Tiago Tomazi * e Marcos Veiga dos Santos
O aumento da frequência de ordenhas é uma medida terapêutica recomendada por muitos Médicos Veterinários em casos de mastite clínica. Esta prática é supostamente realizada para auxiliar na retirada da secreção anormal, agentes patogênicos, toxinas e mediadores inflamatórios contidos no leite de quartos infectados. Embora alguns artigos demonstrem efeitos positivos do aumento da freqüência de ordenhas diárias, são poucas evidências científicas que suportam a eficácia de tal procedimento em condições de campo. Estudos sugerem que tal prática possa ser inclusive prejudicial à glândula mamária, com possibilidades de agravar o quadro clínico da vaca e predispor a infecções por outros agentes.
Um estudo realizado na Alemanha teve por objetivo determinar o efeito do aumento do número de ordenhas sobre a taxa de cura da mastite clínica em quartos mamários tratados com antibióticos. O experimento teve duração de seis meses e foi realizado em uma fazenda com 2000 vacas em lactação. Durante o período experimental, as vacas que apresentaram mastite clínica de graus leve e moderado no exame visual pré-ordenha foram tratadas com antibiótico (cefquinome) por via intramamária. Para os casos severos (sinais sistêmicos e temperatura corporal > 39,5°C), além do antibiótico intramamário, foi administrada enrofloxacina por via subcutânea e 1,1 mg/kg de flunixin-meglumine por via intravenosa.
Novos casos de mastite eram diagnosticados quando não observada presença de grumos no leite, em ao menos, cinco dias antecedentes ao novo episódio. Após determinar o protocolo terapêutico a ser realizado, as vacas foram aleatoriamente distribuídas em dois grupos: tratamento (realização de quatro ordenhas diárias); e controle (duas ordenhas diárias).
Os animais foram monitorados diariamente durante um período mínimo de seis dias. Os exames realizados compreendiam comportamento geral, aferição da temperatura corporal, tipo e impurezas encontradas na secreção, e condição inflamatória dos quartos infectados. Antes da aplicação dos medicamentos e no 14° e 21° dia após o término do período de carência, duas amostras de leite foram coletadas dos quartos infectados para análises de identificação microbiológica e contagem de células somáticas (CCS).
As vacas foram consideradas curadas por meio da avaliação das seguintes variáveis: cura clínica (CC), quando apresentassem comportamento normal e nenhuma anormalidade no úbere e leite; cura microbiológica (CM), definida quando o agente causador da mastite não fosse isolado das amostras coletadas após o período de carência dos medicamentos; e cura total (CT), quando observada secreção normal do leite (CCS < 100.000 células/mL e ausência de agentes patogênicos) nas duas coletas de amostras posteriores ao período de carência dos fármacos utilizados no tratamento da mastite (14° e 21° dia).
Cento e sete casos de mastite clínica foram diagnosticados em 93 vacas. Oitenta e duas apresentaram um episódio de mastite, oito apresentaram dois, e três vacas apresentaram três episódios de mastite clínica. Dentre todos os casos de mastite, 11% (dose animais) foram classificados como graves e com presença de febre.
Não foi observado efeito do aumento da freqüência de ordenhas (quatro vezes) sobre as taxas de níveis de cura (CC, CM e CT) em oposição a duas ordenhas diárias (Tabela 1). Além destes, outros parâmetros não apresentaram diferença em relação à frequência de ordenha: a) intervalos mais curtos entre ordenhas sobre a duração da febre e retorno da secreção normal de leite; b) casos severos de mastite avaliados separadamente; c) produção de leite diária.
Tais resultados suportam os encontrados em uma série de estudos recentes que também não conseguiram demonstrar qualquer influência positiva do aumento da freqüência de ordenhas sobre as taxas de cura de mastite clínica. Neste contexto, o aumento da freqüência de ordenhas como terapia de suporte para a cura da mastite clínica não é uma prática que deva ser recomendada.
O monitoramento dos registros de sanidade do rebanho auxilia na tomada de decisões frente a casos de mastite clínica. A escolha de antibióticos adequados, associados se necessário, a administração de fluidos e antiinflamatórios, é a melhor forma de se combater esta doença. A disponibilidade de ambientes limpos e confortáveis, bem como um bom manejo nutricional e de ordenha são formas de prevenir a mastite clínica no rebanho.
Fonte: KRÖMKER et al.; J. Dairy Sci. (2010) 77 :90:94.
*Tiago Tomazi é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP (https://www2.fmvz.usp.br/nutricaoanimal/)