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É possível termos uma nova relação entre produtores e indústrias?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 06/01/2014

8 MIN DE LEITURA

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Se analisarmos com isenção as transformações ocorridas nos últimos 20 anos, reconheceremos que a cadeia do leite vem evoluindo em diversos aspectos.

Granelização, modernização de fábricas, aumento espetacular do consumo, redução das importações (ainda que de forma não linear), forte aumento da produção, melhoria da produtividade, instalação da rede oficial de laboratórios de qualidade do leite, significativa melhoria na disponibilização de informações, serviços e produtos ao produtor de leite, entre outros fatos, podem ser destacados para justificar a evolução que tivemos.

Claro que o quadro acima não implica em uma realidade cor-de-rosa, onde tudo funciona à perfeição. Mesmo nos itens acima, há muito a se fazer, mas é no mínimo improdutivo considerar que os avanços inexistiram.

Há, contudo, pontos importantes que precisam ser muito trabalhados, como a questão das fraudes, que novamente foram manchete em 2013, a infra-estrutura, que em grande parte não depende do setor, e a criação de uma agenda de longo prazo, em que as questões que afetarão nosso crescimento nos próximos 10, 15, 20 anos precisam ser discutidas e trabalhadas com antecipação.

Dentre esses pontos, um que merece atenção especial, que depende do setor e não do governo ou da conjuntura econômica e que, a meu ver, pouco evoluiu nesse período foi a relação entre produtor e indústria, que caracteriza a gestão da rede de suprimento de leite nos laticínios. Basta ver as intermináveis discussões sobre preços, margens, oferta, demanda, etc que ocorrem nos artigos sobre o tema publicados no MilkPoint (clique aqui para acompanhar as discussões em nosso último artigo de mercado).

É justamente nos momentos de baixa de preço, como ocorreu nos últimos 3 meses, que vemos aflorar os mesmos comportamentos, vícios e desconfianças que caracterizam uma relação em grande proporção oportunista de ambas as partes, maximizando os ganhos do presente e impedindo que se crie valor a longo prazo através de uma parceria mais duradoura. Em vez de discutirmos formas de se prever o comportamento da oferta e com isso evitar “montanhas-russas” que são sempre prejudiciais, permanecemos discutido se a oferta aumentou o suficiente para gerar a queda de preços verificada, e quem está pagando o pato.

Nesse contexto em que o relacionamento é quase que puramente oportunista, a migração de fornecedores entre laticínios é elevada, tornando pouco atrativa a proposição de programas e projetos de desenvolvimento contínuo de produtores, já que a probabilidade de determinado produtor deixar a empresa em um momento de mudança de mercado (para cima ou para baixo) é real, dependendo da estratégia do laticínio em questão e de seus concorrentes.

Sem um envolvimento grande entre as partes, a relação tende a se caracterizar quase como um mercado puro, caracterizado por uma troca limitada de informações, em geral restringindo-se a especificações de qualidade, volume e preço, sendo o mercado Spot sua mais clara expressão no setor lácteo.

O primeiro questionamento que fazemos é se faz ou não sentido ter uma outra configuração na relação de fornecedores de leite, levando em conta as características do mercado brasileiro, em que não há regulamentação de preços e há forte concorrência na captação na maioria das regiões.

Fazendo um parêntesis, em mercados como os Estados Unidos, são relativamente comuns contratos de mais de uma década entre cooperativas de fornecimento de leite e laticínios, com garantias e obrigações de suprimento e compra, a preços de mercado mais padrões de qualidade. A cooperativa, por sua vez, tem acordos semelhantes com os produtores, de forma que o laticínio não precisa se preocupar diariamente com a qualidade e quantidade de leite, podendo-se concentrar em sua atividade central, que é a industrialização, desenvolvimento de produtos e comercialização dos lácteos. Nessas parcerias estratégicas, a construção de novas fábricas é discutida em conjunto, levando em conta onde a cooperativa consegue elevar sua oferta de acordo com as projeções de crescimento do laticínio. O compartilhamento de informações estratégicas existe, criando confiança mútua e uma dependência que reforça a cooperação.

Por outro lado, por lá o mercado é altamente regulado, sendo o preço médio do leite ao produtor definido a partir de uma metodologia que lembra a do Conseleite, e onde há inclusive repasse de recursos entre empresas caso os derivados apresentem margens distintas. Assim, uma empresa de leite em pó, por exemplo, pode se dedicar exclusivamente a essa atividade, pois caso o pó remunere menos do que queijos, por exemplo, há um repasse entre empresas para equalizar e reduzir a competição. É evidente que, nesse contexto, a fidelidade entre os elos tende a ser maior, assim como a possibilidade de compartilhamento de informações o e desenvolvimento de uma parceria de longo prazo.

Nosso mercado, certamente, é diferente. Face a isso, pergunto: faz sentido mudar a relação entre indústrias e produtores no Brasil? A figura 1 abaixo oferece uma estrutura para analisar a pertinência dessa proposição. No eixo X, analisa-se o custo de troca do fornecedor; no eixo Y, o quanto aquela atividade/competência é central para criar valor no longo prazo para a empresa. Uma atividade central é aquela cujos benefícios geram valor para o cliente, oferece diferenciação sobre a concorrência e tem potencial de gerar vantagens competitivas no futuro. Para a Nike, por exemplo, o design dos calçados e a gestão da marca têm centralidade muito maior do que a costura, sendo essa atividade mais passível de terceirização.

Exemplificando a relação entre custos de troca e centralidade, vamos considerar a aquisição de materiais de escritório para um laticínio. A atividade apresenta baixo custo de troca (é possível trocar de fornecedor sem grandes custos) e obviamente não é central para a diferenciação da empresa junto ao mercado. Portanto, a relação com os fornecedores tende a se orientar para o mercado puro, sendo inclusive comum que se utilize sites de compra na internet, até em conjunto com concorrentes, já que não é algo central.

Já um call center terceirizado merece uma análise diferente. Os custos de troca são elevados (treinamento de toda a equipe de atendimento, riscos de migração para um concorrente, custos do contrato, que precisa ser altamente detalhado, etc), ainda que não seja central para a estratégia da empresa, sugerindo um contrato de longo prazo, em uma relação de maior dependência.

Trazendo um outro exemplo próximo do setor, a produção integrada de suínos e aves apresenta maior grau de centralidade e custos de troca, fazendo com que o relacionamento seja mais próximo de uma parceria estratégica entre os fornecedores (chamados integrados) e a empresa processadora.

No caso do leite, em um mercado concorrencial como o brasileiro, faz sentido sair do mercado puro (ou algo próximo disso) e irmos em direção a formatos que envolvem maior comprometimento? Ou, melhor, faz sentido para alguma empresa em particular arriscar-se na concepção de um novo formato de relacionamento com seus fornecedores?


Figura 1. Portfólio de relações com fornecedores a partir da centralidade da atividade e custos de troca (Em Administração de Produção e Operações, Corrêa & Corrêa, 2004)

A resposta não é tão simples assim. Acredito que os custos de troca tendem a ser cada vez mais elevados e que a atividade exercerá maior centralidade com o tempo. As razões para isso envolvem a logística, um maior controle sobre o comportamento da oferta, questões relacionadas a qualidade do leite, capacidade gerencial e de crescimento do produtor e, eventualmente, riscos ambientais. Tudo isso faz com que, cada vez mais, ter uma boa rede de fornecedores seja estratégico para o sucesso continuado da empresa. Por outro lado, pode-se argumentar que ainda estamos no estágio inicial desse processo, em um mercado em que ainda há informalidade, inconformidades (fraudes) e um grande distanciamento com o consumidor que, salvo diante de um escândalo, não é lembrado diariamente sobre as questões envolvendo o leite e derivados. Essa realidade justificaria, no presente, as posturas atuais.

Cabe, claro, ao elo mais forte – a indústria, como setor ou individualmente – capitanear esse processo, que implica inicialmente em custos mais altos e no desenvolvimento de competências que antes não eram necessárias. Implica, também, em maior compartilhamento de informações, em maior transparência, algo que o setor em geral não está acostumado a fazer. Implica, por fim, em riscos, que podem ou não ser compensados lá na frente. Difícil decisão.

Minha avaliação é que, na maior parte dos laticínios, há uma percepção de que uma configuração diferente se faz necessária para que consigamos evoluir. É sempre válido lembrar que surfamos nos últimos 15 anos uma onda de crescimento de consumo que, ao que tudo indica, chegou ao seu fim, sendo necessário atuar em outras frentes, como o desenvolvimento de produtos, as exportações, o marketing institucional, a redução de custos. E, claro, a gestão da rede de suprimentos.

Porém, apesar da percepção de que há algo a se fazer, as urgências do presente sempre prevalecem sobre as iniciativas de longo prazo que, além de tudo, implicam em alto risco caso não funcionem, o que contribui para que tudo fique como está.

Nesse sentido, projetos-piloto podem ser interessantes e menos arriscados, sem comprometer o fornecimento ou os custos de captação de matéria-prima de forma significativa, antes de serem implantados de forma mais geral.

Atualmente, entendo que um dos grandes laticínios vem desenvolvendo um projeto inovador nesse sentido (leia mais aqui). Porém, pode-se argumentar que se trata de uma empresa que possui alto valor agregado em seus produtos, onde o leite representa menos do custo final do que, por exemplo, a produção de UHT ou leite em pó, o que em parte faz sentido. Outros estão testando contratos indexados no Cepea mais adicionais de volume e qualidade. Já é um sinal, embora ainda tênue se considerarmos que mesmo programas de pagamentos por qualidade são ainda poucos e nem sempre levados a ferro e fogo, principalmente quando o mercado é comprador.

Ficam, por fim, as perguntas: permaneceremos em um ambiente em que a desconfiança impera, tornando infrutífero o debate e impedindo que se busquem soluções mais duradouras e compartilhadas para os problemas do setor? Em que o desenvolvimento de fornecedores seja limitado devido ao risco de perdê-los no mês seguinte? Em que a agenda do passado ou do presente sempre predomine em relação à agenda do futuro? Em que ganhar 1 ou 2 centavos a mais no mês seguinte vale mais do que ter maior tranquilidade e tempo para gerenciar o seu negócio?

Espero que não, mas reconheço que a necessidade de mudança não é tão óbvia, implica em riscos estratégicos e custos e, caso ocorram, tendem a ser graduais.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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CÉSAR ALBERTO COUTINHO

NOVA PRATA - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/01/2015

A observação de que a Industria esta, MÍOPE , RETROGRADA , PREDADORA E TRUCULENTA, vale muito e é facil ser observada no campo, enquanto falamos em montanha russa, Spot's e outros grafismos, a industria empata sua moda da maneira que mais lhe convier. Senhores a base de tudo, o produtor, é muito mal tratado pela industria e governo, que assobia com financiamentos, e nada mais, o MAPA não tem competencia nem para gerir uma Instrução normativa, essencial a produção. E ai aparecem os milagres, como adulterações, uma infinidade de industrias mal geridas quebrando, e deixando muita gente na mão, ainda cooperativas que insistem em quebrar, isto é coisa da estupidez de quem se propõe a dirigir tudo isto, se tivessemos governo sério, teriamos leite serio, com valor real ao produtor, com industrias sérias, e as duas pontas ganhariam, produtor e consumidor, e não somente industria e governo. Infelizmente sabemos o que fazer, mais não sabemos fazer.
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/01/2014

Marcelo, de uma certa forma, as cabeças pensantes do setor devem saber que as todas oportunidades dos atípicos anos de 2012 e 2013, sem exceção, surgiram da sorte ou azar oriundas de conjunturas alheias ao nosso controle, como foi a seca dos EUA em 2012 (azar), seca da NZ em 2013 (sorte), desvalorização do Real (sorte), supersafra em 2013 aqui e nos EUA em ano de leite curto (sorte), etc...

Em algum momento precisamos decidir que não podemos viver apenas de sorte e azar.

Por outro lado, regulação governamental, nem pensar; já sabemos que quanto mais (esse) governo intervir, pior será. Melhor o mercado puro baseado em commodities afetadas por custo de produção do que governo irresponsável opinando em produto da cesta básica.

Respondo sua pergunta argumentando que a lição inicial é implantar a IN62, mas principalmente a indústria assumir seu papel de obstruir a entrada de leite fora das normas nas fabricas. Para a inovação temos bons exemplos como a Vigor, que passou de uma base de R$ 6/kg do iogurte commodity para R$ 12 do Grego, o UHT Ninho, que tem um alto premio do mercado e não reduziu seus preços significativamente recentemente e o próprio exemplo da Danone, já discutido. Diria que algumas coisas só precisam ser copiadas, outras intensificadas. Mas não podemos achar que vivendo da mesmice vamos crescer. Só crescemos horizontalmente porque o país tem fronteira agrícola em expansão. Mas isso tem fim e está chegando lá.

abraços,    
RODRIGO

DIVINÓPOLIS - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 24/01/2014

Saudoso JOSÉ GUANAES BARBOSA DE SOUZA da Bahia,



O leite produzido no Brasil era captado e com todo seu processamento feito por Cooperativas e associações que eram administradas por produtores rurais, pelo menos aqui em Minas Gerais era assim, toda cidade tinha sua cooperativa.



Um tio avô foi um dos maiores presidentes da Cooperativa da minha cidade, por concidencia conversei essa semana com um ex funcionario da mesma coperativa, o que produtor rural associado na época ganhava com 100 lts de leite dia, hoje não ganha com 500 lts dia, porque o preço pago ao produtor rural é defasado.

Só que como todo atividade no Brasil, com  pessimas administrações as vezes até "suspeitas" maioria dessas Cooperativas\ Associações quebraram e foram engolidas por mega empresas do setor.



Foi maior tiro na asa do produtor de leite no Brasil



1º Fim do preço do leite tabelado pago ao produtor



2º  Essa falta de proteção as coperativas pelo governo e também impunidade que temos no Brasil, cada um rouba e fica por isso mesmo
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 24/01/2014

Roberto,



Obrigado pela contribuição. A situação do UHT, a meu ver, é a seguinte: de fato, a elasticidade-preço é mais baixa, embora exista. O fato de ser mais baixa faz com que a volatilidade seja naturalmente maior. Explicando: se o preço está alto, como estava (pelo menos relativamente ao que era), o consumo demora a cair e, nesse período, a oferta continua estimulada, conforme você mencionou.



Com a oferta continuamente mais alta, como os dados do IBGE claramente mostram, sem receber sinais de que precisa diminuir (isto é, algum ajuste de preço),  problema vai se avolumando, sendo inevitável a formação de estoques e uma conseqüente queda de preço. É oferta e demanda. Claro que a atuação do varejo, que se aproveita bem disso, aliada a pulverização do setor, indústrias que precisam desovar rapidamente, falta de informação, forte dependência das grandes redes, tudo isso piora a situação e faz com os preços caiam ainda mais.



Uma vez os preços estando baixos, a elasticidade-preço mais baixa volta a atuar. Mesmo com preços baixos, o consumo aumenta pouco, o contrário do que ocorre por exemplo com queijos e iogurte. Isso significa que o desestímulo é maior e a oferta tende a se corrigir em excesso: em outras palavras, os preços baixos não resultam no aumento de consumo que gostaríamos, e o desestímulo continua, com a indústria realocando para outros produtos e o produtor pisando no freio, até começar a faltar leite e começar o processo inverso.



Assim,  a meu ver não se trata de não precisar cair ou subir, mas sim de que é um processo natural de oferta e demanda que, no caso do UHT, é intensificado pelo fato da elasticidade-preço ser baixa, e pelas imperfeições de mercado.



Concordo com você sobre mecanismos de previsibilidade de preços para pelo menos termos uma sinalização e uma margem de manobra para ações prévias, bem como outras estratégias. Mas a meu ver a única maneira de resolver mesmo isso é termos um mercado como o canadense: totalmente regulado pelo governo e isolado do mercado externo. Não estou defendendo isso, apenas teorizando. Mesmo o mercado norte-americano, que possui forte regulamentação com as federal orders, apresenta grande volatilidade, sem falar no neozelandês, dependente do mercado externo, e mesmo do europeu, ainda mais regulado.



A questão da inovação, como você colocou, da qualidade, do fomento às exportações e do marketing institucional permanecem pontos a serem trabalhados. Mas como fazer isso se, com o desestímulo, teremos em algum momento uma forte subida novamente, onde quase todos vão buscar maximizar os ganhos de curto prazo, surfar a onda de preços e oportunidades, e esquecer os problemas crônicos?



Abraço
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/01/2014

Marcelo, como está hoje, de fato o leite participa de um mercado puro; também concordo que sua maior expressão é o spot.

A discussão na "Montanha Russa" seria cômica se não fosse trágica. Produtores culpando a indústria por uma baixa deliberada nos preços e industriais continuadamente "alertando" produtores que o aumento da oferta era o causador da derrocada dos preços ao consumidor. Os produtos eleitos para esse alerta foram o UHT e muçarela, as duas principais commodities do mercado doméstico ao lado do sempre decadente leite em pó.

Não há dúvidas que os preços do segundo semestre de 2013 foram estimulantes e aumentaram a oferta. Por outro lado, produtos de baixa elasticidade de renda (onde a redução do preço não aumenta significativamente o consumo) como o UHT, não tem qualquer motivo para cair de preço, a não ser que o elo seguinte - varejo - pressione financeiramente as industrias economicamente mais frágeis e isso cause um efeito dominó no mercado. As mais fortes certamente não entraram nessa.

Nesse caso (que me parece real), veja que não há relação entre o aumento de oferta e a pressão do varejo; apenas alguns industriais mais frágeis ou oportunistas "furando" a base de preços ao consumidor reconhecida como "sustentável" pelo mercado como um todo. Esse valor  sustentável me parece estar entre U$ 0,80 a U$ 1 para o UHT ao consumidor e não só aqui mas no mundo todo.

Como o mercado é puro, esse reflexo da fragilidade industrial reflete diretamente no preço ao produtor via lei da oferta e demanda, tecnicamente uma situação que ocorreria mesmo sem a queda de preços ao consumidor. Nada mais transparente.

O que falta então?

Duas lições de casa tanto ao produtor como á indústria: (i) estímulo aos critérios de qualidade (IN62) e eficiência (com vistas na redução de perdas), como o ganho de escala por exemplo e (ii) união de ambos em projetos normativos (governo) que estimulem mecanismos de mercado com vistas na estabilização dos preços, como  bolsa de futuros, crédito para estocagem, barreiras a práticas desleais de comércio e crédito para investimentos, tanto para produtor como indústria.

Sem essa etapa vencida, não há o que fazer para um melhor relacionamento entre esses dois agentes. Certamente o projeto da Danone é um diferencial, baseado na mitigação da agregação de valor do produto final. Fica aí um ótimo exemplo para a indústria de UHT, que nos últimos 25 anos sequer se mexeu para retirar o citrato de sódio e o atual binômio de tempo e temperatura do tratamento térmico. Onde estão as inovações, como exemplo, os modelos entre 90 e 120ºC de tratamento térmico com envase asséptico que existem na Europa?  Por que continuamos "furando" os critérios já reconhecidos da IN62 na compra do leite? Em outros países, apenas isso já representa uma fraude, quiçá o que se faz por aqui com ureia e formol . Certamente temos que evoluir, mas para isso, antes, precisamos nos mexer.

abraços.


MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 20/01/2014

Obrigado a todos pelos comentários. Estive de férias nos últimos 12 dias, mas acompanhei as postagens. O assunto é realmente interessante e fico feliz que tenha estimulado tantos comentários.



Um outro ponto adicional que vale a pena mencionar e que acabei não colocando é que, no que se refere a leite, o Brasil é praticamente único entre os países que produzem quantidades significativas de leite. No geral, ou o domínio é total das cooperativas (reduzindo em muito essa questão do conflito entre os elos), ou o mercado é altamente regulado pelo governo, ou ambos, como é o caso dos EUA e Europa. São poucos os exemplos de países com cooperativas com menos de 50% da captação e pouca interferência do governo - Austrália é um exemplo.



Acredito que as mudanças podem ocorrer, mas o processo é lento, envolve risco, envolve investimentos por parte da indústria, envolve mudança de enfoque por parte de produtores e indústria, envolve inteligência no processo.



Tivemos sucesso até agora? De certa forma, sim. A produção vem crescendo de forma forte nos últimos 20 anos, a produção inspecionada mais ainda, o mercado se desenvolveu muito. O modelo atual, porém, é garantia de sucesso no futuro? Aí cabe o questionamento, nesse contexto em que segurança dos alimentos será cada vez mais um ponto relevante, além dos outros aspectos mencionados.



Paulo Fernando, se achar interessante disponibilizar um draft do contrato, mande para mim por favor e conversamos sobre como usar o material.



Michel, interessante a ideia, vou pensar sobre como viabilizar.



Abraços a todos,



Marcelo








GUSTAVO RIBEIRO DA SILVA

NOVA OLÍMPIA - MATO GROSSO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/01/2014

Prezado Marcelo,

Finalmente você trouxe a  tona o ponto central dos vários problemas que a cadeia apresenta.

Meu ponto de vista como produtor é que se não acontecer esta aproximação entre indústria e produtor, isto é, se continuar no atual formato, logo não teremos mais como incentivar o setor primário a continuar na atividade. Não temos como fazer planejamento, não existe poupança devido as baixas margens. Diante de tantas incertezas, fica mais fácil tomar a decisão de abandonar a atividade, do que se desgastar com a indústria que somente olha o próprio umbigo.

Se não acontecer uma conscientização da real situação do produtor de leite, no médio e longo prazo, teremos que nos conformar em sermos importadores de lácteos, dando espaço a paizes concorrentes que apresentam condições muito menos favoráveis a produção do que as que temos aqui no Brasil.
JOSÉ GUANAES BARBOSA DE SOUZA

SALVADOR - BAHIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/01/2014

Marcelo, parabéns pela bela análise.



Como ex-gerente comercial da DANONE e VALE DOURADO e atual produtor de leite, acredito que a indústria irá procurar caminhos mais saudáveis quando o produtor tiver outras alternativas de renda e começar a reduzir sua oferta aos laticínios. Essa redução poderá ocorrer de várias formas, inclusive através da transformação do leite in natura em derivados, a partir da organização dos próprios produtores, seja por COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES.

A política centrada na filosofia de que ninguém pode ganhar sozinho é extremamente saudável, mas acredito ainda não há maturidade nesse seguimento para isso.
ARNALDO BANDEIRA

CURITIBA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/01/2014

Parabéns Marcelo. Ótimo artigo! O assunto vale um Seminário. Considero esse o maior ou pelo menos o mais central entrave para o pleno desenvolvimento da cadeia do leite. Penso que é dele que decorre os principais problemas da cadeia produtiva: baixa produtividade/atraso tecnológico, custos altos da logística, baixa qualidade da produção e outros tantos. Vejo poucos abordando esse tema e de outro lado, quando o assunto é preço do próximo mês todo mundo se interessa. Uma relação produtor-indústria fundada apenas no preço é muito frágil. É preciso incorporar muitos outros fatores - que vc colocou muito bem - para torná-la forte e duradoura.
ELTON BELETATTI MARTINS

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 13/01/2014

Excelente artigo Marcelo. Essa "montanha-russa" toda é desfavorável tanto à indústria quanto aos produtores, muitas vezes fazendo com que apenas o varejista (atacados/supermercados/etc.) tenha lucros reais e efetivos com o leite. E é justamente o varejista quem tem menos envolvimento com a cadeia leiteira. Apenas recebe o produto e vende ao consumidor final.
PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/01/2014

Sr. Fernando Back.

A mais de uma década a Aplisi, que hoje representa quase 50 produtores e 15 milhões de litro no contrato anual, comercializa o leite de seus associados via contratos. Grandes e médio laticínio tem sido parceiros dos produtores da Aplisi nos estados do Rio e MG. Qualidade em plena evolução, com acompanhamento da Clínica do Leite, e fidelidade total dos produtores ao comprador.

Um draft do contrato pode ser fornecido, uma vez que a filosofia da Aplisi é contribuir para o progresso do produtor de leite, associado ou não.

A discução gerada pelo Milkpoint, mais uma vez, é muito oportuna.

O Santiago nos conhece. Com certeza o Marcelo também.

Abraço.

Paulo Fernando.
LUCAS FERREIRA DE AGUIAR

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/01/2014

11.01.2014

Prezado Sr. Marcelo, acho que a desconfiança entre produtores e indústrias que sempre existiu vai continuar por mais algum tempo. E acho que a culpa é das indústrias e supermercados. Veja o que está acontecendo agora, a ração teve um aumento de mais de dez por cento, o preço do litro de leite pago ao produtor, que em outubro era R$1.16 esse mês caiu para R$0.98 o litro, uma queda  de dezesseis por cento. Mas o problema que nos faz desconfiar da indústria, é que nos supermercados de Belo Horizonte um litro de leite custa R$2.67, e em Patrocínio é vendido a R$2.90. Como confiar num setor que continua a ganhar muito em cima dos preços pagos ao produtor ?

Atenciosamente

Lucas Ferreira de Aguiar.
ME. JAMIR RAUTA®

PATO BRANCO - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 11/01/2014

Bom dia.

Marcelo, muito bem apresentado o material.

Justamente tudo que falou tenho trabalhado em meu trabalho final de Mestrado.

Minha pesquisa esta totalmente direcionada para essa "solução".

Com base em alguns dados e pesquisa de campo, posso dizer o seguinte: existem muito mais coisas em torno desse relacionamento do que simplesmente compra/ vende/ preço.

Comungo oque todos os demais colegas comentaram, entretanto, digo que iniciativas devem vir de todos os lados. E coloco como a cereja do bolo, a confiança de e entre as partes.

Talvez seja audacioso oque vou falar, mas penso que a partir da entrada e cobrança definitiva da N61, leis mais claras e aplicadas, bem como o próprio mercado do leite mais profissionalizado, haverá uma peneira no mercado, e permanecerá apenas industrias responsáveis, comprometidas, assim como produtores. Saliento, o mercado do leite precisa se profissionalizar, e muito.

A questão é simples, fazer tudo e depois fazer mais.

Sejamos Incríveis.

Grato

Jamir Rauta
GERARDO MAGELA SOARES FROTA FILHO

FORTALEZA - CEARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/01/2014

Parece que os produtores enxergam a grande industria como ,

MÍOPE , RETROGRADA , PREDADORA E TRUCULENTA.

Se é verdade, dá para conversar ?
FERNANDO BACK

FORQUILHINHA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/01/2014

Prezado Marcelo.Como membro e gerente de uma cooperativa de produtores de leite, temos  as mesma avaliação.Nos elos que compõe a cadeia produtiva do leite, a indústria nos vê como meros fornecedores de matéria prima, e como tal procura o menor preço com a melhor qualidade.Enquanto que o supermercadista, recebe a vista e paga aprazo e impõe regras ao industrial para comercializar os seus produtos.O elo da produção (o menos organizado) fica na ponta da cadeia onde indústria e  supermercado compõe margens estabelecidas o repasse  final da conta desaba no produtor isolado e desorganizado.Estamos negociando o leite em conjunto a muitos anos , com um pagamento de qualidade que tanto bonifica  como multa .porém procuramos minutas de contrato para servir de base de estudo a fim de implantarmos um contrato, pois nossa negociação é mensal  .pode me auxiliar?
CARLOS OTÁVIO FARAGE FONSECA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/01/2014

O Governo tem que agir contra o cartel da industria, porque do jeito que está não tem como funcionar nada.
MICHEL KAZANOWSKI

QUEDAS DO IGUAÇU - PARANÁ - OVINOS/CAPRINOS

EM 08/01/2014

Caro Marcelo, parabéns.



O Milkpoint, maior canal de comunicação da cadeia produtiva do leite brasileira, não poderia organizar um encontro entre os representantes das maiores indústrias processadoras do país afim de realizar uma rodada de discussões a respeito dos maiores desafios da produção nacional?
MARCOS ANTONIO RODRIGUES

ABADIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/01/2014

Hoje quem ta ganhando dinheiro com leite e o tirador.Agora o produtor esse ta lascado.
CLAUDIO FURTADO SOARES

VIÇOSA - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 07/01/2014

Prezado Marcelo, parabéns pelo editorial.

No meu entendimento temos que considerar a "Cadeia de Valores" deste Setor, envolvendo não só o produtor de leite e a indústria. Se considerarmos também o setor varejista, os fornecedores de insumos (tanto p/ produção do leite quanto p/ indústria), a logística e os serviços especializados, perceberemos agregação de valores algumas vezes acima da contrapartida representada pelos produtos e/ou serviços oferecidos. Entendo também que estes setores se fortalecem com estratégias baseadas em inovação e qualificação de suas equipes. Assim, temos também que perseguir essa estratégia, com maior intensidade na produção e industrialização do leite, para garantirmos competitividade.
DIEGO MASCULINO BERNARDES

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 07/01/2014

Parabéns pelo artigo Marcelo!

Parabéns pelo comentário também antonio carlos guimaraes costa pitno.


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