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Exploração de animais de alta produção no sudeste do Brasil: limitações nutricionais

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 21/07/2000

6 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

O objetivo do artigo desta semana é comentar alguns dos aspectos técnicos de ordem nutricional que limitam o desempenho de rebanhos confinados nas condições brasileiras, especificamente do sudeste do país. Não é nossa intenção abordar o mérito do confinamento nesta oportunidade, mas sim discutir alguns dos pontos que hoje fazem com que o desempenho técnico e econômico de várias fazendas esteja aquém do potencial do sistema, enfocando principalmente aspectos de ordem nutricional.

O maior desafio reside no oferecimento de condições ruminais adequadas ao animal que temos. À medida que o potencial de produção aumenta, a dieta precisa ser mais rica em concentrado. Se a porção fibrosa da dieta não for de elevada qualidade (palatável, alta digestibilidade), o teor de concentrados precisa ser ainda mais elevado. Vale ressaltar que a dieta típica de confinamento de gado de leite no sudeste inclui grande proporção de silagem de milho e pouca fibra longa (fenos, silagens pré-secadas, etc), muito diferente do que ocorre nos EUA, Europa, Canadá e mesmo no sul do Brasil. A silagem de milho contém normalmente 40-50% de grãos, tem baixo poder tampão (não evita quedas no pH ruminal), precisa ter tamanho de partícula reduzido para permitir adequada fermentação no silo e baixa seleção no cocho e, com isto, acaba por agravar a carga ruminal em comparação às dietas observadas nos países acima. Desta forma, o equilíbrio ruminal fica a cargo de aditivos (bicarbonato, monensina) e uma diminuta quantidade de feno ou silagem pré-secada. Caso a qualidade deste material não seja excelente (geralmente passa longe disto), há ainda a seleção por parte dos animais, resultando em consumo de fibra ainda menor. Esta seleção é maior justamente no "verão" (6 meses do ano), quando o animal já tende a ruminar menos, produzir menos saliva, perder mais bicarbonato, estar com o sistema imunológico desafiado, etc.

Trocando em miúdos, nossas vacas de alta produção recebem uma dieta predisponente à acidose ruminal, que acaba por comprometer não só a sua eficiência produtiva, mas também a sua capacidade de resposta aos desafios ocasionados por doenças (patógenos causadores de mastite, por exemplo) e mesmo a reprodução.

Esta fibra longa, quando existente, é geralmente cara e de má qualidade. Embora existam algumas iniciativas no sentido de profissionalização desta atividade, a própria demanda maior do que a oferta acaba por distorcer os preços e mandar a qualidade às favas. De qualquer forma, vale aqui o registro de que fibra longa de boa qualidade é algo raro por aqui e que há oportunidades de mercado para quem quiser terceirizar esta atividade com qualidade (garantia de fornecimento, análises de laboratório por partida, preço ajustado em função da qualidade, etc.).

Pegando o gancho da caracterização de nossas dietas, vale o registro de que ainda temos muito a aprender em como maximizar o resultado de dietas alto teor de silagem de milho na fração volumosa da dieta. Como os países temperados não utilizam com freqüência este tipo de dieta (normalmente silagem de milho representa não mais do que 25% da MS total), a base de pesquisas disponíveis é restrita para animais de alta produção e tanto a pesquisa quanto a experiência tem de ser desenvolvidas localmente. No âmbito da silagem em si, os trabalhos de caracterização nutricional dos híbridos de milho são ainda incipientes e as próprias empresas de sementes têm pouca informação no que se refere à escolha de híbridos visando otimizar qualidade nutricional e estabilidade agronômica. Mas é uma área onde avanços deverão aparecer em breve.

Um outro gargalo ao trabalho de nutrição está nos laboratórios de análises bromatológicas disponíveis. Para ser objetivo na avaliação, normalmente o custo é elevado, a demora é significativa e são poucos os que são aparelhados e focados na geração de análises adequadas aos novos sistemas de balanceamento nutricional. O modelo de Cornell, assim como o próximo NRC de gado de leite (2001), necessitam de análises de parâmetros como lignina, N-FDA e N-FDN, entre outros, para poderem ser utilizados com o grau de precisão desejável. São poucos os laboratórios que analisam estes parâmetros como rotina ou que os fazem corretamente.

Como toda regra, há exceções a esta situação, mas é preciso registrar que a maior parte das fazendas de ponta não utilizam análises bromatológicas como rotina, sendo um dos motivos mais fortes a inexistência, a nível nacional , de uma rede de laboratórios de bromatologia que tenham rapidez, custo acessível (escala, portanto) e excelência em qualidade. E isto tem desdobramentos: para que utilizar um sistema do tipo "sintonia fina", como o modelo de Cornell, se a própria entrada de dados é duvidosa? Para que ter um nutricionista com freqüência na fazenda, se não sabemos ao certo a qualidade dos nutrientes? Para que analisar gordura e proteína do leite se não vamos ter o grau de refinamento necessário para atuar no rebanho? Como testar determinado aditivo, alimento ou mesmo técnica empregada, se a variação na qualidade da dieta pode ser maior do que qualquer efeito destas novidades ? Com isto, a intensidade do trabalho junto ao rebanho diminui e, com ela, a própria evolução da propriedade e do técnico que a assiste.

Aliado a este problema, os bancos de dados disponíveis sobre alimentos regionais são incompletos e não raro de difícil acesso, dificultando a precisão do trabalho quando são necessárias estimativas de composição.

Ainda no campo dos laboratórios, fica o registro a respeito do tema micotoxinas, muito falado e pouco entendido ou definido. Nesta área, há a dificuldade natural de amostragem e do alto custo das análises envolvidas. Mas, também, há carência de informação destinada não só ao produtor, mas ao técnico que atua no setor. O que analisar, com qual freqüência ? Como amostrar ? Que tipo de análise efetuar? São dúvidas que pairam em relação a um tema ainda pouco explorado por aqui.

No aspecto protéico, carecemos de fontes de proteína não degradável no rúmen (ou "bypass"), especialmente as de boa qualidade. Farinha de peixe, por exemplo, além de não estar normalmente ao alcance das fazendas, têm qualidade duvidosa, o mesmo ocorrendo (em menor grau) com farinha de sangue. O farelo de glúten de milho 60% de proteína (protenose e glutenose) apresenta custo elevado em função da competição com outros mercados (aves, principalmente) e não têm o perfil de aminoácidos adequado, especialmente ao se considerar dietas ricas em milho (silagem de milho, milho em grão). Quando disponível, a soja tostada de acordo com as recomendações para deixá-la "bypass" apresenta custo proibitivo (obs: não é o tratamento de calor para desativar a urease, mas mais do que isto). Resíduo de cervejaria tem inconvenientes relativos à constância de fornecimento e de qualidade, fora a dificuldade de manipulação (alta umidade).

Todos estes problemas são maximizados em dietas de verão. Sabe-se que, com alta temperatura e umidade, o animal procura reduzir a produção interna de calor com o intuito de manter a temperatura corporal constante. Isto envolve redução no consumo (conseqüentemente de energia) e seleção do concentrado em detrimento do volumoso, visto que este último produz mais energia ao ser fermentado, especialmente os mais fibrosos. Considerando que o animal naturalmente gasta mais energia quando está quente, a queda do consumo irá contribuir para agravar o déficit energético das vacas. O que fazer? Aumentar concentrado geralmente não é possível, pois já se trabalha no limite e no verão as vacas já estão mais predispostas à acidose. Utilizar gordura? É uma possibilidade caso a relação benefício/custo seja encorajadora, o que até nem sempre tem sido o caso. Há ainda o aspecto do balanceamento protéico. Há trabalhos indicando que, no verão, deve-se priorizar proteína de elevada qualidade e baixa degradabilidade ruminal, justamente aonde temos também uma lacuna.

Enfim, estas são algumas das limitações que considero em nutrição, hoje, para quem trabalha com animais de alta produção no Sudeste do Brasil. O desafio tem sido devido à necessidade/interesse econômico de se trabalhar com BST, 3 ordenhas e animais de genética cada vez mais apurada para produção de leite.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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