A mastite é uma inflamação da glândula mamária, geralmente causada por bactérias. A invasão bacteriana da glândula mamária ocorre via canal do teto e resulta em danos ao tecido mamário e em redução da capacidade produtiva das vacas leiteiras. Parte dos danos causados pela infecção bacteriana são irreversíveis e constituem a principal razão para redução na produção de leite e, consequentemente, em prejuízos econômicos aos rebanhos leiteiros.
Para estimar a redução na produção de leite, deve-se levar em conta o estágio da lactação que a vaca foi infectada e o tipo de patógeno causador da mastite. Por exemplo, no início da lactação (especialmente antes do pico de lactação) as perdas produtivas são maiores do que no final da lactação. Além disso, as diferenças na patogenicidade dos agentes causadores de mastite também afetam o grau de comprometimento do tecido mamário e, consequentemente, as perdas de leite. Considerando os principais patógenos causadores de mastite, coliformes e Streptococcus spp. são os que causam as maiores perdas em produção de leite.
Embora alguns estudos avaliaram a redução na produção de leite em vacas com mastite clínica e subclínica, poucos estudos avaliaram o impacto de patógenos específicos sobre a produção de leite, dentre eles: patógenos menores, como Corynebacterium bovis e Estafilococos não-aureus (ENA). A informação sobre os patógenos causadores de mastite é fundamental para estimar detalhadamente os prejuízos econômicos nos rebanhos leiteiros.
Um estudo recente desenvolvido na Finlândia analisou o impacto da mastite causada por ENA, C. bovis, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Streptococcus uberis e Streptococcus dysgalactiae sobre a produção de leite de vacas durante o restante da lactação. Com base dados históricos de rebanhos leiteiros, foram utilizados os registros de produção de leite, histórico de saúde e diagnóstico microbiológico de amostras de leite de 20 mil vacas leiteiras. Para avaliar o impacto de cada microrganismo sobre a produção de leite, foi desenvolvido um modelo para estimar curvas para lactações de vacas com e sem mastite e as fases de lactação foram dividas em três períodos: I) pré-pico de lactação (<53 dias em lactação), II) pós-pico de lactação 1 (54 - 120 DEL), III) pós-pico de lactação 2 (>120 DEL).
A mastite clínica causada por E. coli foi a que apresentou a maior redução na produção de leite (10,6%; Figura 1) durante o restante da lactação (cerca de -3,5 kg/vaca/dia), quando ocorreu antes do pico de lactação. Além disso, E. coli também pode causar mastite clínica aguda com sinais clínicos moderados a graves, pela ação das endotoxinas que desencadeiam reação inflamatória e resultam em danos ao tecido mamário. Dessa forma, os danos causados pela mastite por E. coli representam uma importante razão para redução na produção de leite das vacas acometidas.
Figura 1 - Perdas de produção de leite da mastite clínica antes do pico de lactação de acordo com o tipo de agente causador. *As perdas de leite para Strep. uberis são relacionadas a mastite subclínica antes do pico de lactação (Fonte: Heikkilä, et al. 2018).
Staphylococcus aureus apresentou redução de 7,1% na produção de leite de vacas com mastite tanto clínica quanto subclínica antes do pico de lactação (cerca de -2,3 kg/vaca/dia). Quando o diagnóstico foi feito após o pico de produção (>53 dias), a redução na produção de leite foi de 4,3% para mastite clínica e 4,4% para subclínica. Este patógeno é capaz de aderir ao epitélio e invadir profundamente os tecidos da glândula mamária, onde causa alterações no quarto mamário afetado. Sendo assim, Staph. aureus é um dos principais patógenos causadores de mastite. De forma semelhante, vacas com mastite subclínica antes do pico lactação causada por Strep. uberis, apresentaram 6,6% de perda na produção de leite, enquanto que vacas com MC por Strep. dysgalactiae tiveram 6,4% de redução na produção neste período.
Vacas com mastite clínica causada por ENA produziram 5,7% menos leite (-1,8 kg/vaca/dia) do que as vacas sem mastite na lactação, especialmente quando o caso de mastite aconteceu antes do pico de lactação. Algumas espécies de ENA afetam mais a saúde do úbere do que outras, sendo que estes patógenos não devem ser subestimados como causa de mastite clínica. Da mesma forma, C. bovis causou perda de produção (7,4%, o que representou -2,4 kg/vaca/dia) na lactação quando a mastite clínica ocorreu antes do pico de lactação. Este patógeno é considerado um colonizador do canal do teto e que causa apenas leve aumento de CCS do leite e raramente causa mastite clínica. No entanto, a mastite clínica causada por C. bovis também está associada a perdas de leite durante a lactação.
Os resultados deste estudo indicam que as perdas de produção causadas pela mastite clínica são maiores do que as perdas da mastite subclínica. Além disso, a extensão das perdas de produção de leite também dependem do tipo patógeno causador e período da lactação que a vaca adquiriu a infecção. Nos casos de mastite clínica, tanto os patógenos principais (Staph. aureus e E. coli e Strep. dysgalactiae), quanto os secundários (ENA e C. bovis) causam perdas significativas na produção de leite, principalmente quando a mastite ocorre antes do pico de lactação.
Heikkilä, et al. Journal of Dairy Science, v. 101, n. 10, p. 9493-9504, 2018.