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Abrindo a caixa-preta da nossa competitividade (parte 2)

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 08/09/2009

9 MIN DE LEITURA

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No artigo anterior, comentei a respeito da realização de um workshop organizado pela DPA para discutir a competitividade do setor em relação às exportações de lácteos. O artigo procurou traçar um possível cenário de mercado externo, que combinaria preços não tão elevados para os lácteos e um câmbio que dificultaria as exportações.

Termino questionando: "considerando que essa análise faz sentido, a pergunta que fica então é se conseguimos crescer nossa produção de leite (e em tese esse crescimento só ocorrerá se a atividade for atrativa economicamente) a ponto de nos tornarmos exportadores estruturais, considerando preços de US$ 3.000/tonelada e câmbio, digamos, entre R$ 1,80 e R$ 2,00, que resultariam em um preço de equivalência da matéria-prima entre R$ 0,55 e R$ 0,60/litro? Se há uma luz no final do túnel, como chegar a ela?"

Nesse artigo, pretendo apresentar alguns itens relacionados à competitividade e que foram discutidos no evento, lembrando que as reflexões e conclusões são de minha responsabilidade e não necessariamente a opinião dos participantes.

Ao se falar em competitividade no mercado de commodities, não se pode escapar do custo de produção. E, ao se falar em custos, se fala em sistemas de produção. Assim, um dos primeiros e principais itens discutidos foi a velha questão a respeito dos sistemas de produção.

É evidente que em função das dimensões do país e diferenças climáticas é impossível apontar apenas uma forma de produzir leite. Isso não se discute. Mas, e dentro de uma mesma região, há um modelo mais eficiente e que, portanto, deveria sobrepujar os outros, a exemplo do que ocorreu na Nova Zelândia ou em regiões dos Estados Unidos, ou ainda como ocorreu com outras atividades agropecuárias no Brasil cuja evolução levou a padrões definidos de produção? Ou a discussão é irrelevante, sendo possível produzir eficientemente em mais de um sistema, desde que bem gerenciado?

Essa discussão parece velha e, em certo sentido, é: está há muito tempo nos artigos técnicos e no programa dos eventos do setor. Mas isso não significa que esteja resolvida a ponto de virarmos a página, como foi sugerido no encontro. E, até onde sei, não temos ainda quantidade e qualidade de informações para chegar a alguma conclusão definitiva, sem deixar de reconhecer os esforços que vêm sendo feitos recentemente em algumas instituições de pesquisa e mesmo na iniciativa privada.

O fato de não termos ainda esses dados sugere que conhecer os sistemas e aumentar sua eficiência não tem sido uma meta prioritária do leite como setor. A relação focada no curto prazo entre produtores e indústrias e a pouca preocupação em fidelizar o fornecedor (até por historicamente não haver necessidade) resultaram em uma interferência muito modesta dos laticínios na eficiência produtiva de seus fornecedores de matéria-prima, sejam cooperados ou não. Compare por exemplo o nível de serviços de suporte e informação que os laticínios dão aos produtores, quando comparado com o fornecido pelo sistema de integração de aves e suínos, em que, na prática, a indústria define como será produzido e coloca todo seu expertise, poder de barganha, logística, etc. para melhorar a eficiência de produção do frango.

Não estou recomendando algo parecido para o leite; constato apenas que esse distanciamento histórico entre produtores e indústrias ajuda a explicar o "atraso" nessa profissionalização que poderia ou não resultar em modelos mais ou menos eficientes. O fato da Integralat ter proposto um sistema de integração na cadeia do leite é até mais relevante por apontar que há um possível ganho de custos e eficiência na cadeia ao se investir no elo primário, do que pela ideia em si, cuja aplicabilidade pode ser complicada.

Derivando dessa questão de não sabermos ao certo como produzir melhor estão também as dúvidas a respeito das diferenças regionais. O evento teve a presença de dois produtores aparentemente bastante competentes, um em Minas Gerais e outro no Rio Grande do Sul. De acordo com os dados de custos apresentados, enquanto o produtor mineiro tinha custo operacional de R$ 0,66/litro, o gaúcho obteve R$ 0,47 no mesmo período. Se os dados estiverem corretos e refletirem o que conseguem obter essas fazendas em condições normais, é de se perguntar se o crescimento da produção não vai de fato se deslocar para o Sul, como ocorreu com o leite nos Estados Unidos que, a partir da década de 80, migrou do leste para o oeste. Vinte centavos é muita diferença, mas podemos bater mesmo o pé em cima desta informação e generalizá-la? Talvez sim, mas confesso que não sei. Você sabe?

Além de resultar em um baixo conhecimento agregado a respeito das maneiras de se produzir leite, a relação característica entre produtor e indústria afeta outros itens da nossa competitividade como exportadores. Vale a pena, por exemplo, investir no aumento do teor de sólidos do leite? Há dois aspectos envolvidos nessa questão: dada a relação majoritariamente de curto prazo na cadeia e considerando que não são muitas as empresas que remuneram por qualidade, um produtor pode não ver vantagem em investir em genética para aumentar sólidos, por exemplo, sem saber se estará fornecendo leite para seu cliente atual daqui a algum tempo. Deve-se, ainda, lembrar que não basta remunerar por qualidade; é preciso ensinar ao produtor como fazer e monitorar, o que nos remete mais uma vez ao baixo envolvimento da indústria na produção.

O exemplo do investimento nos sólidos do leite serve para outros investimentos que poderiam ser feitos pelo produtor e que talvez não sejam feitos em parte pela falta de sinalização a respeito do futuro da atividade, dos preços, etc. Dentro disso, falou-se da importância dos instrumentos de redução do risco como a existência de transações em mercados futuros que têm sido importantes para sinalizar as tendências futuras e diluir riscos em diversas cadeias.

É preciso reconhecer que esses aspectos não são os únicos relacionados ao desconhecimento dos sistemas de produção e da baixa adoção de tecnologia. Os laticínios não são os únicos canais de informação - há a extensão rural oficial, empresas de insumos, consultores, revistas, televisão, internet, etc. Acho, porém, que cada vez mais as indústrias (cooperativas incluídas) serão as responsáveis por levar eficiência para a produção, como ocorreu com outras cadeias de produção, mesmo porque é sua própria competitividade que está em jogo.

Todos esses pontos tangenciam outra questão, mais ampla, que é a coordenação da cadeia de produção de leite. Há ainda um número grande de empresas, com políticas de remuneração muito distintas, enfoques de qualidade também distintos e, mais do que isso, dificuldade de criar consenso, voz unificada para o setor e tratar as questões estratégicas que lidam com a competitividade.

O Brasil é dos países com maior fragmentação na indústria, tanto que o movimento de aquisições que vem ocorrendo nos últimos anos não se dá por acaso. Desse grande número de empresas decorre também o fato de termos diversas entidades dentro do setor de laticínios, não havendo ainda uma entidade única, que trate das questões pré-competitivas relevantes. Por isso, as dificuldades em fazer andar o programa de marketing institucional e defesa do setor; a ausência de planos estratégicos de longo prazo que incluam questões relevantes para o futuro; a dificuldade em se criar selos de boas práticas e códigos de conduta (isso vem mudando: ao que consta o programa da ABLV tem funcionado bem); a quase ausência de investimentos privados em pesquisa aplicada à produção, etc. E, cada vez mais, surgirão questões pré-competitivas relevantes que só poderão ser resolvidas caso haja uma ação unificada.

Um exemplo recente no Brasil foi a moratória da soja. As indústrias processadoras (cerca de 20) se reuniram com as ONGs e criaram um compromisso de não comprar soja de áreas desmatadas após meados de 2006. Esse processo ocorreu dentro da Abiove, a associação das indústrias de óleos vegetais e tem sido importante para garantir acesso a mercados. Não seria suficiente uma ou outra empresa adotar essa prática, uma vez que quem estava sob suspeita era a soja brasileira como um todo, demandando uma ação setorial. E veja que não se falou de governo; foi uma iniciativa privada.

Voltando ao leite, vejamos o caso da Nova Zelândia. Hoje, provavelmente cerca de 50% do leite exportado no mundo passa pela Fonterra, seja originado na Nova Zelândia, seja em países como o Brasil. Mesmo com esse domínio, o país tem estruturas que pensam o futuro; A Dairy New Zealand, por exemplo, é uma entidade que é custeada tanto pelo governo quanto pelos produtores (lá, produtor é também indústria), com a missão de assegurar e melhorar a rentabilidade, a sustentabilidade e a competitividade do leite da Nova Zelândia. Uma das formas de se fazer isso é através do financiamento de pesquisas que serão depois aplicadas na produção. Com isso, o país pode lidar melhor com as variáveis externas como o câmbio ou subsídios europeus: constrói sua própria competitividade.

A Austrália, através da Dairy Austrália, tem propósitos semelhantes. Os Estados Unidos, pela Dairy Management Inc., que é custeada por produtores, também trabalha questões de longo prazo como a redução dos gases de efeito estufa e o marketing institucional.

Ao que parece, todas as cadeias produtivas que conquistaram competitividade não baseada apenas na exploração de vantagens comparativas naturais, câmbio favorável ou baixo custo de mão-de-obra tem como característica a existência de uma organização que pense e trabalhe as questões de futuro e que consiga deixar um pouco de lado as questões competitivas do dia-a-dia. E, no Brasil, acredito que a estruturação dessa organização deva partir inicialmente da indústria. Em minha opinião, o item principal e do qual derivariam todos os outros seria a criação (ou fortalecimento/redirecionamento) de uma entidade que reunisse as principais indústrias e cooperativas com o intuito de pensar e criar nossa competitividade futura, e que tivesse também representação de outros stakeholders, para usar o termo da moda, como produtores e indústria de insumos. Quem sabe a Láctea Brasil, uma entidade ainda nova e que foi criada justamente para trabalhar questões pré-competitivas?

E por falar em organização dos produtores de leite... Sobre este aspecto, sempre se levanta a questão do número de produtores. Ao se pensar em 1,3 milhão de produtores (será que é esse mesmo o número?), qualquer tentativa de organização e desenvolvimento morre pela simples constatação de que é muita gente: nem sabemos ao certo quantos são e onde estão. Mas, discutiu-se no evento, será que 80 ou 100 mil produtores não seriam responsáveis pela grande maioria do leite produzido no país? Provavelmente sim, e conhecer e organizar esses 80 ou 100 mil produtores já passa a ser uma tarefa muito mais factível (os Estados Unidos tinham esse número há 15 anos); consegue-se sair do imobilismo que os "1,3 milhão de produtores produzindo 100 litros por dia" geram. A questão pode parecer polêmica, mas não é; não se trata de desconsiderar ou excluir os demais. Eles também se beneficiariam se o setor produtivo conseguisse se organizar como ocorreu em outros países, conhecendo mais sobre sua realidade, aumentando seu poder de barganha e facilitando a captação de recursos que seriam investidos para assegurar sua rentabilidade, sustentabilidade e competitividade, como faz a Dairy New Zealand.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/09/2009

Caro Marcelo,
Na primeira parte do seu artigo fiz duas considerações. A primeira onde manifestei minha preocupação com relação ao espaço para o crescimento das exportações mundiais, visto que o atendimento do crescimento do consumo com importações me parece uma situação conjuntural, pois parece razoável supor que nos paises que importam muito deve haver uma tendência de aumentar a produção própria posto que a pecuária leiteira é grande geradora de empregos e renda. A segunda onde coloco se para o produtor brasileiro, que não recebe subsídios e apoio adequado do Governo interessa produzir leite para exportar competindo com paises desenvolvidos onde o leite é subsidiado e o produtor recebe todo o apoio do governo (e o que deverá continuar ocorrendo no pós crise com uma economia extremamente volátil).

No meu entender, essas questões deveriam ser discutidas profundamente pelo Governo, produtores e indústria no estabelecimento da política e planejamento do setor leiteiro nacional, o que no meu entender não tem sido feito por falta de mecanismos adequados para o estabelecimento da política e do planejamento setorial. Na segunda parte você faz uma colocação que é fundamental e com a qual concordo plenamente: "Ao que parece todas as cadeias produtivas que conquistaram competitividade baseadas não apenas na exploração de vantagens competitivas naturais, câmbio favorável ou baixo custo de mão-de-obra tem como característica uma organização que pensa e trabalha as questões do futuro e que consegue deixar um pouco de lado as questões competitivas do dia-a-dia".Em seguida você diz que acredita que inicialmente a estruturação dessa organização deveria partir da indústria. Nesse ponto eu discordo. Acho que a indústria e os produtores, que são os grandes prejudicados com as incertezas do futuro, deveriam pleitear estruturação dessa organização, mas a iniciativa deve partir do governo ao qual cabe a coordenação da política e planejamento do setor leiteiro.

Tenho manifestado reiteradamente que precisamos de um mecanismo permanente e ágil para tratar da política e do planejamento do setor leiteiro nacional, com participação de representantes da indústria, dos produtores e do comércio, coordenado e mediado pelo Governo. Esse seria o fórum adequado para tratar das questões do futuro e solucionar alguns impasses do dia a dia (não se pode ao tratar de um banquete futuro deixar de assegurar que os convidados para esse banquete morram de inanição no presente). Uma iniciativa que no meu entender cabe à indústria é se posicionar com clareza o que quer para o futuro para ser competitiva, se continuar com cerca de 1,3 milhões de produtores com média de 100 litros ou uma redução do número de seus fornecedores com uma média mais elevada.

Abraço/Marcello

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Marcello,

Obrigado pela mensagem. Concordamos em grande parte, exceto mesmo nessa questão do governo. É certo que na Europa e EUA o protecionismo é grande e molda o setor. Mas isso não vai durar para sempre ou, pelo menos, vai diminuir em intensidade. Acabei de voltar no Congresso Mundial da IDF, em Berlim, e ficou claro que há um processo em curso de redução da interferência do governo. Uma sessão inteira do evento foi dedicada ao tema "como lidar com o final das cotas de produção", que ocorrerá em 2015.

O fato é que enquanto países como NZ e Austrália, ao mesmo tempo que combateram o subsídio, fizeram a lição de casa e se organizaram. E a iniciativa disso foi privada. Acho que o governo tem que regulamentar o setor, evitar abusos, eventualmente criar condições para seu desenvolvimento (dar um empurrão) e fica nisso. Não acho que cabe ao governo planejar o futuro do setor. Afinal, em tese ninguém mais adequado do que os próprios agentes envolvidos na atividade para planejar o setor. E, nesse caso, a indústria seria o elo natural a fazer esse papel. Na maior parte dos casos em que governos planejaram o futuro de setores ou do país, o resultado fui muito ruim (ok, a China é uma exceção). Acabei de voltar de Berlim, cujo muro dividia a cidade, e pude ouvir dos alemães orientais como era a vida antes e como é agora. Acho a interferência governamental muito ruim, por definição, talvez por isso tenha dificuldade em achar que esse é o melhor caminho.

Abraço,

Marcelo

<b>Resposta do leitor:</b>

Caro Marcelo

O Congresso Mundial da IDF ao qual você esteve presente deixou claro que há um processo em curso para redução da interferência do governo e dedicou uma sessão ao tema "como lidar com o final das cotas de produção que deverá ocorrer em 2015". Matéria publicada em 18/09/2009 traz declaraçãpo de Mariann Fischer Boel que após 2015 manter ou congelar o sistema de cotas de produção nem pensar.

Mas será que a realidade econômica na UE nos próximos anos não pode reverter esse processo? Veja os protestos dos produtores se alastrando pela Europa. Matéria de 21/09/2009 traz declaração de Bruno Le Maire, ministro da agricultura da França, dizendo que os produtores europeus não devem ter que depender das variações de preços fixados pela Nova Zelândia em um mercado especulativo. Matéria de 25/09/2009 mostra que há projeto para uma nova regulamentação, coordenado pela França e Alemanha, e que entre as medidas estão o aumento dos subsidios para exportações de manteiga, leite em pó e queijos.

Gostaria de acreditar que a UE e USA vão reduzir substancialmente os subsídios no futuro, mas em função da crise (cujo fim é bastante incerto) e a volatilidade da economia, ponho minhas barbas de molho se isso vai acontecer a curto ou médio prazo.

Talvez não tenha me expressado bem, pois também acho que não cabe ao governo planejar o setor, e que esse planejamento deve ser feito pelos agentes envolvidos na atividade, particularmente os representantes dos produtores, da indústria e do comércio. Mas naturalmente que é necessário uma coordenação e mediação desse processo, e aí acho qua a coordenação e amediação não deve ser nem da indústria, nem dos produtores e nem do comércio, mas sim do governo, que pode ter a isenção para que as medidas adotadas sejam justas para toda a cadeia produtiva, e no que necessário tomar medidas para evitar abusos ou para promover o desenvolvimento do setor.

Na minha opinião já tivemos duas experiências que não recomendam que sejam repetidas. A primeira com o governo planejando o setor e tabelando preços. A segunda com o governo deixando os preços e o planejamento do setor por conta da livre iniciativa e do mercado. Penso que é hora de partimos para a política e planejamento do setor leiteiro ser feita pelos agentes envolvidos na atividade, mas com o governo exercendo o papel que efetivamente cade ao governo, que é cordenar e mediar o trabalho de estabelecimento da política e planejamento setorial, assegurando justiça e equilibrio no processo e tomando medidas necessárias para regular as relações entre os agentes e para promover o desenvolvimento da cadeia produtiva.

Mas uma iniciativa que no meu entender cabe à indústria é se posicionar com clareza o que quer para o futuro para ser competitiva, se continuar com cerca de 1,3 milhões de produtores com média de 100 litros ou uma redução do número de seus fornecedores com uma média mais elevada. Se a indústria não der esse passo, se não for transparente pelo menos em colocar o que pretende de seus fornecedores no futuro, o que os produtores podem esperar de um planejamento do setor leiteiro conduzido pela indústria? Talvez a própria indústria não tenha condições de definir o que pretende dos seus fornecedores, e essa definição tenha que vir de discussões, coordenada e mediada pelo governo, com representantes dos produtores e outros agentes da cadeia produtiva.

Abraço/Marcello
HELVECIO OLIVEIRA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 23/09/2009

Tô gostando da "prosa" Marcelo; é bom tocar no vespeiro, fico aqui de butuca atiçando os alunos. Vamos ver se dá certo mexer nas futuras bases intelectuais, afinal a transcendentalidade explica muitos progressos humanos.

Parabéns pelo artigo!

Forte abraço, Helvécio.
VICENTE ROMULO CARVALHO

LAVRAS - MINAS GERAIS - TRADER

EM 16/09/2009

E ai Marcelo, estou curioso quanto as questões levantadas. Para, levantar outras. Um abraço.Continuo aguardando.
JOSÉ GERALDO PEREIRA PINTO

CAXAMBU - MINAS GERAIS

EM 16/09/2009

Marcelo,
Parabéns pelo artigo, reflexões e entre-linhas..
Abraços.
Pereira
MÁRCIA CABRAL DIETRICH

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 15/09/2009

Caro Marcelo,

Parabéns pelo excelente artigo. Voce merece aplausos tanto pela exposição clara e objetiva da realidade do setor leiteiro do Brasil quanto pela sua avaliação de que a "falta de competitividade" do leite produzido aqui tem solução.

Diante de tudo o que voce expõe, fico com uma pergunta: o que AINDA falta para a indústria perceber que é o segmento com mais possibilidades de tomar para si a iniciativa de coordenar a cadeia produtiva do leite no Brasil e que, ao fazer isso, TODOS GANHAM?

Um cordial abraço,

Márcia Dietrich
VICENTE ROMULO CARVALHO

LAVRAS - MINAS GERAIS - TRADER

EM 14/09/2009

Marcelo, há tempo, tenho o enorme prazer de ler e refletir sobre teus artigos. Dentro disto, quanto a este, minha reflexão é no segunte sentido. Não há como encurtarmos o caminho entre o produtor e o consumidor? Para evitarmos que aquele receba pouco e, este pague muito. Posso estar enganado, salvo melhor juízo, mais qual a justificativa para, por exemplo, um litro de leite chegar ao consumidor por um valor praticamente 2 ou até 3 vezes o que o produtor recebeu? Não seria mais justo um preço melhor para o produtor e um menor para o consumidor. Você tem condições de dizer se lá fora, também, ocorre esta situação?

Estou cansado de ver laticinios e cooperativas fecharem as portas. Será que é só culpa de seus administradores? Estou cansados de ver supermercados abrirem, anualmente, novas lojas. Será que seus administradores são eficientes? Você tem e pode disponibilizar os custos do leite gaucho de R$ 0,47? Gostaria de analisar tais custos.Tenho outras indagações, mas vamos por etapas.

Um abraço de seu leitor de carterinha.

<b>Resposta do autor:</b>

Bom dia Vicente,

Obrigado pelos questionamentos. Nós vamos procurar levantar essa informação a respeito de como funciona em outros países. Um aspecto que precisa ser levado em conta é o mix de produtos que chega ao consumidor, pois vários produtos definem o preço e não apenas o leite fluido. Assim, a comparação direta com o litro de leite não me parece totalmente correta.

Não tenho os custos do produtor gaúcho, ele não disponibilizou os valores abertos.

Abraço,

Marcelo
MOACYR FIORILLO BOGADO

NITERÓI - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/09/2009

Alguém já viu este filme?
O rebanho é de 20 vacas. A terrinha foi "o pedaço que lhe coube nesse latifúndio", herança que veio tombando do avô. A parição é no velho estilo, bianual. A produção das 6 vacas em lactação é de mais ou menos 5 a 6 litros/vaca/dia = 33l./dia=1.000 mês. A renda bruta, que praticamente se confunde com a líquida (nenhum tipo de complementação, e quem vacina de aftose é a Prefeitura. De vez em quanto uma picada de ivermectina.) vai de 600 a 1.000 pratas por mês. Dedicação diária ao empreendimento, menos de uma hora na propriedade e o restante do dia na porta da cooperativa falando mal do presidente, que além de incompetente é ladrão.

Ganhar de 600 a 1.000 Pratas/mês, por uma hora de trabalho diário sem qualificação, é muito ou é pouco? Voce acha que é este o produtor que está prestes a deixar a atividade? Onde ele vai ganhar isso?
A, já ia me esquecendo, por falar em sólidos totais, o leite deste cara é máximo, e a CSS é muito baixa, melhor que o seu e que o meu!

Só mandando matar.

Marcelo, parabéns pelo artigo, um abraço!
GEORGE PASTOR RAMOS

JAGUAQUARA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/09/2009

Prezado Dr. Marcelo,

Não me aprofundei nas teses do seu Artigo. Todavia, desde já entrevi que o Sr. está efetivamente tocando nos principais pontos da atividade. Ao meu ver o Leite no Brasil é manipulado Fascistamente pelo Governo, no que diz respeito ao setor produtivo. Alías, a maior parte do Setor Agropecuário. E não é só aqui no Brasil não, na maior parte do Mundo. A população Urbana, mais os funcionários Públicos e as Lideranças Industriais têm mais poder que o setor Agrícola, de modo a dirigirem as Políticas públicas, de uma forma facciosa, muito mais para os seus interesses, completamente caolhos de uma visão de País, Estado e Nação. Acham que vivem sozinhos e a riqueza , por decreto divino, é sua. Haja Miopia!

Mas Dr Marcelo, faço parte desta comunidade da Agripoint e acho pertinente essas discussões que o Sr promove. Oportunamente me deterei sobre os aspectos técnicos da questão do leite, já que desde criança estou envolvido com ela, de modo a prestar minha modesta contribuição nestas discussão, e assim estimular outras pessoas a entrar também, a fim de que possamos aumentar a corrente e adquirirmos força política para mudar o Quadro.

Abraços,

George Pastor
SERGIO CAETANO DE RESENDE

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/09/2009

Caro Marcelo. Como sempre fica claro o seu pensamento lógico e científico de alto valor. Mas, também, fica claro que existem limites impostos por interesses profissionais de quem tem todos os participantes da cadeia do leite como clientes.
Como sou apenas um pequeno produtor posso afirmar que nunca serei bem remunerado se não puder interferir em todas as fases da cadeia, isto é, tenho que produzir, industrializar e comrcializar meu produto. Como é difícil fazer isso em grande escala, de imediato, sugiro que todos os produtores de leite executam os descartes de seu plantel e diminuam a oferta de ração para uma produção mínima, mantendo apenas os projetos de saúde e manutenção do negócio.
Em resumo, acho isso, e faço: diminuir a oferta e reduzir os custos até que o preço recebido pelo produto in natura seja remuneratório. Abraços.
MARIA LUCIA ANDRADE GARCIA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/09/2009

Caro Marcelo
A colocação de atribuir à industria de laticínios em geral a responsabilidade de desenvolver a produtividade da produção leiteira no país me parece idealista. Primeiro pelo fato conhecido de que, só através do cooperativismo, em que o produtor é também sócio da indústria, essa meta foi alcançada, nos EUA e em países da Europa e da Oceania. O outro sistema imaginado para viabilizar a produtividade no Brasil e que não chegou a ser implantado foi o da "integração", que, ao transformar o produtor em assalariado disfarçado, não elimina o conflito de interesse entre ele e a indústria, a exemplo do que ocorre no setor exportador de suco de laranja.

A essa altura, penso que a solução do problema, estaria em solicitarmos iniciativas em prol da produtividade leiteira a alguns protagonistas importantes para o setor no país:
- ao MAPA, regulamentar a produção primária do leite, através do licenciamento da produção e da exigência de contratação para a venda do leite in natura;
- à CNA, recrutar produtores de leite para cursos de conscientização política, além dos cursos de formação de mão de obra e gerenciamento de fazendas, naqueles estados e municípios voltados para a produção leiteira;
- à Embrapa Gado de Leite, investigar além dos problemas econômicos e tecnológicos da produtividade leiteira, os problemas legais e políticos que impedem a modernização do setor e em conseqüência a sua produtividade;
- às Cooperativas de Leite, adotarem de vez o modelo bem sucedido da Oceania: não apenas se profissionalizando mas reforçando o direito de propriedade e de resultados dos produtores;
- às Camaras dos deputados estaduais e federal, abertura de inquéritos sobre as praticas abusivas que levam as industrias a precificar unilateralmente o preço do leite in natura e proposta de legislação que coíba os abusos e formalize as relações entre produtor e industria;
- aos produtores que possam se comunicar além das fronteiras geográficas, através da internet, a iniciativa de iniciarem um Blog do Produtor de Leite para veicular e articular informações e ações pró negociação e contratação da venda do leite in natura, além de outras que possam sanear essa relação historicamente distorcida e atrasada de comprar e vender leite in natura no Brasil.

Há pouco reli o relatório final da CPI do Preço de Leite instalada em 04-12-2001 na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais: um belo diagnóstico das mazelas que ainda persistem e que retardam a modernização da produção leiteira no Brasil.

Um abraço, Maria Lúcia.

<b>Resposta do autor:</b>

Olá Maria Lúcia,

Obrigado pela participação.

Se analisarmos o que houve até então, concordo com você que dificilmente a indústria irá mudar esse quadro. Talvez seja idealista mesmo olhando para frente. E sem dúvida as cooperativas têm um papel regulador importante, controlam a captação em países como Estados Unidos e Nova Zelândia.

Concordo também a respeito da integração (embora para uma parcela dos produtores a integração tenha representado uma alternativa interessante, caso contrário não teria sucesso) e do papel de cada um dos agentes mencionados.

O ponto que coloco é que, da forma que as coisas vão hoje, o modelo de competitividade parece estar em jogo. Se funcionou até agora, pode ser que não funcione mais, pelas razões expostas no artigo e algumas outras (ex: cada vez mais, os efeitos de episódios como o da melamina na China serão maiores e precisarão ser prevenidos; isso coloca mais responsabilidade nas indústrias em suas cadeias de fornecimento; a questão ambiental, idem).

O conflito em algum grau sempre vai existir. A questão é se um enfoque mais cooperativo, visando o desenvolvimento mútuo, não será mais interessante do que o enfoque puramente competitivo, como é hoje. Outros setores e cadeias atuam de forma diferente. Laranja poderia ser um exemplo, mas não é por não ter conseguido resolver. Cana já é melhor, com o Consecana servindo de balizamento, por exemplo. Silvicultura também pode ser melhor, mas não conheço muito.

Em algumas cadeias, empresas com um posicionamento mais cooperativo tiveram vantagens e se tornaram referência. O exemplo que conheço mais é o da Toyota e outras montadoras japonesas x montadoras americanas. Tem um artigo meu antigo sobre isso: https://www.milkpoint.com.br/?noticiaID=21753&actA=7&areaID=50&secaoID=124.

Claro, leite não é carro, e organizar a cadeia partindo do princípio que temos 1 milhão de produtores com os mais variados graus de tecnificação e objetivos em relação a atividade é algo bem complicado.

Quanto à questão do Blog, teremos em breve uma novidade importante no MilkPoint, que poderá desempenhar esse papel.

Enfim, não acho que as coisas mudarão por mudar; ou mudarão por benevolência (o que seria de fato classificado como idealismo). Talvez, mudem por necessidade, caso os planos de crescimento das empresas não possam ser levados a cabo com as características da produção que temos hoje: imprevisibilidade de oferta, qualidade insuficiente, custos para exportação idem, futuramente a questão ambiental, etc.

Obrigado pela contribuição ao debate e fique à vontade para comentar novamente.

Grande abraço,

Marcelo
EMILSON SILVA

RECIFE - PERNAMBUCO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/09/2009

Prezado Sr. Marcelo Pereira de Carvalho,

Gostaria de parabeniza-lo pelo artigo. Concordo inteiramente com os seus pontos de vista.

Emilson Silva
JOSÉ ANTÔNIO ASSUMPÇÃO FARIAS

ALEGRETE - RIO GRANDE DO SUL

EM 08/09/2009

Uma bela reflexão sobre possibilidades de caminhos a serem trilhados pela cadeia do Leite no Brasil, não se imaginaria diferente com a origem que traz.
A apresentação do tema "centralização", comentado aliás no I SIMPÓSIO DA REGIÃO SUL, INTERLEITE SUL, em Chapecó, pelo que se vê pouco tem avançado,
fazendo com que se entenda, entre outras coisas, que a cadeia permanece em disputa!? Diante desta situação, mesmo reconhecendo a importância do papel das indústrias, entendo realçadas as responsabilidades das Cooperativas que industrializam, justamente por terem encurtado o caminho ao produtor.

Abraço caro Marcelo.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro José Antônio,

Obrigado pela participação e mensagem.

Grande abraço,

Marcelo

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