Nos sistemas confinados, além do adequado dimensionamento das instalações e de boa ventilação, a escolha do material e o manejo da cama são pontos críticos para garantir boas condições de conforto e higiene da vaca. Quando existe boas condições de conforto do ambiente, as vacas deitam-se por maior período de tempo e têm menor ocorrência de lesões de articulação e do jarrete. Além disso, o tipo de manejo da cama pode ter grande influência sobre a ocorrência de novos casos de mastite e a qualidade higiênica do leite. Isto ocorre porque um dos princípios da prevenção de novos casos de mastite é a redução da contaminação por microrganismos na extremidade dos tetos, pois quanto maior a contaminação dos tetos, maior o risco de novas infecções de origem ambiental. Além da contaminação dos tetos, as vacas com úberes e pernas sujos também têm risco maior de aumento de CCS, o que ocorre em rebanhos com superlotação nas instalações, fezes com consistência líquida, pouca frequência de limpeza e de reposição da cama e baixa frequência de limpeza de corredores.
Dentre as opções de materiais a serem utilizados em camas de sistemas de confinamento tipo “free-stall”, as camas orgânicas (serragem, maravalha, cascas) favorecem rápido crescimento de contaminação ambiental, pois a matéria orgânica presente na cama, juntamente com a umidade de origem de fezes e urina, tornam o ambiente altamente favorável ao aumento da contaminação. Por outro lado, as camas de areia são consideradas ideais para minimizar a contaminação ambiental, pois reduz a chance de crescimento microbiano pela ausência de matéria orgânica.
Uso de aditivos nas camas
O uso de aditivos nas camas tem como objetivo aumentar a vida útil do material e reduzir a contagem bacteriana. Um dos aditivos mais utilizados é a cal hidratada, a qual tem função de aumentar o pH da cama (alcalinização) e reduzir o teor de água, o que resulta em condições desfavoráveis para a multiplicação microbiana e aumento da contaminação. A cal hidratada (hidróxido de cálcio, Ca(OH)2) é um composto altamente alcalino, que pode resultar em pH de ~12, o que cria um ambiente desfavorável para o crescimento microbiano. Estudo anteriores indicaram que o uso de cal hidratada como aditivo para camas de vacas leiteiras pode resultar em redução de aproximadamente 100x da contagem bacteriana da cama. No entanto, em rebanhos que iniciam o uso de cal hidratada como aditivo de camas podem ter como consequência negativas na condição de pele dos tetos, dentro de um período de 1 a 2 meses.
Alguns trabalhos de pesquisa avaliaram a eficácia do uso da cal como aditivo de camas de maravalha, em sistemas de confinamento tipo free-stall. Os resultados indicaram que a adição de 0,5 a 1 kg de cal hidratada na região da cama que entra em contato com o úbere da vaca resulta em diminuição da multiplicação microbiana na cama, mas os resultados de redução de casos clínicos em nível de rebanho foram variáveis. Os efeitos da adição da cal hidratada são relativamente curtos, pois a manutenção da carga microbiana e da umidade da cama após a adição da cal duram menos que 48 horas, o que significa que efeitos mais significativos são observados com adição da cal a cada dois dias. Resultados similares de redução da contaminação da cama e da pele dos tetos foram encontrados em estudos sobre a adição de cal em calmas de colchões (0,5 kg a cada 48 horas). No entanto, o contato da cal hidratada em excesso com a pele do úbere e do jarrete pode causar irritação no local. Os resultados de estudos indicam que a irritação pode ser percebida após cerca de 3 dias de uso da cal em camas de colchões e o uso da cal no longo prazo deve ser monitorado para evitar ocorrência de lesões.