Na exploração de pastagens por método de pastejo rotacionado, as decisões de manejo devem ser diárias e, por isso, o manejador do pasto tem grande importância no sistema e deve ser muito bem treinado. O técnico responsável pelo manejo do pastejo deve atuar em duas frentes independentes de tomada de decisão: momento de entrada dos animais no piquete, e momento de saída.
Momento de entrada dos animais no piquete
O momento de entrada dos animais no piquete é a decisão de manejo mais importante para garantir estrutura de pasto adequada durante toda estação de pastejo. Tradicionalmente, o pastejo rotacionado era manejado com período de descanso fixo, baseado em um determinado número de dias para cada espécie forrageira e para cada época do ano. Entretanto, com o avanço dos estudos em ecofisiologia das plantas forrageiras, ficou claro que o período de descanso deve respeitar o estado fisiológico da planta.
O ponto ideal no qual o crescimento da planta deve ser interrompido, ou seja, que o pasto deve ser utilizado, corresponde aos 95% de interceptação luminosa (IL), como vimos na primeira parte deste artigo. A interceptação de luz não é uma variável facilmente medida no campo, pois depende de um equipamento bastante caro utilizado apenas em situações experimentais. Por isso, pesquisas foram realizadas para correlacionar a interceptação luminosa com variáveis estruturais do pasto, mais facilmente mensuráveis. Dentre as variáveis estudadas, a que apresentou melhor correlação com a interceptação luminosa e, também, a mais fácil de se medir, foi a altura do pasto.
Para cada espécie forrageira, os 95% IL são atingidos sob uma mesma altura do pasto. A Tabela 1 apresenta as alturas correspondentes aos 95% IL para as principais espécies de gramíneas forrageiras. Para que a correlação entre os 95% de IL e altura seja efetiva e consistente, e até mesmo para se explorar o potencial de uma determinada gramínea forrageira, alguns cuidados, já recomendados para o manejo da pastagem, precisam ser tomados. Os cuidados começam com a boa formação da pastagem, que envolve a escolha correta da gramínea forrageira para uma determinada região, uso correto da quantidade de sementes para a formação de bom stand de plantas, correção da acidez do solo, uso de adubação de manutenção para atender as exigências nutricionais da forrageira utilizada, entre outros. Esses cuidados são e devem ser tomados antes de se realizar o manejo do pastejo, não se pode e nem deve esperar boa correlação entre 95% IL com a altura do pasto se a pastagem foi mal formada, se há um baixo número de plantas por m2 e se a gramínea forrageira está com deficiência nutricional de um determinado nutriente. Adicionalmente, mesmo quando se toma os cuidados anteriores é preciso entender que, como base em pesquisas recentes, os pastos precisam de um período de adaptação quando se faz a mudança de um manejo do pastejo para outro. O tempo necessário para essa adaptação é dependente da forma como os pastos eram manejados anteriormente e o qual será submetido, mas as pesquisas indicam que no mínimo 6 meses são necessários. Respeitando esses cuidados e o período de adaptação ao manejo do pastejo a correlação entre 95% IL e altura será sempre muito boa.
Dessa forma, a altura dos pastos deve ser monitorada diariamente para definir o momento de entrada dos animais no piquete, quando esta atingir o valor correspondente a 95% IL. É muito importante que a altura de todos os piquetes da propriedade seja monitorada, pois plantas tropicais podem crescer muito rápido sob condições de crescimento adequadas. Obviamente, medir a altura de todos os pastos todos os dias é inviável, pois qualquer propriedade apresenta pelo menos 20-25 piquetes. Um método interessante e de boa aplicação prática no campo para monitorar a altura dos pastos é fazer uma medição completa, isto é, de todos os piquetes da propriedade, a cada 10 dias. Dessa forma, é possível prever a seqüência na qual os pastos irão atingir a altura de entrada e também estimar o crescimento, em cm/dia, utilizando-se duas medições consecutivas. Com esse valor de crescimento, o manejador de pasto consegue prever quantos dias, aproximadamente, cada piquete vai levar para atingir a altura de entrada.
Além da medição de todos os pastos a cada 10 dias, diariamente deve ser feito o monitoramento dos 2 ou 3 pastos mais próximos da altura de entrada para definir o dia exato da entrada. O número de pontos medidos por piquete depende muito do tamanho da área e da homogeneidade do pasto, mas de um modo geral, situa-se entre 10 e 20 pontos, medidos sobre um caminhamento em zigue-zague.
Momento de saída dos animais do piquete
Sistemas de pastejo rotacionado são caracterizados por períodos curtos de ocupação, às vezes inferiores a um dia e com no máximo 3 a 5 dias. Durante esse período, o rebaixamento é feito por diferentes lotes de animais, colocados sucessivamente no piquete de acordo com as exigências nutricionais de cada lote.
Na prática, isso significa dizer que o lote de maior exigência, geralmente vacas de início de lactação e de maior produção, é o primeiro a entrar no piquete para pastejar o estrato superior, porção de maior valor nutritivo e maior facilidade de colheita. Após um período curto de ocupação, de 0,5 ou 1 dia, esse lote é movido para um piquete novo e outro lote entra nesse piquete para terminar o rebaixamento até o resíduo final. O lote utilizado para pastejar o segundo estrato deve ser de menor exigência nutricional, como vacas em final de lactação, novilhas prenhas ou vacas secas, já que a forragem disponível é de menor valor nutritivo (folhas mais velhas) e a estrutura de pasto remanescente é menos adequada para colheita, dificultando o consumo.
Apesar de existirem recomendações de alturas ideais de saída para cada espécie forrageira (tabela 1), elas devem ser usadas como referências e não como metas específicas de manejo. Isso porque, sob mesma altura, o resíduo de um pasto pode apresentar estrutura totalmente diferente de outro, dependendo da condição que o pasto estava no momento da entrada dos animais. Dessa forma, a retirada dos animais do piquete deve ser determinada muito mais pela observação da condição do pasto conforme o rebaixamento vai acontecendo.
É importante ter em mente que o resíduo ideal é aquele que permite à planta rebrota rápida e vigorosa, o que depende do IAF remanescente, e não compromete demasiadamente o consumo dos animais, o que acontece quando o rebaixamento ultrapassa 50% da altura de entrada. Por outro lado, um resíduo muito alto ou com muitas folhas significa baixa eficiência de utilização do pasto e, consequentemente, redução da produtividade. Portanto, é essencial que o resíduo contenha folhas.
De forma bastante prática, pode-se dizer que o resíduo adequado apresenta coloração verde, por causa das folhas remanescentes. Quando olhamos para um pasto em final de rebaixamento e ele está marrom, podemos concluir que passou do ponto ideal, pois só apresenta colmos e material morto. Para ilustrar essa idéia, a figura 1 apresenta 3 situações de pastos em final de rebaixamento. Do lado esquerdo, podemos ver um pasto ainda com muitas folhas, que pode ser utilizado por mais tempo antes dos animais serem retirados. No centro temos o resíduo ideal e à direita um pasto que passou do ponto de retirada dos animais e só apresenta colmos e material morto.
Visto como devem ser as principais tomadas de decisões do manejador de pasto, podemos concluir que o manejo do pastejo consiste em sincronizar a utilização do pasto com a velocidade de crescimento da planta que, por sua vez, é dependente da disponibilidade de fatores de crescimento.
Quando a meta de entrada é desrespeitada, a estrutura do pasto é transformada de forma irreversível na mesma estação de pastejo. O capim elefante, por exemplo, quando manejado em crescimento livre, produz colmos tão grossos que sua aparência fica semelhante à de uma planta de cana de açúcar. Além de dificultar o consumo dos animais, essa estrutura inadequada prejudica também a qualidade do resíduo e a rebrotação do pasto, uma vez que é a participação de colmos é bem maior.
Monitoramento da eficiência de manejo
A eficiência do manejo do pastejo pode ser monitorada pela observação de algumas variáveis na planta e no animal que indicam ao manejador se as tomadas de decisões estão sendo adequadas.
Do ponto de vista da planta, as variáveis que devem ser monitoradas constantemente são:
• Estrutura do pasto:
Presença de colmos: indica problemas na meta de entrada;
Grande quantidade de material morto: indica altas perdas por senescência, evidenciando má utilização da forragem acumulada;
• Velocidade e vigor da rebrotação: reflete a qualidade do resíduo;
• Presença de plantas daninhas no piquete: indica baixa competitividade das plantas forrageiras, decorrentes de super-utilização. Uma planta forrageira bem manejada é mais competitiva e prevalece na área em relação às plantas daninhas.
Já do ponto de vista dos animais, as características comportamentais que podem refletir ao manejador a qualidade do manejo do pastejo são:
• Número e duração das refeições: quando os animais pastejam plantas com estruturas adequadas, cada refeição realizada é mais eficiente, ou seja, fornece mais alimento, fazendo com que as refeições sejam mais curtas e em menor número;
• Tempo pastejando no mesmo lugar: animais passam mais tempo pastejando no mesmo lugar (sem caminhar) em pastos adequados do que em pastos com estrutura ruim;
• Número de passos entre as paradas para pastejar: animais em pastos ruins dão menos passos entre duas paradas para pastejar do que em pastos bem manejados;
• Deslocamento do piquete: o deslocamento dos animais em pastos bem manejado é mais irregular quando comparado a forma de movimentação dos animais em pastos com estrutura ruim, mais retilínea.