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Qual é o futuro do leite brasileiro?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 28/11/2008

7 MIN DE LEITURA

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O mundo do leite vem sofrendo fortes transformações, ainda que os preços na segunda metade desse ano tenham caído significativamente, criando uma sensação de retorno aos velhos tempos. As mudanças, no entanto, existem. Dentre as várias transformações, talvez a principal seja que, nos últimos anos, os países emergentes tomaram a dianteira no que se refere ao crescimento econômico e isso contribuirá positivamente para a demanda de lácteos.

O gráfico 1 mostra que, do ano 2000 em diante, quem vem sustentando o crescimento econômico mundial são países que, até alguns anos, eram meros coadjuvantes na economia mundial, o chamado bloco dos países "subdesenvolvidos" (agora "emergentes").

Reformas econômicas, melhoria do ambiente político, fluxo de informação e capital e melhoria do ambiente regulatório nesses países são algumas das causas que explicam esse desgarramento entre as taxas de crescimento das economias desenvolvidas e as emergentes. A continuação dessa tendência, aliada a uma redução na taxa de crescimento populacional desses países, tende a convergir (no longo prazo), a renda per capita dos países emergentes com a dos países desenvolvidos.

Essa transformação é significativa porque o crescimento da renda per capita nestes países certamente estimulará o consumo de lácteos, acompanhado ainda de um processo de universalização de hábitos nos países orientais, em que costumes ocidentais, como o consumo de lácteos, tendem a se expandir. Isso, de fato, já vem ocorrendo. Cerca de 75% do aumento do consumo de lácteos ocorre nos países emergentes. É bem verdade que há um processo altamente concentrado nesses números: Índia e China foram responsáveis por quase a metade deste crescimento nos últimos anos. De qualquer forma, o gráfico 1 mostra que o bloco destes países emergentes, que vão bem além de Índia e China, deverá crescer consistentemente nos próximos anos, apesar dos sobressaltos desse final de 2008 e 2009. Espera-se, com isso, uma elevação anual do consumo de lácteos da ordem de 2,5%, que significa cerca de 12 a 15 bilhões de kg a mais por ano.

Se há mercado, deve haver produção, que será parcialmente preenchida com o fomento à produção local, como vêm fazendo China, Índia e Brasil, entre outros. Mesmo assim, é consenso que haverá espaço para o crescimento do mercado internacional, lembrando que nem todos os países têm condições (recursos naturais, como terra e água, infra-estrutura, ambiente regulatório, etc.) favoráveis para isso. Nesse ponto, surge a questão: que países mais se destacarão e que ganharão a principal fatia desse mercado?

Embora seja difícil ser conclusivo nesse momento, uma vez que não se sabe, por exemplo, quais os preços e custos vigentes no futuro, o que sem dúvida impacta a competitividade dos países, bem como as taxas cambiais de cada país, cada vez mais os analistas apontam o Brasil como um dos países com maior potencial de crescimento. Afinal, temos disponibilidade de terras, temos um ambiente regulatório favorável, temos água, temos suplementação alimentar a custos razoáveis, temos uma indústria que se moderniza e, por fim, temos baixa produtividade, que permite ampliação da produtividade e talvez da competitividade, coisa que países já estabelecidos, como a Nova Zelândia e os Estados Unidos, por exemplo, já não têm - pelo menos na mesma escala.

No entanto, quando se analisa custos de produção, fazendo sempre a ressalva de que, em um país com dimensões continentais e marcado pela heterogeneidade em relação à qualidade da matéria-prima, custos de oportunidade e outros fatores, a vantagem brasileira parece bem menos óbvia - países como a Argentina, Uruguai, Nova Zelândia e Austrália têm se mostrado mais competitivos nos últimos anos. Mesmo assim, a indústria láctea brasileira vem se capacitando para ocupar seu espaço no mercado internacional, com novas fábricas de leite em pó e uma visão clara de que, para dar vazão a esse potencial, será fundamental exportar cada vez mais.

Apesar desse movimento, pouco até agora se discutiu a respeito da competitividade do nosso leite, de nosso "modelo" competitivo de produção. Será o leite tecnificado, com alto uso de insumos e alta produtividade, explorado como um negócio? Quais os limites de custos que esse sistema pode atingir? Como esse sistema se inserirá em um ambiente em que, cada vez mais, os grãos destinados aos animais competirão com a alimentação humana e em que a questão dos dejetos ganha importância, refletindo as demandas crescentes de sustentabilidade ambiental?

Nesse sentido, estudo recente da FAO e da OCDE sugere que os preços dos grãos, em que pese terem caído recentemente, serão estruturalmente mais altos no futuro, o que em tese favorece sistemas de produção com menor uso de insumos externos. A lógica é que, com custos de suplementação mais elevados, quem conseguir produzir com pouca suplementação levará vantagem.

Há, sem dúvida, o outro lado da questão, mesmo na questão ambiental. Será que, apesar do uso intensivo de insumos, a elevada eficiência de produção fará com que a emissão de gases de efeito estufa por litro de leite seja mais baixa do que em sistemas extensivos ou com maior uso de pastagens? Ou, ainda, considerando a demanda crescente, há como abastecer o mundo de leite, década após década, utilizando predominantemente sistemas menos intensivos? Em caso negativo, a tendência é que os custos se elevem, forçando os preços para cima e tornando novos países competitivos, justamente como ocorreu em 2007.

Essa análise não passa apenas pelo tipo de sistema de produção, mas também pelo próprio significado econômico e social da atividade, isto é, pela relação do proprietário com sua atividade. Aqui, saímos do questionamento da sustentabilidade ambiental, para a econômica e social.

Ao se analisar o crescimento do leite no Brasil, nos últimos anos, percebe-se que regiões de fronteira agrícola, com custos de oportunidade mais baixos para a mão-de-obra e para a terra, bem como regiões com predominância da chamada agricultura familiar, foram as que mais se destacaram. Essa tendência não é só no Brasil: muitos dos países com produção crescente e competitiva, em especial a Índia e o Paquistão, vêm ganhando espaço em modelos que se caracterizam pela mão-de-obra familiar, módulos pequenos e uso restrito de insumos externos. Uma "fazenda" de 5 vacas na Índia pode ser mais competitiva do que uma de 5.000 vacas nos Estados Unidos. Nesses casos, a atividade não pode ser considerada empresarial, mas sim uma maneira de sobrevivência e viabilização de milhões de pessoas que, caso contrário, estariam em situação econômica muito pior (o IFCN da Alemanha estima que 10% da população mundial vivem ou dependem de leite).

É interessante constatar que essa característica não é só do leite. O próprio crescimento dos países emergentes (novamente, lembremos da China e da Índia) em grande parte se sustenta nos salários muito mais baixos do que os verificados nas economias desenvolvidas, muitas vezes implicando em condições de trabalho consideradas desumanas (aos olhos das economias desenvolvidas). Sem dúvida, é um terreno pantanoso: de um lado, a pressão pela responsabilidade social das empresas (às vezes um protecionismo disfarçado de boas intenções...), os direitos humanos; de outro, a aceitação de que a condição de vida destas pessoas provavelmente - e infelizmente - é melhor assim do que se não houvesse trabalho.
À medida que a renda cresce e que mais pessoas vão sendo incorporadas ao mercado de trabalho, tanto as condições de vida tendem a melhorar, como as diferenças tendem a diminuir (nesse ponto, vale lembrar o enorme "estoque" de capital humano da Índia, da China e de outros países, o que sugere que o processo demorará).

Voltemos ao leite, com o mesmo raciocínio. Até que ponto a competitividade desses sistemas familiares não reside na má remuneração dos fatores de produção, em especial a mão-de-obra, que hoje se justifica pela falta de alternativas melhores? Em outras palavras, considerando o crescimento econômico do país, será que na geração seguinte esse leite será sustentável economicamente? Ou, ainda, qual é o peso das políticas públicas nessa competitividade?

Não há dúvida que, hoje, a importância desse leite é inegável, tanto para o crescimento da produção como para a criação de alternativas econômicas para a população rural. Dentro dessa ótica, é louvável a aplicação de políticas públicas que auxiliem esse produtor a se adequar ao mercado e melhorar sua condição de vida. Nesse sentido, cabe também a discussão a respeito da sustentabilidade desse produtor, até porque políticas públicas podem mudar. Assim, é preciso que, na esteira desse processo, sempre se considere a sua competitividade futura, isto é, mais do que remediar, as políticas públicas devem preparar esse produtor para se viabilizar em um ambiente com menor grau de intervenção. Isso pode passar pela adoção de sistemas de produção mais competitivos (quais são?), pelo investimento em tecnologias acessíveis, pelo acesso à informação, pela capacitação rural, etc. A questão de fundo aqui é a mesma que norteou o início da discussão: se o Brasil vai ampliar sua participação no mercado internacional, será esse leite e esse modelo de exploração que sustentará esse crescimento? Será esse modelo sustentável do ponto de vista econômico?

São questões complicadas, até porque o ambiente futuro não é dado. Porém, considerando a vocação brasileira de elevar consistentemente sua produção e o inequívoco caminho em direção ao mercado internacional, é necessário enfrentar essas e outras questões. É necessário levantar informações, identificar os fatores reais de competitividade e agir a partir dessas constatações.

Essa discussão, delicada porque às vezes envolve posições mais ideológicas do que técnicas ou econômicas, pretendemos fazer no Interleite Sul 2009, em Chapecó, que será realizado entre 26 e 28 de março de 2009.

Clique na imagem para ampliá-la.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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RAMON BENICIO LIMA DA SILVA

NITERÓI - RIO DE JANEIRO

EM 03/04/2010

Prezados amigos,

Interessante como estamos sempre a correr ao redor de um tema bastante controverso: Sistemas de produção.

Eu gosto sempre de revisar as informações a respeito do tema visitando o site do USDA, impressiona como eles coletam, organizam, distribuem e analisam as informações sobre a pecuária de leite nos EUA. Não sei se um dia teremos esta capacidade.

Um dos projetos mais interessantes chama-se "Small Farm Funding Resources" nele os pequenos produtores podem preencher um formulário eletrônico, listando algumas informações básicas sobre sua atividade, algumas informações sócio-economicas familiares. A interação governo-produtor é direta, sem interferencia.

Em paralelo o produtor tem a sua disposição inúmeros cursos de aprimoramento de forma a cumprir as exigências/metas do programa no qual se inscreveu. Lá o produtor corre atrás do seu aprimoramento e dos programas que o governo americano disponibiliza. Lá eles já sofreram o suficiente. Quem viu o filme "Vinhas da Ira" ou o documentário sobre as nuvens de poeira que assolaram os EUA nas décadas de 10 e 20 sabe perfeitamente do que falo.

Eles estão tentando integrar todos os sistemas de produção, buscando a otimização em todos os níveis. afinal um grande rio existe por que seus afluentes, sejam córregos ou rios caudalosos, continuam perenes e protegidos.


Um grande abraço
Ramon Benicio

PAULO ROBERTO VIANA FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/03/2010

A Agritura familiar esta ligda na producao de leite, porque todo produtor so sera viavel com producao eleveda por area e o programa Balde Cheio e uma alternativa para todos os produtores. Basicamente a mudanca comeca pela qualidade do volumoso, com uso correto das forrageiras em sistema intensivo, por que toda propriedade tem area a serem sistematizadas e intensificadas. Depois de ler o exelente artigo, fico mais convecido de que a mudanca nos produtores e mais de atidude, para em seguida ser tecnica. Recomendo aos produtores fazerem contato com FAEMG para conhecer o programa, por que todos os produtores devem ter um programa de acompanhamento, ter assistencia tecnica continua, para avaliar a viabilidade da atividade. Abracos Paulo Viana
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/01/2009

Prezado Marcelo: Os apologistas do leite a pasto, parecem estar nos tempos dos latifúndios, onde a terra era farta e as pastagens a perder de vista. Gostaria de saber deles como o Sr. José das Couves vai criar gado de leite a pasto, tendo ele, apenas e tão somente, três alqueires de terra acidentada na zona da mata mineira, a ponto de valer a pena? Se ele não confinar seu rebanho e não plantar os três alqueires (não contando o espaço destinado às matas e benfeitorias) com cana, milho para silagem e algum capim para implementar o trato, não passará dos trinta litros/dia, inviabilizando a produção. Por isso, as panacéias são muito pessoais, ou seja, a "mezinha" que cura um doente pode matar o outro.

Feliz o Antônio Carlos Guimarães Costa Pinto em suas divagações acima expendidas. As realidades são muito distintas no Brasil, tal como num caleidoscópio. Mas uma vaca que produza mais de quarenta litros/dia, seja o sistema que for, nunca dará prejuízo. Infelizmente, via de regra, só as confinadas podem atingir este patamar, porque ingerem a dieta necessária para tanto.

Parabéns e um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
FAZENDA SESMARIA -OLARIA - MG
ARNOLDO DE CAMPOS

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 29/12/2008

Caro Marcelo,

A reflexão é pertinente, ela vem ocorrendo há muito tempo. Acho que a sua análise ainda carece de maior profundidade quando trata da agricultura familiar. A competitividade dela não se dá apenas pelo baixo custo de produção e pela baixa dependência de insumos externos, mas também pela sinergia com outras atividades na propriedade, sendo a sua remuneração dada pelo conjunto da propriedade e não apenas pelo leite. Isso permite atravessar os momentos de crise com menos dificuldades que para os demais.

As vezes uma visão mais simplista da agricultura familiar leva ao raciocínio de que há baixa remuneração dos fatores de produção. Nem sempre é o caso. Muitas vezes o produtor de leite tem nível de vida compatível com alto IDH, possuindo bens, acessando serviços e tendo longevidade. Essa capacidade de combinar sistemas de produção tornando competitiva a sua participação em atividades específicas, como é o caso do leite, considero uma fortaleza que deve ser potencializada pelas políticas públicas no longo prazo. É um bem do país. Nem todos podem contar com esse tipo de potencial. Pequenos investimentos podem resultar em grandes aumentos de produtividade.

Abraço e bom 2009,
Arnoldo

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Arnoldo,

Obrigado pela mensagem, cujo teor faz bastante sentido. Certamente, há outros aspectos envolvidos na competitividade da agricultura familiar, como essa complementariedade de atividades que contribui para viabilizar a agricultura familiar. De qualquer forma, a baixa remuneração dos fatores de produção, em minha opinião, deve ser uma preocupação.

Curiosamente, o artigo surgiu de uma conversa via fone com o Arnaldo Bandeira, da Emater-PR, em que levantamos essas questões.

Um abraço a você e um ótimo 2009.

Marcelo
SERGIO RUSTICHELLI TEXEIRA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 10/12/2008

Marcelo

Parabens, parabens mesmo pela amplitude de visão. Enviei um artigo publicado que reforça sua linha de raciocínio.

Um abraço

Sergio Rustichelli Teixeira
Embrapa Gado de Leite
ANTONIO CARLOS GUIMARAES COSTA PINTO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/12/2008

Caros colegas

O assunto que mais se discute é qual sistema de produção: a pasto ou confinamento. O que definirá qual sistema é o preço da terra, ou seja, onde a terra for barata, pasto. O contrário, confinamento. Pois não adianta reduzir custos na produção se o custo do seu imobilizado for muito alto. Tem o custo de oportunidade de outras atividades (milho, soja, cana, etc). E tem ainda o custo da mão de obra na região.

Então este discurso de gado a pasto não tem fundamento algum para comparações com produção de outros paises. É muito infeliz a comparação da produção de 5 vacas na India contra 5000 nos EUA. Tem que observar a qualidade de vida deste produtor com a do outro. Agora, a partir do momento que voce está produzindo, tem que tirar ao máximo de cada animal, pois senão estará perdendo sua capacidade produtiva. Deveríamos lutar pela volta de cotas de produção, para mantermos o mercado normalizado e o produtor protegido.

Abraços
DUILIO MATA DE SOUZA LIMA

BOM SUCESSO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/12/2008

Parabéns pelo artigo Marcelo.

Apesar de concordar com muito do seu artigo, quero opinar a respeito da cadeia leiteira brasileira haja visto que desde 2000, quando comecei a trabalhar diretamente com a atividade, estes sobressaltos no valor pago ao produtor ocorrem com uma frequência assustadora. São alguns meses com bons preços e muitos meses com valores muito baixos. Vejo que apesar de todo o potencial de crescimento do Brasil, ficam as seguintes perguntas no ar: Será que a IN 51 não passa a vigorar por que quando a demanda é menor do que a oferta qualquer leite se faz necessário recebê - lo? E quando a oferta esta maior que a demanda o preço pago é tão ruim que não se tem condicões de exigir padrão nenhum?

Na minha opinião, o primeiro passo é regulamentar como se entra no mercado leiteiro, uma vez que qualquer pessoa adquirindo animais e em qualquer propriedade sem regra nenhuma basta ligar para uma empresa captadora de leite e passa a ser produtor. Como que podemos falar em padrões de qualidade, em regras de mercado, se não existe nenhuma no nosso país. Como posso pedir a algum produtor para melhorar padrões se em nosso país não existe padrão nenhum. È um absurdo um país falar em ser exportador tendo regras diferentes para as suas regiões produtoras como a IN 51 mostra. Para mim, fica um certo preconceito em relação ao mercado sendo que sempre se fala em melhorias do setor e os produtores grandes ou pequenos estão cada vez mais empobrecidos e esta realidade é muito preocupante, não.
L. FERREIRA DE AGUIAR

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/12/2008

O caminho certo para ter êxito como produtor de leite no Brasil, foi apontado com muito brilhantismo pelo sábio especialista em pecuária de leite a pasto da Nova Zelandia, Dr. Colin Holmes, em um dia de campo em Uberlândia MG, no ano de 2005.

Quando perguntado sobre o cruzamento de jersey com holandês, ele disse que deveriamos deixar de imitar os modelos de produção de outros paises e criarmos o nosso próprio sistema com gado a pasto, sem querer criar raças puras européias ou cruzamentos feitos nesses paises. E citou o quanto poderia ser vantajoso para nós cruzarmos gado gir leiteiro com touros holandeses, nas palavras dele o mais rústico com o mais produtivo.

Se temos terra, sol, tecnologia para produzir alimentos com preços bem menores do que os de paises de clima temperado e mão de obra relativamente barata.
Não justifica criarmos gado confinado consumindo grande quantidade de ração.

Parece uma grande vantagem contar que tem um rebanho com média diária de vinte ou trinta litros, quanto maior o número mais bonito, só que no fim do mês a coisa fica feia pois a conta fecha no vermelho, e o prejúizo também é maior. Quanto mais se produz mais oferta e menores preços, é a lei de mercado.

E ainda temos que engolir o relativismo dos governantes e burocratas de plantão, que querem nos impor um preço de referência de R$ 0,47 e paga a seus eleitores de carteirinha R$0,70.

E o mercado nos paga por volume produzido, quanto mais se produz mais recebe por litro, assim o médio produtor, aquele que paga um funcionário, nunca vai ter chance de crescer, a menos que consiga fornecer sua produção para os programas governamentais. No Brasil de hoje tem que ter grandes extensões de terras para produzir barato, ou praticar a chamada agricultura familiar; ser médio no Brasil, é caminhar para o abismo da falência. Ou se é grande ou se vive debaixo do manto protetor do estado sindicalista de plantão.
RAYMUNDO REGNER DE OLIVEIRA FILHO

CRISTALINA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/12/2008

Prezado Dr. Marcelo,

Fiquei impressionado pelo ideal nível dos missivistas, na abordagem do assunto e na inteligibilidade da escrita, que não mediram palavras em reconhecer as virtudes do seu tão bem posto artigo. Entendo que persistem, sem resposta, as minhas indagações, o que dá razão a quem escreveu que a atividade depende da opção pelo gado a pasto, minimizando custo, e da administração doméstica ou familiar, que em nada contribui para o crescimento da atividade, sendo a antítese do esperado desenvolvimento nacional.

No inter-relacionamento produtor/cooperativas ou indústrias de laticínios, a bilateralidade contratual inexiste, levando aquele a conjeturas sobre utópicas diminuições do custo relacionado aos insumos, em expectativa de que possa superar os odiosos obstáculos que se originam de fatores inatingíveis por uma ação isolada, concluindo-se, pois, sobre a carência de uma ação organizada daqueles que, na cadeia produtiva do leite, primeiro produzem.
Seria muito bom que o assunto fosse abordado em toda a sua extensão, inclusive considerando aqueles argumentos que suscito nos meus comentários acima publicados.

Atenciosamente,
Regner
ROBERTO ANTONIO PINTO DE MELO CARVALHO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/12/2008

Marcelo, meu abraço e parabéns por mais um oportuno e competente artigo.

Meu modo de ver: não pode existir, para produção de leite economicamente sustentável, um modelo único para o Brasil. Baseados na bem colocada comparação entre o criador de 5 vacas na Índia e a fazenda de 5000 vacas nos E.U., vamos comparar os criadores de 10 ou 1000 vacas no Brasil (para ficar com números bem "brasileiros", e entre eles, e as diversas escalas intermediárias). Pode haver um modelo viável, diferente para cada uma dessas escalas. A escala e o respectivo modelo dependerão da disponibilidade de cada um dos fatores de produção, coordenados e harmonizados pelo principal, a capacidade relativa de gerenciamento. No Brasil, são muito poucos os que podem adotar o modelo norte -americano de gado europeu ossudo e frágil, mantido em free stalls.

Aqui entro mais uma vez com a propaganda da raça Girolando: de boa genética, pode propiciar a mágica flexibilidade de produzir em condições lucrativas no tempo das "vacas magras" ou das "vacas gordas". A boa genética garante expressivo aumento de produção quando o bom preço do leite recomenda o manejo intensivo; a rusticidade mediana garante a condição de produzir a pasto se o preço baixo para isso sinaliza. Essa raça já existe, sem depender sempre do cruzamento com as raças geradoras, o Gir e o Holandês, o que muitas vezes traz dúvidas para o criador quando quer manter o grau de sangue entre 5/8 e 3/4 holandês.

A resposta, em parte lembrada pelo colega L. Aguiar, de Arcos, está pronta: touros puros sintéticos da raça Girolando, ou mesmo 5/8 ou 3/4, através de inseminação (para os que a ela têm acesso) ou monta natural, usando bons reprodutores, registrados, de criatórios confiáveis. Vamos usar a nossa raça tropical e ganhar a flexibilidade que o mercado exige, e ainda por muito tempo, exigirá.

Sucesso!
Roberto Melo Carvalho
ARGILANO TEIXEIRA DE ARAUJO

BOM JESUS DO ITABAPOANA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/12/2008

Caro Marcelo,

Além de veterinário, sou produtor de leite em Bom Jesus do Norte, ES, e gostei muito do seu artigo, que foi abordado de maneira muito realista. Parabéns!
SEBASTIAO NETO SIQUEIRA

CAMPO ALEGRE DE GOIÁS - GOIÁS

EM 02/12/2008

Na atual conjuntura do preço do leite, com o custo de produção alto, o sistema hoje só é viável para quem tem mão-de-obra familiar.
ROBETO AMARAL RODRIGUES ALVES

BOA VISTA - DISTRITO FEDERAL

EM 02/12/2008

Não há como deixar de solidarizar-se com os demais comentaristas sobre o excelente conteúdo do tema, até porque encerra uma visão articuladamente positiva e futurista do autor - Marcelo. Se graficamente as perspectivas para o leite são boas, quais seriam, por extensão ou por dedução do autor, os preços minimos a serem praticados já em 2009, para possibilitar a chegada desse novo porvir de "leite e mel" sonhado para o Planalto Central, na visão de Dom Bosco que escreveu "aparecerá neste sítio a terra prometida de onde fluirá "leite e mel".

Abraços candangos
Roberto Rodrigues Alves. Brasilia - Planalto Central
JOÃO TADEU GREJIANIN

GUARACIABA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 02/12/2008

Marcelo,

Parabens pelo artigo sobre qual o futuro do leite. Eu tambem entendo que quem tiver uma boa gestão na sua propriedade e, principalmente nós no Brasil, que temos o previlegio de ter um clima e solo muito melhores do que paises que oferecem seu produto (leite) com custo baixo e, qualidade.
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/12/2008

Caro Marcelo

Parabens pelo artigo "Qual o futuro do leite brasileiro?", onde você mostra muito bem as principais cartas que influenciarão o "jogo" do leite brasileiro.

Parte desse jogo dependerá dos jogadores que estão dentro do agronegócio brasileiro. Com relação a esses jogadores, que fazem parte do agronegócio brasileiro, creio que o futuro poderá ser promissor se houver entendimento que ninguem pode ganhar só, que a guerra fiscal prejudica a todos pois distorce a competitividade real, que a fraude tem que ser abolida e que a qualidade do leite e lácteos é fundamental, que a prioridade deve ser focada no mercado interno e que o crescimento das exportações, sem dúvida é importante, será obtida como um bonus se o foco principal for o crescimento do mercado interno, a melhoria da qualidade do leite e lácteos, e a competitividade em todos os elos da cadeia produtiva.

No entanto, o jogo também dependerá de jogadores internacionais que sequer fazem parte do agronegócio do leite. São os grandes jogadores, que influenciarão o futuro do mundo e que definirão se as mudanças pós crise serão reais, abrindo novos caminhos, ou se serão apenas para trocar seis por meia dúzia.

É dificil mudanças reais se os grandes jogadores insistirem que o mundo deve ter apenas 7 países que contam (G7) e que o resto é o resto e deve gravitar em torno deles. Em 1944, como consequência de duas guerras mundiais e da crise de 1929, foi realizada a célebre conferência de Bretton Woods, tentando mudanças para melhorar a combalida economia das nações. Mas na realidade o que lá aconteceu foi uma troca de 6 por meia dúzia, quando a proposta de Keynes foi rejeitada por oposição frontal do chefe da delegação dos USA (país que na época já tinha a hegemonia mundial e já era o maior credor do mundo), Harry Dexter White, que colocou a proposta vencedora que resultou na criação do FMI e do Banco Mundial. Quando a proposta de Keynes foi descartada e adotada a proposta americana, Geoffrey Crowther, então diretor da revista "Economist" alertou que o mundo iria lamentar profundamente o fato da proposta de Keynes ter sido rejeitada. A troca de 6 por meia dúzia de fato levou a economia a superar, num primeito momento, as dificuldades, mas levou a economia do mundo num rumo que desembocou na crise atual. O que os grandes jogadores decidirão: mudanças reais ou nova troca de seis por meia dúzia para tapar o sol com a peneira?

Penso que a resposta a essa pergunta, que não depende apena de jogadores no Brasil, é fundamental para a resposta sobre uma pergunta formulada no seu artigo sobre o futuro dos pequenos de leite produtores brasileiros, e que influenciará a evolução da produção de leite no Brasil.

Abraço,

Marcelo
REGINALDO CLASEN MACIEL

CANGUÇU - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/12/2008

Caro Marcelo,

Achei muito interessante seu artigo e gostaria de contribuir para o crescimento dessa discussão. Trabalhamos com qualificação de produtores de leite desde 1996 e temos a plena convicção de que o crescimento não virá através do emprego de tecnologias mirabolantes, altos investimentos e outros tantos que vimos por aí, mas sim pela mudança de atitude, pela união dos setores ligados ao setor e pelo conhecimento proporcionado ao produtor. De que adianta um grande investimento em instalações e genética se, muitas vezes, não temos conhecimento das reais necessidades do nossos animais, quanto comem e o quanto podem produzir a pasto.

Acredito que a salvação da atividade leiteira começa pelo trabalho de qualificação do produtor, pela produção de leite tendo como base o pasto, que é o alimento mais barato que existe e, principalmente, pelo gerenciamento da propriedade como se fosse uma empresa, não importando tamanho. Se tivermos qualificação, produção a baixo custo e gerenciamento, fica menos complicado enfrentar as crises futuras ou até mesmo planejar os investimentos.
DOMINGOS ROGÉRIO DONADEL

SÃO MIGUEL DO OESTE - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/12/2008

Marcelo

Parabens pelo teu artigo. Expõe de maneira clara e isenta de paixões a questão do futuro do leite. Quanto ao futuro dos produtores, uma coisa ao meu ver é certa: sobreviverão aqueles que forem competitivos e, neste sentido, ser competitivo é apresentar entre outros requisitos um baixo custo de produção. Certamente a dependência de insumos externos à propriedade será um fator de pressão sobre os custos de produção.

Faço aqui também minha as palavras citadas pelo Helvélcio. Já ví muitos produtores "altamente tecnificados" quebrarem financeiramente com crises, pois a remuneração pela produção não cobria os seus custos. Neste sentido, temos de pensar não apenas em eficiência produtiva e sim na eficiência econômica, pois é esta que assegurará a sobrevivência e o desenvolvimento da atividade leiteira. Assim, vejo como fundamental sistemas de produção que explorem ao máximo o potencial produtivo de pastagens e que o dimensionamento do rebanho esteja de acordo com a produção forrageira da fazenda.

Abraços

Engº Agrº Domingos Rogério Donadel
EPAGRI - São Miguel do Oeste (SC)
VILSON MARCOS TESTA

CHAPECÓ - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 30/11/2008

Sábias palavras Helvécio
PAULO MARTINS

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 30/11/2008

Caro Marcelo,

Sem dúvida, esse é o melhor artigo publicado em 2008 e um dos melhores que você já escreveu. Toca num assunto sempre atual, estratégico, porém nunca discutido de modo plenamente racional, com profundidade e sem paixões. Acredito que ainda não havia chegado a hora, até então.

O setor evoluiu a partir de 2007, quando passou a exercitar a busca da construção de cenários, de modo sistemático. Agora é hora de prepararmos o salto quântico e começarmos a pensar em construir o longo prazo no presente, construindo uma agenda, em que produtores, industria, governo e academia atuem de modo articulado. Por exemplo, vejo em seu artigo, uma fonte de inspiração para a pesquisa.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Paulo,

Quem escreve sempre aguarda aprovação, e quando ela vem dessa forma e de quem veio, o sentimento é de missão cumprida.

Tenhor certeza que, na construção desse futuro, você terá papel muito importante.

Grande abraço,

Marcelo
LUIZ PITOMBO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 29/11/2008

Prezado Marcelo,

Considero as questões apontadas fundamentais e foram muito bem apresentadas em sua complexa relação.

É indispensável que os integrantes da cadeia de laticínios do país, em especial os produtores, reflitam e passem a agir também com metas de médio e longo prazo; cada qual com os pés no seu próprio ambiente, mas visualizando um planeta que se transforma e da oportunidades únicas aos "emergentes". Boa parte das cartas já está na mesa!

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