Certo dia, assistindo uma propriedade rural, o produtor me perguntou sobre a ureia que ele vinha fornecendo. Por fim, estava tudo certo.
O que ele fornecia? Colocava para os seus animais a cana picada e para cada 100 kg de cana picada, diluía em 4 litros de água, 1 kg de uma mistura de 9 partes de ureia mais 1 parte de sulfato de amônio, sendo que por 10 dias, fez a adaptação dos animais corretamente, diluindo nestes 4 litros de água, meio kg desta mistura. Senhores, procedimento perfeito e indicado.
O fornecimento de ureia misturado com a cana é exatamente desta forma, respeitando-se um período de adaptação de 10 a 15 dias com 0,5% de ureia (0,5 kg diluído em 4 litros de água e regado em 100 kg de cana fresca picada e com tudo isso bem misturado) e após este período o fornecimento de rotina, quando utiliza 1 kg em 4 litros sobre 100 kg de cana fresca.
Vocês devem estar se perguntando: onde está o fim desta história? O fim desta história foi que o produtor me disse que havia feito exatamente isso com sua silagem de milho, pois achou que a silagem dele estava com baixa proteína, em função de indicação de um profissional.
O pensamento até foi bom, afinal, se a cana tem baixa proteína e colocamos ureia para elevar este teor, porque não fazer isso com a silagem de milho? Não pode, pessoal. A explicação segue abaixo.
O fornecimento de cana mais ureia segue um princípio muito simples dentro da nutrição de ruminantes. O princípio é o da sincronização entre teores de proteína e energia e, ainda, velocidades com que isto seja aproveitado e o quanto de tudo isso é ingerido pelo animal.
Vamos por parte: sincronização de proteína e energia é essencial para a vida, pois os microorganismos que estão presentes no rúmen precisam de energia e conteúdo proteico para se reproduzir (fazer novos indivíduos) e ainda se manter vivos. Então seria como nós: conseguimos comer só proteína? Não. Nós precisamos do arroz e feijão. Arroz e carne. Farinha e feijão. Pão e carne... Em resumo, precisamos de energia e proteína, respectivamente. Ao comermos arroz em um dia, e feijão no outro, será que conseguiremos viver bem? Com certeza, não.
Quanto a velocidade com que tudo se aproveita, é muito simples de se explicar. Vamos a um exemplo: Ao contarmos piada hoje, vamos dar risada só amanhã? Fica esquisito, não acham? Então, a sincronia em que aparecem a proteína e energia para os microorganismos devem ser muito próximos. Ao mesmo tempo em que o microrganismo ruminal ou o indivíduo precisa fazer um tecido corpóreo, ele precisa de energia para fabricar ou montar isto, não é?
Por fim, a quantidade ingerida, é o que eu sempre digo, a principal. A intoxicação por ureia acontece quando estas quantidades são desrespeitadas.
E o que aconteceu com ele fornecendo ureia acrescida na silagem? Em termos de sincronismo de alimentos, a silagem não tem a energia que “combina” com a ureia da mesma forma que a cana possui. Devido a isso, existe uma falta de sincronismo entre energia e proteína, principalmente na velocidade de aproveitamento da energia da silagem com a “Proteína” da ureia (Nitrogênio Não Proteico).
Outro ponto fundamental é que a ureia deve ser ingerida em quantidades adequadas. Segundo a literatura, são 30 a 40 gramas de ureia para cada 100 kg de peso vivo por animal por dia, ou seja, um animal de leite de 500 kg, irá ingerir de 150 a 200 gramas de ureia por dia. Há casos em que vacas leiteiras consomem mais que isso, chegando até 300 gramas de ureia/dia, com muita adaptação e cuidados especiais.
Ao fornecermos a cana mais ureia, o animal ingere quantidades pequenas de cana por dia – por volta de 20 a 25 kg de cana/dia. Sendo assim, ao comerem até 25 kg não irão ingerir mais que 250 gramas de ureia por dia, não correndo o risco de intoxicação. Já a silagem, as vacas consomem facilmente 30 a 35 kg/por dia, considerando uma vaca de 500 kg de peso vivo. Então, teve intoxicação? Sim, teve. Morreram alguns animais.
Diante do exposto, é muito importante não adicionarmos ureia em silagens sem antes saber do porquê e se podemos fazer isso. O uso de ureia ajuda no processo de fermentação da silagem no caso da cana, mas pode não funcionar para o Capiaçu, Sorgo e, Milho, como citado anteriormente.
Sendo assim, cada caso é um caso. Então, primeiramente devemos atentar no processo de ensilagem, mas também, no fornecimento para o animal.
Só para deixar uma curiosidade: Algumas pessoas recomendam adicionar sal na silagem para evitar que estrague na parte superior. Uma pergunta: quem gostaria de comer um alimento com muito sal? Nutrição animal é isso, saber principalmente o porquê e quando podemos fazer. Até mais pessoal.
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