Nos últimos anos, houve grande aumento de pesquisas sobre infecções intramamárias (IIM) em novilhas, cuja maioria dos casos ocorre durante a primeira semana de lactação, associada ainfecções originadas antes do parto. Por não ser rotina na maioria das fazendas o diagnóstico, muitos casos de mastite em novilhas são subestimados, o que pode tornar o animal menos produtivo durante a primeira lactação. A ocorrência de mastite clínica ou subclínica nesta fase pode comprometer o desenvolvimento do tecido secretor e a lactação futura, além do aumento da CCS.
Os principais agentes causadores de mastite em novilhas são o grupo dos Staphylococcus coagulase negativa (SCN), também conhecidos como estafilococos não-aureus (mais de 90% dos casos), além de Staphylococcus aureus (até 30%) e Streptococcus ambientais. Embora o grupo dos SCN sejam caracterizados pela baixa patogenicidade e manifestação na forma subclínica da mastite, a infecção persistente pode acarretar aumento da CCS individual por longo período. No caso de S. aureus, a produção pode ser reduzida em até 10% durante a primeira lactação e, em alguns casos mais graves, o tecido secretor pode ser substituído por outro tecido cicatricial, tornando os quartos mamários não-funcionais.
Para reduzir as infecções intramamárias (IIM) existentes em novilhas, já foi avaliado o tratamento de vaca seca, com bons resultados obtidos. Embora não seja uma prática comum nas novilhas, o tratamento de vacas secas apresenta alta cura de IIM existentes e prevenção de novos casos até o final da gestação após tratamento intramamário entre 8 a 12 semanas do parto, mesmo contra S. aureus. Além do tratamento de vaca seca, o uso de selantes também mostrou bons resultados quando usado 1 mês antes do parto, podendo reduzir o risco de novas IIM em até 74%. Um estudo recente avaliou os resultados de 4 protocolos de controle de mastite em novilhas, totalizando 76 novilhas e 304 quartos mamários.
Dois meses antes da data prevista do parto, as novilhas foram submetidas a um dos seguintes protocolos de tratamento:
- controle: nenhum tratamento foi realizado;
- selante: selante interno de teto contendo 2,6 g de Subnitrato de bismuto;
- ATB: aplicação intramamária de 500 mg de ceftiofur;
- ATB+selante: aplicação de ceftiofur associado com selante.
Antes dos tratamentos, foi realizada coleta asséptica de amostras de leite para análises microbiológicas, CCS e contagem diferencial de leucócitos. Essas mesmas análises foram realizadas no leite coletado nos dias 3 e 10 pós-parto.
Os resultados desta pesquisa identificaram prevalência de 63,2% de IIM no pré-parto, sendo a maioria causada por estafilococos (82%), destacando-se S. aureus (24,5%) e SCN (56,6%), e Strep. dysgalactiae (15,1%). No pós-parto, essa prevalência foi de 22,4% e os estafilococos também foram responsáveis pela maioria das IMI (89,5%), seguidos também por Strep. dysgalactiae (10,5%). Os quartos não tratados apresentaram taxa de cura de 55,2%, basicamente caracterizada pela cura espontânea dos casos. Por outro lado, taxas de cura foram mais altas nas vacas tratadas com ATB (100%), Selante (85,7%) e ATB+Selante (96,1%) (Figura 1). Com relação à prevenção de novas IIM, foi observado que não houve diferenças entre os tratamentos, sendo igualmente eficazes, variando de 92,2% a 97,9%.
Figura 1. Taxa de cura e prevenção de novas infecções intramamárias após tratamento pré-parto
Fonte: Adaptado de Nickerson et al., 2020.
Com relação à CCS, valores numericamente maiores foram observados nos quartos mamários do controle nos dias 3 e 10 pós-parto. Os autores sugeriram que embora não ocorreram diferenças na prevenção de novas IIM, os tratamentos resultaram em menor CCS pós-parto. A contagem diferencial de leucócitos mostrou diferenças na distribuição dos macrófagos, linfócitos e neutrófilos na secreção mamária entre quartos infectados e não infectados. A IIM aumentou a proporção de neutrófilos em aproximadamente 2,7 vezes sobre a porcentagem encontrada em quartos não infectados.
Por fim, os resultados indicaram que quando há o aumento da CCS, o principal grupo de leucócitos que aumenta são os neutrófilos (em resposta a uma infecção). Além disso, a maioria dos animais tem ao menos um quarto mamário infectado, cuja antibioticoterapia se mostrou eficiente na cura das infecções e redução da CCS. Sendo assim, em rebanhos com problemas de mastite em novilhas, que podem ser monitoradas no período pós-parto, a rotina de tratamento de vacas seca associado com selante de tetos é uma excelente ferramenta para tratamento e prevenção.
Fonte: Nickerson et al., Applied Animal Science, 2020
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2590286520300100