Olá meus colegas, como estão? Hoje iremos abordar um assunto um quanto tanto delicado: a assistência técnica. Diga-se de passagem, se este assunto é delicado para grandes produtores de leite, imagine para pequenos?
Vamos a uma historinha: certa vez eu estava indo para um lugar e recebi a ligação de um pequeno produtor rural me perguntando sobre assistência. Parei no acostamento para atender a ligação e comecei a falar com ele. Depois de certo tempo ele me disse que não tinha dinheiro para me pagar, mas precisava de assistência. Mas todos nós precisamos de dinheiro não é mesmo? Precisamos para comprar alimentos e nos manter. Continuando a história, o produtor me disse que a sua produção estava muito ruim. Nada andava bem lá... Ele disse que tinha feito de tudo e nada resolveu. Depois de acertarmos um custo possível para ele me pagar marquei um dia e fui à propriedade.
Quando cheguei lá me deparei com algumas coisas certas, mas muitas erradas. Dos erros que notei eram dietas desbalanceadas, animais adoecendo e leite sumindo do refrigerador, ou seja: cada dia menos produção. Mas eu pergunto a vocês: produção maior não gera mais lucro e consequentemente dinheiro para uso e para custear outras coisas? E ainda, menor produção sem informação, não gera prejuízos e consequentemente falta dinheiro para os custeios?
Na propriedade, o produtor me falou que em função do que o vizinho fazia ele acabava copiando e adaptando para a propriedade dele. O brasileiro adora adaptar as coisas, como por exemplo, ‘colocar turbo em bicho preguiça’. Ao invés de colocar turbo em um animal que já corre, ele pensa em colocar o artifício naquele que não corre praticamente nada.
Pois bem, fui tentar ajudar o produtor. Dentre outras coisas ajustei o fornecimento de ração em termos de porcentagem de energia e proteína. Ajustei as quantidades fornecidas, dividimos em lotes e por fim dividimos as pastagens. Indiquei um alimento volumoso para seca, verificamos o solo e seu manejo. Não sugeri nenhuma troca de animal. Orientei sobre a limpeza da sala de ordenha e higienização dos tetos das vacas. Sugeri limpar os bebedouros. Por fim, ensinei o produtor a coletar dados. Sim, dados. Sabe como sabemos que estamos ruins? Quando analisamos o que fazemos.
A ração que ele estava utilizando era de 16% e o correto para aquela situação era de 20%. As quantidades de ração eram muito mais que a esperada. Reduzimos o custo com praticamente a mesma produção. A divisão de lotes foi feita, pois não ingere a mesma coisa uma vaca recém-parida daquela que o bezerro está desmamando. Manejamos os pastos corretamente e dividimos em piquetes para aumentar a eficiência do pastejo. Ele não tinha nenhum volumoso para a seca. Achava que era apenas ter sorte que naquele inverno não iria faltar alimentos. Isto definitivamente não existe. Existe sim o planejamento alimentar onde se preconiza o plantio de alimentos e reserva destes para um momento de falta.
Os animais estavam sadios, mas havia uma grande quantidade de animais com mastite. Por isso, recomendamos a limpeza e desinfecção de teteiras, da sala de ordenha e afins, além de tratar de forma localizada os animais com problemas. E, por fim, não recomendei vender nenhum animal.
Senhores, o que me parece estranho é que quando cheguei na propriedade o produtor me falou uma coisa que me deixou curioso: você vai falar para eu vender todas as minhas vacas não vai? Sabe o que eu respondi? “Logo você vai perceber se deve ou não vender elas”. Para efeito de discussão, ao longo desta visita provei a ele que o sistema precisava mudar para evoluir. É o que sempre digo: não é porque mudou o sistema que evoluiu.
Então, com a mudança, neste caso, houve a evolução. O produtor rural percebeu que estava errando e com isso podia mudar, principalmente, a dieta dos animais. Com isso, associado ao manejo, mudou-se também a produção das vacas e o produtor percebeu que os animais não eram tão ruins, mas não desempenhavam seus potenciais na produção leiteira. Assim, conhecendo os potenciais do rebanho, ele notou que o que ele tinha era bom. Isso é o que vale!
Pessoal, sem esta visita (e não é porque fui eu quem fiz, ok?), mas por causa de uma visita, o produtor renasceu. Renasceu? Como assim? Havia morrido? O que havia morrido era a esperança de produzir. Esperança por avistar luz ao fim do túnel, luz esta que nunca deveria ter se apagado.
Então, para fecharmos: o produtor tem dinheiro para pagar assistência? Minha resposta é simples: talvez não. Mas como dizem que uma andorinha não faz verão, um produtor pode não ter dinheiro, mas dois ou mais podem ter. Por isso produtores, se unam. Isso porque dois ou mais produtores, juntos, pagam a diária de um técnico que podem atender dois ou mais em um único dia e todos voltam a viver.
Neste texto de hoje o pequeno se tornou grande com a ajuda de alguém. Pensem nisso!