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Aprendendo a lidar com o sucesso

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 27/07/2007

6 MIN DE LEITURA

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• O Steegro, um dos principais grupos de produtores da Holanda, deixou a empresa Bel Leerdammer para criar uma empresa que venderá leite refrigerado no mercado spot, com a perspectiva de receber de 20 a 50% a mais;

• Um grupo de 150 produtores que vendia seu leite a trading Hoogwegt criou a empresa NoorderlandMelk, com 95 milhões de litros vendidos a diversos processadores;

• Na Alemanha, 500 produtores (185 milhões de litros anuais) que forneciam leite para a cooperativa holandesa Campina romperam o contrato de fornecimento, aproveitando a cláusula de aviso prévio de 180 dias, sem ônus. A maior parte mudou para um concorrente que pagava melhor;

• As empresas que investiram em pesquisa e inovação e no estabelecimento de marcas fortes lucram hoje menos do que quem trabalha com commodities: leite em pó, manteiga, mesmo leite spot;

• A possibilidade de lucro fácil no curto prazo, baseado em commodities, dificulta o investimento em pesquisa e desenvolvimento, tido como importantes para a competitividade futura.


Considerando que estamos falando do estável e controlado mercado europeu, não é preciso muito para entender que o mundo está realmente de cabeça para baixo, passando por um momento cuja intensidade ninguém poderia prever.

Fica fácil também transportar essa situação para o mercado brasileiro, historicamente muito mais volátil do que o europeu. De maio para cá, os preços subiram a níveis até então impensáveis, especialmente produtos cujo valor sempre fora baixo: leite longa vida, leite ao produtor, queijos commodity e leite em pó.

Os preços geram, entre os agentes da cadeia, avaliações distintas. Há os que vêem a situação como a redenção final, um reparo histórico de prejuízos e margens apertadas, o reconhecimento do valor do leite após anos de trabalho árduo e frustrações. Há os que vislumbram um novo cenário futuro para a produção de alimentos, calcado na "agroinflação": a destinação de grãos para a produção de energia e a forte demanda em países emergentes vão encarecer os alimentos entre 30 e 50% na próxima década, acabando a era do alimento barato, como disse recentemente a Nestlé mundial.

Há, no entanto, os mais cautelosos, que analisam a situação atual como uma coincidência de fatores conjunturais (seca na Austrália, enchentes na Argentina, dólar desvalorizado, demanda aquecida) que inflam essa nova realidade e nos fazem perder um pouco a exata noção de onde deve parar esse mercado. Aspectos conjunturais não têm vida longa: face aos novos preços, haveria estímulo à produção de leite no mundo, recolocando tudo em seus eixos. De fato, a Nova Zelândia teve aumento de 3,0% nessa safra e a expectativa é de novo aumento para a safra que se inicia. Na Austrália, a safra 2006/07 foi 7% menor do que a passada, mas já se fala em aumentos de 2 a 3% nessa nova safra, dependendo das chuvas trazidas pela La Nina. Estados Unidos e Europa podem também verificar aumentos, tornando a escassez de leite bem menos pronunciada do que hoje. Isso se não houver antes desaquecimento da demanda, que não assimilaria preços de lácteos duas vezes acima da média dos últimos anos.

No âmbito interno, os cautelosos entendem que teremos muito leite a partir de outubro, visto que o estímulo de preços é inegável. Também, apostam que o consumidor não vai assimilar ad eternum os preços altos e que devemos esperar alta volatilidade nos meses seguintes.

Talvez cada um tenha um pouco de razão nessa história. A maior parte dos analistas e empresas trabalha com a possibilidade de estarmos realmente diante de um novo patamar de preços de alimentos. O leite, por ser um dos produtos mais subsidiados e protegidos do mundo e por ter seu consumo atrelado bastante à renda nos países emergentes, deverá ser dos que mais se beneficiarão desse novo contexto. E, nesse aspecto, a oferta pode ser cronicamente escassa no mundo. Garantir matéria-prima é um dos principais desafios para poder crescer, pois mercado, aparentemente, vai ter.

E as empresas brasileiras parecem ter percebido e a corrida do ouro, ou do leite, já começou. Nos últimos 2 ou 3 meses, tivemos mais movimentação entre empresas do que nos 2 ou 3 anos anteriores. A Avipal é uma das principais protagonistas: arrendou a CCL em Itumbiara e está tendo seus produtos distribuídos pela cooperativa paulista; anunciou uma nova fábrica em Juiz de fora; mudou a razão social e buscará s fortalecer no mercado de ações. A Perdigão é outra que desponta. Com a aquisição e crescimento da Batávia, os lácteos já representam quase 20% do faturamento da empresa, que anunciou nesses dias a intenção de exportar leite em pó para o mercado externo (olha aí a commodity novamente...). A Parmalat, ressurgida das cinzas, anunciou nesta semana o arrendamento da cooperativa de Frutal e vem falando da construção de uma fábrica no Ceará e do impulso a fábrica em Garanhuns, Pernambuco, além de um novo formato de parceria com produtores, ainda não anunciado publicamente, mas que, segundo publicado na mídia, traz características de integração. A gaúcha Bom Gosto adquiriu recentemente a mineira DaMatta; a Danone tem planos de dobrar a captação de leite nos próximos anos. Fora isso, o setor está cheio de boatos, fruto dessas movimentações recentes, após anos de certo marasmo.

Sempre que há mudanças significativas no cenário dos negócios, as relações de força podem mudar de mãos. Podem se dar melhor os mais ágeis, os que perceberem o caminho antes dos outros e os que souberem como arriscar. E há indícios de que estamos diante de um desses momentos de ruptura.

Porém, não devemos nos deixar enganar. Há, sim, aspectos conjunturais atuando para definir os preços no mercado internacional e internamente. A oferta de leite no mercado interno está ajustada, como escrevemos no último panorama de mercado. Estados importantes, como Minas Gerais e Goiás, estão com situação ainda mais delicada. Com os atuais preços e com chuvas, a produção vai aumentar. Resta saber se conseguiremos exportar todo esse leite para manter os preços internos. Pelo menos, as perspectivas no mercado externo permanecem boas, em termos de valores.

Sem dúvida, há aspectos muito positivos desse reordenação de preços, como o estímulo aos investimentos no setor e, fundamentalmente, a perspectiva de crescimento e de sustentabilidade econômica da atividade. Porém, há aspectos preocupantes. Um deles é o foco no curto prazo (ex: produtores europeus rompendo contratos com cooperativas para vender no spot), com o intuito de surfar a onda de preços e a inversão de valores, com produtos commodity dando mais lucro do que produtos mais elaborados, com efeitos ruins de longo prazo para o setor, uma vez passada a euforia. Outro é a menor ênfase em qualidade do leite em um momento em que obter matéria-prima é o principal objetivo.

Paradoxalmente, a recuperação de preços e o possível novo patamar trazem elementos que estão na contramão do que se espera em relação ao desenvolvimento do setor. O momento atual deve, sim, ser aproveitado, mas construindo as bases para o futuro: criação do fundo de marketing institucional, intensificação da fiscalização contra fraudes, análise da viabilidade de um fundo para eliminação de rebanhos, para momentos de super-oferta, implantação de mercados futuros para lácteos (pode ser importante se considerarmos que volatilidade será a palavra de ordem no mercado).

Lembro-me do que falou outro dia um dirigente da indústria láctea britânica: anos e anos de crise deixaram a indústria altamente eficiente e competitiva, preparada para competir no mercado. De fato, o sucesso tem seus percalços. Como bem colocou Victor Hugo, "Resiste-se melhor à adversidade do que à prosperidade". Sabemos lidar com as intempéries e as dificuldades, mas agora temos de aprender a lidar com o sucesso.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCELO TAVARES PINHEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RIO DE JANEIRO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 08/09/2007

Sem querer parecer pessimista, penso que preços elevados não representam o que de melhor pode acontecer aos produtores de leite. Pois, sempre que há aumento tão acentuado de preços, como o recentemente ocorrido, vários "oportunistas" querem entrar para o ramo.

Isto gera grande desbalanço no mercado com o aumento desordenado da produção. Além do mais, leite é um produto muito sensível, de modo que elevação de preços acaba por acarretar redução da demanda.

Sendo assim, quem não tiver estrutura para se beneficiar da demanda internacional por leite em pó, principalmente, ou da produção de queijos de alto padrão para atender a nichos de mercado, poderá em curto espaço de tempo amargar novas dificuldades.
FERNANDO APARECIDO BARBOSA GUIMARÃES

PRESIDENTE VENCESLAU - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/09/2007

Parabéns, excelente material.
FERNANDO ANTONIO DE AZEVEDO REIS

ITAJUBÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/08/2007

Cuidado com a empolgação pelos preços praticados, aproveitem este momento de bom preço para avançar com seu negócio leite a um novo patamar, crie melhor suas bezerras e novilhas para um futuro aumento na escala de produção.

Mas sempre se lembre daquela passagem bíblica, os 7 anos de vacas magras e os 7 de vacas gordas. Invista em seu negócio, mas seja cauteloso.
JOSÉ CARLOS SEREIA

NOVA TEBAS - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/08/2007

Dlembrar aos amigos leitores que ano após ano estamos agonizando, com crises que vem e vão.

Nasci na atividade e também me formei na mesma, ao qual desempenho com competência. Agradeço a meu pai por ter me dado uma base sólida, pela qual me fez suportar tanta crise. Sempre com paciência e cautela, sem a qual já teria desistido, mas está no sangue (o leite) .

Vieram tantas ondas como por exemplo a soja, fumo, suínos, avestruz etc... e assim como vieram, também se foram. Acho que chegou a nossa hora de acertar a conta com esse sistema que só nos explorou e nos dar o devido valor que merecemos, pois mexemos com um alimento tão nobre que satisfaz as necessidades nutricinais de crianças, jovens, adultos e idosos. Nada mais coerente do que receber o devido valor.

Abraços,
José Carlos
OTAVIO A C FARIAS

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 30/07/2007

Prazado Marcelo,

O título da matéria é muito apropriado, considerando o momento do setor lácteo local e mundial.

O Brasil sempre viveu as dificuldades do setor, de se operar num mercado mundial subsidiado, o que por um lado beneficiava o consumidor final brasileiro com preços artificialmente baixos e, por outro lado, afetava diretamente o produtor local que tinha um "teto" de preços estabelecido (distorcido) por esse mercado subsidiado. Agora o produtor comemora e o consumidor paga o precos mais altos já vistos nas gôndolas... é um <i>trade-off</i>.

De fato agora é tempo de se lidar com sucesso - o sucesso resultado da redução a zero dos subsídios na União Européia à exportação de lácteos, da alta histórica de preços mundiais das commodities e, por conseqüência, alta histórica de preços no Brasil. Essa euforia já traz uma corrida de investimentos, fusões, aquisições e mais adiante espera-se uma corrida de investimentos diretros externos no setor brasileiro.

A corrida de investimentos levará a uma demanda forte no campo, demandando do produtor agilidade em lidar com esse sucesso todo.

Haverá dificuldades dessa euforia - além dos destratos e rearranjos comerciais havidos na Europa e outros no mercado de commodities por conta da escalada vertiginosa dos precos, há uma dificuldade potencial futura que alguns podem nao estar considerando: diversos investidores estão correndo para o leite em pó, para expansao das linhas queijo, expansão das linhas de UHT - isto futuramente pode frustrar a atual euforia, se houver uma super oferta local e que, por circunstâncias de mercado, não seja rapidamente escoada para o mercado mundial.

Isto demanda desenvolvimento de mercados e de nichos tanto no Brasil como no mercado mundial.

Hoje, em tempos de euforia, a indústria tira pedidos aguardando o "<i>best bidder</i>" oferecer melhor preço de compra. Passada a euforia, com um parque industrial ampliado, o Brasil precisará ter agilidade comercial em escala mundial, além de travar acordos bilaterais e sanitários permitindo mais acesso a mercados mundiais.

Obrigado,

Otavio A. C. de Farias
ALLIANCE COMMODITIES
JOSE EDUARDO JUNQUEIRA FERRAZ

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/07/2007

Cautelosos? Porque, ao logo destes últimos anos coseguimos conviver com leite tabelado, dentro de um regime de ditadura, quando emprobecemos e ficamos à mercê de empresas sem idoniedade moral e financeira, ora.

Sendo bastante realista, quem coseguiu ficar no mercado até agora sob duras penas, temos que acreditar no mercado interno e externo e produzir mais, com melhor qualidade e com menor custo de produção, e temos certeza de que depois da tempestade vem a bonanza. Esperamos que daqui a algums anos estejamos lembrando o quanto apredemos com as dificuldades que passamos. Se fôssemos falar, gastaríamos todos os caracteres desta sua reportagem e não daria.

Estamos també, aguardando a vinda para a região da mata mineira uma empresa austríaca de biocomustíel, e teremos nova alternativa de produção.

José Eduardo Junqueira Ferraz
CLEMENTE DA SILVA

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 28/07/2007

Marcelo, parabéns pelo relato. El niño e La niña, (o menino e a menina) são muito mais velhos que possamos imaginar e já foram responsáveis pela dizimação de muitas nações e civilizações inteiras mundo a fora, como no caso do caos egípcio no oriente médio e dos Maias na América Central, entre outras que não temos comprovação científica, mas que segundo relatos nos dão idéia de que foram de responsabilidades desses dois velhos meninos.

Naquelas épocas, intempéries como secas ou excesso de chuvas dizimavam civilizações com muita facilidade face às dificuldades de comunicação e de locomoção, além da falta de conhecimentos e tecnologias de tratammento de resíduos como esgotos e outros resíduos, prevenção de doenças endêmicas advindas desses fenômenos, que comprometiam em muito integridade e saúde de grandes populações.

Hoje temos recursos incríveis como informações que atravessam o mundo em poucos minutos, temos alta tecnologia em muitos setores de atividades para melhoria da produção e preservação de meio ambiente, saúde, etc, etc.

Temos capacidade de aumentar produção seja de que for em pouquíssimo espaço de tempo, enfim, estamos preparados para atender demandas imensas e também intempéries como a que assolou a Austrália no ano passado.

Hoje o mundo tem uma população faminta de cerca de seis bilhões de habitantes, mas por incrível que pareça, somente agora, estamos descobrindo que o leite é um dos principais alimentos e dos mais completos e baratos para atender as necessidades alimentares em qualque faixa etátria.

Há entretanto um fator que ninguém está se dando conta nesse contexto, ou se estão, fecham os olhos, já que as conseqüencias virão a se manifestar a longo prazo.

Estamos aumentando produções de alimentos de origem animal no mundo inteiro, mas vejo pouca gente falar em tratamento de resíduos e preservação do meio ambiente não só no que tange a degetos orgânicos que são despejados na natureza a cada minuto, como a contaminação do ar por gases tóxicos produzidos por industrias, seres humanos, aminais e seus degetos.

Se você der uma voltinha no oeste catarinense, no Rio Grande do Sul ou na sregiões das cooperativas do Paraná, onde há uma grande concentração de granjas avícolas, suínas e estábulos leiteiros em dias quentes de verão, sentirá com certeza os efeitos desse fenêmeno na pele; ou melhor... no nariz.

Sem dúvida o que está acontecendo no mercado do leite e da carne nesse momento, é muito gratificante, para o já muito sofrido produtor brasileiro.

Entrtanto, há que se criar mecanismos de controle para o meio ambiente e saúde pública, se não quisermos terminar um dia como as antigas civilizações, apesar da tecnologia da qual dispomos.

Abraços,
Clemente

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