Marcos Veiga dos Santos
A criação de animais de reposição independentemente do sistema de criação utilizado, é um ponto crítico para a produtividade de uma fazenda leiteira, uma vez que esses animais representam o futuro do rebanho. Nesse caso o objetivo principal é proporcionar condições adequadas para que as novilhas sejam criadas para expressar o máximo potencial de produção de leite, na idade adequada e com o menor custo. Um dos fatores para o sucesso do desenvolvimento e do crescimento das novilhas é a manutenção da saúde, sendo a mastite uma das doenças que podem afetar a capacidade produtiva desses animais.
Quando ocorrem infecções intramamárias em novilhas - ainda que muitas vezes a doença não seja diagnosticada, pois a maioria dos casos apresenta-se na forma subclínica - essas infecções podem persistir por longos períodos resultando em:
• Desenvolvimento incompleto da glândula mamária durante a gestação;
• Aumento da contagem de células somáticas (CCS) após o parto;
• Redução do potencial de produção de leite dos animais infectados.
A glândula mamária de um animal jovem ainda não está totalmente desenvolvida quando ocorre a infecção e o tecido mamário não se desenvolve adequadamente resultando em menor quantidade de células produtoras de leite e a infiltração de leucócitos. Sendo assim, infecções intramamárias em primíparas afetam negativamente o desenvolvimento da glândula mamária e consequentemente diminuem o potencial de produção pelo resto da vida.
Os fatores de risco para infecções intramamárias e mastite clínicas em novilhas não são totalmente conhecidos. Em sistemas intensivos de produção, os patógenos encontrados com maior frequência em glândulas mamárias de novilhas antes do parto incluem, Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativo (SCN), Streptococcus uberis, Streptococcus dysgalactiae, Corynebacterium spp e coliformes. Fatores ambientais afetam o tipo e prevalência dos patógenos causadores da mastite. Infecções causadas por estreptococos ambientais geralmente ocorrem durante o começo da lactação. Em sistemas de pastejo, que é o mais utilizado para criação de novilhas, o grupo dos estreptococos ambientais ganha destaque. Streptococcus uberis é a causa comum de mastite clínica em sistemas de pastejo na Nova Zelândia, já o Streptococcus dysgalactiae, quando a infecção intramamária ocorre antes do parto, aumenta o risco de mastite clínica pós parto em novilhas.
Uma prática já conhecida é a aplicação de antibióticos intramamários antes do parto. Essa prática tem se mostrado eficiente na redução da prevalência de infecções intramamárias e na redução da incidência de mastite clínica pós parto. Em vacas adultas, o uso de selantes de tetos na secagem auxilia na redução das mastites no período pós parto. Desta forma, um dos questionamentos que tem sido levantados é se o uso de selantes de tetos antes da primeira lactação também reduziria a prevalência de mastite no pós parto, assim como a incidência de mastite clínica pós parto em novilhas e redução de infecções causadas por estreptococos ambientais.
Para tentar responder a este questionamento, pesquisadores da Nova Zelândia realizaram um estudo com 255 novilhas em sistema de pastejo, as quais foram tratadas ou não com selantes de tetos aos 30 dias antes da data prevista do parto e tiveram amostras de secreção da glândula mamária coletadas aos 30 dias antes do parto. Os principais resultados encontrados no estudo foram:
1) Qual foi a prevalência dos principais agentes causadores de mastite em novilhas em sistema de pastejo? A prevalência de mastite antes do parto foi de 15,5% e não foi diferente entre os rebanhos avaliados. Os agentes causadores mais frequentes foram SCN (11,9%) e Strep. uberis (2,2% dos quartos avaliados).
2) Existe relação entre a presença de mastite pré parto e probabilidade de ocorrer mastite clínica no pós parto? A ocorrência de mastite no pré parto aumenta em cerca de 4 vezes o risco de mastite subclínica e clínica no pós-parto. As mastites causadas por SCN aumentaram o risco de mastite por SCN, Strep. uberis e Staph. aureus no pós parto.
3) A coleta de leite antes do parto aumentaria o risco de IIM no pós parto? A coleta de leite antes do parto não aumentou o risco de mastite subclínica e clínica durante o período pós parto em relação aos novilhas não coletadas (grupo controle).
4) A utilização de selantes de tetos reduz a incidencia de novas infecções em novilhas? De um total de 440 quartos de novilhas avaliadas, 9,1% apresentaram nova infecção entre a amostragem e o pós parto. Os patógenos mais encontrados foram Strep. uberis, Staphylococcus coagulase negativo e S. aureus. Apenas 3,6% das glândulas mamárias apresentaram o mesmo patógenos nas duas coletas de leite (antes e após o parto) e 12,3 % apresentaram cura espontânea. A presença de uma infecção antes do parto e a utilização de selantes de tetos reduziu significativamente o risco de nova infecção. Com o uso do selante, a o agente causador que sofreu a maior redução no pós parto foi Strep. uberis, cujo risco foi reduzido em cerca de 84% para mastite subclínica e 68% para mastite clínica pós-parto.
Como conclusão do estudo, a ocorrência de Infecções intramamárias antes do parto é um fator de risco para mastite subclínica e clínica no começo da lactação. A utilização de selantes de tetos aproximadamente 30 dias antes do parto diminui o risco de infecções intramamárias causadas por Streptococcus uberis e também o risco de mastite clínica em até 14 dias de lactação. A utilização de selantes é um alternativa para redução da prevalência de infecções intramamárias pré e pós parto em novilhas.
Fonte:
Parker et al. Journal Dairy Science, 90: 207-218, 2007.