Quando me formei engenheiro agrônomo, em 1993, quase toda a minha atenção se voltava para o conhecimento técnico. Como muitos colegas, achávamos que o sucesso dependeria fundamentalmente de quanto sabíamos, de nossa bagagem técnica teórica e aplicada. Por isso, ter feito uma Universidade de primeira linha, onde receberia a fina flor do conteúdo técnico, já seria meio caminho andado.
Naquela época, havia o senso comum (hoje vejo que era mais uma crença, não necessariamente verdade) de que os melhores profissionais iriam atuar como consultores ou administradores de fazendas, ao passo que os mais “comerciais” iriam para as corporações, vender alguma coisa aos produtores (uma atividade de menor valor, segundo a percepção da época).
Logo que comecei a atuar com consultoria (afinal fomos preparados para isso), percebi rapidamente que, embora importante, o conhecimento técnico não seria suficiente para ter uma carreira de sucesso. Nem se falava na época em soft skills, como habilidades de relacionamento, de aprendizado contínuo, resiliência e de lidar com ambientes incertos (hoje, o mundo “Vuca”, ou melhor “Bani” – já mudou!), entre outras.
Também, logo percebi que, a não ser que quisesse trabalhar de forma autônoma, teria de criar uma empresa, tendo que aprender conceitos novos: como administrar o negócio, como contratar pessoas, até questões societárias e de marketing (afinal, quase todo mundo precisa vender algo!).
Em pouco tempo, ficou claro que a bagagem técnica da graduação ou do mestrado, ainda que fosse muito boa, seria amplamente insuficiente para voos mais altos.
Transportemo-nos agora para 2021.
Além das reflexões acima, que continuam muito atuais, podemos adicionar outras variáveis relevantes. A primeira delas é que as demandas envolvidas na produção de alimentos foram ampliadas. Sustentabilidade, bem-estar animal, rastreabilidade, agricultura e pecuária de precisão, para citar alguns temas mais óbvios, praticamente não faziam parte do nosso dicionário.
A segunda delas é que a velocidade das mudanças e da geração de novos conhecimentos é imensamente mais rápida hoje, de forma que o aprendizado contínuo é uma necessidade. Cada vez mais, o conhecimento adquirido na graduação em grande parte estará obsoleto em alguns anos.
Também, novos termos como inteligência artificial, machine learning e algoritmos ganham mais do que as manchetes superficiais de muitos artigos das mídias: diversas startups e corporações investem em modelos que permitam entender melhor a interação entre os fatores de produção e a produtividade, permitindo fazer recomendações mais assertivas e abrindo todo um campo de trabalho, que pode ser uma ameaça ou uma oportunidade para o técnico.
A terceira variável que podemos considerar aqui é o acesso ao conhecimento. Foi-se o tempo em que acesso ao conhecimento por si era o diferencial. Se você acha que o diploma universitário em uma escola de ponta é o seu passaporte para o sucesso, esse artigo não é para você. Hoje, quase todo o conhecimento está disponível gratuitamente ou a custo baixo (claro que isso abre oportunidade para que se faça a curadoria desse conteúdo). O valor pode estar em como esse conhecimento está embalado, e o que vem junto com essa embalagem.
Por fim, a digitalização, a conectividade e a mobilidade abriram um mar de oportunidades para os técnicos. Entre eles, está o acesso às mídias sociais, permitindo ao técnico ser um “influencer” em sua área de atuação e, assim, angariar seguidores e clientes. Lembro-me aqui de uma passagem do filme “O discurso do Rei”, em que o rei George VI, da Inglaterra, que tinha gagueira, precisava fazer um importante discurso via rádio no início da Segunda Guerra Mundial.
Ele lamentava que, enquanto seus antepassados tinham que ser bons no cavalo e na espada para ser um monarca respeitado, ele, nos tempos da era da comunicação em massa, tinha que ser bom de discurso, o que obviamente o aterrorizava dado sua limitação.
De certa forma, é um pouco do que estamos vivendo hoje. Não basta ser um bom técnico, ou uma boa empresa de consultoria, se você não consegue obter um naco da atenção do público, no oceano vermelho das redes sociais. Como fazer isso de forma eficiente?
Os tempos modernos abrem também novas possibilidades de negócio para consultores, indo muito além da venda da sua hora de trabalho. Quais são as possibilidades existentes, desde formatos remotos de trabalho até serviços outros que complementem a consultoria em si, ou mesmo novas formas de precificação?
Foi sob esse contexto todo de mudança e de uma nova realidade que se instala, trazendo oportunidades e desafios, que estruturamos o “Feras da Consultoria”, que será online, em 8 encontros semanais, começando em 08/10.
Mesclando a experiência de quem tem muita quilometragem com jovens que estão desbravando o futuro, criamos um programa inédito, cujo tema é muito raramente explorado em eventos do agro. Apesar de muitos exemplos virem do leite, muitos palestrantes têm experiências em várias áreas. E, sem dúvida, os conceitos discutidos e os exemplos conhecidos podem ser aplicados em várias áreas do agro.
Se você quer alçar voos mais altos; se quer fazer um benchmarking com outros técnicos e empresas de consultoria; se quer conhecer a visão de produtores que utilizam eficientemente o trabalho de consultoria; se quer expandir sua área de atuação, com novos serviços, se quer ver como técnicos estão usando as novas ferramentas de comunicação ou se quer melhorar o seu marketing e seu networking, esse evento pode ser para você. Se você tem curiosidade sobre o futuro e deseja ter protagonismo maior mesmo em um ambiente incerto e de mudanças, definitivamente esse evento é para você.
Como todos as iniciativas que fazemos, nós procuramos criar algo que temos orgulho de colocar de pé. Posso dizer que essa é uma delas, com toda certeza.
Vamos juntos? Confira lá o programa e como funciona o evento. Nos vemos em outubro!