Vamos direto ao assunto. O Gráfico 1 reúne duas informações importantes: custo de produção e preço do leite em 2013. Custo de produção tem como fonte a Embrapa Gado de Leite. Retrata a evolução do ICPLeite, um índice que leva em consideração uma propriedade padrão de Minas Gerais para estabelecer os pesos relativos de cada grupo de insumos usados na produção. Já os preços tiveram o Cepea/Esalq/USP como fonte, também para Minas Gerais, por coerência. Sobre o gráfico, pouco tenho a falar, pois ele fala por si. Transformando as informações de custos e preços em número-índices para serem comparadas, fica evidente que, em janeiro, os preços subiram bem mais que os custos. E ponto!
Na verdade, os custos de produção ao longo de todo o ano foram menores que o registrado em janeiro. Para uma inflação de 5,9% acumulada em 2013, produzir em dezembro com um custo inferior em 1% ao de janeiro, é muito bom! É deflação! Já os preços recebidos pelo produtor subiram continuamente e atingiram o clímax em outubro. Nesse mês, o preço do leite ao produtor valeu 28,7% a mais que no início do ano. Nos dois últimos meses de 2013 o preço caiu vertiginosamente, uma queda de dez pontos percentuais em tão pouco tempo, e o ano fechou com alta acumulada de 18,3%.
Comparando o resultado das aplicações financeiras em 2013, verifica-se que o campeão de valorização foi o Dólar. Quem comprou a moeda americana em janeiro viu seu ativo financeiro valorizar 15,3% ao longo de 2013. Mas, eu não conheço ninguém que tenha feito aplicação em dólar como investimento no ano passado. Quem comprou Dólar, comprou por necessidade, como para uso em uma viagem ao exterior. Investir em papéis com variação cambial não foi sugerido por nenhum especialista em mercado financeiro. Portanto, a variação do Dólar trouxe mais problemas que alegrias. Já o preço do leite, recebido pelo produtor, vou repetir, valorizou 18,3%!!!! Portanto, o preço do leite ganhou da melhor aplicação do ano! Leite valorizou mais que Dólar! Compare com as demais aplicações. O Tesouro direto rendeu 7,1% no ano, a poupança antiga e os fundos DI renderam 6,3%, o CDB rendeu 6,2% e a poupança nova rendeu 5,8%. Portanto, o leite se valorizou num ano praticamente o triplo do rendimento da poupança!!!! Já quem aplicou em ações e ouro perdeu muito. Ações e ouro tiveram rendimento negativo, respectivamente, -15,5% e -17,4%.
Gráfico 1. Variação de Preço de Leite ao Produtor e Custo de Produção. Janeiro/2013 a fevereiro/2014
Fonte: com base em Cepea/Esalq/USP e Embrapa Gado de Leite
Obs: Números-índices (base=100)
O setor lácteo ainda é o que reúne o maior conjunto de pessoas que não falam com otimismo da atividade que exercem. Talvez isso tenha consolidado tantas expressões populares envolvendo o leite e palavras negativas ou de sofrimento. “Chorar sobre o leite derramado”...”tirar leite de pedra”...”defender o leite das crianças”... “ele não conta, ele é café com leite”... Pois foi só ficar evidenciado que 2013 seria um ano excepcional que surgiram analistas dizendo que, na verdade, o que estava ocorrendo era a recomposição de perdas em relação ao passado.
Pois, eu resolvi investigar o passado recente. Veja o gráfico 2. Num só gráfico está apresentado o comportamento de preços ao produtor e os custos de produção, em Minas Gerais, de Janeiro de 2010 a fevereiro de 2014. Portanto, cinquenta meses. Veja que, na maior parte da série histórica, a linha de preços esteve acima da linha de custos. Isso significa que os preços mensalmente tiveram taxa de variação maior que os custos. Para ser preciso, a variação de custos somente ultrapassou a variação de preços em dez dos cinquenta meses! Além disso, não é a primeira vez nos últimos anos que a variação do preço do leite ganha de todas as aplicações financeiras. Em 2011 o campeão de desempenho foi o ouro e o preço do leite teve variação superior. Na época, eu registrei este fenômeno. Compensa rever esse artigo, clicando aqui.
Gráfico 2. Variação de Preço de Leite ao Produtor e Custo de Produção. Janeiro/2013 a fevereiro/2014
Fonte: com base em Cepea/Esalq/USP e Embrapa Gado de Leite
Obs: Números-índices ( base=100)
Portanto, uma análise dos dados do presente e do passado recente mostram somente coisas boas. Se olharmos o futuro, também. Afinal, para quem produz leite, 2013 ainda não acabou. Os preços ao produtor caíram em janeiro e se estabilizaram já fevereiro. Os sinais são claros de que já foi atingido o pico de baixa, ocorrido em janeiro (vide gráfico 1). A perspectiva é de preços ao produtor crescendo nos próximos meses. Com o leite caro no mercado internacional, com o dólar bem comportado e tornando caras as importações, com exportações de leite acontecendo pelo lado do Brasil, com a menor taxa de desemprego registrada neste momento e o mercado interno se mostrando firme... Com tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo, fica difícil apostar em cenário ruim para preços ao produtor nos próximos meses. Resta saber que impacto ocorrerá nos custos, face à perda de produtividade na soja e no milho, em função da escassez de chuvas. Em que proporção isso afetará os custos? Difícil responder neste momento. Todavia, embora haja incerteza, este ano o horizonte parece menos nebuloso para a produção de leite, pelo menos até o primeiro semestre. Contudo, este momento não é o de acomodação. É o momento de promover melhorias e investimentos na propriedade. Afinal, a vida é feita de momentos intercalados de tempestade e de bonança. E o momento de arrumar a casa é na bonança, à espera da tempestade que vem em algum momento.
No próximo artigo, irei analisar os ganhos da indústria e até do consumidor, pois ele também ganhou por incrível que possa parecer. Enquanto isso, devo informar que estou participando de um processo de escolha do próximo dirigente da Embrapa Gado de Leite, que se baseia em análise de mérito. Eu irei apresentar uma proposta de trabalho e, para isso, é muito importante eu conhecer a sua seleta opinião sobre alguns assuntos relacionados ao setor. Por favor, doe o seu tempo e visite um pequeno e objetivo questionário, clicando aqui. Sou muito agradecido.