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Crise de identidade no setor lácteo

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 20/07/2009

7 MIN DE LEITURA

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Na semana passada, participei como moderador de um painel no 7º Congresso Internacional do Leite, promovido pela Embrapa Gado de Leite em Juiz de Fora, MG. O título do painel era "Perspectivas para o agronegócio do leite". Tema sempre presente nas discussões e que pode envolver tanto tendências de curto como de longo prazo.

Transcorrido o painel, fiquei com a sensação de que vivemos hoje uma clara crise de identidade no setor.

Desde o ano 2000, o Brasil se prepara para assumir a posição de grande exportador de lácteos em algum momento próximo. De fato, de lá para cá, galgamos gradativamente o status de autossuficiência para, em 2004, nos tornarmos exportadores líquidos. Em 2008, finalmente, atingimos mais de US$ 500 milhões em exportações e fomos o 5º maior exportador mundial de leite em pó integral.

Em 2009, o quadro parece se reverter. Produção sem grandes avanços, preços externos deprimidos e real valorizado colocam em cheque, ao menos momentaneamente, nossa trajetória de país estruturalmente superavitário nos lácteos, como ocorre com outros produtos do agronegócio.

De exportador líquido, deparamo-nos novamente com uma balança comercial deficitária. De um discurso pró-abertura de mercados e retirada dos subsídios dos países protecionistas (discurso que, justiça seja feita, continua presente), passamos a adotar medidas que defendem nosso grande mercado interno. Fala-se cada vez mais em defender nosso maior ativo - o potencial interno de consumo - como se talvez fizéssemos mea culpa pela ênfase talvez exagerada nas exportações.

Por outro lado, mantemos nossos argumentos a respeito do potencial de crescimento de nossa produção - o que é correto - e a respeito de nossa competitividade.

O aspecto relativo à análise da competitividade é mais complexo por envolver muitas variáveis, algumas fora de nosso controle. Uma delas - e importante em se tratando de uma commodity - é o câmbio. Como já discutimos no artigo anterior, confirmando-se o bom momento e, mais do que isso, o novo status da economia brasileira no panorama mundial, é possível que o real valorizado seja uma nova realidade com a qual tenhamos de trabalhar. De acordo com o índice Big Mac, produzido pela revista The Economist e que compara o poder de compra relativo das moedas, o real estaria mais valorizado do que o próprio dólar, uma vez que um Big Mac custa mais em US$ no Brasil do que nos Estados Unidos: US$ 4,02 x US$ 3,57. De fato, só estamos atrás da Noruega, Suíça, Dinamarca, Suécia, e União Europeia, indicação de que o real está sobrevalorizado - e há quem aposte que se valorizará ainda mais.

Ainda que a situação do momento não seja definitiva, acredita-se que nossa moeda será mais valorizada do que no passado recente. Isso implica em duas consequências que podem ser consideradas irmãs siamesas: de um lado, impede ou ao menos dificulta nossas exportações e, de outro, abre o mercado interno para produtos importados, sejam eles subsidiados ou não.

Outra variável que define a competitividade é ainda mais incerta: qual será, se é que é possível definir, o patamar de preços em que o mercado lácteo internacional se "estabilizará"? Com preços do leite em pó na casa dos US$ 4.000 a tonelada ou mais, entramos novamente no jogo, assim como os Estados Unidos, mesmo com essa nova realidade do câmbio. Mas quem, em sã consciência, pode afirmar com segurança que isso ocorrerá e que, em ocorrendo, será o novo patamar?

"O problema de hoje é que o futuro não é mais como costumava ser", disse o empresário indiano Ramalinga Raju, fundador da Satyam Computer Services, no World Economic Forum de 2008. A digitalização e a globalização imprimiram uma velocidade e uma dimensão até então desconhecidas às mudanças globais.

Ninguém sabe, por exemplo, qual será o comportamento da crise econômica mundial. Será em forma de "V", ou seja, já atingimos o fundo do poço e agora sairemos dela? Ou será um "W": essa repentina melhora será seguida de novo mergulho para só então termos a definitiva recuperação? O economista Paulo Haddad disse em sua palestra no evento da Embrapa que qualquer previsão nesse sentido é muito arriscada: simplesmente não sabemos.

Philip Kotler, o papa do marketing, diz em seu novo livro, que tem o sugestivo título de "Chaotics", que "nunca mais voltaremos à idade de ouro da normalidade". Para Kotler, as empresas terão de instalar um sistema de alerta (prevenção) e resposta rápida (o atendimento de pronto-socorro) que lhes permita desenvolver rapidamente novos cenários quando a economia entrar em queda. Como lidar com essa nova realidade volátil? Segundo ele, em vez de falar superficialmente sobre planejamento para contingências, as empresas e setores devem fazer planejamento de cenários; em vez de orçamentos fixos, orçamentos variáveis, e assim por diante.
"Quando tínhamos as respostas, mudaram as perguntas". Essa é a sensação que se tem hoje diante de um cenário que nos traz uma realidade que - acreditávamos - já havia sido extinta.

Além dos fatores externos e incontroláveis que definem a competitividade, há as variáveis que estão sob nosso alcance. As velhas questões de qualidade, logística, acesso a mercados e, principalmente, produtividade e custos são sempre discutidas.

Sem dúvida, há avanços importantes. Porém, como colocou o historiador Boris Fausto em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, no domingo (19/07), acerca da corrupção no país, esta cresce a uma velocidade maior do que as medidas de prevenção e punição, aumentando o problema dia após dia. Trazendo a analogia para o leite, a conjuntura externa nos demanda avanços em uma velocidade maior do que aquela que estamos imprimindo ao setor lácteo, criando um potencial fosso de competitividade.

Chega a ser surpreendente que, passados tantos anos de discussões, ainda estejamos discutindo sistemas de produção e custos (reconheça-se, é verdade, a complexidade do tema em um país com tantos contrastes e diferenças geográficas). Surpreende, ainda, que tenhamos tão poucos dados a respeito de custos de produção de leite nas várias regiões e que, dentro de uma mesma região, haja tanta discrepância de valores. De certa forma, a fazenda de leite, como entidade econômica, ainda é uma caixa-preta no Brasil. Ainda estamos no ajuste grosseiro, longe da sintonia fina que outros setores já estão.

Claro que é possível avaliar o cenário de mais longo prazo. O aumento da demanda de lácteos no mundo é estrutural. Os países que hoje lideram as exportações mundiais de lácteos têm claros limites à expansão da produção. A escassez dos recursos naturais, criando a "economia natural", tenderá a elevar os preços dos bens que dependem do ambiente para serem produzidos. Tudo isso poderá resultar em aumento médio dos preços dos lácteos e abrir uma avenida para o Brasil - mas quando? O que tivemos em 2007/08 com a escalada dos preços dos alimentos foi um prenúncio, uma pequena erupção sinalizando a grande e definitiva erupção que caracterizará esse novo cenário? Não sabemos.

Quais outros países têm potencial de produção? Quem abastecerá de lácteos a África com seus mais de 1 bilhão de habitantes e baixo consumo de lácteos? Qual o potencial de produção de leite da própria África - há alguém no Brasil estudando isso? E na Ásia, quais países podem efetivamente elevar a produção de leite e abastecer a demanda crescente dos mais de 4 bilhões de pessoas? Mudando de questão, em que grau e em qual velocidade as distorções do mercado internacional de lácteos serão reduzidas, se é que serão reduzidas?

Todas estas questões são relevantes e deveriam estar sendo estudadas. A única maneira de se preparar para uma conjuntura incerta e volátil é se mirar no longo prazo e se preparar para os cenários possíveis. É criar, desde já, a estrutura para minimizar o efeito dos fatores incontroláveis e que podem minar qualquer planejamento, por mais bem intencionado que seja.

Temos trabalhado bem o curto prazo: se o preço do nosso leite em US$ cai, voltamos a falar de exportações; se leite condensado é nosso produto de maior competitividade, construímos novas fábricas (para logo depois perceber que o mercado se satura rapidamente); se os preços do leite em pó vão às alturas, idem; se os preços caem ou a exportação míngua, voltam as discussões em torno do marketing institucional; se o preço ao produtor aumenta, coloca-se mais ração na dieta das vacas; se a lucratividade da atividade para o produtor melhora, a produção sobe rapida e significativamente; o oposto ocorrendo quando há prejuízo, e assim por diante.

Claro que é necessário focar o curto prazo, afinal sem o curto prazo não se chega ao longo prazo. Mas, citando a inscrição no Templo de Apolo em Delfos, Nada em excesso. Hoje, simplesmente reagimos. Uma estratégia perigosa, se não inviável, em um cenário de mudanças cada vez mais rápidas. A questão que precisa ser respondida é: aonde de fato queremos chegar? A partir dela, analisando-se os possíveis cenários e fazendo uma ampla radiografia do setor, definir as áreas prioritárias para ação. No Brasil que emerge como futura potência, a competitividade não será mais herdada dos fatores naturais e dos baixos custos relativos. A competitividade precisa agora ser construída - uma tarefa feita a várias mãos e focada no longo prazo - nosso principal desafio como cadeia produtiva.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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SAVIO

BARBACENA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 28/08/2009

Boa noite Marcelo;

Parabéns pela visão de futuro tão coerente com a nossa realidade.

Acredito que a partir do momento em que os crescimentos anuais da nossa produção interna nos colocar em uma situação de excesso permanente, independente da nossa sazonalidade, teremos que entender o que faz a diferença para exportarmos com rentabilidade. Evidencio alguns pontos a seguir:
Qualidade: Hoje somos muito vulreráveis às variações de câmbio e de preços externos mesmo tendo um custo relativamente baixo em comparação a diversas partes do mundo. Acho que essa vulnerabilidade existe porque ainda exportamos preço. Não somos referencial de qualidade entre os compradores internacionais, por isso entendo que deveriamos intensificar o treinamento de produtores e o monitoramento das indústrias com o objetivo de atingirmos o padrão desejado para nos tornarmos mais competitivos;

Marketing: O setor é ainda muito carente de estratégias para o aumento do consumo interno. O baixo consumo per-capita nos torna mais dependentes das exportações, e como exportamos preço sempre nos vemos desvalorizados em momentos de maior excesso de produção frente ao consumo interno.
Recentemente uma marca de bebida de soja lançou uma propaganda em horário nobre da principal emissora do país evidenciando que aumentou o teor de cálcio da bebida e que "seria", portanto, um substitutivo do leite, sendo mais saudável por ser de soja.

Pergunto então: Aonde estamos nós?

Produtores, industriais, representantes comerciais, fábricas de embalagens e insumos. Nós vivemos do setor e estamos aqui discutindo para onde a maré vai nos levar. Se promovermos nosso produto no mercado interno e aumentarmos que seja, 3% do consumo per-capita, acredito que vamos postergar por mais bons anos a necessidade de exportação constante e a qualquer preço. Estamos acostumados a ouvir: Vamos vender leite para a China ou, vamos vender para o Oriente Médio. Mas não ouvimos: vamos aumentar um copo de leite per-capita/dia no consumo interno.
Não temos uma representatividade de classe que nos permite captar uma importância financeira de cada elo da cadeia com o objetivo de marketing coletivo. Porque? Somos um setor de alto faturamento, grande participação no mercado, produção em quase todos os cantos desse país. Quanto representaria R$ 0,001 por litro de leite produzido, rateado entre Indústria e Produtores.

Acho que estamos amadurecendo, só o fato de termos esse espaço do MilkPoint para debatermos, liderados por um visionário como o Marcelo, já é uma grande evolução para um setor que ainda engatinha na busca por seu espaço e representatividade.

Que venham os dias melhores, e que não sejam por acaso, mas sim por merecimento.

Um abraço a todos;
Sávio Santiago

<b>Resposta do autor:</b>

Bom dia Sávio,

Concordo em 100% com seus comentários. Vou escrever hoje um artigo de continuidade a esse que você comentou e espero poder contribuir para esse debate que você tão bem levantou.

Abraço,

Marcelo
JULIANO ALARCON FABRICIO

FRANCISCO BELTRÃO - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/08/2009

Futuro do leite tem varios, mas uma verdade: Preço x Custo: preço e mercado não estão a nosso controle, mas custo sim; portanto, pensando em mercado nacional ou internacial temos que ter nosso custo o menor possivel, mas lembrarmos que o custo tem que estar associado com renda, porque custo sozinho não que dizer nada.
Abraço Marcelo.
CARLOS MARCELO SAVIANI

EM 06/08/2009

A velha questao de sempre: o preco do leite! Se olharmos para tras ele sempre se comportou desta forma, como uma teia de aranha, como em todos os casos de commodities de alta volatividade. Todos reclamam quando o preco esta baixo como agora, mas se esquecem dos excelentes precos de 2008.

O que o setor precisa sao de mecanismos de hedge, justamente para tentarmos achatar este sobe e desce para o produtor, tornando o preco mais estavel e previsivel. Marcelo, o setor nunca pensou em uma "bolsa do leite" na BMF, como temos com a carne?

Um Abraco,
Saviani

<b>Resposta do autor:</b>

Olá Saviani,

Obrigado pela mensagem.

O setor já pensou sim, há vários empecilhos, entre eles (o principal, acho) é que o setor não tem negociações diárias de leite. O spot é negociado a cada 15 dias e são poucos agentes. Acho que vai demorar para termos algo parecido com a carne, se é que teremos. Talvez haja alguma outra solução nesse sentido que você falou, diminuindo a incerteza futura, que é um problema crônico do setor.

Abraço,

Marcelo
FABIANA RODRIGUES BITTENCOURT DE SOUZA

PORTO VELHO - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/08/2009

É impressionante a nossa situação ecônomica na produção de uma matéria prima essencial para a sobrevivencia humana, pois todos nós crescemos e nos fortificamos atraves dela. O que será que aconteceria se todos os produtores de leite parassem de produzi-los, como seriam nossas refeições sem o leite, manteiga, doce de leite, o pudim, a coalhada e todos os outros pratos que sem ele não seriam mais feitos?

Nossas crianças com certeza seriam bem mais desnutridas e os adultos que sobrevivessem teriam os ossos como porcelanas - altamente delicados, e outras doenças mais. E assim nos dedicamos e as vezes até pagamos para a produzir o alimento mais nobre e barato da face da terra com amor que este deve ser enviado por Deus, pois é uma luta que não desistimos e lutamos com a esperança de um reconhecimento do valor real do nosso precioso leite. Acho que só se houvesse uma paralização de alguns meses de todos os produtores de leite do Brasil, nossos governantes conseguiriam enxergar o verdadeiro valor desta produção.

Agradeço a você Marcelo por todos os ótimos artigos escritos, os quais sempre nos concientizam do verdadeiro cenário da produção leiteira.

Abraço, Fabiana.
MARCOS ALEXANDRE SILVA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS

EM 27/07/2009

Oi Marcelo,
Concordo com você em suas ponderações. Mas tambem acredito que não dá para traçar nenhum planejamento, sem antes resolvermos as questões que afetam a produção. Nosso produtor de leite é na verdade um "apostador". Realiza investimentos na melhoria da produção e quando vai receber o pagamento por ela, descobre que mal cobriu os custos, ou nem isso. Entregar primeiro e só depois saber quanto vai receber é brincadeira. Não vai haver grandes surpresas, o produtor anda desconfiado para realizar grandes saltos. Pela importância social que a atividade representa, pela dedicação daqueles que devotam a vida para a produção de leite e melhoramento genético, acho sinceramente que merecem mais respeito do "mercado" e dos senhores políticos no poder.

Quem quiser uma produção leiteira crescente, capaz de exportar lácteos no topo do ranking mundial, deve botar primeiro na retina do produtor, um cenário de confiança e possibilidades de geração de receita na fazenda. Não há produção sem lucro e atividade estável. Eles (os produtores), já estão cansados de atirar no próprio pé. A partir daí, de políticas mais estáveis para "dentro da porteira", suas considerações devem surtir um efeito prático fantástico.

Abraço a você e seus leitores.
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/07/2009

Prezado Marcelo
Qual o futuro da economia? V ou W? Talvez WwWw? De fato ninguem sabe, e a única certeza é que teremos que conviver com uma realidade volátil, que exigirá das cadeias produtivas. Me parece perfeita sua colocação de que a única maneira de se preparar para uma conjuntura incerta e volátil é mirar no longo prazo, e se preparar para os cenários possíveis para que se possa ajustar o planejamento no sentido de minimizar os efeitos dos fatores incontroláveis que irão surgindo.

Você pergunta: aonde queremos de fato chegar? E  mostra que a partir da resposta a essa pergunta e de uma radiografia do setor precisamos definir as áreas prioritárias de ação para construir, a varias mãos, a nossa competitividade da cadeia produtiva, que é essencial para lidarmos com um futuro incerto e realidade volátil. Eu penso da mesma forma, e então pergunto: como fazer isso? A minha resposta a essa pergunta, que tenho colocado em vários artigos, é que precisamos de um grupo permanente e agil para podermos estabelecer uma política e planejamento do setor leiteiro adequada à realidade e volatilidade do nosso tempo, que permita ao setor leiteiro equilibrio e sustentabilidade econômica a todos os elos da cadeia produtiva.

No meu modo de ver esse grupo deve ser constituido com representantes do Governo, dos produtores, da indústria e do comércio, sendo que o papel do Governo deve ser de coordenação e mediação para que se possa harmonizar eventuais divergências e assegurar o equilibrio e sustentabilidade a todos os elos da cadeia produtiva, principalmente o da pecuária leiteira, que é o elo mais fragil mas a base para a competitividade de toda a cadeia.

Concordo com o Guilherme A. de Mello Franco que sem um apoio efetivo do Governo, que precisa assumir um papel de coordenação e mediação, e sem a conscientização dos produtores de leite e dos outos elos da cadeia, é muito provável assistirmos o holocausto da produção de leite nacional e voltarmos a ser grandes importadores de leite para abastecer o mercado interno. Temos outras resposta a essa pergunta: como fazer isso? Seria muito bom que todos que tenham resposta diferente coloquem na mesa para discussão, para que possamos escolher, no menor tempo possível, o caminho para que todos os elos da nossa cadeia produtiva de leite e derivados possam ter sustentabilidade e competitividade ao enfrentar um futuro incerto e de realidade volátil.

Grande abraço

Marcello de Moura campos Filho
Presidente da Leite São Paulo

<b>Resposta do autor:</b>

Olá Marcello,

Obrigado pelos comentários, realmente seria importante trabalhar as questões de longo prazo.

Grande abraço e ótimo final de semana,

Marcelo
RONALDO PEREIRA GUIMARÃES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/07/2009

O problema brasileiro crônico é a falta de entendimento das autoridades, não só dos problemas dos produtores de leite, mas de fundamentos básicos de administração. Então ficamos sempre à deriva, esperando por um futuro que ninguém sabe mais como será. Produtores de leite no Brasil, menos ainda.
Bom, de corrupção é bom nem falar...
LUCIANO DI CARLO BOTELHO DIAS

OURO PRETO DO OESTE - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/07/2009

Infelizmente, Sr. Marcelo, o nosso setor é cobra comendo cobra, não há interesse de união dos produtores, ficamos a mercê dos empresarios do leite; nós produtores não sabemos o que vale o nosso produto, nosso leite fica 50 dias nas mão do laticinio, ai quando chega o dia do pagamento do leite é que ficamos sabendo o que iremos receber por litro produzido.

Essa situação só vai mudar quando houver interferencia do governo, estipulando preço minimo do leite, de acordo com cada região, é claro. Assim nós produtores podemos nos organizar, assim sabemos o que temos em caixa. Esperamos, Marcelo, de pessoas como você e outras mais que estão no topo junto com outras pessoas que tem influencia no setor, que possam fazer alguma coisa para mudar isso. Se não houver uma união entre empresa e produtor, que é o dono da materia prima tanto descutida (leite), o
Brasil nunca vai ter uma produção estavel, nós produtores de leite somos pessoas empreendedoras, quando nosso produto está sendo valorizado nós investimos pesado, sempre querendo o aumento da produção; agora quando os preços estão lá embaixo a vontade é de abandonar tudo e mudar de atividade.

Espero que vários produtores parem e analisem o que falei, a união faz a força, nossos politicos que estão na bancada ruralista, que a maioria é produtor, façam alguma coisa para o setor. O setor leiteiro é responsável por varios empregos em nosso país, direta e indiretamente.
EDMAR RAIMUNDO DOS SANTOS SILVA

CURVELO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/07/2009

Quando o assunto é preço pago ao produtor, diversas opiniões surgem e, assim sendo a minha é: Na década de 80 um litro de leite na padaria, um litro de gasolina na bomba e uma cerveja no bar tinham preços praticamente iguais. Com o tempo, a mudança foi acontecendo e hoje tá onde está. Um litro de leite ao produtor vale o equivalente a um litro de óleo queimado. (lixo que não há onde descartar).

Entretanto, outros fatores devem ser considerados. Quanto à cerveja e à gasolina, são produtos com alta taxação (impostos) e a grande diferença vai ao Governo. Quanto às cooperativas, acredito que sofrem tanto quanto nós produtores. Umas ganham mais, muito mais, mas convenhamos são extremamente eficientes. Outras em situação difícil, suas diretorias sofrem, se não financeiramente, sofrem na opinião pública.

Isto posto, vamos ao meu ponto de vista quanto ao causador do incansável problema do leite no Brasil. Conhecem pessoas que não sabem ao certo o que fazer com dinheiro, não têm limite, vivem às custas de "atos secretos", "lavagem de dinheiro" etc, etc. Me perdoem aqueles que se enquadram aqui, mesmo porque não sou especialista e posso estar "redondamente" enganado, não quero e nem tenho a pretensão de em algum momento ser o "descobridor" de um problema tão complexo, mas repito, é apenas minha opinião. Pois vai, aqueles indivíduos em determinado momento compram um grande número de animais, investem alto, produzem muito e o mercado não absorve o excesso, aí vem a queda de preços, aí as pessoas saem como entraram, "às escuras", e/ou criam vacas como animais de estimação, como terapia.

O Governo jamais vai contra este procedimento, pois o preço baixo em certos momentos é benéfico e estratégico. Há grandes produtores em situação difícil e há grandes produtores que nada os afetam. Em tempo. Lembro que há também pessoas comprometidas com o setor e há exceções em minha citação.
NELSON JESUS SABOIA RIBAS

GUARACI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/07/2009

Marcelo
Pelo seu artigo entendi que o 7o Congresso Internacional do Leite não trouxe nada de novo, mais uma frustação.
Sua analise, no artigo, me parece verdadeira, não existe "Planejamento Estratégico" para o setor do leite, somente existe reação a fatos ocorridos, não existe interesse de se definir aonde e como queremos chegar, acho que é porque o segmento é composto de um % muito alto de pequenos "extratores" de leite, que sobrevivem esgotando todos o pequenos recursos de seus rebanhos e de suas terras, claro que a médio prazo eles param e aí entram outros e assim o ciclo vai rodando e a produção do Brasil é sempre maior do que o mercado pode absorver, e aí vem os baixos preços.

Me parece que só teria futuro a atividade se o governo tivesse algum interesse em fiscalisar a qualidade e eliminar aqueles que compram leite "in natura" fora de padrões mínimos de qualidade. Não dá para competir com produtores que não aplicam as tecnologias basicas para uma produção sustentável.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Nelson,

O debate foi sim interessante, mas no sentido de expor os problemas mais do que as soluções. Já é um começo.

Abraço,

Marcelo
NELSON JOSE DANTAS COLEN

TEÓFILO OTONI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/07/2009

Fico extremamente assombrado quando leio sobre as perspectivas sobre o futuro do leite no Brasil. È realmente assombrador comparar o preço do litro de leite e ver que vale menos que uma garrafa de 1/2 litro de agua mineral, menos que um cafezinho, menos que uma dose de pinga e por aí vai. Agora com o cambio caindo certamente haverá uma avalanche de ofertas de leite importado desembarcando no Brasil. E nós produtores, com um custo de produçao nas alturas, mendigando por alguns centavos às nossas cooperativas e compradores enquantos as mesmas enchendo seus cofres com o abuso de preço ao consumidor.

Mas, pensando bem, quem está sendo abusado, nós produtores que recebemos R$ 0,68 por litro ou o consumidor que está pagando R$ 3,00 nos supermercados. Até quando esse sofrimento?
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/07/2009

Prezado Marcelo: Eu estava inscrito no VII Congresso Internacional do Leite, mas, por problemas profissionais, não pude comparecer. Queria muito conhecê-lo, trocar ideias, pessoalmente. Mas, infelizmente, não foi possível, desta vez.

Quanto ao seu novo e brilhante artigo, divirjo da opinião do empresário indiano, Ramalinga Raju, pois o futuro, pelo menos para nós, produtores de leite brasileiros, continua o mesmo, ou seja, inexistente, desde que mantidas as ideologias que comandam o mercado interno, as políticas mercadológicas que desprezam o preço mínimo e não oferecem condições oficiais para a elevação dos níveis de produção. Todavia, Philipe Kotler foi preciso ao dizer que "quando tínhamos as respostas, mudaram as perguntas". É assim que sempre nos sentimos, quando o assunto é pecuária de leite, no Brasil. Custamos a aprender a responder o que nos falta no setor e quando, finalmente, achamos a resposta, a pergunta já se nos afigura nova, indecifrável como o enígma da esfinge, antes de Édipo.

Finalmente, "construir a competitividade" será o mesmo que malhar em ferro frio, sem o apoio das autoridades constituídas, sem a conscientização do produtor de que precisa reagir, sem a certeza de que se tudo se mantiver como está, não haverá mais o que dizer, porque o silêncio das porteiras lacradas, tal como nos filmes de ficção científica, será o símbolo do holocausto da produção nacional.

Um grande abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

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