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Todo mundo quer exportar lácteos: a conta vai fechar?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 18/01/2016

5 MIN DE LEITURA

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A partir de 2007, produzir e processar alimentos passou a ser visto como atividades rentáveis e promissoras, uma espécie de volta a era agrícola, claro que turbinada por muito mais tecnologia embutida, sob o manto do agronegócio.

O processo de urbanização, o aumento da renda, a mudança de hábitos alimentares e o aumento populacional (as 9 bilhões de pessoas até 2050), confrontados com as restrições para a expansão da produção agrícola, a competição da terra com o uso não-alimentar (energia, celulose, fibras), os problemas climáticos e o preço do petróleo, não deixavam dúvidas: os alimentos subiriam a novos patamares. Produzir comida seria, novamente, algo estratégico, o que não ocorria desde a revolução verde, em que os insumos, a genética e a mecanização disseminaram a produção de alimentos e reduziram os custos.

As proteínas animais, incluindo o leite, tinham (e têm) papel relevante nessa nova realidade, já que os processos descritos no segundo parágrafo levam ao aumento do consumo desses produtos.

Porém, o que se viu desde 2007 foi uma volatilidade significativa dos preços das commodities – nosso exemplo aqui será evidentemente os lácteos (gráfico 1). Sim, atingimos por algumas vezes patamares nunca antes vistos, mas retornamos em sequência a valores que, acreditava-se, seriam parte apenas da história.

Gráfico 1 - Preços do leite em pó integral na Oceania.



Pode-se argumentar que os dois vales refletem situações muito específicas: a crise econômica de 2008, que reduziu drasticamente o crescimento do PIB mundial e, mais recentemente, o embargo russo e a queda das importações chinesas, desequilibrando o mercado mundial.

Embora isso possa ser verdade, afinal foram de fato episódios críticos, pode-se argumentar que os picos de 2007 e 2013 também foram exceções, motivadas por uma demanda elevada (no caso de 2007) e problemas climáticos (no caso de 2013). Diante de um período relativamente curto pós-2007, o fato é que qualquer interpretação é possível de ser feita e pode ser equivocada.

Um aspecto relevante e que foi esquecido pelos analistas que interpretaram de forma simplista o cenário pós-2007 é que, diante de preços favoráveis, ainda há boa margem para elevação da produção, mesmo em países que possuem alta produtividade (portanto, com mais dificuldade de elevar a produtividade mesmo diante de margens atrativas) ou que possuem conhecidas limitações para a expansão.

Vejamos dois exemplos nessa linha: Estados Unidos e Nova Zelândia. De 2007 a 2014, os Estados Unidos, meca da alta produtividade, cresceram 1,5% ao ano, versus 1,2% nos 7 anos anteriores. Já a Nova Zelândia, com limitações para a expansão, cresceu 4,6% entre 2007 e 2015, contra 3,1% no período anterior.

Com a elevação dos preços internacionais, tem-se evidentemente três consequências diretas: a primeira é que os países importadores tendem a investir, quando possível, no aumento da produção interna, que ganha competitividade em relação ao produto importado. A segunda consequência é que, com bons preços, mais países se credenciam para exportar. Um exemplo é o próprio Brasil que, com preços internacionais na casa dos US$ 4000 a US$ 5000 vigentes em 2007 e 2008, teve seu momento mais pujante no mercado internacional, mesmo com câmbio desfavorável. Sendo o leite um produto produzido globalmente, em climas frios, quentes, úmidos e secos, esse efeito tende a ser bastante significativo à medida que, diante de estímulos via preço, mais gente entra no jogo do comércio internacional, que representa somente cerca de 9% da produção total global.

A terceira consequência é que a demanda cai à medida que os preços se elevam, o que é especialmente importante em se tratando de lácteos, que são majoritariamente comprados por países em desenvolvimento, nos quais o aumento de custos tem um impacto direto.

Aliado a tudo isso, há o fator Europa, o maior produtor mundial de leite. Nas últimas décadas, a Europa não podia crescer em função de cotas de produção de leite. Cada produtor e país tinha um limite que, se ultrapassado, resultava em penalizações severas. Em 2015, essas cotas foram abolidas e vários países e produtores dentro do bloco entenderam que ali haveria oportunidades para o crescimento.

O resultado é que a União Europeia, que produz 150,9 milhões de toneladas/ano (projeção para 2015), tem se convertido no gigante que acordou. E os números começaram a aparecer. Pelos dados da consultoria italiana CLAL, sobraram cerca de 6 bilhões de litros ao ano a mais em 2014 x 2009 na Europa (obs: vários países estavam produzindo abaixo da cota, o que explica o crescimento mesmo antes das cotas serem abolidas).

O gráfico 2, abaixo mostra o grau crescente de autossuficiência dos 28 países como um todo. Tirando a queda em 2013, os valores indicam que de fato está cada vez mais sobrando leite na Europa, lembrando que esses dados não refletem ainda o fim das cotas de produção, de forma que a tendência é que sobre mais leite no continente. 

Gráfico 2 – Índice de auto-suficiência – UE -28.



Tudo somado, é inegável o questionamento: será o que o mercado internacional de lácteos é tão promissor assim? No Latin America Dairy Congress, que realizamos em Foz do Iguaçu, em novembro passado, ficou a sensação que, de um lado, todo mundo que pode, quer exportar (ex: Europa, EUA, Brasil); de outro, países que importam querem elevar a produção interna (ex: China, Rússia). Se ambos os grupos forem bem sucedidos a conta não vai fechar, pelo menos no horizonte próximo (de alguns anos), tendo como consequência a volatilidade continuada, dentro dos patamares já conhecidos.

É provável, sim, que no longo prazo, com as tais 9 bilhões de pessoas comendo e bebendo lácteos e com as restrições crescentes para a expansão da área agrícola, tenhamos momentos mais frequentes de elevação de preços e, na média, preços mais altos (o que, evidentemente, vai levar a um novo equilíbrio, com aumento nos preços da terra e outros fatores de produção).

Porém, mesmo assim, não devemos menosprezar o funcionamento do capitalismo: havendo mercado e preços, não subestimemos a capacidade do setor em responder, sendo sempre bom lembrar que, tirando os países desenvolvidos, as médias de produtividade do leite no mundo são extremamente baixas, com elevado potencial de resposta a partir de vasto conhecimento técnico e científico já disponível.

Preparado a partir dos dados levantados pela equipe MilkPoint Mercado.
 

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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DARLANI PORCARO

MURIAÉ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/01/2016

Temos mais de 200  milhões de habitantes, então,  uma enorme demanda  interna  em lácteos, só que os prêços desses produtos nos mercados estão nas alturas, e  o  produtor , com os custos elevados, e está piorando, continua  recebendo  centavos , mais ou menos 0,90  centavos o litro , então,  esqueceram de nós. Precisamos de uma política voltada para o setor urgente,como o Sr. Macri,  começa a fazer na Argentina
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 21/01/2016

Obrigado a todos pelos comentários. Roberto, concordo com você que a desvalorização melhorou a competitividade do Brasil, não só no leite, mas em diversas cadeias. Porém, como colocou o Gustavo, há um efeito de aumento de custos e em função disto, acho que não podemos considerar simplesmente o novo valor do leite em US$ como patamar de competitividade. Talvez o novo equilíbrio do nosso leite fique próximo a uns US$ 0,27-0,32/litro, considerando que esse dólar em algum momento retrocede para R$ 3,50 ou próximo a isso. Mas pode demorar.



A US$ 2.000/tonelada, a Europa e ninguém mais consegue ser competitivo. Mas acho que apostarmos em US$ 5.000/tonelada como preço que viabiliza a Europa talvez seja exagerado. A dúvida embutida no artigo é se, por exemplo, US$ 3000 a US$ 3500 possam significar uma faixa de preços atrativos ou ao menos viáveis para muitos exportadores já consolidados e outros candidatos (como nós), encontrando um mercado que não é tão comprador como achávamos que era.



Em 2015, até outubro, a UE estava crescendo 1,7% sobre 2014 e a tendência é que o ano tenha fechado daí para cima. Isso explica, do lado da oferta, os preços baixos mesmo diante da queda na oferta da NZ (China e Russia pensam muito pela demanda mais fraca).



Abraços!






EDIMILSON ÁVILA

SÃO JOÃO DEL REI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/01/2016

acho que se as coisas continuarem como estão indo o leite vai chegar mais caro nas idades!!! Normalmente os custos com insumos no mercado do leite sempre giravam em torno de 30% .. Hoje já tem gente falando em gastos girando em torno dos 70 %... Não sei na região de vcs, estou falando aqui da minha região!!!! Agora o produtor com insumos nesse valor , conta de energia esse absurdo, muitos produtores estão mudando para o gado de corte. Sinceramente o futuro do gado leiteiro é muito incerto!
GUSTAVO HENRIQUE PEREIRA VILELA

BOA ESPERANÇA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/01/2016

Ótima reflexão do sr. Marcelo Pereira. Concordo que o futuro para o mercado lácteo mundial e principalmente no Brasil é bastante inconsistente. A conta é simples baixa demanda alta oferta preço lá em baixo. Vimos nesse início de ano o leilão GDT iniciar em retração o que certamente ditará o ritmo nesse primeiro semestre. Sou nutricionista animal de uma cooperativa que capta diariamente 180.000 litros de leite, e desde o ano passado tenho visto muitos produtores não "aguentarem" o atual cenário = Preço baixo do leite X aumento nos custos de produção (concentrados e energia elétrica principalmente). O que esperar para 2016? As previsões apontam mais acréscimos nos custos de produção e mais queda ao preço pago por litro ao produtor. Em um cenário de dólar a R$ 4,00; que eleva os preços do farelo de soja, energia mais cara ainda, diesel a R$ 3,00/L, adubos em alta.... Não sei o que esperar de promissor para esse ano. Não concordo na boa capacidade de competição do Brasil no mercado internacional, não é possível ser competitivo com os custos de produção cada vez mais altos.... Se é competitivo quando se consegue produzir mais gastando menos....
LUIZ RICARDO PEÇANHA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/01/2016

Excelente artigo, Marcelo, bem estratégico!



Considerando que a desvalorização do Real deverá favorecer nossas exportações pelo menos no curto/médio prazos, se vc puder realizar uma análise estratégica regional do Brasil identificando forças e fraquezas, seria ótimo.
HENRIQUE COSTALES JUNQUEIRA

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/01/2016

Excelente reflexão, o que me leva a cinco pontos importantes. O primeiro é a perecibilidade do leite e seus derivados que muitas vezes contribuem às oscilações de preços. O segundo é essa elasticidade, tanto na demanda como na oferta. A terceira é a tecnologia, que reduziu o tempo de resposta do produtor aos estímulos de preços (Nutrição, estabulação, sexagem, redução da idade ao primeiro parto e etc...), contribuindo com a elasticidade na oferta. A quarta é a lembrança do Professor Teixeira Gomes, que sempre comentava: "- Nem sempre os eventos no curto prazo refletem ou obedecem as tendências de longo prazo." Finalmente a quinta, há necessidade de buscarmos a diferenciação, sair da vala comum, porque quem nela estiver sofrerá mais os golpes dessa volatilidade apresentada. Obrigado Marcelo pela sua reflexão na tentativa de responder uma pergunta feita por você no LADC e cujas respostas recebidas não foram conclusivas!
HERMENEGILDO DE ASSIS VILLAÇA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 18/01/2016

Com leite de QUALIDADE, tanto dentro quanto fora da porteira,temos chnce. Qualidade, tanto fora quanto dentro da porteira,pode nos colocar em  condições de enfrentarmos  o mercado  externo .

      

        .



      



     



           








ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/01/2016

Marcelo,

A UE em 2015 provavelmente não aumentou a produção sobre 2014 (151/152 MM).

Sem os preços de $ 5 mil de 2014, não creio que o gigante UE28 vai ter possibilidade de acordar.

Por outro lado o Brasil foi dos países onde o preço domestico caiu mais (U$ 0,45 em 2014 para U$ 0,26 no final de 2015) se que isso afetasse sua capacidade de produção, portanto posiciona-se entre os mais competitivos.

Na verdade acredito que o ambiente de competitividade melhorou muito para a sobrevivência do negocio leite no Brasil.



abraços

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