Em outra oportunidade destacamos a influência da anatomia do úbere e dos tetos na contagem de células somáticas (CCS) e resistência a mastites (Radar - 30/11/2009). Além desses fatores, podemos enumerar vários outros que podem prejudicar a saúde da glândula mamária, sendo um deles a integridade dos tetos, principalmente em relação a sua extremidade próxima ao orifício.
Manter a extremidade dos tetos em boas condições é extremamente importante, pois nessa região, a musculatura do esfíncter desempenha um papel fundamental na contração do canal do teto mantendo-o fechado entre as ordenhas, o que impede a entrada de patógenos no interior da glândula mamária. Essa ação é auxiliada por células maduras de queratina, presentes no canal do teto e juntos representam a barreira primária na resistência às mastites.
Alguns fatores podem prejudicar a integridade dos tetos, tais como: equipamentos de ordenha mal regulados (alto nível de vácuo); sobreordenha depois de encerrado o fluxo de saída do leite; bezerros muito vigorosos na mamada; ordenhadores que exercem força excessiva na manipulação dos tetos; remoção abrupta das teteiras, sem desligar o vácuo; soluções desinfetantes de pós-dipping (principalmente receitas caseiras) que agridem a pele dos tetos e pastagens com capins de crescimento ereto que podem machucar os tetos.
Esses e outros fatores podem lesionar a extremidade dos tetos e estimular uma resposta fisiológica local no orifício, com formação de hiperqueratose (calosidade) que significa "crescimento exagerado de queratina", deixando a pele espessa e prejudicando o fechamento do canal.
Após a ordenha, o esfíncter normalmente permanece aberto por cerca de 40 minutos ou até mais de 1 hora e meia, dependendo da idade do animal e intensidade do estímulo. No caso de tetos lesionados esse tempo aumenta consideravelmente, permitindo maior oportunidade para entrada das bactérias no canal do teto. Exemplos de formações de hiperqueratose em vacas leiteiras podem ser observados na Figura 1.
Figura 1. Hiperqueratoses encontradas em tetos de vacas leiteiras.
Recentemente, um estudo evidenciou maior incidência de mastite em tetos lesionados. Em um experimento que relacionou a incidência de patógenos em relação às condições da extremidade dos tetos (Tabela 1), observou-se que a presença de lesões severas com hiperqueratose pode aumentar o risco de infecções tanto por patógenos ambientais quanto por contagiosos.
Tabela 1. Porcentagem de isolamentos de patógenos em relação à condição dos tetos.
Alguns autores sugerem que uma pequena quantidade de calosidade na ponta do teto parece não aumentar o risco de infecções intramamárias em vacas leiteiras lactantes, e pode ser considerada como uma resposta fisiológica benéfica do teto à ordenha. Porém, avaliando o efeito das lesões de tetos na contagem de células somáticas, observaram que a prevalência de mastites e aumentos de CCS, depende do grau de gravidade das lesões, isto é, quanto mais grave o grau de hiperqueratose encontrado, maior os valores de CCS e também a incidência de mastites clínicas e subclínicas (Tabela 2).
Tabela 2. Efeitos da severidade das hiperqueratoses na CCS em vacas leiteiras.
Apesar dos prejuízos causados à saúde da glândula mamária pelas lesões de tetos, devemos lembrar que alguns manejos podem auxiliar na manutenção da integridade dos tetos, na redução da CCS e na prevenção de mastites, tais como: regulagem periódica do equipamento de ordenha; manejo correto de ordena (pré e pós-dipping), com uso de soluções glicerinadas de pós-dipping; fornecimento de alimentação após a ordenha para que os animais permaneçam de pé até o fechamento do esfíncter; maior atenção na retirada das teteiras fechando o vácuo logo após cessado o fluxo de leite; manter equipamentos, instalações e pastagem limpas.
Fontes:
Bhutto, et al. The Veterinary Journal, 2010.
Neijenhuis, et al. Journal of Dairy Science, 2001.