Para tentar aliviar a situação, 425 agentes da Força Nacional de Segurança estão patrulhando as vias da cidade há quase um mês (desde o dia 15 de maio), mas, mesmo assim, a sensação de insegurança ainda é grande. Vinte locais no entorno do Complexo do Chapadão foram escolhidos para as patrulhas cercarem os acessos ao principal destino dos caminhões roubados na cidade.
Uma das vítimas desse crime é o Laticínio Grupiara e segundo o diretor da empresa, Daniel Lanna, um conjunto de fatores favorece essa prática, sendo que o principal deles é a grave crise financeira e política que o Rio de Janeiro vive atualmente. “Os bandidos sempre existiram, mas hoje, com o atraso de pagamentos aos policiais e a falta de estrutura para o combate, ficou especialmente fácil esse tipo de roubo. Para evitar o problema, algumas tecnologias utilizadas estão sendo amplamente divulgadas, como: rastreadores via satélite, computador de bordo nos caminhões e monitoramento e travamento do caminhão por empresas especializadas. A questão é que o caminhão é levado e fica travado no morro no qual os policiais não sobem. Todos sabem onde está o problema e qual a solução, só não existe força política e financeira para fazer algo”, explicou Daniel em matéria exclusiva ao MilkPoint.
Dezoito cargas do Grupiara foram saqueadas somente neste ano, sendo que duas totalizaram mais de R$ 200 mil cada. Todos os roubos geraram um prejuízo ao Grupiara de R$ 739.533,00.Daniel Lanna
Algumas ações estão sendo colocadas em prática pelo Grupiara e outras empresas, como o envio de cargas somente no período da manhã para o Rio de Janeiro, escolta armada para acompanhar cargas mais valiosas e tentativa de enviar mais caminhões com cargas menores (mesmo encarecendo o valor do frete). Mesmo assim, o Grupiara sofreu três saques na presença da sua escolta armada, inclusive com troca de tiros. Outras ações são reuniões com a secretaria de segurança e da fazenda para a exposição dos dados da real situação. “Infelizmente, algumas tentativas não surtem efeito, dado que as autoridades já sabem o que ocorre, mas se dizem de mãos atadas”, complementa.
Dezoito cargas do Grupiara foram saqueadas somente neste ano, sendo que duas totalizaram mais de R$ 200 mil cada. Todos os roubos geraram um prejuízo ao Grupiara de R$ 739.533,00. “O crime sempre ocorre da mesma forma: dois carros compostos por dois a quatro bandidos fortemente armados – normalmente com fuzil - entram na frente do caminhão e o obrigam a parar. Um dos bandidos obriga o motorista a abrir a porta, entrando no veículo. Nesse momento, o caminhão é levado para uma favela que tenha infraestrutura para receber a carga. As principais favelas são a do Chapadão, Pedreira e Villa Kennedy, bem como os morros próximos da Tijuca e Lins. A nossa escolta usa pistola e, mesmo trocando tiros, não consegue parar a ação dos bandidos, pois como disse anteriormente, eles estão munidos com fuzis”.
A situação é tão crítica que todas as seguradoras cancelaram os contratos com diversos laticínios e são raras as que fazem negócios no Rio de Janeiro hoje.
De acordo com Lanna, a região de maior risco para caminhões grandes é a Dutra e a Avenida Brasil, especialmente a junção entre as duas avenidas. “No arco metropolitano também ocorrem diversos roubos, porém, não passamos por lá. Um lugar que fomos roubados uma vez também foi na Serra das Araras, mas acredito que a incidência é menor. Para caminhões menores de entrega, os locais piores são a baixada fluminense e a zona oeste do Rio de Janeiro. A epidemia é tão grande, que realmente posso dizer que em quase todo o território se corre riscos. Todos os laticínios que entregam no Rio provavelmente já sofreram roubos. A lista é muito extensa e no nosso sindicato, fazemos essa contagem. Os números já são medidos em milhões de reais e acredito que já tenha ultrapassado os R$ 10 milhões”.
Daniel destaca que a prática se intensificou muito após as Olimpíadas e é notável como está se agravando. “No passado não tinha nada parecido com isso, pois fazemos esse mesmo trajeto há mais de 20 anos. Nunca havíamos sofrido saques. O Sindlat (Sindicato das Indústrias de Laticínios) está sendo essencial na comunicação com o estado sobre o que está ocorrendo e vem incentivado as indústrias a trocarem ideias sobre o que está funcionando ou não a fim de evitar novos prejuízos. Ainda não estamos enxergando os resultados que precisamos. Diversas reuniões foram feitas com as autoridades e estamos aumentando ainda mais a intensidade delas para, ao menos, sermos notados pela mídia”, concluiu.