Além disso, outros fatores podem ter efeito indireto sobre a CCS, como a época do ano, o estágio de lactação e a idade da vaca. São observados aumentos de CCS à medida que a idade da vaca e o estágio de lactação avançam, em função de maior resposta celular de vacas adultas, aumento da prevalência de infecções e lesões residuais de infecções anteriores. Observa-se grande elevação da CCS após o parto e os níveis normais somente retornam cerca de 8 a 14 dias depois.
Pode ser observado também aumento da CCS antes da secagem, quando a produção de leite cai abaixo de 4 kg/dia. Entretanto, tanto a idade como o estágio de lactação não alteram a CCS em vacas não-infectadas, uma vez que o aumento da CCS observado no final da lactação está associado à maior probabilidade do animal ter se infectado ao longo da lactação e na medida em que fica mais velho.
Sobre tal aspecto, uma pesquisa conduzida no estado de Minas Gerais buscou verificar a ocorrência de mastite subclínica em animais da raça Holandesa e a relação entre a CCS e o número de lactações, e entre a CCS e a produção e composição do leite (proteína e gordura). Para isso, os pesquisadores reuniram os dados mensalmente provindos das propriedades integradas ao programa de controle leiteiro da Associação de Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais, entre os anos de 2000 e 2003, e consideraram portadores de mastite subclínica os animais com CCS acima de 250.000 céls/mL; e para o estudo da associação entre os valores de CCS com as variáveis PRODUÇÃO DE LEITE, PROTEÍNA e GORDURA, agruparam os animais em 5 classes, conforme a ordem de lactação (de 1 até ≥5 lactações), e 8 classes de acordo com a CCS (desde contagens ≤100.000 até >3.000.000 céls/mL).
Os resultados indicaram um aumento progressivo na CCS conforme se avançou o número de lactações (Quadro 1).
Quadro 1. CCS média, produção de leite e porcentagens de proteína e gordura em vacas da raça Holandesa, segundo a ordem de lactação. (Adaptado de Cunha et al. 2008)
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Como pode ser verificado, a CCS em novilhas sadias tende a variar entre 20.000 e 100.000 céls/mL. Em contrapartida, a elevação da CCS no leite à medida que se avançou a ordem de lactação se explica parcialmente, de acordo com os autores, pelo aumento de células epiteliais no leite, provenientes da descamação da glândula de vacas mais velhas, mas sobretudo, devido à maior susceptibilidade desses animais às infecções intramamárias.
Figura 1. Distribuição da CCS pela ordem de lactações em rebanho com prevalência de mastite contagiosa. (Adaptado de Blowey & Edmondson)
Os resultados observados pelos pesquisadores evidenciaram um aumento progressivo na produção de leite à medida que se avançou a ordem de lactação dos animais. A produção de leite, cujo aumento que primeiramente se atribuiu à maior maturidade fisiológica da glândula mamária à medida que os animais envelheceram, passou a diminuir entre os animais com mais de 5 lactações. Tal fato pode ser justificado pela razão de que, infecções crônicas, especialmente por Staphylococcus aureus, são mais comuns em vacas mais velhas, devido ao maior período de exposição da glândula no decorrer das lactações, que pode ser verificado na Figura 1. Soma-se ainda o fato de que a resposta imune de animais mais velhos é menos eficiente, o que resulta em menor eliminação da bactéria causadora da mastite.
O teor de proteína sofreu redução com o decorrer das lactações e o aumento da CCS, de modo que os resultados verificados pelos pesquisadores evidenciaram essa correlação. O teor de gordura, por sua vez, foi maior entre as amostras do leite de animais mais velhos e com maior CCS. Entretanto, ao avaliarem as variáveis estudadas segundo a classe de CCS das amostras (Quadro 2), verificaram que a porcentagem de gordura aumentou de 4,3% nos animais com CCS acima de 3.000.000 céls/mL em relação aos animais com contagens inferiores a 100.000 céls/mL, enquanto a produção de leite diminuiu em quase 5 pontos percentuais, o que fica claro que o aumento da porcentagem de gordura no leite com alta CCS deve-se à redução na produção de leite dos animais com mastite subclínica. Por sua vez, o maior percentual protéico verificado entre os animais com alta CCS se justifica pela maior concentração de proteínas séricas no leite, resultado da maior inflamação da glândula mamária.
Quadro 2. Produção de leite e porcentagens de proteína e gordura em vacas da raça Holandesa, segundo a classe de CCS. (Adaptado de Cunha et al. 2008)
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Certamente, o entendimento dos fatores que afetam a CCS é fundamental para a correta interpretação dos resultados obtidos, mas indubitavelmente, o fator que maior efeito tem sobre a CCS é o nível de infecção da glândula mamária nas vacas do rebanho. Vacas que estão livres de infecção apresentam CCS significativamente menor que as vacas infectadas, ainda que exista grande variação em função dos demais fatores, como por exemplo, a idade dos animais.
Fontes: Cunha et al. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 2008. Santos & Fonseca. Estratégias para o controle de mastite e melhoria da qualidade do leite, 2006. Blowey & Edmondson. Mastitis control in dairy herds, 2002.