Mesmo sem uma medida isolada que possa controlar a mastite, temos um conjunto de medidas preventivas que, reconhecidamente, tem tido sucesso na redução da mastite subclínica e clínica. Desta forma, muitas fazendas conseguiram atingir sucesso com a redução de CCS do tanque e da incidência de mastite clínica.
Dentre os principais desafios do controle da mastite, temos ainda uma percepção equivocada de que a mastite é uma doença exclusiva da vaca. No entanto, a mastite é reconhecidamente uma doença do homem, que se manifesta na vaca. Por exemplo, os principais fatores de risco da mastite estão diretamente associados com ação do homem, seja no manejo de ordenha (homem + equipamento), manejo nutricional ou no ambiente (homem), além de alguns fatores individuais da vaca. Sendo assim, sem alterar a percepção da importância e a postura do produtor, do ordenhador, do veterinário e dos envolvidos na tomada de decisões do controle de mastite, dificilmente o sucesso no controle é atingido. Atualmente, estudos nacionais e internacionais indicam que cerca de metade de toda a variação da CCS do tanque entre os rebanhos leiteiros está associada com o fator humano de cada fazenda. Dentre as características estudadas, a atitude do produtor e as condições de trabalho dos ordenhadores são os principais fatores que afetam o risco de mastite nos rebanhos.
Além disso, outro fator que dificulta o controle de mastite é que de certa forma, os produtores se acostumaram a conviver com os prejuízos que a doença causa, e na grande maioria das vezes, estas perdas e prejuízos já fazem parte do dia a dia. Na verdade, a grande maioria da fazendas nem quantifica estas perdas, pois não têm uma rotina de diagnóstico e coleta de dados, o que significa que a percepção das perdas é subestimada, pois somente são percebidos os desembolsos diretos (ex. descarte de leite com resíduos, custos de tratamentos, descarte de vacas). No entanto, as pesquisas indicam que cerca de 70% das perdas da doença ocorrem em razão de menor produção de leite causadas pela mastite subclínica, o que dificilmente é percebido. Por oturo lado, uma considerável parte dos produtores acredita que não tem o problema, simplesmente porque não fazem o monitoramento das vacas, sendo que as ferramentas para isto (CMT e CCS) está disponíveis há mais de 50 anos. Desta forma, a grande maioria dos produtores ainda que reconheça que a mastite é uma doença que causa perdas, já estão acostumados com o problema e têm uma percepção de que o controle da mastite é tão difícil e que não compensaria os esforços para controlar a doença.
Além desta situação dentro da fazenda, sabemos que o cenários de produção de leite no Brasil e no mundo estão em constantes mudanças. A grande maioria dos profissionais não sobreviveriam com os mesmo conhecimentos, a mentalidade e a mesma forma de entender a realidade de produção de leite de cerca de 10-20 anos atrás. Dentro do cenários de grandes transformações mundiais, temos visto a redução do número total de produtores de leite, aumento do tamanho dos rebanhos, aumento da produtividade por vaca e por área, crescente dependência de mão de obra contratada, tendência de confinamento ou intensificação dos sistemas de produção, crescente pressão social e ambiental para produção sustentável de alimentos, crescente impacto de legislação e regulação dos sistemas de produção, e reconhecimento por parte da sociedade da necessidade de melhorar o bem estar animal.
A quase totalidade destas mudanças aumentam significativamente o desafio do controle de mastite. Isto ocorre em razão do maior desafio de contratar e treinar a mão de obra sem experiência prévia no setor agropecuário. Parte dos países migraram para o uso de mão de obra de imigrantes de outras nacionalidades, o que aumenta ainda mais o desafio de treinamento, ou alternativamente para o uso de sistema de ordenha voluntário (ordenha robótica), o que em alguns países já representa 25% dos sistemas de ordenha instalados. Além do treinamento de mão de obra, os grandes desafios do controle de mastite estão também associados com o aumento médio da produção de leite/vaca e a maior tendência de intensificação da produção de leite, o que aumenta os risco de novos casos de mastite e de problemas de bem estar animal. A relação direta entre aumento da produção por vaca e maior risco de mastite ocorre em razão do maior desafio metabólico da vaca, maior tempo de ordenha, maior taxa de lotação e maior desafio de manter o ambiente limpo. Com relação ao bem estar da vaca, a mastite é uma das doenças que mais afetam negativamente o conforto das vacas, juntamente com os problemas de locomoção.
Sendo assim, considerando este cenário de mudanças dos sistemas de produção de leite, que implicam em maiores desafios do controle de uma doença multifatorial, deve-se buscar por parte da cadeia produtiva, dentro de uma visão de médio e longo prazo, valorizar a qualidade do leite por meio de remuneração realmente diferenciada por CCS, intensificar a capacitação profissional (técnicos e ordenhadores), implantar rotinas de diagnóstico de mastite nas fazendas e definir destinação legal para o leite fora dos padrões mínimos estabelecidos pela legislação.
Desejo a todos um excelente Ano Novo.