Entre os dados disponíveis, há a informação relativa ao Censo Agropecuário. Porém, a última edição foi realizada em 2005/2006, sete anos atrás, e nesse período muita coisa aconteceu na agricultura brasileira e mundial. Afinal, foi justamente em 2007 que os preços dos alimentos subiram e passaram a ser cada vez mais voláteis.
Nesse mesmo período, como conseqüência da valorização dos alimentos, o preço da terra subiu significativamente, principalmente nos países emergentes, cujo crescimento da renda representou um dos motivos para o choque de preços, aliado à competição entre alimentos e energia (ex: política norte-americana de produção de etanol de milho), especulação, hedging de investidores contra dólar barato, menos subsídios a exportações e outros fatores.
Nos emergentes, o aumento da renda, a urbanização e o aumento da taxa de emprego criou uma nova dinâmica no campo. De acordo com o PNAD, do IBGE, o país perdeu de 2009 a 2011 nada menos do que 7,3% ou 1,1 milhão de postos no campo, restando 14,1 milhões de trabalhadores rurais. E certamente esse processo continuará, caso sigamos o caminho dos países desenvolvidos.
Esses trabalhadores, em sua maioria, ao contrário do que ocorria no passado, muito provavelmente não engrossaram as filas de desempregados nas cidades, mas sim tiveram ao seu dispor novas oportunidades de trabalho ou melhor remunerados, ou que proporcionaram melhores condições de vida (internet, lazer urbano, etc).
Figura 1. Evolução do preço de vários alimentos (Fonte: FAO 2013)
Diante desse contexto de profunda transformação, e considerando que o leite é uma atividade que tradicionalmente emprega muita mão-de-obra de baixa produtividade (e, portanto, baixa renda por produtor, um desafio para a sucessão e continuidade da atividade), é de se supor que essa nova realidade tenha atingido em cheio a estrutura produtiva do setor. Será, enfim, que ainda temos algo próximo aos 1,3 milhão de produtores relacionados no Censo de 2005/06? Qual é a atual estratificação produtiva do setor?
No intuito de responder essas questões, estamos desenvolvendo uma pesquisa em conjunto com a entidade Leite Brasil, que já coordena o tradicional ranking dos laticínios.
Em parceria, estamos contactando quase uma centena de laticínios com o objetivo de preencher a simples tabela abaixo, com dados de junho de 2013:
Acreditamos ser possível ter mais de 50% no leite inspecionado em nosso levantamento. Estas informações nos permitirão ter um retrato atualizado do perfil do produtor de leite, captando as mudanças que, supostamente, estão ocorrendo nos últimos anos (obs: os dados individuais não serão divulgados).
RMCA
O outro projeto que estamos iniciando no MilkPoint é o que chamamos de Receita Menos o Custo de Alimentação. Esta medida é obtida somando a receita diária de cada vaca (produção média multiplicada pelo preço líquido do leite no mês), menos o custo diário de alimentação, volumosos inclusos.
E para que serve essa medida? Por ser de fácil cálculo e representar a principal receita e o principal custo da propriedade, é uma medida que retrata de forma simples e direta a situação econômica do produtor. Também, como a volatilidade de preços e custos é cada vez mais alta, e não necessariamente ocorrem de forma simultânea, a RMCA tem sido proposta como índice que substituirá os preços mínimos na nova Farm Bill americana, já que, com tanta volatilidade de custos, um preço mínimo não é mais por si só garantia de renda.
Abaixo, relaciono outros vários benefícios de acompanharmos esse simples cálculo.
1. Individualmente, o produtor pode acompanhar a variação desse índice ao longo do tempo, verificando se sua eficiência está aumentando ou não, e se a situação da propriedade nesse importante quesito está melhorando ou não.
2. Comparativamente, o produtor poderá verificar como está em relação à media e, no futuro, comparar com propriedades da mesma região.
3. Como estamos também perguntando a % de pasto na dieta, será possível analisar a RMCA de acordo com as faixas de utilização de pasto na dieta das vacas.
4. Com o tempo, é possível analisar variáveis como produção média por vaca e relação com RMCA e região do país e RMCA, gerando um rico banco de dados.
5. Um técnico que assessora vários produtores poderá inserí-los no sistema e monitorá-los em comparação com os demais produtores.
6. Futuramente, um laticínio poderá inserir seus produtores e fazer o mesmo, sabendo se sua rede de fornecedores está competitiva em relação às demais fazendas.
7. Assim como ocorre nos EUA, esse índice poderá ser utilizado como referência em pleitos ao governo, tirando apenas do preço o foco das discussões, uma vez que ele é mais preciso por considerar receita e custo.
Estamos iniciando o projeto agora, com muito ainda a fazer, mas já temos quase 100 produtores participando. Este é um projeto que sempre quis fazer, talvez dos meus tempos de nutricionista envolvido com custos, números e produção. Hoje, com a massa crítica que temos, é possível criar um sistema bastante interativo e que gere uma informação útil ao setor. Acreditamos ser possível, no futuro, ter mais de 1.000 produtores das várias regiões participando do sistema (obs: os dados individuais não serão divulgados).
De início, o sistema será bastante simples, mas no futuro a visão que temos é ter uma área no site em que o produtor poderá acompanhar individualmente seus dados históricos e gerar uma série de gráficos dinâmicos, instantâneos.
Até o dia 20 de cada mês, receberemos os dados do mês anterior e faremos os cálculos, publicando uma análise na seção RMCA, que fica em Cadeia do Leite, no MilkPoint.
A estratificação da produção de leite no país e a RMCA são duas iniciativas em que estamos envolvidos e que, com o auxílio do setor, gerarão informações relevantes tanto para a gestão diária de propriedades como para laticínios e governos.
PS: Participe! Para quem tem dúvidas, nossa equipe poderá ajudar a obter um resultado que seja consistente. Basta enviar um e-mail com as informações para carlos@agripoint.com.br.