Camila Silano* e Marcos Veiga dos Santos
Em sistemas de produção com vacas zebuínas, em que o bezerro permanece com a vaca para estimular a ejeção do leite, o esgotamento do volume residual pode ser feito pela mamada do bezerro ao término da ordenha. Já em vacas especializadas, as pesquisas demonstram uma boa estimulação antes da ordenha permite uma descida do leite masi eficiente redução da quantidade de leite residual, o que em consequência, aumenta a produção e reduz a ocorrência de mastite.
Dois experimentos realizados testaram o efeito da massagem manual do úbere ao final da ordenha sobre a quantidade de leite residual e a incidência de mastite. No primeiro, foram utilizadas 10 vacas Holandesas com produção média de 6.200kg/lactação (aproximadamente 20 kg/dia) em sistema de semi-confinamento. As vacas foram ordenhadas duas vezes ao dia, nas quais avaliou-se a produção e quantidade de leite residual em situações com massagem e sem massagem manual do úbere. Para a retirada do leite residual foi feita a aplicação de ocitocina intravenosa e o leite residual extraído por ordenha mecânica após 1 minuto da aplicação.
No segundo experimento, foram utilizadas 52 vacas Holandesas com produção média de 4.480kg/lactação (aproximadamente 14 kg/dia) em sistema de pastoreio. As vacas foram ordenhadas duas vezes ao dia, nas quais foi avaliado o efeito da massagem manual do úbere sobre a produção de leite, leite residual e ocorrência de mastite subclínica por meio do teste CMT.
Em ambos os experimentos, não foi observado efeito da massagem manual do úbere na produção das vacas e no leite residual. Da mesma forma, não houve efeito significativo da massagem sobre a incidência de mastite. A incidência semanal de mastite foi de 1,5 ±0,47 casos entre as vacas que receberam massagem e 2 ±0,42 casos entre as vacas que não foram massageadas. Isso pode ter ocorrido porque os fatores ambientais foram controlados e o leite residual não foi alterado pela massagem. As vacas com produção em torno de 20 Kg/dia apresentaram produção de 18,1 Kg de leite e 1,78±0,45 Kg de leite residual, enquanto as vacas com produção média de 14 Kg/dia apresentaram produção de 12,7 Kg de leite e 2,42±0,32 Kg de leite residual. Ambos resultados de leite residual estão dentro do padrão de 15% aceito como adequado.
O leite residual pode se um fator de risco quando associado a outras práticas que alteram a fisiologia do animal, e promovem alteração mais acentuada na produção, como por exemplo, o manejo durante a ordenha. Estresse, quebra de rotina ou tratamento agressivo podem aumentar o leite residual e consequentemente reduzir a produção leiteira. Em condições de estresse intenso, além do cortisol, pode ser liberada a adrenalina, que promove vasoconstrição periférica. Assim, mesmo havendo liberação de ocitocina, a mesma não chega em concentrações adequadas ao úbere, o que acaba por inibir a completa ejeção do leite, ou até mesmo prejudicar a liberação de ocitocina.
Neste contexto, para evitar que ocorra leite residual em grandes quantidades, predisposição à mastite e redução da produção leiteira, há certas práticas de manejo que podem ser adotadas:
- Conduzir os animais até o local de ordenha de forma tranquila e calma, sem agressões (o reflexo de ejeção do leite é mais pronunciado quando as vacas estão relaxadas);
- Promover adequada pré-estimulação do úbere pelo uso do teste da caneca, aplicação do pré-diping e secagem dos tetos, o que desencadeia o estímulo para a liberação de ocitocina;
- Iniciar a ordenha rapidamente após os procedimentos de higiene (até 1,5 minuto após os estímulos);
- Se necessário, reajustar o conjunto durante a ordenha. A entrada de ar na teteira pode fazer com que minúsculas gotas de leite voltem para o canal do teto em alta velocidade. Se contaminadas, essas gotas permitem que bactérias entrem no úbere e causem mastite, além de impedir uma ordenha completa;
- Em animais menos adaptados deve-se massagear o úbere durante a ordenha para prolongar o estímulo.
- Não utilizar objetos sobre o conjunto de ordenha com o intuito de esgotar o leite residual. Esta prática pode lesionar os ligamentos suspensórios do úbere, bem como causar lesões no esfíncter dos tetos.
Fonte: SILVEIRA et al; Biotemas. (2009) 22(1) :129-134.
*Camila Silano é médica veterinária e aluna de pós-graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP.