. I. et al.. The human gut microbiota and under nutrition, Science Translational Medicine, v.4, n. 137 (2012) ps 12. doi:10.1126/ scitranslmed.3004347.
LANGDON, A.; Crook, N.; DANTAS, G.. The effects of antibiotics on the microbiome throughout development and alternative approaches for therapeutic modulation, Genome Medicine, v.8, 2016, 16p.
RIBEIRO, C. S.; BURGWAL, L. H. M.; REGEER, B. J.. Overcoming challenges for designing and implementing the One Health approach: A systematic review of the literature. One Health, 7, 1-19, 2019.