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Benchmarking na produção de leite

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 05/09/2011

7 MIN DE LEITURA

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No mês de agosto, tive a oportunidade de participar do evento Benchmarking 2011, promovido pela empresa de consultoria Exagro (www.exagro.com.br) para seus clientes.

De acordo com a Wikipedia, "Benchmarking é simplesmente o método sistemático de procurar os melhores processos, as idéias inovadoras e os procedimentos de operação mais eficazes que conduzam a um desempenho superior" (Christopher E. Bogan).

No caso específico da Exagro, a ideia foi mostrar os melhores resultados obtidos por seus clientes, no intuito de estimular a reflexão a respeito do porquê das diferenças e, ao mesmo tempo, gerar estímulo para que todos possam evoluir, atuando nas áreas em que estão mais fracos do que a média.

O gráfico 1, mostrado pela consultoria, exemplifica a utilização do benchmarking em relação à variável "lucro/ha/ano". As barras azuis representam uma fazenda cujo resultado no ano anterior foi de R$ 100/ha/ano, e cuja meta para o ano corrente é R$ 120/ha/ano. Ao finalizar o ano, a fazenda apurou R$ 130/ha/ano, superior, portanto, à média e 30% acima do ano anterior. A princípio, um ótimo resultado.

Mas esse índice é realmente bom? Um primeiro ponto a analisar é que essa variação pode não ter sido decorrente de uma melhoria gerencial efetiva da propriedade, ou da evolução de índices técnicos, mas simplesmente fruto de um ano melhor para a atividade, com preços mais elevados ou relação preço do leite/custos mais favorável. São fatores que a propriedade não controla, ou pouco controla.

Um segundo ponto é que, estando as atividades agrícolas em geral operando em algo próximo ao que se chama de "concorrência perfeita", as barreiras de entrada inexistem e os lucros tendem, na média, a zero, isto é, são suficientes apenas para remunerar o empresário (obs: para uma boa definição sobre Concorrência Perfeita, clique aqui. Desta maneira, é fundamental conhecer sua posição no mercado para saber se, no longo prazo, seu negócio corre risco à medida que os menos lucrativos tendem a sair do mercado.

A comparação com a barra verde claradá uma outra visão sobre aquilo que, à princípio, parecia bom: a média das fazendas que participam do programa lucra quase 3x mais do que essa propriedade, sugerindo que ela é bem menos eficiente em relação a esse parâmetro do que inicialmente se sugeriu.

Por fim, a comparação pode ainda ser feita com a melhor propriedade da amostra, cujo lucro por área é 9x maior. Nesse caso, a comparação tem o mérito mais de mostrar como estão os melhores do que precisamente aonde se pode chegar, uma vez que as características das propriedades são diferentes, principalmente se estão em regiões muito distintas (área, solo, topografia, clima, etc).

Gráfico 1. Benchmarking 2011 (Fonte: Exagro)
 

 


Para consultores, pesquisadores, formuladores de políticas públicas, empresas de insumos e laticínios, a análise de benchmarking serve a um propósito ainda mais amplo: ao permitir que se conheça e se relacione práticas e tecnologias a resultados, é possível passar da teoria à prática na recomendação de sistemas de produção e tecnologias para determinadas regiões, desde que se tenha uma boa base de dados (amostragem considerável e dados corretos). Por exemplo, se o benchmarking indica que produtores que utilizam irrigação de pastagens têm resultados consistentemente superiores aos que não utilizam, pode-se recomendar essa prática de maneira mais segura.

É possível, também, comparar regiões em relação à competitividade. O IFCN, International Farm Comparison Group, faz isso na Alemanha, comparando produtores de diversos países, todos os anos, com a mesma metodologia aplicada (https://www.ifcnnetwork.org/en/start/index.php). No Brasil, o uso mais amplo da técnica do Benchmarking permitiria conhecer de forma mais precisa as diferenças entre regiões, orientar projetos estruturantes em locais que apresentam deficiências e mesmo definir por investimentos em novas fábricas, em regiões mais competitivas.

Ainda, para estes agentes, a técnica permite que se compare a lucratividade da atividade leiteira com outras atividades agrícolas, tendo como base o lucro por hectare, que mede a eficiência com que o principal recurso investido na propriedade - a terra - é utilizado para geração de dinheiro. Essa comparação é muito importante à medida que surgem alternativas atrativas para se explorar a propriedade. Conforme apresentado pelo produtor Roberto Jank Jr., no Interleite 2011, o arrendamento para cana-de-açúcar em São Paulo atinge hoje US$ 625/hectare, contra US$ 180 em 2003, colocando grande pressão sobre a atividade leiteira. O benchmarking auxilia, com isso, a se ter uma visão mais global da atividade, do potencial em cada região e dos riscos que se corre mesmo que a atividade seja lucrativa (para uma análise recente sobre o leite em Goiás abordando o custo de oportunidade, clique aqui).

A tabela 1, reproduzida abaixo, mostra como as 3 melhores propriedades do sistema utilizado pela Exagro se comparam a outras atividades. No caso específico, o leite tem remunerações próximas ao milho de alta tecnologia e ao algodão, ficando à frente da soja e da recria/engorda de gado de corte.

Tabela 1. Leite x outras atividades (Exagro)

 

 



Analisando as correlações entre diversas variáveis e o lucro, há dados interessantes, ainda que o número de fazendas no sistema seja relativamente baixo para que tenhamos uma análise mais completa. O total de vacas no rebanho, por exemplo, teve correção de apenas 0,20 com o lucro por hectare, com tendência de rebanhos maiores terem menor resultado do que rebanhos menores. Essa correlação foi a mesma verificada quando se comparou a área - com propriedades maiores tendo resultado levemente pior do que as menores.

O preço do leite, variável sempre considerada muito relevante, teve correlação de apenas 0,22, com uma variação levemente positiva em direção a preços mais elevados (figura 2).

Figura 2. Relação entre preço do leite e lucro/ha/ano (Fonte: Exagro)

 



Um aspecto interessante apresentado pela Exagro foi a baixa correlação de diversos fatores em relação ao lucro, gerando uma possível frustração na análise. Isso ocorre porque são muitas as variáveis envolvidas na atividade e, em uma análise como essa, não é possível variar uma, mantendo as demais estáveis. Por exemplo: a resposta a essa variável seria bastante diferente se a pergunta fosse: "Considerando tudo o resto igual, fazendas com preço do leite mais elevados são mais rentáveis?".

Em função disso, talvez os dados pudessem ser tratados estatisticamente de outra forma, mas como não sou especialista em estatística, deixarei essa questão em aberto.

De volta às correlações, o custo de produção por vaca/anoteve correlação um pouco superior, 0,34, embora ainda bastante baixa. A maior correlação entre custo por vaca e lucro do que preço e lucro provavelmente ocorreu provavelmente por dois aspectos: i) a amplitude de valores para o custo por vaca foi muito mais ampla do que em relação ao preço recebido; ii) custo por vaca está atrelado a produtividade por vaca. Nesse ponto, é interessante notar que quanto maior o custo por vaca, maior a lucratividade, o que está logicamente relacionado a maior quantidade de leite produzido.

Outros parâmetros com correlação superior: % de vacas em lactação (0,46), produção de leite por vaca/dia (0,52) e, curiosamente (por se tratar de algo pouco pesquisado), tempo de vida do projeto, com 0,54, indicando que projetos mais maduros tendem a ter resultado superior (figura 3). Nesse ponto, podemos fazer uma correlação com o que foi visto no Interleite 2011, que abordou 19 estudos de casos de fazendas de destaque, ficando evidente que o longo tempo médio de casa do funcionário, um parâmetro indiretamente ligado ao tempo do projeto, é uma característica marcante destes projetos (veja mais).

Figura 3. Relação entre tempo do projeto e lucro/ha/ano (Fonte: Exagro)

 



O trabalho da Exagro é bastante interesse e se tornará ainda mais quando o número de fazendas aumentar, dando mais consistência às análises.
De uma forma mais conceitual, a análise de benchmarking é uma ferramenta de grande valia para gestores e para todos os envolvidos na atividade. No entanto, é muito pouco utilizado pelas fazendas. Entre as razões, apontaria:

- Ter os dados: é preciso ter dados consistentes, caso contrário, não há como submetê-los a um processo de comparação; são relativamente poucas as propriedades que controlam os dados econômicos; Esse ponto está relacionado ao segundo aspecto:

- Baixa ênfase em gestão: tenho notado, ao longo dos anos, que temas técnicos sempre dão mais "Ibope" do que temas gerenciais, seja em artigos no site, seja em palestras em eventos. O benchmarking é, antes de tudo, uma ferramenta gerencial e, como todas elas, não tem tido ainda o devido reconhecimento do seu público-alvo. Isso certamente irá mudar à medida que o setor deverá passar por um intenso processo de profissionalização;

- "Medo" de ceder os dados: em se tratando de dados estratégicos da propriedade, é possível que muitos produtores tenham receio em disponibilizar estes dados para terceiros, ainda que as informações nunca sejam inidividualmente disponibilizadas, salvo se autorizadas.

Por fim, uma última observação importante sobre o benchmarking: as propriedades precisam ser analisadas por uma mesma metodologia, caso contrário o benchmarking não gerará dados confiáveis.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 28/05/2012

Obrigado, Davi!
DAVI CORREIA FREITAS

OUTRO - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/05/2012

Marcelo, parabéns pela capacidade de sintetizar a "antes" complexa atividade leiteira. Utilizando o benchmarking, você pôde comparar diversos sistemas de produção de leite nos aspectos estratégicos. Parabéns a Exagro e ao profissionalismo dos produtores que disponibilizaram as informações.
ANTONIO CARLOS DE AVILA ANDRADRE

OUTRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/09/2011

Marcelo, parabéns pelo excelente  trabalho,seus artigos são referencia para produzirmos leite em Campos Altos Mg.Voce realizou uma palestra aqui no último encontro de produtores rurais.Espero que volte breve.Estive com você recentemente no hotel IBIS em Belo Horizonte.Abraços-Antonio arlos de Ávila Andrade-Produtor de Leite-Campos Altos MG

<b>Obrigado Antonio Carlos, foi um prazer encontrá-lo em BH!
Grande abraço,
Marcelo</b>
JÚLIA D. LIMA DIAS

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/09/2011

Parabéns ao Milkpoint pelo artigo! Como profissional da gestão técnico-econômica de fazendas torço para que assuntos como esse tenham cada vez mais espaço. Nos do Educampo temos o privilégio de contar com uma grande e confiável base de dados e fornecemos ao nosso produtor uma metodologia consolidada e que vem sendo aplicada no campo e constantemente aprefeiçoada a mais de uma década. Acredito muito neste projeto que trabalho! Abraços a todos.  
JOSÉ MARIA SOLIS

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/09/2011

Marcelo,


Excelente artigo. Comparar dados nos situa. Um ponto que acrescentaria é o da longevidade do rebanho, que seguramente melhora parâmetros.


JMSolis


Vazante-MG
CEZAR PIMENTA GUIMARÃES

PONTA GROSSA - PARANÁ

EM 11/09/2011

Marcelo, mais uma vez agradeço seu empenho em inovar e despertar conceitos. Você reconhece que assuntos gerenciais não desenvolvem IBOPE, mas desenvolvem o futuro.  Como podemos alterar o quadro de concorrencia perfeita para elevar nosso patamar de preços. Nos ultimos trinta anos ou ate quarenta anos, o negocio leite só tem ficado para tras ( em preço) em comparação com mercadorias oriundas do campo, na area de alimentação, como para serem utilizadas em energia. Lembro do tempo em que 1 litro de leite adquiria um litro de gasolina, apos decada ficou adquirindo 1 litro de diesel, hoje, só adquire meio litro de diesel. Comprei 2a 3 kg de açucar com um litro de leite, a não muito tempo,  hoje preciso de quase dois litros de leite para um kg do mesmo açucar.  O que esta ocorrendo? melhoria de produtividade??ou falta de inteligencia??
RICARDO GONZAGA GONÇALVES MALHEIROS

CURVELO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/09/2011

Prezado Marcelo, vejo com muita satisfação seu editorial. Satisfação dupla, porque vejo coroado meu trabalho de mais de 30 anos à frente da fazenda Guará, campeã deste banchmarking Exagro. Estou no município do Morro da Garça-MG, próximo a Curvelo, e terei muito prazer em recebê-lo aqui, na fazenda, para conhecer nosso trabalho, balisado na simplicidade e eficiência. Abs.Ricardo Malheiros.
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/09/2011

Prezado Marcelo: Brilhante análise. Para destacar dois só de seus grandes pontos, aparto, da integralidade do texto, as afirmativas de que há uma  "tendência de rebanhos maiores terem menor resultado do que rebanhos menores" e "quanto maior o custo por vaca, maior a produtividade". Com relação à primeira premissa, posso dissertar sobre a mesma com toda a propriedade, porque venho constatando e pregado sobre este fato há anos. Num rebanho reduzido, a possibilidade de segregação genética é muito maior e o resultado deste nicho é a produtividade quase uniforme dos indivíduos, o que permite a seleção mais apurada de todo o rebanho, para manter as taxas de produção homogêneas e elevadas. No nosso caso, a média é de 46,5 litros/animal/dia, com um rebanho de vinte e oito indivíduos em lactação. Se nosso rebanho fosse maior, por exemplo, como o do amigo Roberto Jank Júnior, da Agrindus S/A., o segundo maior produtor de leite do Brasil, citado no texto, dificilmente (para não dizer impossível) poderíamos manter uma média tão elevada e verificaríamos a queda em quase metade desta produção, porque a diversidade de famílias e indivíduos fadaria ao insucesso a empreitada. No que diz respeito à segunda afirmativa, a mesma situação se verifica, já que o custo de uma vaca está intimamente ligado à sua produção, já que vacas de lactação abaixo de quinze litros apresentam custo operacional muito menor, mas, em compensação, seu marginamento de lucro é em proporção idêntica, a ponto de podermos afirmar que não compensa criar vacas de leite com estes níveis de produção. Ouso, todavia, divergir sobre a fala que determina que esta relação está intimamente ligada à quantidade de leite produzido, por entender que, também, esta estreita simbiose se agrega ao valor genético do animal porque, nos dias atuais, em que se persegue a vaca ideal ("true type"), quanto mais apurada sua composição racial maior o seu preço de mercado. Por lado outro, nunca é exarcebado afirmar, a vaca intocável nem sempre é a padrão, eis que existem dois grandes veios na criação de gado de leite: a pista e a produção. Para os que agregam valor, como nós, para os animais de estampa (pista), mesmo não produzindo mais que as outras, a vaca ideal é a que traz em si, perfeitas, as caracterizações raciais definidas pelos grandes concursos - é, mal comparando, uma "miss". Já os que procuram, apenas e tão somente, produtividade, aquela fêmea magra, ossuda, corcunda, sem quaisquer atributos de beleza, mas que produz cinquenta litros/dia é a que enche aos olhos.


Um abraço,


GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO


FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG
ROSÂNGELA ALVES FONSECA

LAVRAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/09/2011

Muito bom o artigo. Um projeto do Sebrae, o Educampo também funciona desta maneira, fazendo a comparação entre as fazendas que participam. Como fornecedora da Danone fui contemplada com esta oportunidade. Muito bom!
RICARDO SILVA

CATANDUVA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/09/2011

Marcelo, parabéns pelo excelente texto!!!


Este tema é poucas vezes abordado na área técnica e expressa o que a prática tem nos mostrado no Projeto de extensão rural da Secretaria da Agricultura de São Paulo, o CATI Leite!!!


Os resultados de lucratividade por ha/ano são superiores em propriedades menores e os melhores resultados aparecem com a experiência do produtor na atividade, depois de 3 ou 4 anos... tempo que muitas vezes os entusiastas ou aventureiros não suportam esperar e saem da atividade dizendo que leite NÃO DÁ DINHEIRO!!!

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