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Os desafios do controle de mastite

POR MARCOS VEIGA SANTOS

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 28/12/2015

5 MIN DE LEITURA

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A mastite continua sendo uma das doenças que mais causam prejuízos para a pecuária leiteira em nível mundial. Não é sem razão que esta doença é uma das mais pesquisadas e que tem recebido grande atenção da pesquisa e da busca por soluções. No entanto, até hoje não existe uma ferramenta única, que usada de forma isolada, tenha realmente sucesso no controle da mastite. Uma das explicações para a ausência desta solução milagrosa e definitiva é que é pouco provável o desenvolvimento de uma ferramenta que consiga controlar mais de 100 diferentes causas da mastite. Além disso, mesmo com os inegáveis avanços surgidos pelo melhoramento genético e pelas ferramentas genômicas, os estudos sobre a resistência genética indicam que esta característica responde por 5-10% da variabilidade do controle de mastite. Sendo assim, não teremos no curto prazo uma medida que de forma isolada resolva, ainda que de forma parcial, os problemas associados com a ocorrência de mastite em fazendas leiteiras.

Mesmo sem uma medida isolada que possa controlar a mastite, temos um conjunto de medidas preventivas que, reconhecidamente, tem tido sucesso na redução da mastite subclínica e clínica. Desta forma, muitas fazendas conseguiram atingir sucesso com a redução de CCS do tanque e da incidência de mastite clínica.

Dentre os principais desafios do controle da mastite, temos ainda uma percepção equivocada de que a mastite é uma doença exclusiva da vaca. No entanto, a mastite é reconhecidamente uma doença do homem, que se manifesta na vaca. Por exemplo, os principais fatores de risco da mastite estão diretamente associados com ação do homem, seja no manejo de ordenha (homem + equipamento), manejo nutricional ou no ambiente (homem), além de alguns fatores individuais da vaca. Sendo assim, sem alterar a percepção da importância e a postura do produtor, do ordenhador, do veterinário e dos envolvidos na tomada de decisões do controle de mastite, dificilmente o sucesso no controle é atingido. Atualmente, estudos nacionais e internacionais indicam que cerca de metade de toda a variação da CCS do tanque entre os rebanhos leiteiros está associada com o fator humano de cada fazenda. Dentre as características estudadas, a atitude do produtor e as condições de trabalho dos ordenhadores são os principais fatores que afetam o risco de mastite nos rebanhos.

Além disso, outro fator que dificulta o controle de mastite é que de certa forma, os produtores se acostumaram a conviver com os prejuízos que a doença causa, e na grande maioria das vezes, estas perdas e prejuízos já fazem parte do dia a dia. Na verdade, a grande maioria da fazendas nem quantifica estas perdas, pois não têm uma rotina de diagnóstico e coleta de dados, o que significa que a percepção das perdas é subestimada, pois somente são percebidos os desembolsos diretos (ex. descarte de leite com resíduos, custos de tratamentos, descarte de vacas). No entanto, as pesquisas indicam que cerca de 70% das perdas da doença ocorrem em razão de menor produção de leite causadas pela mastite subclínica, o que dificilmente é percebido. Por oturo lado, uma considerável parte dos produtores acredita que não tem o problema, simplesmente porque não fazem o monitoramento das vacas, sendo que as ferramentas para isto (CMT e CCS) está disponíveis há mais de 50 anos. Desta forma, a grande maioria dos produtores ainda que reconheça que a mastite é uma doença que causa perdas, já estão acostumados com o problema e têm uma percepção de que o controle da mastite é tão difícil e que não compensaria os esforços para controlar a doença.

Além desta situação dentro da fazenda, sabemos que o cenários de produção de leite no Brasil e no mundo estão em constantes mudanças. A grande maioria dos profissionais não sobreviveriam com os mesmo conhecimentos, a mentalidade e a mesma forma de entender a realidade de produção de leite de cerca de 10-20 anos atrás. Dentro do cenários de grandes transformações mundiais, temos visto a redução do número total de produtores de leite, aumento do tamanho dos rebanhos, aumento da produtividade por vaca e por área, crescente dependência de mão de obra contratada, tendência de confinamento ou intensificação dos sistemas de produção, crescente pressão social e ambiental para produção sustentável de alimentos, crescente impacto de legislação e regulação dos sistemas de produção, e reconhecimento por parte da sociedade da necessidade de melhorar o bem estar animal.

A quase totalidade destas mudanças aumentam significativamente o desafio do controle de mastite. Isto ocorre em razão do maior desafio de contratar e treinar a mão de obra sem experiência prévia no setor agropecuário. Parte dos países migraram para o uso de mão de obra de imigrantes de outras nacionalidades, o que aumenta ainda mais o desafio de treinamento, ou alternativamente para o uso de sistema de ordenha voluntário (ordenha robótica), o que em alguns países já representa 25% dos sistemas de ordenha instalados. Além do treinamento de mão de obra, os grandes desafios do controle de mastite estão também associados com o aumento médio da produção de leite/vaca e a maior tendência de intensificação da produção de leite, o que aumenta os risco de novos casos de mastite e de problemas de bem estar animal. A relação direta entre aumento da produção por vaca e maior risco de mastite ocorre em razão do maior desafio metabólico da vaca, maior tempo de ordenha, maior taxa de lotação e maior desafio de manter o ambiente limpo. Com relação ao bem estar da vaca, a mastite é uma das doenças que mais afetam negativamente o conforto das vacas, juntamente com os problemas de locomoção.

Sendo assim, considerando este cenário de mudanças dos sistemas de produção de leite, que implicam em maiores desafios do controle de uma doença multifatorial, deve-se buscar por parte da cadeia produtiva, dentro de uma visão de médio e longo prazo, valorizar a qualidade do leite por meio de remuneração realmente diferenciada por CCS, intensificar a capacitação profissional (técnicos e ordenhadores), implantar rotinas de diagnóstico de mastite nas fazendas e definir destinação legal para o leite fora dos padrões mínimos estabelecidos pela legislação.

Desejo a todos um excelente Ano Novo.

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

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OSWALDO ACCORSI MIRANDA

TEÓFILO OTONI - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/10/2021

Boa Tarde Dr. Marcos.
De certa forma concordo plenamente com o senhor, quando senhor diz que não temos uma ferramenta única para controle de mamites, só completando a sua fala, digo isto na área alopata.
Trabalho no campo como Médico Veterinário há mais de trinta e cinco anos. Como não conseguia de forma alguma controlar as mastites, passei a fazer pesquisas com a homeopatia, tive resultados espantosos com vacas que já vinham apresentando mastite em várias lactações. Depois de alguns anos resolvi me especializar e hoje sou Médico Veterinário Homeopata pelo IMH - Instituto Mineiro de Homeopatia. E, atualmente, só trabalho com homeopatia, não só no controle de mastites, com no controle parasitário, com resultados muitos bons.
Gostaria de ouvir a sua opinião sobre a homeopatia na pecuária?
Oswaldo Luis Accorsi Miranda
Médico Veterinário Homeopata - CRMV-MG 1858
oswaldoaccorsi@terra.com.br
Fone (330 99975-9000
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/03/2016

Prezado Ederson,

Entendo a situação e gostaria muito de poder auxiliar de alguma forma, mas a distância, seria muito difícil fazer alguma recomendação ou direcionamento. De uma forma geral, o problema de mastite clínica pode ser a questão mais urgente em razão da necessidade de tratamento e descarte de leite, mas a situação da mastite subclínica também deve ser avaliada.

A minha sugestão é que a fazenda tenha dados sobre a mastite clínica, principalmente sobre a gravidade dos casos, dias em lactação das vacas acometidas, protocolos usados para tratamento e principalmente que sejam coletadas amostras de leite para cultura microbiológica, pois em razão da causa pode-se identificar a origem (contagiosa ou ambiental) e a necessidade de medidas específicas (descarte, protocolos de tratamento específico). Além disso, a minha recomendação seria que um veterinário especialista possa ir na fazenda e identificar os principais gargalos (ordenha, secagem, ambiente).

Caso necessite, temos como receber as amostras em nosso laboratório (www.qualileite.org), que poderia ser a uma informação importante para tentar reduzir o problema.

Atenciosamente, Marcos Veiga
EDERSON PAVANELLO

LUCAS DO RIO VERDE - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/03/2016

Prezado, Professor sou gerente de uma fazenda no Mato Grosso possuímos aproximadamente 200 vacas em lactação temos um problema serio com mastite ja chegamos a ter 50 animais com mastite clinica, já fizemos varias ações para tentar controlar mas ainda não consigamos controlar.Gostaria de algum auxilio de como resolver nosso problema.
Desde já grato.
ELIAS LUIZ DE PAULA

CARATINGA - MINAS GERAIS

EM 20/01/2016

GOSTEI,CONCORDO COM O SR,COMO E DIFÍCIL CONCIENTISAR OS PRODUTORES. TENHO TRABALHADO INTENSAMENTE NO CONTROLE DA CCS E CBT, CONSEGUI UM BOM RESULTADO .TEM UM CURRAL QUE ESTOU SEMPRE ORIENTANDO,JA ACOMPANHEI A HIGIENISAÇÂO TUDO MUITO BOA ,MAIS NÂO CONSEGUIMOS REDUZIR A CBT E CCS, O QUE FAZER ?JA ENCONTREI TANQUE COM CONTGEM ACIMA DE DEZ MILHOES E CONSEGUI REDUZIR PARA CEM MIL EM DUAS VISITAS MAIS ESTE ESTA ME DESAFIANDO RSS,TENHO FAZENDAS COM CONTAGEM DE QUATRO MIL ,DOZE MIL,3MIL ETC..QUEM SABE TEM UMA IDEIA PARA ME AJUDAR,GRATO,ELIAS.
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 13/01/2016

prezado Arlison,

Eu penso que já existem fazendas que conseguiram atingir um bom controle de mastite, mas infelizmente são minoria. Na minha opinião, a melhoria da qualidade do leite passa por definição lega sobre a destinação do leite fora do padrão legal (até hoje isso não existe, pois nenhum tipo de leite sofre penalização legal, se estiver fora do padrão legal); treinamento de produtores, pagamento por qualidade de forma incentive o produtor a valorizar a qualidade.

Acho que as demais questões são dificultadores, mas podem ser vencidos, atenciosamente, Marcos Veiga
ARLLISON BARRA

VOLTA REDONDA - RIO DE JANEIRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/01/2016

Professor, pela mesma vertente apontada pelo senhor em relação a improbabilidade da genética "evolução desta" impactar positivamente na mastite, acho muito pouco provável isso acontecer, em função de que quanto maior modificação do DNA para produção aumentada de leite, maior a vulnerabilidade destes animais, em função de um metabolismo mais acelerado, acompanhando do aumento da (oxidação) das células de defesa, células do tecido e órgãos. Por este lado sabemos que quanto maior o consumo de O2, maior a acentuação dessa imunodepressão das vacas, em função de maior produção de (ROS) e consequentemente menor taxa de cura, uma vez que a suplementação de componentes antioxidantes ainda é realidade de poucos, e não resolve 100% e outros vários fatores. Considerando que a grande maioria dos produtores possui pastagem adequada em um período curto do ano, ou em nenhum período. E pior que isso as taxas de mutações e uso demasiado de antibióticos, proporcionando evolutivamente a seleção "artificial" de microorganismos resistentes a tais princípios ativose a tais procedimentos de prevenção. Ao meu ver,o principal problema de propriedades que fazem monitoramento de patógenos do rebanho, creio eu, que seja a persistência de microorganismos geneticamente evoluídos, evolução e taxa de mutação tal, que neutraliza o potencial genético de resistência e procedimentos de prevenção criteriosamente executados . Por um persimismo considerável creio que a contraposição de (melhoramento genético, evolução de DNA microbiano, e mão de obra mal treinada), a diminuição deste prejuízo é um futuro muito distante. Procede??
ESTÊVÃO DOMINGOS DE OLIVEIRA

QUIRINÓPOLIS - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/01/2016

Brilhante artigo professor Marcos Veiga

Acompanho atualmente 22 propriedades leiteiras na região de Quirinópolis, Cachoeira Alta, Caçu, Rio Verde e Santa Helena de Goiás. Em 3 delas já executamos controle de qualidade do leite há mais de 3 anos. É nítida a influência do clima e da época do ano nos casos de mastite e no indicador CCS. Nesse período chuvoso percebemos claramente que onde o manejo é menos rigoroso os surtos de mastite ocorrem e a CCS eleva-se facilmente para valores acima de 400.000 células/ml.

A solução que encontramos para minimizar o problema é o treinamento constante das equipes de manejo.

Estive hoje (5 de janeiro de 2016) em uma propriedade onde executei treinamento de rotina de ordenha e secagem de vacas leiteiras para a nova equipe que foi contratada pela fazenda.

A mastite somente é possível de ser controlada com pessoas capacitadas e motivadas.
MATOZALÉM CAMILO

ITUIUTABA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/12/2015

Caro Professor Marcos Veiga,
Concordo plenamente com você. As pesquisas estão mostrando que mastite bovina não é um problema somente das vacas mas sim com grande interferência dos proprietários. Talvez aí esteja a grande dificuldade em se reduzir a ccs do tanque, quando as pessoas responsáveis pelos animais não estão engajadas nesta tarefa. Precisamos focar mais nos proprietários, gerentes, funcionários, enfim, caso queiramos ter sucesso no controle da mastite.
Grande abraço a você e parabéns pelo artigo brilhante como sempre.
att
Matozalém
Veterinário
Ituiutaba MG

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