Em 2017, o tema central do fórum foi: “Benefícios da terapia estendida: mitos e fatos”. Este tema foi escolhido em razão de lacunas que ainda existem na pesquisa científica sobre quando usar a terapia estendida e de riscos e algumas implicações legais, que ocorre na maioria dos países com o uso prolongado de antibióticos. Um das apresentações feitas abordou o atual estado da arte em termos de conhecimento científico sobre o uso de tratamento estendido para mastite clínica e subclínica. Mesmo sendo um conceito já usado por muitos produtores e veterinários, não existe consenso sobre qual a definição mais adequada para a terapia estendida. Para alguns especialistas, pode-se considerar como terapia convencional aquela que é recomendada em bula (que pode variar consideravelmente entre países e produtos). Nos países com controle rigoroso de uso de antibióticos em animais de produção (necessidade de prescrição veterinária), qualquer tipo de tratamento com duração superior ao que é recomendado em bula, pode ser chamado de terapia estendida. Por outro lado, do ponto de vista científico, os estudos geralmente consideram 2-3 dias de duração como terapia convencional e 5 a 8 dias como terapia estendida.
Os principais estudos sobre terapia estendida foram feitos com apenas algumas bases de antibióticos, com objetivo de tratamento de mastite clínica e subclínica causada por Staph. aureus e Strep. uberis. Estas duas bactérias estão geralmente associadas com menor resposta ao tratamento e com alto risco das infecções se tornarem crônicas. Quando uma vaca tem uma resposta inicial ao tratamento e em menos de duas semanas os sintomas voltam, considera-se como uma mastite recorrente (ou caso repetido). Estes casos repetidos podem ter duas origens: 1) bactérias persistentes que não foram eliminadas com o tratamento inicial; 2) nova infecção com a mesma bactéria causadora. Os estudos indicam que a grande maioria dos casos repetidos são de origem de novas infecções (~90%) e cerca de 10% são de origem de bactérias persistentes.
Quando analisados em conjunto, os dados de pesquisa sobre terapia estendida indicam que há aumento da taxa de cura e menor recorrência de mastite durante a lactação em comparação com o tratamento convencional. Alguns estudos indicam a taxa de cura pode aumentar em até 2x, passando de 30% na terapia convencional para cerca de 60% na terapia estendida. No entanto, alguns estudos mostram resultados similares entre os dois protocolos de tratamento, o que indica que nem sempre devemos esperar por resultados positivos com a terapia estendida, em razão de fatores ligados com o tipo de bactéria, características da vaca (idade, número de casos de mastite anteriores; histórico de CCS) e do tipo de antibiótico usado. Mesmo com resultados positivos em termos de eficácia, estudos que avaliaram economicamente a benefícios da terapia estendida indicam que o tratamento convencional tem maior retorno econômico do que o estendido. Sendo assim, somente em termos econômicos, a terapia estendida somente é vantajosa em rebanhos com alta taxa de novas infecções. Mesmo nesta situação, somente o tratamento estendido não seria a única recomendação, pois haveria necessidade de implantar medidas preventivas para reduzir as novas infecções.
Além do alto custo do tratamento estendido, este protocolo estendido de tratamento pode trazer riscos e desvantagens que devem ser levados em conta. Por exemplo, no tratamento estendido é maior o risco de contaminação do canal do teto, o que pode resultar em novas infecções, pois o maior número de aplicações no mesmo teto pode causar lesões em razão do procedimento de tratamento. Por outro lado, o maior tempo de exposição das bactérias aos antibióticos aumenta o risco de desenvolvimento de resistência bacteriana e de resíduos de antibiótico no leite.
Desta forma, levando-se em consideração o alto custo e os demais riscos, a terapia estendida não pode ser usada como primeira opção de protocolo de tratamento de mastite. Dentre as situações nas quais a terapia estendida pode ser mais vantajosa está o uso em vacas novas (1ª e 2ª lactação) e com mastite subclínica causada por Staph. aureus e Strep. uberis, identificada no início da lactação. Para os demais agentes causadores, não existem evidências de que um tratamento mais longo aumenta a taxa de cura, o que implica na necessidade de usar culturas microbiológicas para identificação das causas da mastite para tornar o tratamento mais racional.