Aprendemos que para toda ação existe uma reação, contudo, a não ação, ou, o não agir, também nos gera uma consequência. Ao longo de minha curta trajetória profissional, venho observando um fenômeno: a extinção das pequenas propriedades leiteiras. Seria este desaparecimento das pequenas propriedades um fenômeno, ou poderíamos definir como uma consequência, um resultado, a uma ação ou a falta dela?
Dentre os vários motivos pelos quais a pequena propriedade leiteira deixa de existir, um ponto, um motivo em especial nos chama a atenção. Em muitos casos a sucessão familiar é a chave para seguir ou não em frente com a propriedade. Seguindo com esta linha de raciocínio e levando em consideração o termo agricultura familiar, podemos nos ariscar em definir dois modelos distintos de gestão, os quais iremos compartilhar nas linhas que seguem abaixo.
Qualificamos em negócio de família aquela propriedade em que o chefe da família é a pessoa que toma todas as decisões, é o responsável por todas as atividades, sendo elas a nível gerencial ou financeiro. Os demais membros da família auxiliam nas tarefas, não havendo participação nas decisões e nem na administração da propriedade. Em muitos casos não há remuneração financeira, sendo o chefe da família a única pessoa realmente involucrada ao negócio.
Identificamos um outro modelo de trabalho, o qual o denominamos de negócio da família, onde observamos que existe um núcleo familiar que dirige a propriedade, onde os membros assumem as tarefas e as dividem de forma equalitária. Neste modelo de gestão, as questões gerenciais e financeiras são discutidas e as decisões são tomadas de comum acordo entre todos os membros do núcleo familiar. A remuneração financeira neste caso se dá pela participação no trabalho ou pela porcentagem dos lucros, dependendo de cada caso.
O que gostaria de ressaltar e deixar bem claro aos leitores, é que não existe um modelo certo ou um modelo errado de gestão familiar, o que venho observando é que as famílias que conseguem de alguma forma envolver seus membros na atividade – negócio da família – possuem uma perspectiva de sucessão muito maior, se comparado ao sistema onde os membros da família não estão envolvidos na atividade - negócio de família.
Me arrisco um pouco mais em concluir, que o destino das propriedades leiteiras - fundamentalmente de agricultura familiar - está totalmente regido pelas atitudes das pessoas em fazer ou não, em agir ou não, em prosperar ou fracassar. Concordam?
*Rodrigo trabalha na Cooperativa Naranjito, no Paraguai, há 150 km de Foz do Iguaçu. Ele é responsável pelo setor de leite da cooperativa e trabalha com toda a cadeia leiteira, desde a coleta de leite, até a venda. Há cinco anos, a cooperativa vem realizando um grande trabalho junto aos seus associados para mostrar-lhes que a atividade pode sim ser lucrativa. “Temos conseguido muitos avanços, mas ainda, há muito trabalho por fazer". A cooperativa possui 64 produtores com uma média de 208 litros/produtor/dia. "Somos pequenos mas buscamos primordialmente a qualidade, pois foi a maneira que encontramos para fazer com que estes pequenos produtores ganhem dinheiro com o leite, e assim, quem sabe, um dia eles se tornem grandes".