Bactérias do gênero Mycoplasma spp. são causas de mastite contagiosa em diversos países do mundo. No entanto, este patógeno ainda é pouco identificado no Brasil em razão da necessidade de diagnóstico específico pelas características de ausência de parede celular rígida e crescimento lento, em meios de cultura específicos e sob condições de microaerofilia (baixíssimas concentrações de O2).
Ainda que diferentes espécies de Mycoplasma (M. californicum, M. bovingenitalum) podem causar mastite, a mais importante é M. bovis, em razão da alta patogenicidade e prevalência nos rebanhos-problema. Após serem infectadas, as vacas tornam-se fontes potenciais de transmissão para outras vacas e bezerras, pois continuam eliminando o agente pelo restante da vida produtiva. A transmissão pode ocorrer por leite contaminado pelas mãos dos ordenhadores, pelo equipamento de ordenha e por aerossóis. A principal forma de entrada do agente no rebanho é pela compra de vacas já infectadas de outros rebanhos.
A mastite causada por M. bovis tem como característica principal a alta resistência aos tratamentos e por ser altamente contagiosa. Os casos clínicos não respondem aos tratamentos convencionais com antibióticos. Pode ocorrer mastite clínica simultaneamente em vários quartos da mesma vaca. Em razão da falta de resposta ao tratamento da mastite clínica com antibióticos, as vacas infectadas devem ser segregadas das demais vacas em lactação e a sua ordenha deve ser separada do restante do rebanho. Para o controle e a erradicação da doença do rebanho, recomenda-se o descarte das vacas positivas e a manutenção de rigorosa rotina de controle de entrada de novos animais no rebanho.
Considerando a escassez de informações sobre a prevalência de mastite causada por M. bovis em fazendas do Brasil, um estudo recente avaliou a detecção de M. bovis em 561 amostras de mastite clínica coletadas em diferentes estados (CE, GO, MG, PR, RS, RJ, SP). As amostras foram analisadas em meio de cultura microbiológica específico (Hayflick), em ambiente com 5% de CO2, durante 15 dias. Além disso, as amostras de leite foram também analisadas por PCR para a detecção de Mycoplasma spp. e Mycoplasma bovis.
Os resultados indicaram que Mycoplasma spp. foi identificado em 2% (11/561) das amostras cultivadas em meio de cultura, enquanto amostras positivas para Mycoplasma bovis foram detectadas em 3% (17/561) das amostras de leite, quando analisadas por meio do PCR.
Tabela 1 – Distribuição de amostras positivas de mastite clínica positivas para Mycoplasma bovis de acordo com a origem das amostras (Adaptado de Junqueira et al., 2020).
Os resultados deste importante estudo indicam que ainda que tenha baixa prevalência, alguns rebanhos, especialmente os grandes rebanhos, podem ter mastite causada por M. bovis. Nesta situação, um dos maiores desafios é a identificação das vacas infectadas, para segregação e posterior descarte, uma vez que não há tratamento para este tipo de patógeno.
Fonte: Junqueira et.al. (2020). Detection of clinical bovine mastitis caused by Mycoplasma bovis in Brazil. Journal of Dairy Research 87, 306–308.
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